Não sou muito de acreditar em teorias conspiratórias, mas que, no caso do vazamento do Enem, aí tem truta, isso tem. O Luis Nassif cantou a bola já na semana passada: pra ele, o fato do vazamento ter surgido em SP, terra de um governador bem-cotado pra ser candidato a presidente, indica que foi um crime político. Mais um factóide, como os que a mídia fabrica toda semana: a epidemia da gripe suína (a Folha deu em julho que haveria 35 milhões de brasileiros infectados), o caso Lina vs Dilma (ninguém fala mais nisso. Esquisito, né?), a embaixada brasileira no golpe em Honduras etc. O que me faz descartar um pouco essa hipótese do Nassif é que a oposição não pode ser assim tão incompetente. Ou pode? O ministro da educação, Fernando Haddad, se referiu ao vazamento como “coisa de amadores”. Mas amadorismo mesmo é se ficar provado que isso tudo foi uma armação política entre a oposição e a mídia que a apóia abertamente. Pega mal pacas fazer algo tão malfeito.
Olha só, aparentemente a prova foi roubada na gráfica Plural, em SP, que pertence ao grupo Folha. A Polícia Federal tem vídeos mostrando um funcionário colocando a prova na cueca. Aí dois carinhas vão a uma pizzaria nos Jardins, e pedem informações de como entrar em contato com jornais com o dono do restaurante, que havia trabalhado no Estadão. E aí eles marcam com uma repórter do Estadão e exigem meio milhão de reais pra vender a prova. O jornal não compra mas vê algumas das questões, liga pro ministro, comunica a denúncia. O ministro abre o cofre onde está a prova, confere que sim, é essa mesma, vazou, e automaticamente cancela a realização. O preju é alto, 33 milhões de reais pra imprimir uma nova prova, mas poderia ter sido muito, muito pior. Imagina se o Estadão demorasse quatro dias pra publicar a reportagem, e só desse a notícia “Fraude no MEC: jornal tinha questões do Enem” depois da prova ter sido aplicada? Aí sim seria um grande escândalo, danoso pra todos (governo e estudantes), e que provavelmente faria cair o ministro da Educação (e dos 16% que odeiam o Lula viriam novos pedidos de impeachment, renovados a cada acidente aéreo). Alguma dúvida que, se essa bomba tivesse caído nas mãos da Veja ou da Folha, seria justamente isso que aconteceria?
Então por que os criminosos não procuraram a Veja ou a Folha? Bom, segundo a teoria conspiratória, a Veja publica dossiês de acusações contra o governo toda semana , e a revista anda tão desacreditada que eles nem repercutem mais, sem falar que a Abril vende muitos livros didáticos ao governo. A Folha não podia porque a gráfica é da Folha, certo? Sim, é bom deixar isso claro: ainda que a mídia esconda esse pequeno detalhe, a Folha, que faz oposição sistemática ao governo, é dona da gráfica onde uma prova do Enem foi roubada. Ficaria chato se a própria Folha desse a denúncia.
Os carinhas que roubaram a prova já foram indiciados e ouvidos pela polícia. E o que realmente me chama a atenção é o depoimento deles. Dizem que não fizeram o que fizeram por dinheiro, mas por “furo jornalístico”. Tudo bem, imagino que confessar que roubaram uma prova pra fazer fortuna possa resultar numa pena maior pra eles do que a confissão de um crime político (e também, olha o tamanho da incompetência: eles queriam vender a prova pra um jornal? Por que não pra uma franquia de cursinhos, sei lá? Só ontem apareceu um cursinho afirmando que tentaram vender a prova pra eles, por 200 mil, e eles recusaram). Mas desde quando um criminoso comete um crime pra causar um furo jornalístico? Isso eu nunca vi. Quem quer furo jornalístico é jornalista, não criminoso!
