segunda-feira, 25 de abril de 2011

NA SOCIEDADE DO CADA UM POR SI E NINGUÉM PELA TRAVESTI

A transgênero Chrissy em entrevista dias depois do ataque

É o assunto do momento: o vídeo de uma transgênero que foi atacada por duas moças (uma de apenas 14 anos; outra de 18) num McDonald's em Baltimore, no estado americano de Maryland. As imagens, feitas através do celular de um dos funcionários (que foi demitido pela empresa) na segunda passada, são realmente perturbadoras. (Atenção: o título acima é mais pra rimar mesmo. A palavra transgênero engloba transexuais e travestis. Aparentemente, a transgênero agredida era transexual. Saiba a diferença. E, antes de eu continuar, sim, é revoltante que as agressoras sejam mulheres e negras. Mas infelizmente só ser parte de minorias não faz ninguém menos preconceituoso).
Só um gerente tentou afastar as garotas que esmurravam e chutavam a transexual. Os outros funcionários apenas assistiram à cena (dá pra ouvir algumas risadas), sem fazer nada. Mais pra frente no vídeo uma senhora interfere, impedindo que o ataque continue. Só quando a trans tem (ou finge ter, de acordo com o rapaz que filmou o vídeo) uma convulsão é que as moças são postas pra fora da lanchonete –- e isso para que não sejam presas pela polícia, que estava a caminho. O rapaz que fez o vídeo depois justificou no Facebook, “Aquela não era uma mulher que estava sendo espancada. Era um homem, vestido de mulher”. Também foi dito que a trans era prostituta, então tudo bem (lembra dos filhinhos de papai no Rio que espancaram uma empregada doméstica num ponto de ônibus e mais tarde disseram que pensavam que era uma prostituta? Ou os riquinhos de Brasília que queimaram um índio achando que ele era um mendigo? Igual).
Parece que o que originou o ataque das duas jovens foi que a transexual (igualmente jovem, de 22 anos) usou o banheiro feminino, o que rendeu uma discussão verbal. Algo banal assim.
Quer dizer, banal pra qualquer pessoa de bom senso. Pelo jeito, pra muitos héteros, a principal preocupação com transexuais e travestis é “Oh meu deus, que banheiro ele [porque, pra um hétero, se alguém nasceu homem, nunca deixa de ser homem] vai usar?!”. Eu lembro de um período em que vivi nos EUA e, sei lá por que cargas d'água, só se falava nisso. E eu pensava, pô, até parece que banheiro público é realmente público. Eu tenho um vaso sanitário e uma porta só pra mim, e não dou a mínima se a pessoa ao meu lado nasceu mulher, virou mulher, vai virar mulher, ou apenas se veste como mulher. Isso não interfere em nada na minha vida. Não interfere nem na minha ida ao banheiro.
É claro que atacar uma transgênero constitui crime de ódio. Ela foi atacada apenas por ser trans. Crimes de ódio contra transexuais e travestis são muito comuns. Fiquei chocada outro dia ao ver no Conexão Repórter (sobre homofobia) como as travestis são rotineiramente ameaçadas. Ano passado 110 delas foram mortas enquanto se prostituíam. É no contato com o cliente que são esfaqueadas, atropeladas ou alvejadas por tiros. Diz a reportagem: “Constatamos que não há travesti que não tenha relatos de violência motivados pelo preconceito”. E não é preciso nem dizer que pra essa gente não existe proteção policial. Pelo contrário, aliás.
Não sei ao certo se a indiferença dos clientes e funcionários do McDonald's (teria sido diferente em outra loja?) diante do ocorrido tenha sido apenas pela vítima ser transexual. Pra ser franca, numa única (e espero que última) vez na vida me meti numa briga física. Eu tinha 14 ou 15 anos e estava num fliperama em Búzios. Uma mulher, adulta, que tinha sido empregada na casa dos meus pais, e demitida por um suposto furto, já entrou no fliperama me batendo. Seguiu-se uma briga feia, com nós duas rolando no chão e uma arrancando o cabelo da outra e se arranhando. Demorou uma eternidade até que alguém nos apartasse. Naquela época (antes da metade dos anos 80) não havia celular, e muito menos celular com câmera. Se houvesse, nossa briga estaria no YouTube em questão de minutos. Colocada lá por alguém que preferisse filmar do que encerrar a briga.
Então não acho que seja de hoje que as pessoas ficam insensíveis e distantes diante da tragédia alheia. Eu já fui assaltada à plena luz do dia por um grupo de trombadinhas na saída de um metrô em SP. Todo mundo passava, olhava, e ninguém se intrometia. As pessoas acham que aquilo não têm nada a ver com elas. É o mesmo princípio do velho (e altamente danoso) “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” que a gente conhece tão bem.
No entanto, se alguém é agredido dentro de um estabelecimento comercial, esse estabelecimento -– no caso, o McDonald's -– tem responsabilidade pela segurança de seus clientes. Imagino, inclusive pelo relato do rapaz que filmou a cena, que se fosse uma outra mulher sendo atacada, e não uma transexual, os funcionários teriam interferido. E se você fosse um(a) cliente lá, o que teria feito? No mínimo o óbvio, certo? Que é chamar a polícia imediatamente. (Agora lembrei da moça que foi mantida em cativeiro durante anos na Áustria. Quando ela conseguiu fugir e pediu ajuda, as pessoas se negaram a fazer uma mera ligação pra polícia).
Ano passado falei de uma experiência feita num programa de TV americano chamado What Would You Do? (O Que Você Faria?). Uma mulher com marcas de violência doméstica entrava num restaurante, e logo depois vinha um homem, que passava a ameaçá-la e humilhá-la. Não fez grande diferença a atriz ser branca ou negra -– em ambos os casos clientes tentaram defender a vítima. Mas a história foi completamente diferente dependendo da roupa que a atriz vestia. Se ela usava roupas mais “ousadas”, @s clientes a sua volta pensavam que ela era prostituta e o agresssor, um gigolô. E não se metiam. Apenas pela roupa que a mulher estava vestindo, já faziam todo um julgamento de valor a respeito dela. E decidiam se ela era ou não digna de ajuda e compaixão.
Pelo jeito, funcionários e clientes fizeram esse mesmo julgamento no McDonald's em Baltimore, na semana passada. E chegaram à conclusão que transgêneros não merecem piedade.

89 comentários:

Lord Anderson disse...

Absurdo Lola. completo absurdo.

E a justificativa então.

E se fosse um homem entrando no banheiro para realmente assediar as moças, será que teria essa violencia toda?

É triste que numa sociedade preconceituosa, sempre se procura o mais "fraco" para agredir.

Lord Anderson disse...

E como a homofobia aqui não é diferente tem mais um caso.

Um casal de lésbica teriam sido agradeidas num bar em Limeira

http://migre.me/4ledR

Oliveira disse...

Com toda a repugnância pela violancia destes loucos e toda a simpatia pela pessoa que sofreu a violência, eu faço a seguinte pergunta:

Alguem precisa ser travesti?

Anônimo disse...

Não, Oliveira, ninguém precisa ser travesti. Algumas pessoas são travestis porque gostam de apanhar quando vão ao banheiro, gostam de ter um risco de morte violenta muito maior que das outras pessoas, gostam que ninguém lhes dê emprego e portanto muitas vezes não tenham alternativa à prostituição e principalmente gostam que pessoas iluminadas como você lhes perguntem (com toda a simpatia, claro) se elas precisam mesmo existir. Parabéns pela perspicácia.

Escarlate disse...

Que horror, é tão triste saber que não o importa a tragédia que aconteça, os seres humanos preferem pegar um celular e filmar o ocorrido do que tentar ajudarm tentar diminuir o sofrimento alheio. Se isso é ser humano, não sei o que sou.

Espero que o caso não fique impune, mas não vou ficar com muitas esperanças. Engraçado que ninguém espanca político, ninguém tenta agredir pessoas que realmente fazem mal à sociedade. Simplesmente preferem agredir os mais fracos. Isso é bem racional, né?

Anônimo disse...

Lola, quando comecei a ler o post me veio à mente uma discussão que tive com um amigo, em que ele insistia em dizer que no Brasil somos muuuuuito diferentes das pessoas dos EUA no quesito preconceito, ao que eu argumentei que talvez nós não tenhamos tantos episódios de violência física, mas que o assédio moral deve ser tão forte aqui quanto em outos acolás da vida.
Aí você justamente coloca que talvez - e muito talvez mesmo - partamos menos para a briga, mas temos como qq um os nossos preconceitos e intolerâncias muito bem alimentados em nossas mentes (e não vou me isentar aqui, pq às vezes me auto-surpreendo-a-mim-própria-mesma, e geralmente só depois de ter aberto a boca... puts!). Cuidado e vigilância! Com as nossas cabeças, troncos e membros (com ou sem duplo sentido).
P.S.: Primeirocego, talvez o Oliveira queira dizer que não é preciso ser travesti para sofrer ações fóbicas.

