sexta-feira, 2 de outubro de 2009

CASO POLANSKI: EXISTE TODO UM CONTEXTO

Mais sobre Polanski: aqui e aqui.

Várias leitoras e alguns leitores ficaram decepcionados com a minha postura frente ao caso Polanski. E eu entendo vocês. Não vou ser hipócrita de negar que, se o criminoso fosse uma outra pessoa menos admirável profissionalmente, minha postura seria tão conivente. Mas acho também que está havendo um linchamento exagerado da parte dos que condenam o diretor.
Primeiro, estão agindo como se o caso tivesse acontecido anteontem, e não 32 anos atrás. Gente, contexto é tudo. Não dá pra tirar uma narrativa do contexto e fingir que tudo que existe é a narrativa. A narrativa foi moldada pelo contexto. E o contexto dos anos 70 é totalmente diferente do de hoje. As leis anti-pornografia infantil endureceram muito (e com razão) na década de 90. Hoje em dia temos todo um cuidado com abuso contra crianças (às vezes até excessivo) que não havia na época. Nos anos 70, antes do crime contra Samantha, o relacionamento de Polanski com Natassja Kinski, uma garota de 15 anos, era público e notório. Saía nas revistas, e não havia indignação com aquilo. A Vogue Hommes aceitou de bom grado que um diretor famoso fotografasse adolescentes com pouca ou nenhuma roupa em poses eróticas, e a opinião pública nem piscava. Pelo contrário, havia público pra isso. Jodie Foster fez uma prostituta infantil em Taxi Driver, em 76. No mesmo ano Alan Parker lançou Quando as Metralhadoras Cospem, um musical em que todos os papéis (de gangsters a showgirls) eram interpretados por crianças. Vejam esse pedacinho e me digam se conseguem imaginar um filme desses sendo feito hoje em dia. Não se convenceram? Então que tal este trechinho de Pretty Baby, do Louis Malle? Brooke Shields não tinha nem seios e era meio que um símbolo sexual pra muitos homens. Não importa que Lagoa Azul fosse sobre a descoberta sexual de duas crianças náufragas. Grande parte do apelo comercial do filme era ver uma linda menina semi-nua numa produção mainstream. Querem prova maior do contexto da época do que uma foto da Brooke, nua com dez anos de idade? (aqui, só publico uma parte da foto, porque não quero que este blog seja acusado de pedofilia). Não foi o Polanski que tirou. Esta semana um artista quis exibir a mesma foto da Brooke numa galeria e foi proibido. Porque são outros tempos (e ainda bem que são).
Outra parte do contexto é que, na Europa, não é assim tão escandaloso menores de idade transarem com homens mais velhos. Nem hoje e muito menos na década de 70. Uns dois atrás, quando eu estava morando em Detroit, vi um filme que me causou um enorme choque cultural. É triste, mas não lembro do título, dos atores, nem da língua em que era falado (acho que era alemão). Mas era um filme, provavelmente de 2006, em que um belo loiro de seus 35 anos veleja com uma menina de 13 que acabou de conhecer. Eles passam o dia todo sozinhos, isolados, e ninguém acha nada de mais. Vocês precisavam ver a reação do público americano... O pessoal tava engasgando durante a sessão.
Não estou justificando uma pessoa de 40 e poucos anos transar com uma menina de 13. Acho que isso não deveria acontecer de jeito nenhum. Mas as leis de estupro estatutário são bastante vagas. Nos EUA, a definição pra isso depende de estado pra estado. Na Califórnia, sexo com menor de 16 anos, mesmo consentido, é estupro estatutário. No Brasil, é com menor de 14. Mas se o “adulto” na relação tem entre 3 e 5 anos a mais que a “vítima”, não é crime. Soa um tanto absurdo, pra mim, condenar um rapaz de 19 (também adolescente) por transar com uma menina de 13. Bom, cá pra mim, adolescentes de 13 deveriam esperar mais uns dois anos até iniciarem sua vida sexual. Mas essa sou eu. Isso foi o que eu fiz quando adolescente. E não me sinto confortável impondo meus valores pra todo mundo. Acho, sinceramente, que existem meninas (e meninos) de 13 anos que fazem sexo consentido, inclusive com homens mais velhos. Eu acho errado. Acho que os homens (e as raríssimas mulheres que se envolvem nesse tipo de relacionamento) deveriam ter a responsabilidade moral de se conterem. Mas acontece, e pra chamar isso de estupro, tem que se basear numa lei. Faz pouco tempo, Paula Lavigne causou comoção ao revelar que perdeu a virgindade aos 13 anos com Caetano, que tinha 40. Foi estupro? Pela lei, sim. Pra Paula e pra Caetano, não (depois eles se casaram―isso muda alguma coisa?).
No caso de Polanksi foi diferente. O depoimento de Samantha mostra que ela disse “não” em vários momentos. E, se uma pessoa diz não e a outra continua, é estupro. Porém, 32 anos atrás Polanski não foi acusado de estupro, mas de “sexo ilegal com menor de idade”. A gente pode reclamar dessa injustiça que foi esse acordo de Polanski ser acusado pelo menor crime, mas não pode mudar a acusação. Ou é isso que a gente quer, retroceder três décadas e mudar a acusação? Polanski foi avaliado por psiquiatras que disseram que não, ele não era pedófilo (e as definições do que constitui pedofilia são bem diferentes de fazer sexo com uma menina de 13 anos). A gente quer voltar atrás e dar uma nova definição pra pedofilia, pra que possamos enquadrar Polanski nessa definição? O diretor foi então confinado numa prisão para uma outra avaliação, esta de 90 dias. Após 42 dias, a avaliação estava feita. E o juiz, apesar de ter dito pro advogado de defesa e pro promotor que a pena seria de apenas mais 48 dias (pra completar os 90), estava dando declarações (ilegais, porque não se pode discutir o caso abertamente com colegas de golfe) que iria condenar Polanski por mais tempo. Quanto, ninguém sabe. O diretor fugiu, como já narrei no outro post.
Polanksi cometeu um crime ao estuprar Samantha e um erro ao fugir. Pessoalmente, eu acho que ele foi bastante punido: não pôde mais trabalhar nos EUA, que é a meca do cinema. Mas, enfim, desculpem decepcioná-los, Polanski não era nem é um serial rapist, um estuprador em série. E nem um pedófilo. Era um homem que, como muitos outros (que eu acho igualmente repulsivos), sentia atração sexual e achava tudo bem transar com adolescentes. Acho até estranho ler comentários de gente falando “Sabe-se lá quantas outras meninas Polanski estuprou”. Existe a chance que ele não tenha estuprado nenhuma além de Samantha? Quando há casos de estupros em série, as vítimas geralmente aparecem (vejam o caso do médico Roger Abdelmassih: o número de vítimas que apareceram pra depor já ultrapassa 60). Se Polanski fosse realmente um estuprador em série perigosíssimo pra sociedade, alguma outra vítima não teria aparecido em 32 anos? (sem falar nas vítimas retroativas a 1977).
Fora isso, crimes têm data de validade. Se a gente mata ou estupra alguém e não é condenada dentro de 20 e 16 anos, respectivamente, o crime preescreve. Por que isso acontece? Porque considera-se que todo mundo tem direito a um julgamento justo, e que as testemunhas, por exemplo, possam não ter uma memória tão afiada depois de duas décadas. No caso do Polanski, seu crime mais sério, hoje, é ser foragido da justiça americana. Aqui cabe discutir o que se espera de uma prisão. Prisão é pra reabilitar ou pra punir pelo crime cometido? Eu acho que Polanski está reabilitado e que já foi punido, mas tem gente que parece defender a pena de morte pra ele. Li vários comentários de gente exigindo castração química! Isso tem que ser pra punir, né? Não deve ser pra impedir que um narigudo de 1,65 m de altura e 76 anos estupre novamente. Sua vítima, Samantha, foi contra a prisão do diretor em 77, o perdoou em 97, deu várias entrevistas e participou do lançamento do documentário Roman Polanski: Wanted and Desired, no ano passado (que não foi feito por ele nem por seus amigos, mas que obviamente é favorável ao diretor). E ainda assim, devemos prender Polanski após 32 anos mesmo que a vítima diga que não quer que ele seja preso? Claro que a justiça não deve agir em torno do que a vítima quer ou não quer. Mas nós, tão afoitos em colocar Polanski na cadeia, não deveríamos levar em consideração nem um pouquinho o que a vítima quer?
Em abril, escrevi um post sobre perdão e boicote a celebridades. Tipo, quanto tempo demorou pra que eu mudasse de opinião sobre o Sean Penn (que bateu na Madonna nos anos 80)? Não que eu tenha parado de admirar o Sean como o grande ator que é, mas minha admiração pela sua persona só renasceu no começo do século 21, quando ele se envolveu com causas de esquerda e, inclusive, se deslocou até Nova Orleans pra ajudar as vítimas do Katrina. Lógico que bater em alguém não é tão sério quanto estupro, mas quantos anos leva pra se perdoar quem cometeu um crime? Dez anos? Nunca? Nem depois que ele morra? Não sei, me parece exagerado.
E sim, existe o contexto de quem é a celebridade. Agora tem um grande movimento de “Free Polanski” acontecendo. Mais de cem celebridades já assinaram um manifesto pedindo sua liberdade. Nomes como Almodovar, Scorsese, Woody Allen, David Lynch, Costa Gavras, Stephen Frears, Inarritu, Terry Gilliam, Etore Scola, Kar Wai, Walter Salles, Wim Wenders, Monica Bellucci, Tilda Swinton, só pra ficar nos mais famosos. Toda essa gente é pedófila? Lógico que não. Mas, digamos assim, toda essa gente apoia o estupro? Também não, né? Esse pessoal vê um contexto que algumas pessoas que mais parecem partidárias do "Kill Polanski" não veem. E sim, uma parte do contexto é que Polanski é um grande cineasta, pra muitos o maior diretor vivo. Não dá pra fingir que se fosse um, sei lá, Paul Verhoeven (que eu gosto!), seria igual. Se o caso todo tivesse acontecido anteontem, tampouco haveria gente pedindo sua libertação. Mas aconteceu 32 anos atrás, e logo num tempo em que ninfetas como Brooke Shields reinavam absolutas. Esse tempo passou. O tempo de punir Polanski também.