A história toda é altamente suspeita. Mas não tem rendido os frutos que a oposição gostaria. Tudo bem, serviu pro Serra declarar que foi “um apagão do Enem”, e fazer pressão pra que a USP e a Unicamp decidissem que não iriam utilizar a nota do Enem (que entraria como 20% da nota do vestibular). Mas o que se viu até agora foi uma marolinha. É verdade, apareceu um grupo de alunos de elite promovendo um tipo de “Cansei Jr”, usando nariz de palhaço e protestando contra o governo. Mas é tão pouquinha gente! O colunista da Época Guilherme Fiuza, candidato a ser um Reinaldo Azevedo mais jovem e bonitinho, diz: “Ainda bem que o movimento estudantil foi comprado por Lula. Senão ia estar uma confusão danada por aí. O que o governo fez este ano com os estudantes brasileiros dava direito a um Maio de 68 novinho em folha”. Pois é, essa é uma boa estratégia pra justificar o silêncio dos estudantes: a UNE foi comprada por Lula! Não que a oposição seja tão fraquinha que não consiga nem mobilizar sua elite pra protestar nas ruas (é que rua é tão pública, né? Coisa de pobre). Eu também não entendo muito bem contra o quê esse grupinho de estudantes protesta. Certo, eles vão ser prejudicados por terem que fazer a prova dois meses depois do previsto, mas isso vale pra todos os alunos, certo? É como quando eu reclamei, desesperada, que iam cair 15 pontos no concurso em Fortaleza, e alguns leitores perspicazes me lembraram que “Sim, é uma droga, Lolinha, mas isso vale pra todos os candidatos”. E o que os alunos reclamões queriam que acontecesse? Que a prova fosse aplicada ainda que tivesse vazado? Foi um crime, pessoal. Não foi intenção do MEC adiar a prova. E vamos esperar que não tenha sido um crime político, porque ainda mais feio que o crime seriam as trapalhadas cometidas pra cometê-lo.
P.S.: Aí eu li que o MEC vai restituir quem pagou pelo Enem e não poderá realizar a prova. Achei ótimo. Só que sabe quanto custa a inscrição? 35 reais. Sabe quem tem que pagar essa fortuna? Só aluno de escola particular. Esses que pedem a cabeça do ministro e talvez, quem sabe, do presidente.
Então por que os criminosos não procuraram a Veja ou a Folha? Bom, segundo a teoria conspiratória, a Veja publica dossiês de acusações contra o governo toda semana , e a revista anda tão desacreditada que eles nem repercutem mais, sem falar que a Abril vende muitos livros didáticos ao governo. A Folha não podia porque a gráfica é da Folha, certo? Sim, é bom deixar isso claro: ainda que a mídia esconda esse pequeno detalhe, a Folha, que faz oposição sistemática ao governo, é dona da gráfica onde uma prova do Enem foi roubada. Ficaria chato se a própria Folha desse a denúncia.
Os carinhas que roubaram a prova já foram indiciados e ouvidos pela polícia. E o que realmente me chama a atenção é o depoimento deles. Dizem que não fizeram o que fizeram por dinheiro, mas por “furo jornalístico”. Tudo bem, imagino que confessar que roubaram uma prova pra fazer fortuna possa resultar numa pena maior pra eles do que a confissão de um crime político (e também, olha o tamanho da incompetência: eles queriam vender a prova pra um jornal? Por que não pra uma franquia de cursinhos, sei lá? Só ontem apareceu um cursinho afirmando que tentaram vender a prova pra eles, por 200 mil, e eles recusaram). Mas desde quando um criminoso comete um crime pra causar um furo jornalístico? Isso eu nunca vi. Quem quer furo jornalístico é jornalista, não criminoso!
A história toda é altamente suspeita. Mas não tem rendido os frutos que a oposição gostaria. Tudo bem, serviu pro Serra declarar que foi “um apagão do Enem”, e fazer pressão pra que a USP e a Unicamp decidissem que não iriam utilizar a nota do Enem (que entraria como 20% da nota do vestibular). Mas o que se viu até agora foi uma marolinha. É verdade, apareceu um grupo de alunos de elite promovendo um tipo de “Cansei Jr”, usando nariz de palhaço e protestando contra o governo. Mas é tão pouquinha gente! O colunista da Época Guilherme Fiuza, candidato a ser um Reinaldo Azevedo mais jovem e bonitinho, diz: “Ainda bem que o movimento estudantil foi comprado por Lula. Senão ia estar uma confusão danada por aí. O que o governo fez este ano com os estudantes brasileiros dava direito a um Maio de 68 novinho em folha”. Pois é, essa é uma boa estratégia pra justificar o silêncio dos estudantes: a UNE foi comprada por Lula! Não que a oposição seja tão fraquinha que não consiga nem mobilizar sua elite pra protestar nas ruas (é que rua é tão pública, né? Coisa de pobre). Eu também não entendo muito bem contra o quê esse grupinho de estudantes protesta. Certo, eles vão ser prejudicados por terem que fazer a prova dois meses depois do previsto, mas isso vale pra todos os alunos, certo? É como quando eu reclamei, desesperada, que iam cair 15 pontos no concurso em Fortaleza, e alguns leitores perspicazes me lembraram que “Sim, é uma droga, Lolinha, mas isso vale pra todos os candidatos”. E o que os alunos reclamões queriam que acontecesse? Que a prova fosse aplicada ainda que tivesse vazado? Foi um crime, pessoal. Não foi intenção do MEC adiar a prova. E vamos esperar que não tenha sido um crime político, porque ainda mais feio que o crime seriam as trapalhadas cometidas pra cometê-lo.