Eduardo Marques disse...

A situação dos travestis é complicada mesmo. Acho que a mais complicada que a sociedade tem.

Oliveira disse...

primeirocego:

As pessoas são negras: neste caso não se tem opção. A violência e o preconceito se torna inevitável, por isso é intolerável.

Oliveira disse...

olharsaturno:

Agradeço a explicação ao primeiro cego, mas o que eu quis dizer é que se pode optar por não ser travesti, ao contrário de não se poder optar por não ser negro, por exemplo.

Anônimo disse...

A diferença entre o preconceito nos EUA e no Brasil é que nos EUA eles assumem seu preconceito e o praticam descaradamente, enquanto no Brasil as pessoas têm atitudes preconceituosas diariamente mas negam seu preconceito, porque aqui o que manda é a hipocrisia.

Pentacúspide disse...

Mandara-me este vídeos há uns dois dias, mas como tinha uma pessoa enrolada no chão, presumi que fosse um vídeo de violência e nem sequer me dei ao trabalho dever (não pretendo que não vejo coisas destas, mas se não é ficção prefiro evitar). A passividade das pessoas ao redor a ver e ainda a filma é quase a mesma que dos milhões de internautas que vêem o vídeos vezes e vezes.

Sem ficar na questão de discriminação, a nossa familiaridade e insensibilidade com a violência é cada vez maior. Lembro-me quando tinha 12 anos eu e o meu primo de 7 vimos uma briga onde um homem bateu com o pau na cabeça do outro e partiu-lhe a cabeça, o meu primo teve pesadelos durante um mês e a melhor maneira de metê-lo na linha naquela altura era lembrar-lhe o ocorrido (malvadez, concordo). Mas a mim não me impressionou assim tanto porque já o tinha visto nos filmes. Mas isto não pretende ser desculpa para os inactivos e prezerosos espectadores, e aposto que este vídeo já deve estar a bater o nível de milhões de visitantes no youtube.

Outra coisa Lola, sobre o exemplo da mulher de roupa ousada que é deixada à mão do seu "presumível" chulo, eu compreendo "ligeiramente" a passividade dos presentes; porque os chulos fazem actividades criminosas e lidam com criminosos e geralmente são violentos e armados, principalmente nos EUA, e praticamente ninguém se atreveria a meter-se com alguém assim. Já assisti duas vezes a um assalto no comboio, todo angustiado porque não podia fazer nada embora fosse mais forte do que o assaltante, e pior porque era apenas um assaltante contra uma carruagem cheia de gente; mas como ninguém queria arriscar-se a ser marcado, porque todos os dias usamos aquele comboio, ninguém reagiu.

E eu não vejo a razão de ataque ser revoltante só porque os agressores são "mulheres e negras", pois ele é simplesmente revoltante. As pessoas são pessoas, não importa o género, a cor, ou outra coisa qualquer.

Pentacúspide disse...

Oliveira,

Por que não viras feminista, de esquerda, muçulmano, católico, etc. que não gostes? Se calhar por que não te sentirias bem na pele de nenhum destes.

Nesse sentido, por que carga de água um homem que se sinta melhor mulher não pode ter o prazer de ser o que quer ser, principalmente quando não ofende e nem magoa a ninguém?

Escarlate disse...

Galera, não respondam ao Oliveira e aos outros trolls que aparecerão. Eles ficam voltando aqui e só defecando pelos dedos, só querem atenção. Depois a Lola vem e apaga os "bocas de cemitério".

Sobre o post, é muito revoltante que o ser humano seja tão preocupado com a vida alheia. O que te afeta ver um travesti na rua? A pessoa tem de agredí-lo pra não ter vontade de ser gay ou pq está tão frustrada com a própria vida que precisa descontar nos mais vulneráveis?

Barbara O. disse...

revoltantes sao os comentarios dizendo que o problemas sao os negros que perpetraram a violencia. claro! nunca nenhum transsexual foi agredido por um branco! o comentario mais votado diz que ela apanhou porque era branca e que foi um crime RACISTA (praticado por negros). Deus, como amam distorcer as coisas.

Barbara O. disse...

complementando: comentarios ao video do youtube

Oliveira disse...

Pentacúspide:

Eu entendo o que quer dizer, porem o que eu digo é que se travestir favorence a violência, que pode acaber em morte. Se se pode evitar ser morto, porque não? Entendeu?

Mari Lee disse...

Assisti o vídeo da agressão ontem e me fez chorar.
E essa história de "no Brasil é diferente", acho que não tem nada a ver. A cada dois dias um homossexual é assassinado em nosso país. E quantas mulheres sofrem violência a cada dia?

Nossa, me senti agredida com esta história.
Acho que toda a humanidade é agredida quando acontece uma violência como esta.

aiaiai disse...

Eu não consigo entender como alguem pode bater em alguem seja por que motivo for. Se incomoda, sai de perto. Se está fazendo algo fora da lei, chama a polícia. Mas, bater!? WTF

Acho que realmente pouca gente está pronto para defender transgeneros. Aqui no brasil só perdem para ateus no preconceito. Mas, no quesito agressão física acho que ganham até dos ateus.

Mari Lee disse...

Ah, e como o colega Pentacúspide, eu tb penso que o medo é uma possível explicação para não se meter com um possível cafetão. Eu também, nesta situação, ficaria com medo de o agressor ter uma arma.

Ginger disse...

Eu fiquei chocada com o vídeo!

Essas situações de agressão me deixam nervosa acho eu que ficaria paralizada na hora sem saber o que fazer!

Letícia Rodrigues disse...

Me parece que, segundo o Oliveira, todo negro optaria por ser branco se tivesse essa opção. Eu, que sou negra, só não me ofendo com esse absurdo pq seria me rebaixar muito me ofender com comentário de troll.
Concordo com a Lola, a agressão choca ainda mais por ter sido praticada por pessoas que também estão mais expostas ao risco de sofrer violência.
A pergunta do Lord Anderson é interessante. Se um homem branco heterossexual entrasse no banheiro feminino para assediar as mulheres e elas reagissem, provavelmente as pessoas se convenceriam facilmente de que as mulheres provocaram, e depois tiveram uma reação exagerada, ou seja, ficaram histéricas. Se as mulheres em questão fossem negras, então, sua palavra talvez tivesse ainda menos crédito.
Homens heterossexuais raramente correm risco de sofrer violência só por usar um banheiro público, o que evidentemente não atenua, de forma alguma, que eles a pratiquem.
Mas que pessoas que estão expostas a esse tipo de violência a pratiquem contra outras choca ainda mais.

Jáder disse...

Não tenho tanta certeza se essa briga teria sido apartada se fosse entre dois homens. Não vou nem mentir, se eu visse dois marmanjos se engalfinhando eu que não iria me meter no meio dos dois.

Já tive um amigo que foi assaltado uma vez. Segundo ele contou, pior não foi ter seus pertences levados, mas foi ver um monte de gente olhando sem fazer nada. Minutos depois ainda veio uma velhinha perguntar com a cara mais deslavada:

"Foi assalto?"

O coitado ficou sem saber se dava uma bruta duma resposta irônica ou se sentava a mão na cara da velha.

Oliveira disse...

Leticia Rodrigues:

Eu falei justamente o contrário do que você entendeu. Por não ser a condição da cor opcional, o preconceito se torna mais cruel, somente isso. Outras minorias (o caso dos travestis por ex.) podem optar por se camuflar em benefício da segurança.

Anônimo disse...

@Mari Lee e Penta: o medo de ser agredida também não justifica a passividade nessa situação do programa que a Lola postou. Qualquer pessoa que quisesse interceder poderia discretamente ir ao banheiro, sacar o celular e chamar a polícia.

Oliveira disse...

Ah Leticia, usar o termo troll para quem simplesmente discorda da maioria também é ofensivo.

Letícia Rodrigues disse...

Claro, Oliveira! Vc é a minoria discriminada aqui!

Adriana Riess Karnal disse...

Lola, vou comentar o post abaixo...rs,,pq o do travesti nem há palavras pra tamanho absurdo.Queria falar da "aiaiai", q delícia de presente q ela mandou! q leitora maravilhosa vc tem!

Ginger disse...

Claro, Oliveira! Vc é a minoria discriminada aqui! [2]

Elaine Cris disse...