77 comentários:

Lord Anderson disse...

Bem tb teve um movimento free tyson não teve?

E não acho que o tempo de punir Polanski passou, pq ele ainda é foragido. Então ele ainda esta fora da lei norte-americana.

Eu compreendo oq vc quer dizer com contexto, mas ao menos p mim, a questão nunca foi ele fazer sexo com uma adolescente e sim a questão do estupro.

Não quero que o cara seja morto ou catrasdo, mas que sim seja feita justiça e se essa justiça significar punição que seja.

Não engulo esa hsitoria de que ele ja foi pagou, ou que sua genealidade lhe da direito a um tratamento especial.

Todos iguais perante a lei não era um principio basico do direito?

Mas sei que esse papo de seguir a lei é coisa de gente de direita...

Mas enfim...que Polaski continue preso, que seja levado aos EUA, que tenha um jugamento justo, com os melhores advogados que ele e seus admiradores puderem pagar, que seja feito todos os atenuantes possiveis, mas que a lei seja cumprida e que se entenda que estupro não é algo que possa ser minimizado por causa de simpatias pessoais.

desculpe, mas é oq eu acredito.

Unknown disse...

Eu também acho que o tempo da punição/julgamento yadda yadda não passou, não. O que houve foi estupro e, pra mim, Lola, estupro é estupro sejá lá em que década aconteceu.

Já tem tanta coisa errada nesse mundo que todo mundo esquece, finge que não viu, que aconteceu diferente. Eu acho tão errado isso.

Well, é minha opinião.

Eu assinaria a outra lista.

Unknown disse...

Acabei de ver a lista toda e fiquei apavorada com o número de mulheres que a assinaram...O_O. E o Woody Allen ter assinado, não me surpreeende.

Seriously....this whole thing sickens me!

“I have a lot of affection for him, he is a man that I like very much but nobody should be above the law. I don’t know the details of this case, but I think that when you don’t show up for trial, you are taking a risk.” (Luc Besson)

Amanda Lourenço disse...

Lolita, aqui na Europa não se tolera relacionamentos entre pessoas de idade tão diferentes não. Isso é aceito na arte, não na vida real.

O que acho horrivel, é que o Polanski nunca pediu ne desculpas pra garota, apesar dela ter defendido ele algumas vezes.

Escrevi hoje um post la no blog sobre um caso que aconteceu por aqui esses dias e a volta da polemica sobre a castracao quimica.

Beijos!

Alba Almeida disse...

Na verdade, apenas a “garota” pode realmente dizer se houve ou não o estupro. Trabalho com adolescentes e fico muitas vezes questionando. Sempre estou em algumas situações que se precisa ter muito cuidado, recentemente um garoto de 18 anos, namorava com uma menina de quase 15 anos foi preso. ... e ai nesse mesmo momento recebi um convite de casamento de uma outra adolescente de 14 anos com um rapaz de 38anos!?!?!?!!?
Minha opinião é que esse é o momento certo de punir realmente, de se endurecer ainda mais. Agora especificamente nesse “caso Polanski”, é ibope. E só porque é a justiça americana o mundo tem que se curvar? Se fosse uma pessoa comum?
Beijos!

Lord Anderson disse...

Alem do que o fatode ser mais ou menos aceito na Europa não devia importar, ja que o crime (pelo menos todo mundo concorda que foi um crime eu acho) aconteceu nis EUA.

L. disse...

Eu tambem nao acho que o tempo passou para a puniçao.

Em muitos casos, as vitimas esperam decadas antes de terem coragem de denunciar um estupro.

Li uma cronica comparando esse caso com a perseguiçao aos padres pedofilos - 20, 30 ate 50 anos depois. O que era "tolerado" anos atras hoje eh condenado. Ainda bem. Antes os padres nao iam a prisao, eles eram transferidos.

Polanski drogou e embriagou uma adolescente de 13 anos e depois teve sexo com ela. Sorry, nao quero uma justiça que mude em funçao da celebridade e da simpatia do reu.

astrocat disse...

Obrigada por esclarecer que a Samantha afirmou ter sido estupro, e não sexo consentido. Agora, eu não sei se faz diferença se você perdoa o Polanski - ou eu, ou os seus leitores, etc. Quero dizer, o problema dele é com a justiça americana. Aliás, pelo que eu li, o caso nem é Samantha X Polanski, e sim O povo da California X Polanski.
Mas eu estou feliz com a prisão dele sim, porque o fato dele poder fugir, circular livremente pela Europa, fazer filmes, ganhar Oscar, sempre me incomodou. Como eu trabalho com criatividade, eu não tenho essa coisa com genialidade. Eu não acredito em gênios. Pra mim, um "gênio" é uma pessoa como eu ou você. Eu sempre considerei o Polanski o maior exemplo do poder que as celebridades têm, de se livrar de problemas que eu ou você teríamos de enfrentar. Bom saber que não é bem assim.

Dai disse...

Oi, Lolinha,

Apareço e, para variar, não consigo conter o tamanho do comentário.

Só para dizer que eu compreendo o seu ponto de vista. Não tenho o menor intuito de defender o Polanski. Acho que o que ele fez foi horrível e o tempo não muda isso.

Mas, o que eu acho é que agora, mais que nunca, se enaltece o fato de que ele, afinal, estuprou uma menina de 13 anos e para isso não há perdão. E, sim, eu vejo nitidamente que HOJE são os 13 anos da garota o que pesa no julgamento popular, pois esta é a leitura do contexto de nossa época.

Eu também compreendo perfeitamente que nunca foi tão crucial delimitar as fronteiras da exploração sexual, isto é uma prioridade e deve ser uma preocupacão de todos e todas nós, mas em nome disto - e da inércia assumida pela sociedade durante anos (milhares deles, nem estou falando de décadas) - as pessoas agora protagonizam uma serie de equívocos.

Uma amiga minha, mãe de um rapaz de 18 anos, me contou que foi procurada pela família da garota que ele estava namorando, exigindo que ela mantivesse o seu rapaz maior de idade longe da sua garotinha (uma menina linda de 14 anos, inteligente e com muito desejo de namorar, pelo jeito), pois aquele relacionamento não era 'apropriado'.

Então, eu nem sou psicóloga, mas acho que os níveis de desenvolvimento humano são diferenciados e para algumas meninas de 14 anos transar com um menino apenas 4 anos mais velho pode ser a coisa mais natural e corriqueira em suas vidas. A que ponto chegamos, hein?
Aos 15 eu tive um namorado de 21 e nem de longe passa pela minha cabeça que aquela história tão bacana tivesse um traço qualquer de pedofilia.
Parece que com as tecnologias da informação, as denúncias da igreja, as prisões sucessivas de traficantes sexuais abrimos uma caixa de pandora da exploração sexual em nossa cultura e agora, tontos com o que vemos, estamos meio confusos em nossa sede de protegermos as crianças.

Eu sei que o exemplo diverge completamente do contexto do Polanski e que estamos aqui falando de um crime, não de um relacionamento. Mas, eu me pergunto: até que ponto também não devemos reagir a um comportamento massivo de linchamento do Polanski e se ele não seria a bruxa da vez, enforcada pela nossa cultura em voga, por um desejo de reprimir qualquer lampejo de expressão sexual envolvendo menores?

Eu sei que ele, a priori, tem um 'débito' com a sociedade, mas me pergunto até que ponto estamos isentos para julgar o seu crime no ensejo em que somos movidos(as) hoje, desmembrando esse crime de uma passado e de todas o seu involucro.

Não acredito que leis rigorosas e exigências absurdas de punição vão sanar a 'honra' dessas meninas lolitas do passado, cuja sexualidade infantilizada foi explorada a exaustão há algumas décadas, não só por indivíduos, mas por uma sociedade inteira, ávida em consumir aquelas imagens.

Nem acho que a prisão do Polanski vai dar conta dos nossos problemas de exploração e comercialização sexual hoje.

