Uma leitora muito sacana, a Nara, me recomendou um vídeo pra assistir. Gente, por favor, não façam isso, ainda mais se o troço for interessantíssimo, como o documentário de 25 minutos recomendado pela Nara. Eu tenho um concurso daqui a alguns dias, preciso estudar! Tenham dó de mim. E eu não consigo deixar passar um vídeo desses.
Se vocês tiverem um pouco mais de tempo do que eu, vejam o documentário. Falado em italiano, com legendas em português, ele mostra como a mulher é retratada pela TV na terra do Berlusconi. É deprimente. Bom, evidentemente qualquer compilação de imagens femininas tiradas de programas de TV de qualquer país no mundo será deprimente. Eu morei nos EUA e vi TV durante um semestre (depois aposentei o tubo), e lá não é diferente. Muda um pouco (muito pouco) a intensidade. Como dizia um amigo inglês, no way que uma dança da garrafa seria mostrada na TV britânica, porque tal dança seria considerada explícita demais. Entenda: não é por ser considerada humilhante pras mulheres, não é por traduzir para toda a família fantasias pornôs―é por ser um tanto explícita apenas. Tá, a dança da garrafa já saiu de moda por aqui há um tempão. Nem sei o que colocaram no lugar, mas tenho certeza que colocaram alguma coisa.
É triste saber que 60% do público de TV é composto por mulheres, e que várias mulheres têm poder no programas italianos, e mesmo assim o que se produz é tão ofensivamente contra as mulheres. O documentário mostra, e é difícil discordar, que pra ser liberada, toda mulher hoje em dia tem que se colocar no papel do objeto sexual. Esse é o discurso oficial. Não importa se a mulher “escolhe” fazer esse papel―sua objetificação será a mesma. E qual é a escolha, no fundo, pra essas moças que aparecem semi-nuas na TV? Essas moças que aparecem em posições degradantes, sem que lhes seja dada a permissão pra falar? A escolha é simples: é aparecer ou não na TV. Ou tira a roupa, ou não aparece. Se a moça recusar a grande oportunidade, tem cem jovens na porta que se dispõem a qualquer coisa. Não é que essas moças sejam despudoradas, sem-vergonhas, vadias, nada disso. Elas―nós todas―foram criadas justamente pra isso. Elas aprenderam desde pequenas o que se espera delas, que o que importa é sua aparência, e que essa aparência pode e deve ser mercantilizada, pois é por tempo limitado. Elas estão seguindo o script direitinho. E nós também, porque a gente acredita nisso. A gente dá ibope pra essas imagens. A gente compra todos os produtos vendidos. A gente insiste em creminhos pro rosto que não tem eficácia nenhuma. A gente fica com vergonha de envelhecer. A gente cai direitinho no conceito de beleza única. O que é engraçado é que lavagem cerebral seja vista como escolha.
O documentário também fala brevemente sobre a estética pornô que tomou conta da nossa sociedade visual. Não é exagero nenhum dizer que a pornografia virou padrão. Um padrão mais do que aceito por todos―imposto, até. Achar que há algo feminista em fazer parte deste açougue é bastante ridículo.
Entre outros trechos impactantes, o vídeo usa (no final) uma coreografia perturbadora da Pina Bausch (que morreu em junho), e uma fala da atriz Anna Magnani. Ao se preparar para um close up num filme, ela pediu para o maquiador: “Não cubra nenhuma ruga. Levei a vida toda para fazê-las”. Pois é, porque rugas, linhas de expressão, marcas se fazem. São sinais da nossa experiência, da nossa vivência. Por que elas devem ser vistas como defeitos e, portanto, escondidas? Não venham me dizer que é igual pros homens, porque não é. Eles estão apenas engatinhando. Ainda são pouquíssimos os que se submetem à faca. Homem não tem que ouvir “Puxa, difícil acreditar que você tem 40 anos. Pois você é bonita!”. A pessoa que diz isso não fala por mal. Ela só não aprendeu a pensar com outros olhos. Para a narradora do documentário, o padrão único que vemos na mídia passa “a face humana como mensagem: vulnerabilidade absoluta”.