Não vi o vídeo porque sei que vai me fazer mal. Acho que nessas situações algumas pessoas não se metem por medo mesmo, medo de apanhar também. Já vi uma conhecida apanhando feio e foi tudo tão rápido que lembro que fiquei paralisada, sem conseguir me mexer ou raciocinar direito. Felizmente uma pessoa teve mais sangue frio e pode intervir.
Mas dar gargalhadas ou filmar diante de uma situação dessas é mesmo ridículo, desumano.
É como minha mãe diz: briga de homem todo mundo sai de perto porque fica com medo de apanhar também, briga de mulher todo mundo corre pra ver... devem ter achado lindo um travesti apanhando feio de duas mulheres. Violência física é mesmo muito engraçado... Aff.

Isabel SFF disse...

Gente, vocês deveriam agradecer ao Oliveira. Ele acabou de descobrir uma maneira infalível de acabar com a violência sexual contra as mulheres, por exemplo: é só a gente andar por aí camuflada. Vamos andar pelas ruas de uma maneira beeeeeem masculina (terno e gravata servem?).

Ah, faça-me o favor. E daí que o cara "escolheu" ser travesti ou transex? Ele tem que deixar de fazer o que lhe deixa feliz e que não prejudica ninguém só porque meia dúzia de imbecis acha errado/imoral/pecado/whatever? Eu, hein.

Pentacúspide disse...

Primeirocego, a primeira coisa que o polícia faz quando alguém reporta a ela é registar o número. Eu estou a fazer de advogado do diabo neste momento, porque não sei porra nenhuma do que se passou na cabeça daquelas pessoas, e tudo o que sei da América foi pelos livros e filmes, documentários e reportagens, mas eu seriamente duvido que uma pessoa que se levantou para defender uma donzela não faria o mesmo para defender uma puta. Mesmo que fosse uma freira sentada num bar a ser agredida por um brutamontes tatuado duvido que as pessoas interviessem facilmente (olha que eu disse brutamontes, porque também se avalia o aspecto do agressor). E se calhar alguém até ligou para a polícia (mas sabemos como é a televisão e como manipulam a informação quando querem defender um ponto qualquer), ou chegou a intervir não importasse o quando desnuda e pintada estava a mulher, mas simplesmente editaram essa parte.

Carolina Cruz disse...

Essa gente preconceituosa que transborda ódio usa qualquer tipo de justificativa pro próprio descontrole. Intolerância? Imagina, o problema é a escolha do banheiro. Aí eu fico pensando: se ela apanhou assim por usar o banheiro feminino, imagina se resolvesse usar o masculino!

Letícia Rodrigues disse...

Já li que alguns transgeneros defendem que deveriam haver banheiros publicos para homens, mulheres e transgeneros, justamente pq eles correm o risco de sofrer violencia usando QUALQUER banheiro público. Não sei se essa é realmente a melhor solução. Mas acho absurdo que o preconceito torne até o ato de usar um banheiro público em um problema tão grave para determinadas pessoas.

Fernanda disse...

Mano, odeio ser a chata, mas vou ter que lembrar: Gente, a moça que sofreu o crime não é TRAVESTI, ela é TRANSEXUAL, a Lola mesma explicou a diferença no post, não pode ser tão difícil entender. E, por favor, REFIREM-SE A ELA POR PRONOMES FEMININOS. Sério. Como você se sentiria se alguém ficasse te tratando como se você fosse de um gênero que você não é? Exatamente. Tratar essa mulher como um homem só perpertua um preconceito. Ela é uma mulher e merece ser reconhecida como tal. Então, NÃO A CHAMEM POR "ELE". Obrigada.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Pq ninguem pegou uma daquelas bandejas do Mc e sentou no lombo de uma?Queria ver a outra reagir!
Nessas horas a gente tem que pensar meio como Maquiavel.
Vi num filme uma frase otima dirigida a um menino que sofria bullyng.
"Bata no lider,no mais forte pq assim os outros não terão coragem de reagir"
E não vem com esse negocio de bla,bla,bla,violencia gera mais violencia e vamos combater a violencia com amor.
Aff,isso é coisa de historia pra crianças e nem elas acreditam mais nisso.
PS:Por um lado acho que foi bom filmarem,pra mostrar como nosso mundinho é,como é a violencia contra transgeneros e etc.Se ninguem filmar ninguem vai ficar sabendo!

Unknown disse...

@Fernanda: Tem razão, li rápido e não tinha reparado que a Lola escreveu que a vítima era transexual, acabei indo pelo título do post e achei que era travesti. Não li a matéria original.

@Penta: Realmente pode até ser que alguém tenha ligado pra polícia quando fizeram esse experimento, mas não é isso que tô discutindo. Eu critiquei foi a mentalidade super comum de não se envolver quando alguém precisa de ajuda, principalmente se esse alguém for uma mulher sofrendo violência de um homem. As pessoas racionalizam se dizendo que podiam ser alvos da violência também caso fizessem alguma coisa, mas nesse exemplo dava pra ligar discretamente pra polícia, pelo menos. E sim, a polícia vai ter o número do telefone de quem ligou, mas e daí? Não entendi por quê você disse isso...
E acho que você tá totalmente enganado quando diz que duvida que "uma pessoa que se levantou para defender uma donzela não faria o mesmo para defender uma puta". Puta é uma palavra usada com bastante freqüência por quem agride mulheres pra desumanizar suas vítimas, como uma forma de racionalizar a agressão.

Unknown disse...

Ah, esse H aí sou eu, Primeiro Cego. Pra variar o blogger e o wordpress tão de birra e não me deixam logar direito...

Julia disse...

Lola, desculpa, não consegui terminar de ler o post. Precisava comentar algo que me parece que mais ninguém notou: você tem idéia de como é terrivelmente ofensivo ficar se referindo à vítima como "a trans"? Ela é uma mulher. Ser trans ou cis (cis = não é trans) é irrelevante. O vocativo dela é mulher, não "a trans". O que você está fazendo é se referir a uma vítima negra como "a negra". "O gay". "A lésbica". E, no caso da vítima em questão, o que eu subentendo é que você não está concordando de que se trata de uma mulher. O que, bem, algumas pessoas podem realmente não concordar... mas acho importante que especialmente feministas tenham noção do quão transfóbico é fazer de conta que uma pessoa transexual não pertence ao gênero a que se encaixa, ao qual "transiciona".

Só um toque. Porque tenho certeza que isso deve ter incomodado leitores e leitoras suas que possam ser transexuais ou transgêneros.

Pentacúspide disse...

Primeiro cego, não vá por aí, pelo amor de deus, tu não sabes o que significa puta, tu não usas a palavras puta, etc. etc. puta? Não exageres no politicamente correto que soa mal.
E quando falei do numero de telefone, quero dizer que quem relata uma incidência é chamada para depor pela polícia e as pessoas não querem correr esse risco.

@Fernanda,
eu realmente não entendo por que razão tem que se chamar a um transexual de "ela" (embora etimologicamente signifique que mudou de sexo e consequentemente de género)? por que um travesti não pode ser chamado de ela? ou mesmo por que um maricas que se veste como um mas é todo afeminado não pode ser também chamado de ela? Eu não vejo como isso possa ser motivo de indignação. Ele tem mamas, ela tem pénis, as pessoas não sabem como chamá-lo(la), é normal.

Pentacúspide disse...

Júlia, indignação a parte, uma mulher com pénis não é uma mulher é uma transexual, aliás, os americanos foram melhores nesse sentido ao criar o termo "shemale".

Fernanda disse...

"Shemale" é um termo ABSURDAMENTE ofensivo que é usado de maneira PEJORATIVA para insultar transgêneros ou mesmo pessoas cis que não se encaixam na norma sexista (as in, uma mulher que aja de maneira considerada "masculina", por exemplo). Então, não, não é NEM DE LONGE um termo adequado.

O certo é se referir à vítima como mulher pois é assim que ela se identifica e se apresenta para sociedade. Sobre a questão do travesti ou do "maricas" (que é outro termo terrivelmente ofensivo que devia ser abolido pra sempre do vocabulário de qualquer pessoa que se diga anti-sexismo e anti-homofobia): TUDO depende da maneira como a pessoa se identifica. Se uma travesti se identifica como mulher e prefere pronomes femininos, assim deve ser tratada. Se se identifica como homem, deve ser tratado pelos devidos pronomes, também. É uma questão de respeito BÁSICO. Uma transsexual É UMA MULHER, está inclusive no link que a Lola postou, e ela deve ser tratada como tal porque é pura questão de humanidade e decência, você respeitar uma pessoa como ela se define.