Mas, enfim, é só uma opinião de quem admite ter dúvidas quanto ao caso.

Bárbara Reis disse...

Bom, eu não posso julga-lo de forma alguma, meu pai se relacionava com adolescentes... Ex: Quando ele tinha uns 28, tinha uma amante de 15, ele era casado com a minha mãe ainda. Minha mãe conta que a menina pegava o RG da irmã dela pra se encontrar com meu pai.

A mãe do meu irmão engravidou, ela tinha 16, e meu pai 33.

E não, não acho isso nada bonito, apesar do meu pai sempre ter me respeitado. Mas, fazer o que?

Eu só perdi 'tecnicamente' a minha virgindade com 19... eu tenho 20... mas isso foram escolhas minhas, meus valores, como você mesma disse, não podemos impôr pra ninguem.


Beijão, Lolinha!

Gabriela Martins disse...

Eu acabo concordando com o Lord Anderson, com a Astrocat, com a Mei e com a Amanda. E com uma questão que alguém levantou lá no outro post (mas não me lembro quem foi, sorry): o grande problema além do estupro foi o abuso de poder ali.

A menina podia ter 18, podia ter 25, que havia uma situação de poder, ela foi drogada, ela disse "não", e ainda assim o sexo aconteceu. Isso pra mim é nojento.

Lembranças do Henrique Goldman e do caso da "Luísa" aqui...

Anônimo disse...

Lola,
concordo com você quando você diz que os fatos devem ser contextualizados. Não apenas no tempo, mas também no espaço. Culturas diferentes encaram relacionamentos de maneira diversa, sem dúvida.

Mas tendo dito isso, não concordo que o tempo para punir Polanski tenha passado não. Se fosse assim (guardadas as devidas proporções, naturalmente), crimes políticos e de guerra poderiam ter data de validade. Dizer 'isso foi há muito tempo' não é suficiente.

Mas o mais importante, a meu ver, nem é isso. Se Polanski estivesse sendo julgado hoje pelo que aconteceu em 1977, até que poderiam dar uma aliviada. Estaríamos analisando com olhos de agora algo que aconteceu há mais de 30 anos. Mas não é isso. Polanski foi julgado e preso na época, com as leis da época. Ficou pouco mais de um mês na prisão e saiu. E fugiu. Existe um mandado de prisão para que ele cumpra a pena. Não se trata de analisar a natureza do crime com o ponto de vista de hoje. Na época, era crime. Ele é um fugitivo que não cumpriu a pena.

Polanski alegou em um momento que não sabia que isso era crime nos EUA. Sorry, não deixa de ser crime. Se eu dirijo a 200 por hora na estrada e sou parada pela polícia, alegar que não sabia o limite de velocidade não me torna menos culpada sob o ponto de vista legal.

Acredito até que a decisão do juiz possa levar em consideração o fato de que o crime ocorreu há 32 anos, que Polanski hoje tem 76 e tudo o mais (fizeram isso com o Ronald Biggs quando ele voltou pra Inglaterra muitos anos depois de ter assaltado aquele trem). Mas deixar pra lá pode abrir um precedente perigoso e reforçar a noção de impunidade para quem tem a carteira cheia e os amigos certos.

Taí, uma hora dessas, quando estiver menos apertada de costura, eu escrevo algo no meu blog...

Abraço,
Mônica

mary v. disse...

Lola, o problema não é a idade dela e se isso é moralista ou não, se era aceito ou não. Se na época ela tivesse 30 anos e ele tivesse feito isso ainda assim seria crime. Foi estupro. Nossa sociedade precisa de um pouco de clareza sobre as coisas realmente inaceitáveis, e estupro é uma delas, e só porque o Polanski é o Polanski não deveria ter free-pass pra cometer crimes. Esse discurso de que já foi há 30 anos etc etc só tenta minimizar o problema.

L. Archilla disse...

Lolaaa!! off-topic total, mas sonhei com vc essa noite! foi um pouco aterrorizante... sonhei q fui passar uns dias na sua casa, mas vc morava numa cidadezinha rural do interior de SC. a sua casa era tipo a do filme "Sinais" e seu quintal (gigante) tinha desenhos alienígenas nas plantas. AHAHAHHAHAH

m. disse...

pra mim ele é um estuprador e pronto. nao consigo analisar e contextualizar. so consigo pensar "estuprador".

Anônimo disse...

Lola, eu nao consigo concordar--

Do meu ponto de vista essa parte de contexto talvez viria ao caso se ela quisesse transar com ele, se tudo tivesse sido consentual. Ai sim, essa seria uma discussao valida, embora eu tb nao ache que uma menina de 13 seja mto nova para isso.

Mas o problema aqui nao eh a idade e sim o fato de que foi estupro. E dai nao interessa se ela tinha 13 ou 50 anos. Foi estupro. Entao ele tem que pagar pelo crime que cometeu. E acho tambem a justica dos EUA esta certa em ir atras dele porque que mensagem eh passada para a sociedade? Se voce estuprar alguem e fugir, se passar tempo o suficiente nos te perdoamos?

Eu nao acho q essa seria uma mensagem valida para uma pessoas "comum", nao deve ser diferente com uma pessoa famosa. Eu discordo que ele tenha pagado pelo crime ja, e que o tempo de prende-lo ja passou. Eu nao acho q viver bem na Franca e Suica durante anos, continuar trabalhando no que gosta, e ainda por cima ganhar um Oscar com isso, seja punicao.

Eu acho que ele deve sim pagar ainda pelo crime. A lei e as prisoes nao foram feitas soh para minorias, negros, pessoas de baixa renda, etc. Nao que voce tenha dito isso, mas eu acho q solta-lo passa a mensagem que quem tem dinheiro ou fama, esta em uma categoria diferente do resto (nos mortais).

Se por exemplo ele fosse um padre da igreja catolica, um politico, ou sei la, um ze qualquer, duvido que teria gente fazendo peticao para solta-lo. A profissao da pessoa, o "status" na sociedade, e a idade da vitima, nada disso deve justificar um estupro.

Acho ridiculo que as pessoas em hollywood acharem que estao acima de tudo e todos, e penso que justica deve ser feita. Apesar da menina (hoje mulher) dizer que o desculpa pelo que aconteceu, ele fugiu da sentenca depois de assumir a culpa. A partir dai existe justificacao em prende-lo tambem por sua fuga.

Nao acho que ele seja uma ameaca fisica a sociedade, nem um pouco. Acho ridiculo quem diz q ele tem q morrer, ser castrado etc. Nao concordo, isso eh extremo.

Mas acho q ele ficar solto eh uma ameaca a sociedade de outra forma, porque mostra que esse tipo de atitude em relacao a estupros sao aceitos e tolerados. E isso eu acho um perigo.

Desculpa o comentario tao longo.
Abraco

Anônimo disse...

Oops, quis dizer "embora eu acho que uma menina de 13 anos seja muito nova pra isso"

Tina Lopes disse...

Amigo meu foi morar certa vez num bairro bem pobre de uma grande capital. Alugou um tipo de edícula e na casa principal vivia uma família com várias crianças. O pai, que alugou a casa, ofereceu a filha mais velha, de uns 12-13 anos, que cuidava das crianças, para ele. Ele poderia pagar a ela para limpar a casa. E pra dormir com ela. Meu amigo, horrorizado, recusou. Podia ter "usado" a menina. Era o contexto. Ninguém nem ia saber. Mas aí vem o caráter. É estupro, sim, além do abuso de poder. // Mas fiquei bastante satisfeita com as informações que vc deu nesses posts sobre o julgamento, o circo da mídia etc. Bem, não deixo de assistir aos filmes de Polanski, assim como não deixo de ler a obra de Cèline. Reflexo da minha alienação, não consigo boicotar autores ou obras. E quase off-topic: Nabokov seria preso hoje, não acha? Indução à pedofilia.

| viviana | disse...

Lola, eu concordo com vc quanto `a pedofilia. Nao consideraria o Polanski pedofilo pq o proprio conceito de pedofilia mudou muito em 32 e nao da' para condenar alguem por um crime cuja definicao mudou depois de acontecer.

A questao e' mais, ao meu ver, sobre estupro. Sobre usar o poder dele (de ser famoso, rico, etc) para forcar sexo com alguem (idade nao vem ao caso) claramente "inferior" nessa hierarquia. Qual a diferenca disso e daquele crapula colunista da Trip que estuprou a empregada? Nao vejo muita (a nao ser que esse mane ache legal publicar isso como sendo algo leve).

Porem, todo o imbroglio da condenacao, o processo que parece ter tido mil furos, isso tudo ta' mal contado mesmo (atencao, estou duvidando da Justica na epoca, dos advogados que devem ter querido aparecer `as custas de celebridade, jamais duvidando da garota e do que aconteceu).

Marjorie disse...

Lola, se o Polanski nao foi punido na epoca em que o crime aconteceu, eh porque ele fugiu. Ser 'impedido' de trabalhar na meca do cinema nao eh punicao, dado que ele FUGIU. Pelamordedeus. Ao fugir, ele comete outro crime. Entao a pessoa eh condenada em sao paulo, pro exemplo, e foge pra xiririca da serra -- e vc acha que a sentenca deveria deixar de valer soh porque, em xiririca da serra, o cara esta privado dos mesmos recursos de sao paulo? Tenha do.