E, de brinde, ainda ouvimos uma celebridade italiana reclamar que “há preconceito contra mulheres bonitas”. Não, querida: há preconceito contra mulheres. Ponto. O problema é que só as bonitas―leia-se jovens, siliconadas, magérrimas, esticadas―aparecem na TV. Daí, parece que só elas estão sendo humilhadas diariamente. Mas não é verdade. É humilhante pra todo mundo. O silêncio dos homens, sua feliz aprovação, é igualmente humilhante―pra eles. É humilhante pra humanidade como um todo que metade da população continue a ser vista como um pedaço de carne. E, infelizmente, pra fugir disso não basta desligar a TV ou passar longe de uma banca de jornais. É preciso que nós, mulheres, nos reinventemos. Como fazer isso? You tell me.
É triste saber que 60% do público de TV é composto por mulheres, e que várias mulheres têm poder no programas italianos, e mesmo assim o que se produz é tão ofensivamente contra as mulheres. O documentário mostra, e é difícil discordar, que pra ser liberada, toda mulher hoje em dia tem que se colocar no papel do objeto sexual. Esse é o discurso oficial. Não importa se a mulher “escolhe” fazer esse papel―sua objetificação será a mesma. E qual é a escolha, no fundo, pra essas moças que aparecem semi-nuas na TV? Essas moças que aparecem em posições degradantes, sem que lhes seja dada a permissão pra falar? A escolha é simples: é aparecer ou não na TV. Ou tira a roupa, ou não aparece. Se a moça recusar a grande oportunidade, tem cem jovens na porta que se dispõem a qualquer coisa. Não é que essas moças sejam despudoradas, sem-vergonhas, vadias, nada disso. Elas―nós todas―foram criadas justamente pra isso. Elas aprenderam desde pequenas o que se espera delas, que o que importa é sua aparência, e que essa aparência pode e deve ser mercantilizada, pois é por tempo limitado. Elas estão seguindo o script direitinho. E nós também, porque a gente acredita nisso. A gente dá ibope pra essas imagens. A gente compra todos os produtos vendidos. A gente insiste em creminhos pro rosto que não tem eficácia nenhuma. A gente fica com vergonha de envelhecer. A gente cai direitinho no conceito de beleza única. O que é engraçado é que lavagem cerebral seja vista como escolha.
O documentário também fala brevemente sobre a estética pornô que tomou conta da nossa sociedade visual. Não é exagero nenhum dizer que a pornografia virou padrão. Um padrão mais do que aceito por todos―imposto, até. Achar que há algo feminista em fazer parte deste açougue é bastante ridículo.
Entre outros trechos impactantes, o vídeo usa (no final) uma coreografia perturbadora da Pina Bausch (que morreu em junho), e uma fala da atriz Anna Magnani. Ao se preparar para um close up num filme, ela pediu para o maquiador: “Não cubra nenhuma ruga. Levei a vida toda para fazê-las”. Pois é, porque rugas, linhas de expressão, marcas se fazem. São sinais da nossa experiência, da nossa vivência. Por que elas devem ser vistas como defeitos e, portanto, escondidas? Não venham me dizer que é igual pros homens, porque não é. Eles estão apenas engatinhando. Ainda são pouquíssimos os que se submetem à faca. Homem não tem que ouvir “Puxa, difícil acreditar que você tem 40 anos. Pois você é bonita!”. A pessoa que diz isso não fala por mal. Ela só não aprendeu a pensar com outros olhos. Para a narradora do documentário, o padrão único que vemos na mídia passa “a face humana como mensagem: vulnerabilidade absoluta”.