Presumindo que tu seja uma mulher, imagine que tu vá pra um lugar usando calças largas e todo mundo comece a te tratar por pronomes masculinos, mesmo que tu diga que prefere os femininos e peça para eles pararem. Se tu for um homem, imagine o inverso: Tu sai na rua com uma camisa rosa, por exemplo, e as pessoas se sentem no direito de falar contigo por pronomes femininos, desconsiderando completamente a tua identidade e a maneira como você se apresenta para o mundo. É um absurdo de tão desrespeitoso - é como alguém insistir em errar o seu nome. É ridículo e patético principalmente porque não custa absolutamente NADA usar o pronome certo, ainda mais escrevendo, quando você raramente fala por impulso.

Julia disse...

Não, uma mulher com pênis é uma mulher transexual. Ela não é "uma" transexual, é uma mulher transexual. Assim como uma mulher que gosta de outras mulheres não é "uma" homossexual, é uma mulher homossexual.

O termo shemale é o equivalente pra mulheres trans da palavra "crioulo". Se você usa shemale, está sendo ofensivo.

Unknown disse...

@Penta: Faço esforço para evitar sim usar a palavra puta para me referir a pessoas, acho isso totalmente desejável e nem um pouco exagerado.
Mas não era disso que eu tava falando, o que quis dizer foi que muita gente não dá a mínima pra casos de violência quando a vítima é uma prostituta, portanto é uma estratégia comum de agressores de mulheres igualar suas vítimas a prostitutas, assim as outras pessoas se importam menos e defendem menos a vítima.

Sobre sua pergunta feita à Fernanda, a razão por que se deve chamar uma mulher transexual de ela é respeito básico - ela se declara mulher, quem sou eu pra dizer que não é?

Jamille disse...

A palavra que está em falta na humanidade é respeito e empatia.

As pessoas não conseguem nem ao menos respeitar e aceitar o diferente? E a empatia passa longe, já que assistem, filmam e divulgam a violência.

Não consegui ver esse vídeo até o fim, me deixou muito incomodada.

E pra pergunta desnecessária: se alguém precisa ser travesti ou trans minha resposta é: precisa sim. Se é assim que a pessoa se identifica, faz sua presença neste mundo ela deve ser assim. Ela está fazendo um bem a ela, que é se aceitar, e isso não faz mal a ninguém.

Quem não devia ser são as pessoas que não sabem respeitar as outras.

Unknown disse...

Fernanda e Júlia me ninjaram. Isso aí que elas disseram, concordo totalmente.

Pentacúspide disse...

Júlia, uma mulher com pénis é uma homem com mamas. Eu concordo com Fernando em dizer que quem queira ser mulher deveria ser tratado como tal, mas não é tão linear assim. Eu conheço um transexual, no sítio onde trabalho (como mulher é feia pa caralho, ainda tem todos os traços masculinos), tem umas belas mamas, mas sempre que o atendo não sei se devo tratá-lo por o sr. ou a sra. principalmente quando o nome no seu cartão é Carlos. Fico sempre por você e falo super-lento para poder evitar frases que me obriguem a usar algum género referencial.

E eu não vejo nada de ofensivo no termo transexual que possa impedir um transexual de ser assim chamado principalemnte quando ele ou ela (aqui é que se lixa) é transexual. Como ser chamado de preto, de cor, de criolo, para mim é questão adjectiva e não motivo de vergonha.

Shemale pode ser pejorativo, (por acaso não sabia disso) como gay era ou ainda é, mas está a normalizar-se. Eu não sou homófobo e ao único maricas com quem convivo chamo de marica, porque não é o apodo que faz a pessoa, ele não se vê insultado e nem eu me sinto a insultá-lo. O mal está na cabeça de quem pensa.

Julia disse...

Pentacúspide, não é VOCÊ que decide o que é ofensivo ou não. São as pessoas que VOCÊ se atreve a apelidar. Se elas dizem - e elas DIZEM - que não querem ser tratadas dessa maneira, cabe a você não tratá-las. É bem simples, não faço idéia dos motivos pra sua insistência.

O que você está dizendo é que nem um branco que fala "Como assim não posso chamar ele de preto?" ou um heterossexual que fala "O que tem de errado em chamar ele de bicha?". Não é você quem decide se é ofensivo ou não se VOCÊ não está dentro do grupo.



"Sobre sua pergunta feita à Fernanda, a razão por que se deve chamar uma mulher transexual de ela é respeito básico - ela se declara mulher, quem sou eu pra dizer que não é?" -----> esse comentário encerra a questão perfeitamente.

KlaussGoytacaz disse...

Creio que até mesmo travetis deveriam frenquentar banheiros femininos normalmente, afinal eles não sentem desejo e interesse sexual pelo sexo oposto e as mulheres não correriam nenhum risco de assédio! Os homens ficam mais constrangidos com a presença de um transgênero no mesmo banheiro e, certamente, até o próprio transgênero fica desconfortável. A não ser que alguns homens tarados comecem a se fantasiar de travesti ou trangenero só para tirar vantagens de voyer no banheiro feminino!
Aproveitando o assunto, já entrei em banheiro feminino por engano! Na Universidade onde trabalho a maioria dos banheiros femininos ficam do lado direito ao masculino, mas em um determinado setor a ordem era invertida! Só percebi quando estava lá dentro e não encontrei os mictórios. Sai correndo antes que aparecesse alguém! E ai meninas! Vocês acreditariam se um homem dissesse que entrou por engano ou logo imaginariam tratar de um tarado? Meu namorado me fez gargalhar alto ontem ao confessar que na presa, após uma crise de dor-de-barriga entrou no banheiro errado numa festa de casamento e só se deu conta, já sentado no vaso, quando entraram cinco mulheres no banheiro e ele teve que ficar quieto com os pés levantados segurando a porta do box que as mulheres insistiam em tentar abrir para descobrir porque estava fechado e se era dali que partia um "odor horrivel" que havia empesteado todo o banheiro. Foi um momento de tensão! Só depois de UMA HORA, após as mulheres usaram o outro box e irem embora é que ele pode ligar para o celular do segurança conhecido da festa, contar a história toda e pedir para que ele vigiasse a porta para ninguém entrar até ele poder sair do banheiro! Detalhe, ele era o dj da festa! Por sorte havia deixado um cd mixado inteiro tocando na pickup desde a primeira faixa e deu tempo dele voltar depois de mais de uma hora preso no banheiro feminino!

Fernanda disse...

Não, o mal está numa sociedade que durante séculos viveu a oprimir diária e intensamente essas pessoas, e ainda oprime, o tempo todo. Será que é mesmo tão difícil de entender? Esse tipo de termo ofensivo não pode ser usado numa posição de privilégio. Leia-se: Eu, como pessoa branca, não tenho o direito de usar a palavra "nigger", quando falo inglês, por exemplo - porque eu jamais fui oprimida por essa palavra, jamais tive meus direitos negados por pessoas que usavam essa palavra para se referirem à mim, jamais corri o risco de ser espancada por pessoas que não irão nem me chamar pelo nome, só por essa palavra. Eu nunca fui reduzida, humilhada, diminuída e oprimida por esse termo. Então, não, mesmo com todas as boas intenções do mundo, eu não tenho o direito de usá-lo. E você não tem o direito de usar shemale. Ou maricas - sim, SEU AMIGO pode se sentir confortável, mas seu amigo é uma pessoa entre milhares de homossexuais que são oprimidos por esses termos a vida inteira. Você não pode pegar a opinião dele, apenas, para assumir que ninguém vai se ofender.

O problema não é chamar uma pessoa transexual de trans, o problema é definí-la como "a trans" como a Lola fez no post, reduzindo-a somente a isso, e insinuando, ainda que de forma sutil, que ela não é "realmente" uma mulher (não tô dizendo que essa foi a intenção da Lola, mas é o que fica subentendido - especialmente porque o feminismo, infelizmente, tem um histórico de oprimir mulheres trans). Uma mulher trans é trans, claro, mas ANTES é também uma mulher, assim como uma mulher negra é uma mulher, uma mulher gorda, uma mulher lésbica, e por aí vai. Quando falando de um crime racista, você não vai se referir à vítima como "o negro", né? Pelo menos, não o tempo todo.

Quanto à sua conhecida trans: Não há motivos para ficar confuso. Se ela se apresenta como mulher, se se refere à si mesma com pronomes femininos, então não há dúvidas: Trate-a por "senhora", assim como você faria com qualquer outra moça, independemente do quão "feia pra caralho" e "masculina" ela seja (aliás, não é por nada não mas o machismo bateu FORTE aqui, hein?! Que porra a aparência dela tem a ver com a história?). O nome dela estar como Carlos se deve ao fato de ela provavelmente não ter feito a cirurgia, que, veja bem, aqui no Brasil na maioria das vezes é caríssima. O SUS até cobre, mas você tem que viver como mulher durante uns quatro anos antes, se não me engano. Então não julgue a moça por causa do nome, que isso é bem mais complicado do que tu pensa.

jether disse...