Eu realmente nao consigo entender sua posicao neste caso. Me perdoe, mas acho que vc nao tem distanciamento para avaliar este caso em particular. Porque a sua diferenca de posicao em relacao a este caso e ao do Henrique Goldman eh tao imensa. O que eu percebo (sem querer ofender, vc sabe que eu te adoro etc), eh que vc esta se agarrando a pequenos detalhes para passar a mao na cabeca de um diretor de que vc gosta. Veja que seu texto passa mais tempo discutindo a questao do statutory rape e da mudanca de posicao em relacao a pedofilia -- e apenas em um paragrafinho, bem de relance, vc toca no ponto de que o caso do RP foi estupro sim, porque a menina disse que nao. O que eh a parte MAIS importante da historia. Contexto eh importante? Claro, mas nos estamos falando de um estupro. Confesso, alias.

Ok, sao temas analogos, que de fato fazem parte do contexto da discussao, mas nao fazem parte do caso Polanski em si. Que eh claramente um estupro. A gente pode ate discutir isso ai de statutopry rape. E da posicao exagerada quanto a pedofilia, nos EUA. Mas usar isso pra defender o que o Polanski fez NAO DA. Sorry.

Outra coisa que eu acho absurda eh defender que o cara nao seja preso porque ele nao eh um estuprador em serie ou um pedofilo 'maniaco'. Oi? Agora soh estuprador em serie eh que tem que ser punido pelo crime que cometeu? Ora, o crime nao prescreveu porque demorou pra ser julgado. O cara fugiu, velho. Debochou da justica por 35 anos. Nao puni-lo eh dar razao a todo mundo que arranja desculpas para tratar estupro como um crime menor.

Marjorie disse...

essa parte de contexto talvez viria ao caso se ela quisesse transar com ele, se tudo tivesse sido consensual.

O anonimo disse tudo.

Kay disse...

Lola, vivo nos EUA e sou formada em direito. Dizer que Polanski nao estuprou pq admitiu ter tido "relacoes ilegais com uma menor", ou qualquer outro termo, e falta de informacao, compreensivel. No codigo penal da california nao se fala em "rape" assim como em codigos de outros Estados, que criam expressoes diferentes, mas sinonimas pra "rape" [estupro]. A expressao "relacao sexual ilegal" e sinonimo de estupro.

OUtra coisa, dizer que ele ja foi punido porque nunca mais pode entrar nos EUA, sendo ele um diretor de cinema, soa como preconceito de classe, onde uns podem mais que os outros. Quantas pessoas nunca tem condicao de sair do pais onde nasceram? Mas para Polanski, rico, pode pagar pela viagem, poderia ir se nao fosse um fugitivo, gera pena, ne? Coitadinho. Nao pode ir aos EUA.Pelo menos esta pagando pelo crime. Nao pode mais
entrar no pais onde cometeu o crime.

Fora isso, nao ir aos EUA nao 'e punicao, e nao foi essa suposta punicao imposta por ninguem. Nao ir aos EUA foi um medida que ele tomou pra FUGIR da punicao pra um crime que ele cometeu, nao foi a punicao. E desde quando e o criminoso quem decide qual e a pena aplicavel?

Nao se esqueca que se ele nao foi preso, e se passaram 30 anos, foi porque ele FUGIU. Isso nao significa que o crime nao importa mais, significa simplesmente que ele e um fugitivo da justica.

Se as leis sobre fazer sexo com crianca estao mais duras agora que antes, e porque se percebeu o absurdo do crime, e a frequencia com que ele ocorria.

Estou muito admirada de voce, logo vc, ser tao complacente com algguem que tratou uma crianca do sexo feminino como um pedaco de carne, mesmo que ela tivesse dito "sim".

Pensar que o brilhante diretor merece tratamento especial, me lembra Luis Inacio Lula da Silva dizendo que o honrado Senador Jose Sarney merece tratamento especial, esta acima da lei.

Anônimo disse...

Lola, concordo totalmente com a Marjorie.

Polanski tem de ser preso, não pagou pelo crime como devia fugindo do país na época. Alegou que não sabia que nos EUA era ilegal fazer sexo com menores. Ele não fez sexo, estuprou.

Dane-se que psicólogos dizem que ele merece passe livre para a sociedade, que ninguém mais o acusou. Um homem que estupra somente uma mulher merece ser solto? Um homem pobre teria as mesmas regalias do renomado diretor?
Sei que o sistema carcerário não “reabilita”, põe de “castigo”, o Estado tem de buscar outras maneiras de auxílio ás pessoas, isso não é desculpa para liberar Polanski.

Sobre o caso, escrevi um post: http://aqueladeborah.wordpress.com/2009/10/02/consideracoes-sobre-estupro/

Unknown disse...

Lamentável sua posição, Lola. Você leu o depoimento da menina? Acho que é como MaryW falou no blog dela: "A gente não precisa aceitar o inaceitável sob condição nenhuma. Só precisamos acordar o que seria inaceitável. E acho que estupro é um bom começo para esse acordo aí."

Kinna disse...

Não tenho muito o que acrescentar, fui contemplada pelos comentários do Anônimo, da Marjorie, da Kay, da Deborah e da Laura.

Divido a surpresa com seu posicionamento e acho super pertinente a comparação com o caso do Henrique Goldman. Eu também quando sou fã (fanática) de alguém acabo por defender a pessoa inadvertidamente, mas num crime de estupro, há de se tomar cuidado para não deixar a imagem da celebridade se sobrepor ao crime cometido.

Luis Henrique disse...

Falando em Brooke Shields e 'filmes que jamais seriam feitos hoje em dia', há um bem controverso, embora muito menos conhecido, menos pelo conteúdo e mais pela origem ítalo-germânica (diacho de anglocentrismo!), Spielen wir Liebe.

Gabriela Martins disse...

"essa parte de contexto talvez viria ao caso se ela quisesse transar com ele, se tudo tivesse sido consensual.

O anonimo disse tudo."

Concordo. Passar por cima disso, pra mim, é invalidar todas as discussões sobre o "não" ser realmente "não" (e não um "talvez" ou "insista").

No mais, tô com a Marj tb: acho que o seu envolvimento no caso é "pessoal" (será q posso dizer isso mesmo vc não sendo amiga do cara?). Você parece estar se prendendo a pequenos detalhes pra minimizar o crime do cara.

Anônimo disse...

Desculpa Lola, mas isso é sério? Mesmo?
Lúcia

Jen (Chapel) disse...

Lola, o comentario anonomio de antes foi meu, Jen da Chapel. Desculpa nao ter assinado antes, mas estava no trabalho (nao devia estar comentando no blog...:)) e vi que estava atrasada pra uma reuniao. Desculpa a falta de acento, erros de portugues etc..to nos EUA ,meu computador nao tem acentos. Abraco

Dai disse...

Ixi maria. Até fiquei me sentindo mal com o que eu falei. Daí fui fazer mea culpa e ler todos os links sobre o caso e vi que o depoimento da menina é realmente dureza. Ele não sou usou de poder para aliciá-la, realmente a estuprou de uma forma meio dramática.
Daí é complicado, pq eu estava apostando na versão de sexo consensual - e eu acreditei mesmo que pudesse ter sido e aí seria outra discussão. Enfim.
Mas, em todo caso, acho que seu texto traz uma questão importante, sim.
A sexualidade das meninas HOJE está sob vigilância e isso tb é complicado, pois acabamos nos colocando como censores, reduzindo-as a não sujeitos, etc, etc, também acho que é preocupante essa postura que induz a novos moralismos. Beijos.

Kay disse...

Sobre a natureza da prisao: pena tem carater punitivo, sim.

Modernamente se entende que e desejavel e necessario que tb tenha carater educativo, reformatorio, mas nao e o objetivo principal da imposicao da pena.

Pena (de prisao, multa, etc) e pra se punir a pessoa que causou um dano a sociedade e por consequencia tem tb um carater preventivo geral (pra servir de exemplo pra criminosos em potencial) e preventivo especifico (pra evitar que a pessoa se sinta inclinada a delinquir novamente, o que acontece no caso de impunidade).

Sim, acho tb, como tantos outros comentaram aqui, um absurdo vc achar que ele nao dever ir pra prisao porque "so estuprou uma pessoa."

Muito surpreendente a sua posicao mesmo. Se ele fosse uma pessoa da sua familia, talvez eu entendesse, mas isso, mais vez, me parece uma expressao dessa nocao (meio vaga pra alguns, e bem clara pra outros) que temos que os ricos, ou famosos, ou influentes nao merecem sofrer as consequencias de seus atos como o resto de nos.

Dai disse...

Outra coisa: em minha visão pouco ortodoxa (e amplamente criticável, mas é assim mesmo e estou aberta a discuti numa boa) leis duras não coibem, pois não mudam a cultura. Eu não acredito, por exemplo, em pena de morte, nem em proibição do consumo e vendas de drogas, muito menos em castração química.
Eu concordo que estupro não deve ser tolerado, sim. Mas acho que se ele realmente não a tivesse forçado aí teríamos um elemento que modificaria bastante o quadro.