P.S.: Aí eu li que o MEC vai restituir quem pagou pelo Enem e não poderá realizar a prova. Achei ótimo. Só que sabe quanto custa a inscrição? 35 reais. Sabe quem tem que pagar essa fortuna? Só aluno de escola particular. Esses que pedem a cabeça do ministro e talvez, quem sabe, do presidente.
13 comentários:
nossa, Lola, ótimo texto. independente de ser crime político, mas vamos supor q não seja, q seja apenas um idiota querendo o dinheiro q o cursinho ou q jornal dariam pra ele.
O Q O GOVERNO TEM A VER COM ISSO???
é MUITO mais culpa da gráfica do q do governo, SE É q alguém, além do próprio funcionário, tem culpa disso. se um esloveno me assaltar e levar minha carteira, eu vou culpar o governo da Eslovênia???
esses dias passou uma matéria PATÉTICA no JN explicando todo o esquema de segurança das provas similares ao enem na Inglaterra, EUA e etc. não falaram nada do Brasil. dando a entender q aqui não tem segurança nenhuma, q qualquer um pode sair andando com uma prova dessas, como se acontecesse todo dia.
ridículo.
CHOOOORA, ELITE!!! 80% DE APROVAÇÃO POPULAR!!!
Lola, belíssimo texto, tomei a liberdade de enviar para alguns amigos da 'oposição', com os devidos créditos, claro, espero q não se importe.
"Mas desde quando um criminoso comete um crime pra causar um furo jornalístico?"
Ri alto aqui!
Lola, ótimo texto, embora não concorde com alguns pontos. Não acredito que o roubo do ENEM tenha sido um golpe político para desestabilizar o governo, pois, vendo bem os envolvidos, é difícil acreditar que um dono de pizzaria e um DJ poderiam estar prestando serviços à oposição. Da mesma forma, concordo que é altamente estranho que a prova tenha sido levada exatamente para o Estadão, mas ali, naquele exato momento, diante daquelas circunstâncias, eu vejo como uma atitude falha de quem quer que "quisesse desestabilizar o ministro da Educação", mesmo não acreditando nessa atitude conspiratória.
Eu faço parte dos 16% (que eu acredito que sejam bem mais) que desaprova o governo Lula, e meus familiares e amigos (que votaram nele) falaram que se arrependeram totalmente de seus votos. Ao vir aqui, eu sei que estou em um local onde as opiniões são a favor da base aliada. (Nunca li aqui nenhum comentário seu sobre todos os - e olha que são muitos - escândalos no governo Lula). Mas, embora eu prefira a, digamos assim, direita (desculpe pela denominação, eu sei que é altamente ultrapassada e ninguém mais utiliza essa de Direita-Esquerda), eu continuo lendo os seus posts, que eu gosto muito, embora daquela mesma forma: Se você lê a VEJA, certamente deverá ler CartaCapital, para então poder distinguir bem os seus comentários e idéias. Eu gosto de pensar que, em uma analogia, eu leio os seus posts e os posts do Diogo Mainardi. Acho que dá uma boa idéia de dois lados, embora eu ainda prefira o outro, e embora o Mainardi seja muito mais abrupto e só trate sobre política.
Mas é isso, nunca mandei um comentário para o seu blog sobre esse assunto, mas creio que seja legal para você saber sobre os seus leitores assíduos. Continue escrevendo o colocando a sua opinião (não é porque eu não concorde com algumas coisas que você escreve que eu vou deixar de ler o seu blog - seria uma estupidez minha.) Viva a liberdade de pensamento :)
Uma coisa bem estranha que aconteceu antes do vazamento foi que muitos estudantes (muitos mesmo!) tiveram seus locais de prova definidos muito longe de suas casas; meu irmão contou que no cursinho de 100 alunos da sala cerca de 5 iam fazer provas perto de casa, outros 95 tinham que fazer a prova no extremo oposto da cidade, mesmo que a escola do bairro realizasse o exame.