E, de brinde, ainda ouvimos uma celebridade italiana reclamar que “há preconceito contra mulheres bonitas”. Não, querida: há preconceito contra mulheres. Ponto. O problema é que só as bonitas―leia-se jovens, siliconadas, magérrimas, esticadas―aparecem na TV. Daí, parece que só elas estão sendo humilhadas diariamente. Mas não é verdade. É humilhante pra todo mundo. O silêncio dos homens, sua feliz aprovação, é igualmente humilhante―pra eles. É humilhante pra humanidade como um todo que metade da população continue a ser vista como um pedaço de carne. E, infelizmente, pra fugir disso não basta desligar a TV ou passar longe de uma banca de jornais. É preciso que nós, mulheres, nos reinventemos. Como fazer isso? You tell me.
21 comentários:
SER no mais amplo sentido da palavra talvez nos tirasse da vitrine de um açougue.
E SENDO talvez soubessemos criar filhos(filhas) melhores,irmãos)irmãs) mais exclarecidos e maridos mais sensiveis.
carinho
Denise(SENDO)
Lola, é difícil ser, procuro todos os dias SER.
=^.^=
Nós temos um inimigo forte... e grande parte da população mundial do lado dele (mesmo que inconscientemente).... mas sejamos otmistas.... desistir jamais...
Esse documentário vai me tirar o sono, vou refletir mais a respeito dessa máscara de infalibilidade que as mulheres são obrigadas a usar. Só lamento não ter uma resposta para a sua questão.
Lola, MUITO Obrigada!!!!! Vou te deixar em paz agora, hehe... E não é Nina, é Nara tá? Te acompanho sempre, e to na torcida pelo concurso! Bjs!
Lola, teu post me fez lembrar de um vídeo que eu vi ontem. São atrizes de comédia americanas com mais de 40 anos (Sarah silverman, Julia Lous-Dreyfus, Christina Applegate, etc) falando sobre como Hollywood não permite que as mulheres envelheçam.
Em um ponto da entrevista, uma das atrizes (não lembro o nome dela) diz: "me cogitaram para o papel da mãe de Fulana de Tal num filme. E eu sou só 8 anos mais velha que ela!" E a Christina Applegate fala: "uma vez uma revista vetou fazer uma capa comigo quando souberam que eu tinha mais que 35 anos. Eles não põem mulheres com mais de 35 na capa".
(isso pq a Applegate tenha cara de muito mais nova, héin!)
...Essa da revista é uma prática. E acontece no Brasil não só nas capas, mas tb nas matérias. Uma amiga minha serviu de personagem (só deu as aspas!) para a matéria de uma revista feminina (não vou dizer qual é, vai. Depois, se quiser, eu te digo qual por email). Ela tem 27 anos. Aí perguntaram pra ela se ela se incomodava que colocassem na matéria que ela tinha 25. "É que a rigor a gente não usa personagem com mais de 25.... É o público-alvo da nossa revista". Como se uma mulher com 26 anos e dois dias não pudesse se interessar pelo que está escrito ali, né?
Enfim, super fugi do assunto, mas. O link para o vídeo das atrizes tá aqui: http://contexts.org/socimages/2009/07/28/getting-older-as-a-woman-in-hollywood/
bjs
Engraçado, Lola, que os homens que conheço não são tão exigentes em relação a beleza padrão/produto do que as mulheres que conheço. Elas cobram mais e se cobram mais do que eles.
Nossa, deprimi. Muito bom o documentário, obrigada por divulgá-lo. E eu também não tenho uma resposta pra tua questão, infelizmente.
Eu tenho uma professora, uma das primeras feministas da minha cidade, que diz algo que concordo muito: Temos que olhar tudo com um olhar de gênero. É difícil se policiar assim, mas chegará o dia, eu espero, que não existirão motivos para nos policiarmos. Por enquanto vamos no boca-boca, no blog, no trabalho...
PS: Obrigada pelo comentário, Lola. Pode colocar o post no próximo concurso que eu topo. Boa sorte no concurso. Larga esse blog e vai estudar! hehehe
Bjocas!
O SER mais que o TER,
ensinar para os filhos que o ter NÃO É O MAIS IMPORTANTE, E SIM O SER COMO A PESSOA, suas atitudes na vida.
Fazer com que as pessoas TEEM percebam que não é isso, e sim a melhora da vida, uma visão mais real que SENTIMENTOS valem mais que DINHEIRO.