Eu acho complicado julgar homens como o Caetano ou o Wood Allen, por exemplo. O que eles fizeram aos meus olhos é nojento, mas as mulheres que estão com eles ambicionavam esse lugar e não se pode negar a condição de sujeito delas, vítimas de uma cultura torpe que nos condiciona a um modelo de submissão, sim, mas sua escolha, só pode ser questionada se sobrepomos os nossos padrões e ambições aos delas, desconsiderando sua subjetividade. Ai, tá bom, né? Esta é uma discussão difícil, mas não devia se esgotar aqui.

Patricia disse...

Essa posição é sintomática. Belo feminismo, o seu :)

Anônimo disse...

Gostei do seu post. Resolvi saber do caso agora e sinceramente, concordo com você em muita coisa.
Não sei até aonde adianta prender um cara por uma coisa que ninguém mais está aí além da própria justiça bizarra americana.

O Cara da Locadora disse...

Gostei do seu post. Resolvi saber do caso agora e sinceramente, concordo com você em muita coisa.
Não sei até aonde adianta prender um cara por uma coisa que ninguém mais está aí além da própria justiça bizarra americana.

Anônimo disse...

Gosto muito do seu blog, mas devo dizer: concordo com os outros dcomentários acima... Dá a impressão que vc está sendo parcial por tratar-se de uma pessoa que vc admira.
Quem sou eu pra dizer, mas já dizendo: Lola, por mais q se trate de pessoas cujo trabalho admiramos, ainda assim esse homem cometeu um crime horrendo.
Se não me falha a memória, vc não foi tão condescendente com o Michael Jackson, ao dizer q pra vc ele é pedófilo - muito embora ele tenha sido absolvido por não haver NENHUMA evidência concreta contra ele.
E no caso desse senhor, trata-se de um estuprador confesso e foragido (alguém me corrija se eu estiver errada).
E dizer q ele só estuprou uma vez faz tanto sentido quanto dizer q alguém matou só uma vez, não?



Sheila.

Valéria Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valéria Fernandes disse...

Se um adulto (homem) usa da sua posição de poder para obter sexo de uma adolescente, trata-se de uma violência, ainda que não se constitua crime “pelo contexto” ou por este ou aquele código penal. Vou ter então que começar a acreditar que os casamentos de meninas no Yemen são aceitáveis, porque naquele contexto cultural e religioso, meninas de sete, oito, nove anos, etc., etc., são consideradas aptas ao casamento com homens adultos. Eu me recuso a aceitar esse “contexto”, embora não possa fingir que ele não existe, mas como feminista, vou desconstruir e criticar as relações de poder que permitem que ele se perpetue.

A questão importante aqui é que houve estupro e a vítima poderia ter a idade que fosse. E mais, o fato da vítima “perdoar” ou simplesmente querer tocar sua vida sem ser colocada de novo no centro das atenções e recriminações (*menina, 13 anos, não era mais virgem, etc., etc., que você citou no outro post*) não anula o crime. Perdoar é direito da vítima, punir é dever do Estado. Considerar o ato do Polanski algo “menor” é, de certa forma, ser conivente com a violência a qual muitas mulheres são submetidas todos os dias, seja o criminoso “um gênio” como o Polanski ou “um qualquer”.

Trabalho com adolescentes, e percebo todas as implicações de poder e fascínio que um adulto pode exercer sobre uma menina. Elas podem até dizer que “escolheram”, que foi “consensual”, mas será mesmo? E se fosse uma relação homoafetiva, a sociedade seria tão complacente como é com relações heterossexuais de homens adultos com meninas ou as raras denunciadas de mulheres adultas com meninos? Eu duvido.

Espero, sim, que ele enfrente as penas da lei. Se não for pelo estupro, que seja por ter fugido. E não houve grande punição, a carreira dele não acabou, muito pelo contrário, afinal, estuprar meninas (*o depoimento dela diz tudo*) não é algo do que se envergonhar em nossa sociedade patriarcal. Para quem quiser saber quem não assinou a listinha, o Luc Besson se recusou a assinar.

Desculpe, Lola, admiro muito você, mas seus posicionamentos quanto ao caso Polanski foram muito decepcionantes. Não consegui deixar de comentar depois deste segundo post.

lola aronovich disse...

Respondendo mais geral, porque são duas da manhã e não dá pra responder cada comentário: Acho esquisita a reação de vcs. No meu post de segunda, o que a maior parte das comentaristas dizia é que Polanski havia estuprado uma criança e era um pedófilo. Agora que eu disse que, pela lei, uma menina de 13 anos não é criança, e também que Polanski não cabe na definição de estupro, o que mais vejo aqui é gente dizendo “A idade dela não importa! Foi estupro e acabou”.
Foi estupro sim, e não estou negando isso. Só estou lembrando do contexto. Primeiro, se não envolvesse uma menina de 13 anos, o caso não teria um décimo da repercussão que teve (e tem). Grande parte da queixa é que ele deu bebida e drogra pra uma menina. Isso não seria nem importante se fosse com uma mulher adulta, certo? (a menos que ele tivesse colocado droga na bebida sem a pessoa saber, o que não foi o que aconteceu). Segundo, o que estou dizendo é que Polanski não foi acusado de estupro, mas de sexo ilegal com uma menor. Ele não será julgado por isso.
A pena que Polanski pegará agora é muito mais por ter fugido do que por ter estuprado Samantha (do que ele não foi acusado).


E gente, desculpe, mas não vejo relação alguma entre este caso e o do artigo do Henrique Goldman na Trip. A única coisa que eles têm em comum é que ambos envolvem estupro. Mas pelo amor de deus, o que vcs querem fazer com o Goldman? Querem abrir um caso contra o qual não houve denúncia ou acusação? Um caso de 30 anos atrás? E em que o “acusado” tinha 14 anos? Sério mesmo?
Gente, crimes preescrevem. Não é questão de gostar ou não gostar, de achar justo ou injusto. É a lei.

lola aronovich disse...

Ah não gente, colocar palavras na minha boca não. Onde no texto que eu disse que, por o Polanski “só” ter estuprado uma pessoa, ele não merecia ir pra cadeia? Nananananina, não foi nada disso que eu falei. Eu só disse que ele não é um serial rapist, um estuprador em série. Que é o que muita gente anda dizendo que ele é.


Jen, é minha opinião que Polanski já foi suficientemente punido sim. Não só por ele não poder fazer filmes nos EUA, o que seria punição suficiente pra um cineastra que faz filmes em inglês. Mas inclusive porque, desde que o escândalo veio à tona, em 1977, há muita gente que o boicota. E tem todo o direito de boicotá-lo, claro. Não estou negando isso. Mas tem uma parcela bem considerável de gente (principalmente da direita cristã americana) que não vê seus filmes. Boicote é pra punir, não?

lola aronovich disse...

Marj, eu insisto: vcs estão falando do caso como se ele tivesse acontecido anteontem, não 32 anos atrás. Isso tem que ser levado em consideração. Polanski foi preso e pegará um tempo de cadeia (imagino que pouco) muito mais por causa da fuga que do crime em si. E, sinceramente, acho que vcs estão sendo muito agressivas com qualquer pessoa que não concorda com o que vcs dizem. Eu não tneho distanciamento para avaliar o caso, aquelas cem celebridades que assinaram petição de Free Polanski não têm distanciamento, a Whoopy Goldberg (que falou que não foi um “rape rape”) é uma nojenta, como disse minha mãe pra mim hoje, etc etc. Não pode ser apenas que algumas pessoas estejam vendo o caso justamente com um certo distanciamento—pelo caso ter ocorrido 32 anos atrás, inclusive—e algumas, como vcs, estarem vendo tudo com uma ótica de hoje, dos anos 90, pós novas leis para pornografia infantil?
Eu nunca havia lido o depoimento da Samantha até esta segunda-feira. Nunca. Até porque, que eu saiba, o site Smoking Gun só publicou esses depoimentos em 2003, quando não se estava falando tanto do Polanski. Em abril, acho, vi o documentário Polanski: Wanted and Desired, dirigido por uma feminista, e pra mim ele soa muito convincente. O documentário fala menos do estupro em si que do imbroglio jurídico e da fuga. Recomendo que todo mundo o veja.
E um detalhe: o estupro não foi confesso, ao contrário do que vc diz. Na primeira acusação, pesavam contra Polanski quatro crimes: estupro, perversão, sodomia, atos lascivos contra uma menor de 14 anos, e dar entorpecente para uma menor. Ele se declarou inocente. Foi feito um acordo entre o advogado de defesa e o promotor que Polanski se declararia culpado apenas por um crime considerado menor, do ponto de vista jurídico, “sexo ilegal com uma menor” (ao contrário do que disse a Kay, isso não é sinônimo de estupro). A gente pode debater se esse acordo foi justo (pra mim, não foi). Mas acordos acontecem a toda hora, fazem parte do sistema jurídico. O promotor não fez o acordo por ser bonzinho. Fez porque achou que tinha poucas chances de condenar Polanski pelos outros crimes. E porque Samantha teria que depor em júri aberto e narrar em detalhes tudo que aconteceu—o que, para muitas vítimas, é tão traumático quanto o estupro, porque trata-se de ficar repetindo uma narrativa, remoendo um trauma. Por isso foi feito esse acordo. Eu não estou discutindo se acho o acordo injusto, só estou dizendo que Polanski não foi réu confesso pra acusação de estupro (só pra de sexo ilegal com menor), e que ele iria receber a sentença do juiz para esse crime, não para estupro. Mas agora vcs querem voltar atrás 32 anos e dizer que foi estupro e ponto, que não houve acordo, que Polanski deve ser julgado por estupro. Por isso que eu digo que Polanski, a esta altura, será muito mais julgado pela fuga que pelo crime.

lola aronovich disse...