Essa gente preconceituosa que transborda ódio usa qualquer tipo de justificativa pro próprio descontrole. Intolerância? Imagina, o problema é a escolha do banheiro. Aí eu fico pensando: se ela apanhou assim por usar o banheiro feminino, imagina se resolvesse usar o masculino![2]

Gostei do título, Lola.

Oliveira, é errado ser travesti? Vamos supor que vc ache que sim, que faz mal à pessoa que faz isso. Faz mal à alguém além dela? (Não digo o mal que apanhar de homofóbico, bastante real, pergunto se há algum mal intrínseco.)
Você não acha esse um lugar impróprio pra fazer essa pergunta? Num post mostrando um transexual sendo agredido? Você não acha isso crueldade? Eu acho. Não abuse da liberdade de expressão.

Fernanda disse...

E, Klauss, só pra corrigir um engano comum do teu comentário: Uma mulher trans pode se identificar como lésbica/bi/panssexual, enfim, pode se interessar por outras mulheres, sim. Nem por isso devia ser proibida de entrar nos banheiros, óbvio, assim como você não proibiria um homem gay cisgênero de entrar num banheiro masculino.

Pentacúspide disse...

Júlia, neste caso estamos no mesmo pé, será então a Fernanda a decidir que não deve existir a palavra maricas? É claro que eu não chamaria de maricas a qualquer maricas, ou se o chamasse e ele não gostasse não voltaria a chamar.

Mas não te esquentes, eu sou preto, e pra mim quem se sente ofendido de ser chamado de preto na verdade tem é vergonha de o ser.

Agora, Júlia, supondo que és a pessoa da tua foto, se tu disseres que és preta eu sei QUEM SOU EU para dizer que não és, e se insistires nisso ainda ligarei para um manicómio. E Júlia eu sou mulato, lá minha terra chamam-me "branco mpelélê", aqui sou simplesmente "preto", porque um mulato é sempre meio termo. Aliás, tu achas que um mulato é preto ou é branco, ou é simplesmente um mulato? E isto da cor tem mais consenso do que a questão do sexo, por isso não devemos julgar a ninguém porque chamou de ele a uma pessoa com mamas e pénis. Eu não tenho nada contra, quer sentir-se mulher ou homem, tem esse direito, mas não tem o direito de obrigar-me a pensar nele como mulher ou como homem. E antes que se diga que pensar assim desculpa a agressão das duas vadias eu reforço que a casa de banho pública é "publica", entrasse ali um homem, um hermafrodita, ou qualquer coisa, ninguém tem o direito ou o dever de agredir a ninguém.

lola aronovich disse...

Júlia e Fernanda, entendo o que vcs querem dizer, mas peço um pouquinho de compreensão e paciência comigo e com cert@s leitor@s do blog. Este blog não é especializado em questões LGBTTT (são 3 os Ts agora?). Eu aprendi faz pouco tempo (em 2008 apenas, quando comecei o blog) que era errado dizer homossexualismo, e que o correto era homossexualidade (porque não nos referimos à heterossexualidade como heterossexualismo). Isso de chamar travesti pelo pronome ELA eu aprendi esses dias mesmo! E a diferença entre travesti e transexuais também é recente pra mim. E se tudo isso é novidade pra mim, que escrevo posts e tento me informar um pouquinho antes de escrevê-los pra não dar muita mancada (algumas mancadinhas são inevitáveis), imaginem o nó que representam todos esses termos pra leitor@s leig@s. Lógico que entre @s leitor@s há gente que sabe muito do assunto (qualquer assunto!), e eu só posso agradecer aos céus que essas pessoas que sabem mais venham aqui me orientar. A gente está aprendendo. A maior parte d@s comentaristas não faz por mal ao errar um pronome ou um termo. A gente só não sabe mesmo. Não é que queremos ser agressiv@s. Somos apenas ignorantes.
Na hora de escrever este post, li alguns posts e procurei no Google alguns artigos, e em todo lugar que li, Chrissy era chamada de transexual ou transgênero. Por isso adotei o mesmo tratamento. Além do mais, o fato d'ela ser trans é importantíssimo pro post. Ela foi atacada por ser trans, não por ser mulher.
Mas pensei que transgênero fosse um termo sem conotação positiva ou negativa, apenas uma definição como mulher e homem. Entendo que a pessoa talvez não queira ser definida como trans pro resto da vida, mas num caso de discriminação desses, é importante saber que ela é trans. (Isso me lembra meu primo. Ele, que é músico, nasceu na Argentina e veio pro Brasil quando criancinha. Não tem sotaque nenhum, é naturalizado brasileiro e vive aqui há décadas. No entanto, toda vez que fazem uma reportagem sobre ele, dizem: “O argentino naturalizado brasileiro...”. Deve ser assim pros trans?).
Concordo totalmente que devemos respeitar a escolha de tratamento de cada um. Se a pessoa se identifica como “ela” e adota um nome feminino, por que teimar em chamá-la por ele ou pelo nome de batismo?


Penta, vc estava indo até bem até agora, mas quando diz que tudo bem chamar alguém de marica ou preto, criolo, de cor etc, vc perde qualquer razão que já teve. E se pessoas que entendem do assunto te dizem que o termo shemale é pejorativo... simplesmente aceite, ok? Aprenda!

Pentacúspide disse...

Fernanda, eu não nego nunca ser atraído pela beleza e que selecciono, se isso é machismo que o seja, estou superconfortável. Eu gosto de olhar para as mamas do Carlos, mas quando penso que se o despir vou encontrar um pénis, não vejo qualquer outro tipo de relação com ele senão o que tenho com os meus amigos.

Pentacúspide disse...

Lola, lê o que eu escrevi e verás que manifestei a minha ignorância quanto ao termo shemale. De resto ninguém me fará engolir que tenho de tratar o Carlos por ela, principalmente se eu não me sentir à vontade com isso. Estudei anatomia, para determinar o homem e a mulher e por enquanto os meus parâmetros são anatómicos.

Pentacúspide disse...

E não estou a tentar agradar a ninguém ou a tentar ser politicamente correcto, simplesmente a manifestar a minha opinião e a conhecer aquelas que a confrontam.

Jiquilin disse...

" Eu não tenho nada contra, quer sentir-se mulher ou homem, tem esse direito, mas não tem o direito de obrigar-me a pensar nele como mulher ou como homem"


Ainda bem! Pelo menos aqui vc consegue pensar no TEU livre arbítrio.
Gostava quando antigamente as pessoas pensavam que preto nao tinha alma. Pensavam que preto não era gente. Embora os pretos soubessem que eram pessoas.
Na verdade, acho que alguns desses pretos podiam até acreditar que eles eram animais, afinal, devem ter ouvido essa "verdade" a vida toda, né?
Se eu tivesse vivido naquela época, tenho certeza de que eu entenderia que um preto se identificasse como gente, mas ninguém me obrigaria a pensar que ele assim o fosse. Principalmente se eu fosse um senhor de engenho ou dono de um latifúndio ou um capturador de escravos.
Agora vc troca a época pela atual. Troca o negro pelo transgênero. E troca o dono do engenho pelo heterossexual e sua heteronormatividade. Depois de fazer essa troca a gente vem falar de liberdade de pensamento. Ok?

Daní Montper disse...

Não vi o vídeo, Lola, fico angustiada demais vendo cenas de violência.

A situação por si só já é ultrajante, uma mulher ser humilhada por outras mulheres por qualquer que seja o motivo, e ainda ser espancada por usar um banheiro público?!
E ainda ter gente rindo ou justificando isso?

Isso me lembrou algo que reparei dia desses, e só reparei porque a situação foi estranha demais, achei no começo que era algum assalto, ou tipo, mas não, tinha um travesti andando no metrô do Rio, o caminho é longo desde o trem até a saída, e todo mundo ficou olhando para ele, simplesmente todo mundo virava para olhá-lo ou ficava encarando-o, alguns rindo com alguém do lado, outros com cara de nojo, alguns com curiosidade nada disfarçada- como se fosse um animal exótico etc. Sério, gente, não há razão para uma pessoa se sentir tão incomodada por alguém ser diferente do que julgam o normal - e se isso me incomodou por ele, se eu visse alguém sendo agredido - como já vi - eu me meteria - como já me meti, mas eu apanhei por defender um estranho que disse para não me meter, então agora eu ligo para polícia e digo que liguei, e só me meto se for alguém conhecido, crianças ou animais.
Voltando ao caso do travesti, quem deveria estar super incomodado era ele, mas passou por todos de forma bem classuda que até me deu vontade de gritar "chupem essa manga, babacas!" pros otários que ficaram olhando pra ele debochando ou com asco.