Acho que isso só aconteceu em São Paulo, mas sei lá, acho bem esquisito porque é um erro muito banal...
Sobre esse negócio dos locais de prova do ENEM, eu também fui atingida. Enquanto eu tenho uma amiga que vai fazer a prova em uma escola extremamente perto da minha casa (e ela mora perto de mim, então poderá ir até a pé para lá), o local em que eu vou fazer a prova fica a quase duas horas de ônibus de onde eu moro. :-(
Ah, eu também sou de São Paulo, mas ouvi falar de pessoas de outros estados (conhecidos) que também sofreram com a distância, só não sei se isso foi tão intenso quanto aqui.
Leandro,
Permita-me um aparte sobre o seu comentário, que aliás foi bem feito e como deve ser, ou seja, discordando de forma educada e respeitando a opinião alheia.
Sobre "escândalos no governo Lula" há controvérsias!
- São muitos, mas bem menos que nos governos anteriores;
- Os escândalos agora estão aparecendo muito mais que antes, quando a maioria era acobertada;
- O governo atual fez e faz muito pela parte mais sofrida do povo, diferente dos anteriores que governavam para as elites;
- 99,9% dos políticos é de alguma forma corrupta, pode estar certo. O governo atual, porém, apesar de todos os erros, melhorou muito o país.
Sabe, meu caro, qual é a verdade verdadeira? O poder político e econômico é tão forte que se você entrar e quiser mudar tudo será engolido pelos dragões da corrupção. A solução é ir seguindo a corrente e fazendo o que der pra fazer. Sendo otimista você precisará viver uns 600 anos pra consertar tudo.
Abração, meu jovem!
Olá, Lola.
Passando pra dizer o quanto gosto de assistir House (mesmo ele sendo tão azedo e arrogante) e deixar um beijinho pra você.
Boa sexta!!!
Oi, gente, abraços a todos! Agora estou indo ver Bastardos Inglórios, que milagrosamente estreou em Joinville! Iuhuuu!
Leandro, obrigada pelo comentário que mostra como é possível discordar com grande elegância.
E Mei, vc ganhou: amanhã sai um post sobre o Nobel do Obama.
Aonde o Lula Sarney, ou sarnento? e sua corja põe a mão apodrece. Seja Enem, Honduras, etc.
Gente asquerosa!
Puxa, até que enfim leio algo sensato sobre essa história. Desde o primeiro momento eu pensei:
uai, desde quando bandido vende prova para jornal? por que? (furo jornalistico é ótimo kkkkk, mas não faz o menor sentido)
Foi uma tristeza esse episódio porque arranhou o processo do Enem que, acho eu, é um superavanço na avaliação da educação no brasil.
Eu tenho absoluta certeza de que o golpe não saiu da cabeça desses 5 idiotas (eles são completamente sem noção), tem alguem comandando essa turma, e a gente ainda vai saber quem foi. Confio na Polícia Federal de hoje como nunca confiei em polícia nenhuma.
Agora, um pequeno aparte:
a pessoa tem que ter muita paciência para manter um blog né?
Imagina esse leandro vir aqui e te permitir continuar escrevendo...achei o máximo
É, esse "super" protesto pelo vazamento do enem foi ridiculo...
E achei interessante o que o Leandro disse, vc tem que ler sobre o q vc gosta e sobre o q vc não gosta, pra poder formar uma opnião verdadeira!!
E viva direitistas com dicernimento!! Não concordo com você, mas não preciso te odiar por isso.
E Barbara, não acha um exagero dizer isso de que o Leandro "permitiu" q a Lola continuasse escrevendo?! Quantos de nós, fãs da Lola, não deixamos recados incentivando e pedindo pra ela continuar a escrever?
No Globo, no dia seguinte aos protesto dos estudantes, saiu uma matéria no primeiro caderno do jornal de pagina inteirra. Os cabeças do "movimento" são todos estudantes dos colégios mais tradicionais do Rio de Janeiro, tanto os particulares - Santo Inácio e Escola Parque, por exemplo - quanto os públicos - Pedro II e Colégio de Aplicação da UFRJ. Ou seja, protesto de estudantes da elite.
Na boa, é coisa de gente que não sabe a quantas anda a educação fora do seu cercadinho. A situação é muito pior do que eles podem imaginar e não se limita ao roubo de provas que foi um problema pontual.
O jornal deu uma importancia absurda ao protesto enfatizando que a mobilização foi feita através do orkut e do msn, e que os garotos eram apartidários - leia-se apolíticos.
Essa imprensa não é mole!
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