Patricia, o feminismo não é um bloco coeso que concorda 100% em tudo. Pelo contrário.


Sheila, eu disse que o Michael Jackson era pedófilo?

Milena disse...

Sabe o que irrita nessa história? É essa patrulha de donos da verdade que agem como se estivessem no quarto ao lado enquanto Roman "estuprava" Samantha. Só para lembrar algumas pessoas, só Samantha e Roman sabem o que realmente aconteceu (ou não), naquela noite. Qualquer pessoa que tenha acompanhado o caso com mais cuidado sabe bem que não existe qualquer prova conclusiva de que houve estupro ou mesmo sexo (exames, testemunhas, provas de qualquer tipo). Nenhuma. Além disso, nenhum de vocês conhece os bastidores do "julgamento" a que ele se submeteu. O juiz do caso queria prolongar a fama dele ao máximo possível cortando a cabeça do Polanski na frente das câmeras. Quem sabe os tipos de pressões Polanski sofreu para assinar uma confissão? O fato é que ele nunca teve uma chance de ser julgado dignamente, como qualquer outro ser humano. Não teve nem mesmo a chance de se defender publicamente.
A Lola não está tentando dizer que o Polanski é um santo. O que ela quer mostrar é que Polanski é um produto de seu tempo e do meio em que viveu. Ele conheceu o sucesso numa cidade em que homens como Charlie Chaplin, Errol Flynn, Howard Hughes, Robert Evans, Jerry Lee Lewis, entre outros, desfilavam suas amantes de 13 anos nas colunas sociais sem nenhum constrangimento. Não é a toa que boa parte das grandes divas de Hollywood começou a carreira ainda menor de idade, na cama de algum produtor/diretor. Natalie Wood, aos 15 anos, teve um caso com o diretor Nicholas Ray, de 44, para conseguir o papel de Judy em Rebel Without a Cause. Os exemplos são incontáveis e aposto que a Lola conhece muitos outros. Ninguém via esse tipo de manobra como escandalosa ou estupro na época. E apesar da óbvia relação predatória de poder/glamour, não podemos dizer que essas garotas que saíam com esses homens de meia idade foram atacadas numa viela escura de Los Angeles com uma arma na cabeça. Pode-se dizer que, dentro do conceito daquele contexto social, houve consenso das garotas. Talvez Samantha se encaixe nessa possibilidade. Mas isso tudo ainda tem de ser apurado.
Isso tudo pode soar absurdo (com razão) para os nossos padrões de hoje em dia, mas você não pode comparar a nossa realidade de 2009 no Brasil com a realidade de 1977/67/57/etc em Hollywood. Nós somos frutos dos costumes da nossa época e do lugar onde vivemos, para o bem ou para o mal.
Enfim, resumindo, eu só acho que é extremamente precipitado acusar Polanski tão agressivamente sem um julgamento adequado e sem provas inquestionáveis de que houve estupro. Sendo assim, mais moderação, pessoal.

Anônimo disse...

Foi mal, Lola eu falei errado.
O q eu quis dizer é q vc disse q acredita na acusação dos meninos.
(não pedofilia, já q eram maiores de 13 nas respectivas épocas).


Sheila.

Gabriela Martins disse...

ùltimo comentário meu nesse tópico: quando eu digo que foi estupro, eu tô cagando e andando pra definições e tecnicidades da lei. Tô falando de fatos, e se um homem pega uma mulher à força mesmo ela falando "não", é estupro. E tudo indica que foi o que aconteceu.

E acho que isso independe da gente estar olhando com os olhos da época ou não.

olhodopombo disse...

as pessoas so teem essa opinião de moralismo porque desconhecem
a historia passada....
o que se chama de criança hoje , não existia ate meados do sec,XVIII.
existiam homens pequenos e mulheres pequenas, criança não existia.
LEIAM CLAUDE LEVI-STRAUSS

Vitor Ferreira disse...

Lola, eu tenho minhas duvidas com esse caso, mas acho que todo mundo que dece a lenha no Polanski devia queimar os discos do Caetano, crucificar o Michael Jackson e apedrejar o Woody Allen tambem.
Acho que de fato houve o estupro, nao tenho certeza porque nao tenho proximidade nenhuma com o caso nem com a repercussao. Mas ele nao responde por esse crime, nao teve um julgamento justo, e acho que qualquer pessoa na posicao dele teria fugido daquele circo armado. Ele foi condenado, foi pra cadeia, mas nunca foi julgado devidamente. E pelo pouco que eu conheço da justiça americana, ela tá muito longe de ser justa. Principalmente com estrangeiros.

Vitor Ferreira disse...

*leiam desce a lenha

Anônimo disse...

Lola,
Meus parabéns, vc disse tudo. Na época Samantha não foi ouvida pq o promotor sabia que perguntariam a ela sobre a vida sexual dela, e sobre sua vontade de ser modelo, e das sessões de fotos. Era em plena liberação sexual, então ela não tinha como provar que fora estuprada de verdade. Seria a versão dela contra a dele. E até hoje, essa questão persiste.
Além disso tem a mãe, que também sabia o que acontecia nas "festinhas". Pra mim, elas duas tem sua parcela de culpa. Tanto é que a Samantha o perdoou e ela não faria isso se tbm não tivesse alguma responsabilidade sobre o dia em que fizeram sexo.
O Polanski foi um pouco ingênuo eu acho, e lutou pela vida dele. Quem aqui não teria fugido? E é um desrespeito querer trancafiá-lo agora, que é velho. É um dos homens que eu mais admiro no mundo!!!
Eu acho que precisamos ser sábios e deixarmos pra trás o que ficou pra trás. A menina não foi morta, ela está viva, bem, feliz, graças a deus, e quer PAZ.
Hoje nós somos muito rancorosos, e se for assim, ninguém que cometeu um erro na vida terá o direito de se regenerar.

um abraço

Lord Anderson disse...

Caramba, agora o Polanki virou um engenuo????

E a vitima passa a ser a responsavel pelo que aconteceu????

E deviamos mesmo ficar felizes por ela estar viva, afinal como Mallufy disse, "estupra mas não mata..."

É, e eu que pensava que todo tinha claro que coerção é estupro e estupro não é algo a ser relevado, mas pelo visto me enganei.

Anônimo disse...

Lord Anderson, eu acho sim que ele não é 100% culpado. No outro post a Lola mesmo disse que ele nem foi indiciado por estupro, mas por sexo com menor de idade. Nem a justiça americana diz q ele é estuprador, a Lola desenhou isso pra gente. Ele JÁ FOI PRESO e só fugiu pra se proteger. Se vc não entendeu o post dela, não posso fazer nada.

Rita de Cássia

Renan disse...

Lola, você sabe mais direito penal que muito juiz e promotor por aí, por que Direito não é só letra.

Abraços,
Renan

Marcela disse...

Ola Lola,

Meu comentario vem aos quarenta e cinco do segunto tempo, mas gostaria de trazer uma pergunta que originou do seu post e nao foi abordada ainda: como se punir um crime de decadas atras?

Eu olho o caso Polanski por tres perspectivas:

1. O que de fato aconteceu.
2. Por que crimes o RP esta sendo julgado.
3. Como puni-lo.

1. Baseado nas informacoes do post e dos comentarios, acredito que foi estupro, mas essa e so a minha opniao. Por mais que a Samantha e a mae tivessem consentido com a sessao de fotos, o "nao" da Samantha em relacao ao sexo (se de fato ocorreu) e "nao", e RP se aproveitou do seu sucesso e poder. E nao importa se ele e famoso ou nao. Ninguem esta (ou deveria estar) acima da lei.

2. Nao interessando o que eu e o resto do mundo acredite, o fato e que o RP so pode ser julgado perante a lei por dois crimes: sexo com menor (na minha opniao ele deveria ter sido acusado de estupro) e fuga. Eu tenho que usar todas as minhas forcas para aceitar que perante a lei o RP nao cometeu estupro, mas infelizmente um acordo foi feito e ponto.