Fernanda disse...

Lola, eu tô ligada que o blog não é especializado. Não acho que você fez por mal, de verdade. Mas acho que certas coisas são independentes do nível de instrução da pessoa - saber que deve-se se referir à moça pelo pronome feminino, por exemplo, quando a própria notícia que você passou com o vídeo o faz o tempo todo, é uma parada básica, fundamental! E eu entendo a sua justificativa para se referir à ela como "a trans", e, não, "transsexual" não é um termo pejorativo, não é isso que nós estamos dizendo. Eu só acho que é melhor se você tomar um pouquinho mais cuidado com o assunto em posts futuros, especialmente porque o blog é feminista e transgêneros vêm sendo excluídos do movimento há anos - no feminismo new wave, então, junto com vários casos de racismo, há muita transfobia também. Entendo que tu não sabia, não acho que tu fez por mal, só acho que prestar atenção pra não tornar a cometer o erro é importante (:

Pentacúspide, mas aí é que está: Não fui EU que decidi que a palavra "maricas" é ofensiva. Olhe ao seu redor: Quando uma pessoa vai insultar um homem, qual é a primeira palavra que vem na cabeça? Bicha, gay, viadinho, maricas e derivados. Por quê? Porque todos eles remetem à homossexualidade, e usá-los como insultos é implicar que ser homossexual é errado. É lógica BÁSICA, cara, não tem como errar. Você é negro, e se identifica como preto - acho ótimo, bom pra ti, não tenho motivo nenhum para te censurar. Mas EU, como branca, não tenho o direito de usar essa palavra - porque, veja bem, quando você que é negro se declara preto, você está mudando o significado original da palavra, está tornando em algo positivo, um motivo de orgulho. É um processo de reclamação da palavra que vários grupos minoritários usam hoje em dia, e acho super válido. Mas EU, como não sou parte da minoria, não tenho o direito de usar porque o termo ainda tem uma conotação ofensiva, e se eu como branca for usar, vou estar só reforçando uma opressão de eras. É isso que eu estou falando. A mesma coisa vale para qualquer outro insulto do gênero.

Por fim, não, realmente ela não tem como ENTRAR na sua cabeça e obrigar a pensar nela como mulher. Mas como SER HUMANO ela merece o mínimo de respeito, e o MÍNIMO de respeito que você pode dar a uma pessoa é aceitar a identidade dela. No seu íntimo, se tu quiser achar que ela é um homem, o problema é unicamente seu. Mas tu não tem direito de impor o seu pensamento pra ela - porque é a identidade DELA, é o gênero DELA, você não tem nada a ver com isso. Pergunto de novo: Como tu se sentiria se eu resolvesse decidir que tu é uma mulher e começar a usar pronomes femininos contigo? Não seria desconfortável? Pois é.

E digo mais: Você acha que aquelas mulheres agrediram a moça por quê? Justamente porque não a consideravam mulher, não a consideravam "real", e, portanto, ela não seria adequada para estar num banheiro feminino. Entende? Não tô dizendo que você seja um agressor em potencial, claro, mas esse tipo de pensamento pequeno e básico é o que sustenta essas ações extremas.

lola aronovich disse...

Ahn, Penta, quando vc coloca casualmente nos seus comentários termos como vadias, putas, etc, ainda mais quando estamos falando de termos a serem usados, vc se aproxima perigosamente da trollagem.


E por falar em troll, deixei aqui hoje, excepcionalmente, os comentários do Oliveira. O que ele pergunta é bastante comum: se alguém precisa ser travesti num mundo em que ser travesti é um grande risco. Acho que vári@s leitor@s já responderam: precisa sim. Se uma pessoa não se identifica com sua identidade sexual, com seu corpo, e quer mudá-lo para ser feliz, deve ter todo o direito de fazer isso. É a mesma coisa que perguntar se alguém precisa ser feliz.
Não há dúvida que a sociedade é extremamente cruel com transgêneros. Então, o que fazer? Mudar @s transgêneros ou a sociedade? A responsabilidade em não agredir cabe sempre ao agressor. Não à vítima.
Não sei porque respondo seriamente um questionamento do Oliveira, um troll de longa data. Uma leitora no Twitter adaptou a pergunta “pq alguém tem que ser travesti?” para “por que alguém tem que ser imbecil?”. Faz sentido.

Pentacúspide disse...

Lola, acredita que nenhum termo que coloquei foi casual.

Hailey disse...

@Jiquilin, obrigada, vc economizou que eu escrevesse um texto enorme. que bom que as pessoas pensam NELAS, e não na subjetividade/identidade d@s outr@s, e como el@s se sentem. Sinceramente, eu não vejo qual é o grande esforço de tratar uma pessoa como el@ queir@ ser tratada/chamada/identificada, afinal, o que isso afeta na minha vida? Ao sempre velho argumento da verdade biologica (anatomia) além de lembrar que essa noção tem pouco mais de um século, ficadica de que todos os conceitos/termos/signos se dão por atribuição, logo a cadeira poderia ser a mesa e mesa o armário e etc.

Hailey disse...

@lola,
será que é tão dificil para as pessoas pensarem que tipo é uma pessoa sofrendo violência, e violência gratuita em NENHUM caso é justificável?
Por que os rótulos, se era trans/travesti/whatever sabe, foi alvo de uma violência pronto e acabou. Sinceramente, cade a humanidade das pessoas?

Pentacúspide disse...

@Jiquillim
????????????

Fernanda,
O homem para chamar a outro de covarde também o chama de mulher. Sabes, há uma piada de Pitigrilli sobre um médico que processou outro por este o ter insultado chamando-o de veterinário, o que levou o veterinário a processar os dois por usarem o seu título como insulto. Eu seria o veterinário que processaria o preto que processar um "branco" por o ter chamado de preto.

Como eu disse, ser homem, ser mulher, ser alienígena (bem alienígena não sei), não é razão para ninguém ser agredido. E não conseguir chamar a um transexual de mulher ou de homem não significa não o considerar real, mas considerar a realidade de um terceiro género. Por que raio temos de nos limitarmos a apenas dois géneros? O natural é dois géneros? Não há hermofroditas na natureza? Transexual não é hermofrodita, portanto não é natural? Mentira, transexual é natural porque os seus impulsos são e a tecnologia lhe permite satisfazer esses impulsos. Aliás, o "natural" é um questionamento estúpido para a humanidade hoje em dia, há muito tempo que deixamos de ser natural, desde que inventámos penincilina e outras tretas que nos permitem prolongar a nossa vida e superarmos a "natureza". Em suma... enfim... Já perdi o fio, tou com sono.

Não é que não te entendo, mas não vai ser o fingirmos confortável com algo com que não estamos que vai resolver os problemas.

Quando o Carlos arrancar o pénis, não me importa que ele não tenha útero, ou a vagina seja artificial, ele é para mim mulher.

Jiquilin disse...

Querida Pentacúspide...
Veja, tá bem desenhado:
http://www.youtube.com/watch?v=L-Dea0Bp-1E

Jiquilin disse...

Ah e se vc nao conseguir, já estou colocando a parte 2, que é a mais importante, para facilitar as coisas. É só clicar, viu, bem.

http://www.youtube.com/watch?v=0JFEXkuZvnc&NR=1

Com muito amor e carinho...

Julia disse...

Tudo bem, Lola. Eu e a Fernanda viemos dar um toque. O blog não ser especializado foi exatamente a razão pela qual viemos avisar. Outra, o artigo que você apontou para diferenciar transexual e travesti está totalmente errado, mas é o suficiente pra quem não conhece entender um pouco, então nem falei nada. Obrigada por ter aceito a crítica. (;

Letícia Rodrigues disse...

Pentacuspede,

Não sei se já aconteceu de se referirem a vc usando palavras como "preto", "de cor", "crioulo", ou até mesmo o politicamente correto "negro", de forma pejorativa. Comigo já aconteceu. E o que eu respondo nessas horas é "Sou negra (ou preta, ou de cor, ou criuola) sim, e daí? Qual é o teu problema com isso?" Mas não acho que manifestar meu orgulho usando a mesma palavra que uma pessoa usou para me discriminar muda o fato de que houve discriminação. Quer dizer, se eu disser que essa pessoa foi racista pela forma como se referiu a minha cor - o que, de fato, vai ter mais a ver com o contexto do que com a palavra escolhida - isso não quer dizer que eu não goste de ser negra.

Agora, o caso de uma mulher transsexual é diferente. Ela não pode dizer "sou homem, sim, e daí", pq não é isso que ela é. Eu, como mulher, me sentiria agredida se fosse tratada como homem, e entendo que mulheres transsexuais se sintam do mesmo jeito. Pq insistir em um tratamento que sabemos que agride a pessoa?