3. O RP vai ser julgado em um contexto completamente diferente. E o fato e que, pelo o que eu entendi, ele nao completou a punicao por ter tido sexo com menor perante a lei. A essa punicao incompleta acrescenta-se a fuga. Eu acho que punir a fuga e mais "facil". Como uma acao, o entendimento do que e uma fuga nao muda com o contexto social. A punicao para a acusacao de sexo com menor e mais complicada. Nao porque sexo com menor (ou estupro, no meu entender) seja menos crime nos anos 70 do que e agora - e crime e vai continuar a ser crime. Mas porque nao sei se e possivel a sociedade atual assimilar que parte da pena ja foi cumprida e definir o que seria uma "meia" pena condizente com um crime de decadas atras, cometido por uma pessoa que, ao long dos anos, possa ter corrigido o seu comportamento - e se arrependido (talvez nao seja o caso do Polanski, mas pode ser o caso de outros presos).

E eu acho que a questao da passagem do tempo e de uma oportunidade de mudanca de comportamento leva a outras perguntas:
- Crimes prescrevem, mas sera que todos os crimes deveriam prescrever?
- Ao mesmo tempo, devemos (ou podemos) considerar que as pessoas mudam e nao incorrem nos mesmos crimes?

Ainda nao tenho uma posicao definida em relacao a essas perguntas...

Abracos,

Marcela

ps.: uso teclado gringo, entao desculpa a falta de acento.

Dri Torres disse...

Se um dia você for estuprada, verá que não existe tempo que apague isso de dentro de você. Não existe psicólogo capaz de retirar a dor. Não existe água o bastante que limpe a mancha. Ou amor o bastante para tirar o sentimento de impotência e de humilhação por ter sido invadida de forma tão vil.

E se isso é odioso com qualquer mulher, imagine com uma criança! Deus, só quem não tem noção dessa dor poderia escrever o que você escreveu...

Não é questão de perdão... é questão de justiça.

Pedro Nunes disse...

FIco imaginando se fosse sua filha se você continuaria defedendo o gênio que já foi punido pelo boicote a seus filmes. Feministas como você só ajudam a aumentar o machismo. Mulheres minimamente inteligentes não se convencem com esse blá blá blá panfletário.

Se visse um homem escrevendo um texto desse, acharia nojento. Vindo de uma mulher é nojento e decepcionante.

Anônimo disse...

Péssimo é que algumas pessoas tomem partido de uma opinião polêmica (muitos de nós as têm, pouquíssimos ousam expressar...) da dona do blog para destratar a Lola com todo o furor da sua indignacão, como se ela própria tivesse estuprado a Samantha.

Penso que de agora em diante o que tende a ocorrer é que cada pessoa trate de utilizar este espaço para manifestar seus demônios pessoais, usando a Lola como saco de pancadas - e isto já não terá mais relação alguma com o Polanski.

A autocrítica é uma atitude refinada, que ainda levaremos milênios para aprimorar já que nossa sociedade não reflete sobre os fatos da história, tudo é efêmero e espetáculo.

Casos como este são a oportunidade perfeita para que os infernos tornem-se todos alheios. Agimos como se não pertencessemos a este mundo, como se estivessemos ausentes do contexto. E isto não deixa de ser hipócrita.

Exemplo emblemático disto é o fenômeno Arnold Schwarzenegger - ele próprio acusado de estupro nos anos 70 - vociferando justiça e pedindo a prisão de Polanski neste lindo reduto de consevadores que é a Califórnia.

Romanzeira disse...

Então quer dizer que no contexto da década de 70, estupro não era estupro?! rs... Desculpa mas vc esta forçando uma barra para justificar sua condescendencia em relação a Polansky e memso para minimizar o crime que o cara cometeu. Se tudo é uma questão de contexto, então que soltem os torturadores presos após o fim da ditadura argenteina (decadas de 70 e 80 do século XX), pois quando eles torturaram, mataram e estupraram existia todo um contexto de caça aos comunistas então seus atos são justificáveis.
Miha questão nem é a idade da garota, até porque ela era uma adolescente, estava descobrindo o sexo e poderia sim ter atração e vontade de tranzar com um homem mais velho; hoje em comunidades do Rio de Janeiro muitas meninas de 13 ou 14 anos tem vida sexual ativa. O problema é que segundo o depoimento dela, ela não estava a fim de tranzar com ele. E forçar uma pessoa a manter relações sexuais contra sua vontade é estupro sim, e já o era na década de 70.
VEja bem, não estou partindo do principio de que ele estuprou uma criança, mas sim de que ele estuprou uma adolescente.
Roman Polansky é um grande diretor, um grande artista, mas ele estupro uma garota ha trinta e dois anos atras. Pode ter respondido ao processo por um crime menor devido a acordos entre a defesa e a promotoria, ou o machismo da época, ou mesmo por conta de sua fama. Fugiu porque estava nas mãos de um juiz marqueteiro, tudo bem, entendo, so que nada disso muda o fato de que ele estuprou sim uma garota, vc e mais toda a turma de celebridades cults do mundo, querendo ou não.

Anônimo disse...

Gente, calma. Vocês estão exagerando. No outro post, a Lola disse q ele é um crápula: "Um ego tamanho GGG é incapaz de reconhecer erros, e é isso que faz o diretor um crápula, na minha opinião" ou seja, ela sabe q ele não é boa PESSOA. Mas daí a querer q ele seje punido por um crime QUE ELE NÃO COMETEU é demais, é injusto. A Lola falou que ele foi indiciado só por sexo ilegal com menores... "Nada de estupro (houve consentimento), nada de dar álcool e drogas pra uma menina. “Sexo ilegal com uma menor” é visto como um crime pequeno." E agora ele vai pagar pq a GENTE, HOJE, ACHA QUE É ESTUPRO. Uma coisa que não era nos anos 70. Quer dizer, ela faz sexo em 70 e em 2009 vira vítima de estupro? NÃO DÁ NÉ?

O Anônimo falou muito bem, tem gente que está se aproximando dos conservadores da califórnia e forçar a barra pq não admitem q uma adolescente transe com um homem mais velho.

Rita de Cássia

Marjorie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marjorie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marjorie disse...

Lola, o que esta em discussao nao eh o direito penal dos EUA. Ha, portanto, um descompasso no foco dos comentaristas e o seu. A gente ta aqui batendo em velhas teclas feministas e vc tenta puxar a questao pro lado juridico. A gente puxando pro macro e vc puxando pro micro. Sao duas vibes diferentes.

Para mim e, pelo visto, para os demais comentaristas, a discussao nao eh essa. Pouco importa exatamente do que o Polanski foi acusado. Pouco importa o que vai pesar na possivel prisao dele agora -- se o crime em si ou a fuga. O que esta em discussao aqui eh a sociedade considerar grave o crime do estupro. E nao um crime menor. Como disse a Mary W, eh a velha questao de colocar o estupro no rol dos crimes inaceitaveis. E nao dos crimes desculpaveis.

O discurso `free polanski` cai para este lado. Defende que o tal do contexto faz o crime nao ser tao grave -- a ponto de nao merecer nenhuma punicao. Porque, nao, Polanski nao foi punido. Embora eu nao entenda de direito americano, tanto la quanto aqui `ficar longe dos EUA sendo um cineasta que faz filme em ingles` nao eh a punicao estabelecida pelo codigo penal (portanto, pela sociedade) para um estupro. A pena eh cadeia. Polanski foi condenado, mas fugiu. Ele ficou longe dos EUA porque ele QUIS. Se nao quisesse ficar longe da meca do cinema, nao cometesse um crime na meca do cinema entao. Ou cumprisse a porcaria da pena.

Se a menina disse que nao queria, fechou a questao. Eh estupro, cabou, nao tem mais o que discutir. A gente pode ate debater statutory rape, a mudanca de mentalidade em relacao a pedofilia, etc. Sao temas muito pertinentes. Mas o X da questao, neste caso especifico, nao eh esse.

O foda eh que vc ta usando este contexto pra justificar uma nao-punicao. Aih estraga tudo. Se a relacao tivesse sido consensdual, aih sim o contexto faria todo o sentido. E eh por isso que eu acho furada meter o Woody Allen no meio, porque, oi, a mina do Woody Allen nao foi estuprada, ela QUIS. Samantha deixou claro que NAO quis. Se ela nao quis, foi um estupro, estupros tem de ser punidos. Porque estupros tem de ser considerados inaceitaveis. Ponto. Eh soh isso.

Marjorie disse...

Para mim, este caso eh bastante emblematico de muita coisa que nos, feminstas, tanto falamos. A gente gasta a maior saliva combatendo a tal da cultura do estupro, que faz as pessoas considerarem estupro um crime menor, dependendo dos antecedentes da moca. Que acha que homem tem instinto de estuprar e que eh a mulher que tem que evitar ser estuprada, nao o homem que tem que evitar de estuprar. Que diz que mulher quando diz nao, quer na verdade dizer sim. Que bota a culpa na mae e nao no estuprador. Enfim. Tudo isso que a gente tanto combate esta ai, reunido no caso Polanski. A nao-punicao do Polanski corrobora todas essas desculpas. Porque eh assim que o publico em geral justifica a sua nao-punicao. Nao importam as acusacoes formais, porque, se o Polanski nao eh punido, o q ha eh um reforco dessa linha de pensamento.