Priscila disse...

Oliveira, desculpe, cara, mas não faz sentido.

Pelo que entendi, tua ideia é: "um homem se vestir de mulher estimula o preconceito e a violência, portanto, homens, não se vistam de mulher."

Isso não é diferente de dizer a uma vítima de estupro "mas também, com essa roupa.... depois é estuprada e não sabe por quê..."

Ou seja, você tá legitimando o comportamento do agressor como certo e o da vítima como errado. Legitimando a agressão como mera consequencia "inevitável" do comportamento da vítima. Tá invertendo tudo.

Anônimo disse...

@Lola: Pelo teu comentário pareceu que você achou que a crítica que Fernanda e Júlia fizeram foi por você usar os termos trans, transexual ou transgênero (você tem razão, nesse caso é importante dizer que a vítima é trans porque estamos falando de um crime de ódio), mas acho que o problema foi você substantivar esses termos. Tipo, se referir a ela como a transexual, em vez de a mulher transexual, por exemplo.

Fabio Burch Salvador disse...

Lola,
A indiferença das pessoas diante da violência é algo extremamente assustador, sinal de uma sociedade em que cada um só se preocupa com o próprio umbigo, e há uma espécie de mundo assustador na vida de cada uma das outras pessoas, um mundo no qual o estranho não quer entrar.

Uma vez, numa parada de ônibus, um menor de idade puxou um canivete e me ameaçou. Tinha umas vinte e poucas pessoas esperando ônibus e ninguém FEZ NADA, sem dizer “ó, to vendo” – o pivete me apontou a lâmina na vista de todos e ninguém nem suspirou.

Só que, sei lá por quê, meu cérebro calculou que o meu braço era mais longo do que o dele, mesmo acrescido da pequena lâmina. E NO REFLEXO, eu meti um Power-monstro-soco no queixo do pivete, que caiu no chão atordoado.

E aí veio a parte mais estranha: eu estava muito assustado, dei um passo para a frente e terminei de “botar para dormir” o guri. Então agora, tinha um menor, sendo massacrado por um sujeito com o dobro do tamanho dele. E o público, nada...

... se alguém tivesse uma câmera, acho que também iria pro Youtube.

Acho que o guri poderia muito bem dali a pouco acordar, me dar uma facada, se agachar no canto da parada e defecar, que ninguém se manifestaria.

Daí é essa mesma gente, apática diante da violência, que se enfurece e sai no tapa quando vê um homem que – SUPREMA OFENSA! – ousa se vestir de mulher!

Fabio Burch Salvador disse...

LOLA,
estou enviando para o teu blog, como comentário, o trecho de um post do meu próprio blog, que eu botei no ar hoje (o post, não o blog), e fala sobre homofobia.

O post completo está no endereço http://www.fabiosalvador.com.br/index.php?mat=596

Espero que não entendas isso como um spam, mas é que fazia um tempo que eu vinha querendo dizer algumas coisas e agora que eu as escrevi, quero botar para reflexão geral.


---- TRECHO ----

Todo mundo vê casais heterossexuais se beijando na rua, nos bares, em qualquer lugar. Beijos héteros em novelas são considerados como coisas lindas, muitas vezes o clímax da trama, e não são poucos os filmes que acabam com uma cena de beijo entre o mocinho e a mocinha.

Beijos homos já têm outra conotação. Entre duas mulheres, é mais comum vermos em filmes pornôs (aquela velha fantasia típica do gênero, do tipo, o cara entra em casa e encontra a mulher com a melhor amiga dela aos amassos, e fica assistindo, e entra na festa e coisa e tal). É uma coisa a se pensar, essa diferença: enquanto o beijo entre pessoas de dois sexos diferentes é lindo, romântico, sentimental, o beijo entre duas mulheres é algo puramente sexual, algo depravado, coisa de fantasia sexual, de filme erótico.

Sobre cenas de beijo entre DOIS HOMENS, nem me presto a comentar, porque todo mundo sabe: isso é tabu. Aliás, a relação homossexual masculina é um tabu muito maior do que a feminina. Nos filmes, ela se dá em duas ocasiões: uma consensual e outra, violenta. E por incrível que pareça, a mais aceita socialmente é a não-consensual, a famosa cena de estupro na prisão ou coisa do tipo.

Porque, né, "o agredido não é gay, ele não DEU para o outro, ele foi VIOLENTADO", e o agressor "também não é gay, ele gosta de mulher, só que na prisão não teve outra opção".

Aliás, isso desmonta uma das frases mais usadas pelo bonde dos reaças: a de que "o ódio não é contra o homossexual, é contra o ato sexual dele, que é chocante". E no entanto, a violência sexual entre homens na prisão é algo visto como natural, e quando retratado em filmes e novelas, é algo "forte" mas não "escandaloso", porque... o "passivo" não teve escolha, e o "ativo" não tinha opções, estava em um momento de desespero, coitado.

E aí eu pergunto: se o ATO encontra, nesses casos, quase uma justificativa, é porque se subentende que nele, ninguém tem desejos homossexuais. Os dois envolvidos são vítimas da circunstância. O que horroriza mesmo aos homens e mulheres bons deste Brasil é quando acontece POR LIVRE VONTADE dos depravados dos gays.

Vamos, olhe em volta, e admita: a relação gay masculina consensual é sempre um choque, um horror, uma coisa rara e sempre cercada de grande barulho.

--- FIM DO TRECHO ---

Fernanda disse...

Bem, pra começar, um aparte: Eu não ia comentar porque só vai complicar a discussão, mas na verdade, sim, Penta, existem mais de dois gêneros. Existem pessoas que se identificam como agêneros, bigêneros, intersexed (que é o termo em inglês para hermafrodita, que a tradução literal é considerada ofensiva - não sei se o mesmo ocorre em português, no entanto), etc. Mas é como falei: É questão de IDENTIDADE. Você não tem direito de tratar essa mulher trans como um terceiro sexo porque ELA SE IDENTIFICA COMO MULHER. Porra, não é possível que seja tão complicado assim. Você RESPEITA A IDENTIDADE DO OUTRO, cara. É educação e senso de humanidade BÁSICOS.

O que tu disse sobre a sua conhecida ter que "cortar o pênis" para tu aceitá-la como mulher é horrível e brutal. Sabia que existem pessoas que tem medo de sangue, Penta? Pessoas para as quais a mera idéia de uma cirurgia é apavorante? Ou, ainda, pessoas que não podem PAGAR uma cirurgia dessas? Além do mais, ter ou não ter pênis ou seios não é o que te determina homem ou mulher. Ou você vai me dizer que um homem castrado não é mais homem? Ou uma mulher que perca os seios devido à um câncer de mama não é mais uma mulher? Por que, porque você decidiu assim?! Isso é absurdamente cruel, ridículo e arrogante, você se achar no direito de determinar o gênero alheio. Até porque, mano, SÃO SÓ PRONOMES. Qual é a GRANE DIFICULDADE em usar os certos, me fala? Nenhuma, você só não quer porque não quer admitir que está errado e dar à essa vítima o respeito que ela, como SER HUMANO, merece.

Fernanda disse...

Aliás, no change.org está rolando uma petição para exigir a demissão dos funcionários que assistiram à surra da menina:

http://www.change.org/petitions/demand-that-the-employees-on-duty-at-mcdonalds-be-held-responsible-in-the-beating-of-a-trans-woman

Pra quem quiser se informar mais sobre transgêneros e pessoas fora da binária homem/mulher, aqui tem alguns links úteis. Estão em inglês, mas:

http://nnhs-gsa.org/transwhat/confused/
http://ciscentrismsucks.tumblr.com/post/4456784884/parental-reasoning-on-a-transgender-child
http://ciscentrismsucks.tumblr.com/post/4456784884/parental-reasoning-on-a-transgender-child
http://tranarchism.com/2010/11/26/not-your-moms-trans-101/

E aqui tem uma petição que vai ser mandada pra Dilma, pra ela apoiar o projeto de lei anti-homofobia: http://www.allout.org/petition/priscila

Anônimo disse...

Acho que o que o Fabio Salvador colocou é bem importante: parece que ninguém "faz nada" em várias situações, na maioria talvez.
(aqui "faz nada" está entre aspas porque eu não acho que não se faça nada: as pessoas fazem sim, fazem se alarmar, se assustar, entrar em pânico... muitas delas, como consquência, ficam paralisadas, mudas, estáticas... mas duvido que alguma delas não tenha nem mesmo suado, frio ou quente que seja)
Aí nos vem a pergunta: por quê?
De repente a gente poderia discutir, além do por que, também o como. Como seria possível mudar essa situação? Porque que a gente entra em pânico total, isso entra. Medo desgraçado de ser o alvo da lâmina, do punho, e de muitas outras coisas (palavras, inclusive) que podem nos tirar de órbita (física e/ou moralmente).
Então: como, heim?