Mesmo com o depoimento dela sendo tao claro, tem gente que le e nao ve o obvio. Eu vi no Marcelo Rubens Paiva gente comentando, mesmo depois de ler o depoimento, que nao tinha certeza se a menina queria ou nao. Ou seja: o conceito de estupro eh confuso na cabeca das pessoas. Porra, o que a mina tem que fazer pra deixar claro que nao quer? Se debater e gritar feito doida? Soh assim? Ainda assim, ainda periga ter gente achando que nao eh recusa, eh soh alguem que gosta de sexo selvagem.


Por fim, quando comparei tua posicao com o caso henrique goldman, eh porque a discussao, naquela epoca, era justamente essa. Das pessoas nao verem que aquilo era um estupro e da gente ter que ficar desenhando. Entao me surpreende que vc, desta vez, se prenda as desculpas que estao dando para nao considerar este um crime grave. sao dois pesos, duas medidas entao. Da a impressao de que, qdo vc simpatiza com o diretor, vc aceita as desculpas que dao para considerar estupro um crime menos grave.

nao sei se me expliquei bem, mas nao tenho mais muito tempo aqui. bjs

Marjorie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol disse...

Acho que o Polanski, junto com o José Sarney, figura na lista dos "cidadãos incomuns", aqueles que podem cometer crimes, mas não podem ter um julgamento tão "corriqueiro".

Mal.

Anônimo disse...

Lola
acho seu blog e sua cabeça muito bons mas nessa do cineasta voce viajou legal.
Fatima/Laguna

Iara disse...

Há alguns meses atrás você publicou um post bastante ofensivo, ironizando duas mulheres que se identificam como feministas e decidiram participar do #lingerieday. Na ocasião, a crítica era de como elas não enxergavam que aquele ato desvalorizava as mulheres. As envolvidas diziam que ninguém tinha pressionado pra que participassem de nada, que tudo era uma grande brincadeira, mas aparentemente a opinião delas não contava, só o contexto. Embora a minha opinião fosse mais parecida com a sua do que com a delas, me chocou a sua disposição para ironizá-las, para desqualificar sua opiniões.

Pois bem, e agora eu acho inacreditável que uma mulher que se identifique como feminista não enxergue que o "free Polanski" é uma afronta às mulheres. Que o "perdão" dado por Samantha passe a ser assim tão poderoso a ponto de minimizar a gravidade de um estupro na sua opinião. Que você possa demonstrar empatia maior com um estuprador, "porque afinal se passaram 30 tantos anos, ele é um velhinho agora, tinha um contexto", do que com duas mulheres que resolveram que mostrar o sutiã podia ser engraçado e inofensivo.

Não estou dizendo que, na sua opinião uma coisa seja tão grave quanto à outra, claro. Mas pra mim fica claro os dois pesos e duas medidas: esse fez filmes ótimos, com aquelas eu tenho divergências intelectuais.

lola aronovich disse...

Iara, meus posts sobre o lingerie day foram dois. Estão aqui e aqui. Eu não considerei meus posts ofensivos às duas blogueiras que participaram do LD, e nem mais irônico que o meu estilo habitual de escrever. E tenho a impressão que a maior parte das pessoas não teve essa sua impressão. Na realidade, o LD passaria em brancas nuvens pra mim se não fosse um detalhe: a adesão dessas duas blogueiras veio depois que uma outra, a Ana Carolina (que eu não conhecia), escreveu contra o LD, e recebeu comentários machistas e ofensivos por isso. Só.
Se antes do LD eu não tinha nada contra as duas blogueiras (e isso está no post), hoje tenho. Elas fizeram um escarcéu, brigaram com quase todas as “feminazis” (elas usaram o termo), fizeram novas amizades, como com os idealizadores do LD, e disseram que foi bom assim, porque desse jeito puderam escolher melhor seus interlocutores. É um direito delas. Mas acho uma tremenda imaturidade elas entrarem em qualquer caixa de comentários que fale mal das pessoas com quem elas brigaram (comigo elas já tinham cortado qualquer diálogo meses antes) e, independente do que lá está sendo escrito, se posicionem a favor. Falou mal de mim, da Marjorie, da Cynthia, do Tulio, e não me lembro mais de quem, e pronto: best friends forever delas! Como eu saí dessas birrinhas já no jardim de infância, não quero nem saber delas. Apesar de eu não ter twitter, eu (bem) de vez em quando vejo o que vem sendo dito lá. Agora elas estão numa grande felicidade porque podem ser BFF de qualquer um que não goste do meu posicionamento no caso Polanski. Grande oportunidade pra aumentar o círculo de amizades.

Renan disse...

Pessoal,

A Lola acertou ao escolher discutir o caso do ponto de vista do Direito e da Criminologia. Vejam, poderíamos ficar aqui discutindo sobre a personalidade de Polanski, sobre o mal, sobre o horro do estupro. Tudo isso é extremamente válido e merece toda a discussão do mundo.

Mas não confundamos as coisas.

Os mesmos indignados e esclarecidos que discutem a cultura do aborto, não devem se esquecer que nosso Direito Penal é de inspiração iluminista e possui três séculos de amadurecimento no sentido de garantir as prerrogativas do individuo. Não conheço os detalhes técnicos do caso concreto, mas a prescrição é uma dessas formas de garantir que o Estado não possa perseguir o individuo para sempre e da forma como lhe aprouver. Não é subvertendo todos os critérios objetivos que há 300 anos vem tentando humanizar o Direito Penal que conseguiremos combater o machismo ou a cultura do estupro.

E, também do ponto de vista das finalidades da pena, há muito o que se dizer. Há décadas que a pena privativa de liberdade vêm mostrando sinal de sua inutilidade e da mentira da ressocialização. A pena tem efeitos contrários. Hoje, a aplicação da pena deveria obedecer a critérios de finalidade do Direito Penal, a saber o último instrumento que deveríamos utilizar. No caso de Polanski, um velho de 76, que nunca mais estuprou pessoa alguma e que foi perdoado por sua vítima, qual seria a finalidade de se lhe aplicar uma pena?

Pura expiação. E aí os iluminados, letrados e esclarecidos revelam a contradição de seu discurso e a natureza irracional de suas vontades. Vamos refletir melhor.

Abraços,
Renan

Iara disse...

Ok, Lola. Erro meu ressucitar esse caso, não o fiz por motivos de birra, e não sou amiguinha de ninguém aí nessa história. Mas mantenho minha opinião de que você tem dois pesos e duas medidas. Direito seu a ter suas afinidades, com o Polanski inclusive. Só acho pouco coerente.

Anônimo disse...

O problema foi ele ter confessado e fugido da punição. Tivesse ele pago sua dívida com a justiça, a sociedade e hoje nós não estaríamos aqui falando sobre ele.

O fato de ser famoso diretor não o redime do crime que cometeu e se infelizmente naquele contexto ele não foi acusado de estupro é só mais um caso a se lamentar que comprova que ontem e ainda hoje punir um estuprador é muito difícil.

Acho que ele tem que ser preso e cumprir a pena e o fato de não fazer filmes nos eua não é punição e só uma contrariedade que ele soube reverter muito bem, continuando a fazer filmes em outros paises.

Acho um assinte com todas as vítimas de estupro, esse cara estar sendo defendido, unicamente por ser uma pessoa pública.

just me disse...

"Fora isso, crimes têm data de validade."
Ouso discordar! Para as vítimas e seus familiares, as penas não prescrevem. O fato de Samantha ter perdoado não muda as situações que ela viveu ou se envolveu em função do ocorrido.
Assumir as responsabilidade pelos seus atos. Isto tornaria Polanski digno de alguma admiração.

Luciana disse...

Lola, concordo contigo em gênero, número e grau.

RodOgrO disse...

Eu acho que a lei tem que ser mais preto-no-branco mesmo e menos "interpretativa". Abrir exceções é perigoso.

Nesse caso específico, como outro blogueiro já disse, na década de 70 NÃO ERA DIFERENTE e sexo com menores de 18 é proibido na Califórnia desde 1913 (e é até hoje). http://www.theminorityreportblog.com/wire/steve_foley/2009/09/29/huffpo_blogger_falsely_claims_age_of_consent_was_14

Foi crime. O cara CONFESSOU e já foi julgado. Tem que ser punido. PONTO FINAL. Qualquer coisa em contrário incentiva o crime - e até onde sei assassinato, pelo menos nos EUA, não prescreve (ok, admito: segundo um episódio de CSI), não sei estupro (ou "sexo ilegal com menores", seja o que for).

Priscilla disse...

teste

Fábio Catena disse...

Camelo namora akela sonsa da Lu Magalhães, que é menor, e a galera faz repudio a um diretor estrangeiro por um caso ocorrido a mais de 30 anos? Pelo amor...

Rubén disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniele disse...

"Polanksi cometeu um crime ao estuprar Samantha e um erro ao fugir. Pessoalmente, eu acho que ele foi bastante punido: não pôde mais trabalhar nos EUA, que é a meca do cinema." Ai e eu q achava q o texto sobre o estuprador arrependido coitadinho era ruim...