Fabio Burch Salvador disse...

Que fique bem claro que eu sou contra a teoria do "bandido tem que morrer", mas tenho algumas historinhas de extrema agressividade diante de assaltantes. Coisa do momento mesmo.

Meu pai nunca matou ninguém mas já apontou arma para bandido algumas vezes. Na hora que o medo bate, a civilidade vai pras cucuias.

Anônimo disse...

É vero, Fábio, e o raciocínio também... eu, por exemplo, dano a argumentar com o indivíduo (claro, nunca estive com uma arma real na minha frente, só as imaginárias - na minha cabeça e no argumento do assaltante)...

O negócio é torcer os dedos para nada pior nos acontecer nos meandros dos medos...

Ou pensar em como raios poderíamos mudar isso (utópico, não?)

Ághata disse...

Ai, não vou nem responder aos comentários hoje.

...cara, como a galera é preconceituosa, heim?
E haja arrogância...
Podre, podre, podre... Tá me matando de Nojo hoje!

"Por que vocês são assim?" WTF???

"Eu acho que vocês são Y e pronto. Pouco me importa o que vocês realmente são porque EU acho que vocês são isso e acabou."

Sabe, vou começar a exercer toda esta sagrada "Liberdade de Expressão" de diminuir os outros para informarem que, na real, vocês não são ninguém e estão querendo olhar "de cima" para travestis, transexuais e transgêneros.

Ághata disse...

Obrigada, Fernanda. Exatamente o que algumas precisam ler.

Daní Montper disse...

Fernanda e Julia, fiquei com dúvidas, se puderem tirá-las, agradeço-lhes muito xD

No caso de travestis, devo falar como? Digo um travesti, uma travesti, ou homem travesti/mulher travesti?
Pois, até onde sei, a pessoa travesti adota posturas tidas como do outro sexo e em alguns casos aparência física do outro sexo, mas não se sente em corpo trocado... está certo?

Daní Montper disse...

Sobre a questão que tá rolando de como chamar uma mulher trans (homem que é mulher), eu sempre chamei com artigos femininos e sem o trans, pois creio que isso é passado e se a pessoa trocou tudo, não quer ficar lembrando disso...
Em casos de crimes de ódios contra transexuais, aí sim eu digo que é uma mulher transexual, ou homem transexual.
E ser transexual não é colocar pênis ou vagina, é como a pessoa se sente, e nem sempre eles operam, até porque não é algo simples.

Enfim, não fico nenhum pouco incomodada com mulheres trans usando banheiro feminino, afinal, são mulheres e ponto final.

Isso me lembrou um caso de uma mulher trans criminosa nos EUA que ainda tinha identidade masculina e não tinha feito a cirurgia e por isso foi presa com homens - nem preciso dizer o que aconteceu com ela, né? Absurdo, absurdo, absurdo! Me revolto com isto até hoje!

Pentacúspide disse...

Fernanda,

eu vejo bem o que queres, mas não o engulo. Michael Jackson é preto ou branco? Tu mesma disseste que por seres branca não tens o direito de usar a palavra "preto" para identificar os pretos, se achas isso ofensivo, imagina que digas que és "preto" diante dos pretos(a mim não me importa um corno, outros porderão sentir-se ofendidos, mas de qualquer maneira eu direi sempre que não és preto; pelo menos pela cor, porque conheço brancos bem pretos - no sentido em que se identificam com a africanidade e toda a sua tradição -, mas que continuam a ser brancos), da mesma maneira um homem pode sentir-se mulher, identificar-se com mulher, mas isso não fará dele mulher.

Aliás por que chamam a certos comentadores (inclusive eu) de estúpidos quando nós sentimos que não somos, por que não nos chamam simplesmente de "brilhantes" como pretendemos ser?

Posso chamar a um travesti ou transexual de "ELA" para evitar conflitos, mas isso não significa que ache que ela é uma ela. E, há pessoas com medo de sangue, de agulha de cirurgia, etc, mas uma pessoa que implantou mamas certamente não tem medo de sangue. Uma mulher operada aos seios é uma mulher, principalmente porque tem todas as funções de uma mulher. Eu acho que quando estudei biologia, o feminismo e o masculino não foi definido pela sexualidade, mas pela anatomia, acho que quando vemos a ecografia de um feto, dizemos é um menino ou uma menina pelo seu sexo.

De qualquer forma, acho que estamos a discutir o sexo dos anjos.

Fernanda disse...

Penta, então apenas usa a porra dos pronomes e não tenta impor pra ninguém de que sexo você acha que eles são, que tal? Cansei de discutir contigo, cara. Se tu não consegue meter o conceito de "respeito" na sua cabeça agora, não vou ser eu num comentário de blog de internet que vai te ensinar. É coisa que leva tempo. Mas digo logo: É por causa dessa sua "opinião" aparentemente tão inofensiva - de que homens e mulheres trans não são homens e mulheres "de verdade" - que esse tipo de cime acontece. Porque os agressores pensam exatamente como você, nesse ponto.

Daní, que eu saiba, a maioria delas refere-se à si mesma pelos pronomes femininos, pelo menos enquanto travestida, então quando falando da população em geral, acho que "elas" é válido. Mas se estiver falando de uma pessoa em particular, é só ver como ela se refere à si mesma e adaptar, se for o caso (:

Pentacúspide disse...

Fernanda, estou farto de jogar argumentos fora contra a tua dogma de "chama a pessoa pelo que ela quer ouvir".

Quando conseguires espaço na cabeça para colocar que os travestis (a minoria em geral) não são doentes mentais com a recomendação: O DOUTOR DISSE PARA NÃO ME CONTRARIAR, aí, se calhar, poderemos falar de novo deste assunto.

Fernanda disse...

Nossa, é claro, Penta. Respeitar a identidade de uma pessoa é a mesma coisa do que "o doutor me disse pra não contrariar". Acho que você não entende que o que eu te digo não é dogma nenhum, é puro respeito e educação básicos. Tipo, dando um exemplo tosco, se alguém se apresenta por um nome pra você, tu vai chamar a pessoa por aquele nome, né? Tu não vai decidir que o nome dela é outro simplesmente porque tu quer, porque isso é falta de respeito. É a mesma coisa pra gênero. Você não tem direito de DECIDIR o gênero de ninguém. Não é questão de "ai não contraria", mas sim questão de que, da mesma forma que você não tem o direito de olhar para uma mulher que se diga lésbica e decidir que na verdade ela é hetero, você não tem o direito de olhar pra uma pessoa que se identifica como mulher e decidir que ela é homem. Não é questão de opinião, é questão do óbvio. A pessoa sabe o que ela é. Você respeitar isso é o mínimo que tu deveria fazer.

veronika e o fantasma de canterville disse...

COMO ASSIM??? ESTOU TOTALMENTE INDIGNADO! JÁ SEI QUAL VAI SER A ESTAMPA DA MINHA CAMISETA NA MARCHA DAS VADIAS!!

James Hiwatari disse...

Heh, comentando em post bem antigo de novo... mas só pra comentar...

nem todo transexual é mulher. Quando você fala que "para os héteros, quem nasceu homem vai ser sempre homem" meio que apaga os transexuais masculinos. Tá que esses "héreros" que pensam essas coisas provavelmente nem se quer imaginam que trans homens existam, mas enfim...

(e tem um monte de trans homens que tem medo de ir ao banheiro masculino também, por razões que devem ser óbvias depois desse post)

Anônimo disse...

temos uma sociedade PODRE.pessoas que de tão insignificantes que são da vida ..precisam arruinar a integridade de alguem para se aparecer...mas minoria?minoria são os que agridem..matam..zombam...gays existem milhoes...ate mais que homofobicos creio eu..mas não se amam...tem medo de sua propia personalidade e não se assumem...se todos os gays assumissem,lutassem pelos seus direitos mudaria muita coisa..ninguem ""opta""por sofrer,essas pessoas nascemassim....ninguem vive o que não é por isso a questão de um homemcom roupa de mulher..as pessoas sensatas preferemnão brigar com ela mesma..A maior luta é conosco mesmo...quando somos o que somos não adianta..AGORA FALTA DE RESPEITO NEM EU APROVO..pq se ainda tem penis...deve usar um banheiro masculino sim...ou lutar pelos direitos ..não esperar..mas lutar ...agora quanto aos homofobicos..eles enchergam nos transexuais e travestis o que eles querem lutar contra..sua sexualidade duvidosa..e agridem..nada mais que isso...
AYMAR...transexual