MUDAR A SI MESMO E OS OUTROS AO REDOR.
É impressão minha ou a TV Italiana é bem pior que a brasileira?
marjorie, se a sarah silverman tava reclamando é pq a coisa tá crítica...
Andréia, a TV italiana consegue sim ser pior que a brasileira. Em qualidade geral e nessa questão da exploração da imagem da mulher.
Adorei o post. Um beijo
this article reminded me of u.
http://www.nytimes.com/2009/08/08/opinion/08herbert.html?_r=1&partner=rss&emc=rss
Olá Lola!
Adorei o documentário, principalmente pra ver que na santa Europa nem tudo é tão perfeito assim.
Esse assunto da objetificação é deveras complicado e muitas vezes ouço soluções para ele que passam pela educação e pela cultura (assim como todos os problemas modernos...). O problema é que tenho a impressão que essa não seja uma solução completa.
Quase nenhum homem (ou mulher) "instruido" teria paciência de ver uma mulher pindurada e um idiota carimbando sua bunda. Mas, me parece, não sou estudioso do assunto, que a cultura e a educação trazem apenas um refinamento maior da tecnologia da objetificação, sutilezas maiores que, no fim das contas, são a mesma coisa. Ai, ai...
Beijos
ui, vou ver. fico tão pooota quando ouço "você ainda está bonita". Ainda, pq, né? já com 40, daqui a pouco as pessoas têm certeza q não serei mais, né?
e sobre não envelhecer, acabei de postar na Marjorie minha indignacao com um comercial de carro que está passando na tv. deu nojo.
Semana passada, tava acompanhando na tv o caso de uma mulher casada, mãe de 2 filhos, em q ela dizia q sua relação com o marido esfriou pq ela estava com a cabeça ocupada na criação dos filhos e acabava passando o dia td de pijama pq era a roupa mais prática/confortável pra ficar o dia td com os pequenos (o mais velho tinha 3 anos). Eu já achei um absurdo a história até aí, pq o marido deveria é admirá-la por ela apesar de ter profissão ter largado td pra cuidar dos filhos, por renunciar às suas vontades pela criação de 2 seres, enquanto eles q têm uma boa vida financeira poderiam contratar uma babá e ela ter virado uma mulher fútil q gastasse o dinheiro do marido em compras e salão de beleza. Mas enfim... Levaram a mulher pra recauchutar geral no salão e depois fizeram uma sessão fotográfica sensual pra aumentar a auto-estima dessa mulher, como se pra ser uma boa esposa ela precisasse fazer caras e bocas empinando a bunda de calcinha e sutiã, ou ela perderia o marido pra outra q o fizesse! Jesus, como é isso? Pra arrematar, hj vi essa matéria (http://vilamulher.terra.com.br/beleza-revelada-3-1-31-261.html) sobre as mulheres q fazem esses books sensuais pra se sentirem melhores consigo mesmas... Vejo q as próprias mulheres já não sabem q valores elas têm, q elas mesmas valorizam q continuem sendo apenas um corpo e nada mais... É muito triste...
O que me deprime é a generalização!
O padrão imposto para a mulher determina uma comportamento padrão para o homem; e quem estiver fora que dance o vira!
"a gente cai direitinho no conceito de beleza única"
Não acho que o conceito seja único, existem elementos em comum, mas ele não é único. Sempre foi assim em todas as épocas e culturas. Não é criação da TV. Homero já descreve a mulher bela. Cleopatra, mesmo antes de ser Elizabeth Taylor, já era considerada bela.
A beleza é necessariamente excludente ou não é beleza. O que se pode discutir é se beleza é tão importante assim como nos dizem.
Há uma semana estou lendo o seu blog desde os primeiros posts, e paralelamente venho lendo outros textos e assistindo videos que encontro (muita coisa eu vou descobrindo a partir daqui, ou indo de um site a outro). Ontem cheguei a esse vídeo italiano, e ele tirou o meu sono. É realmente muito cruel, principalmente porque mostra nada mais que a realidade. E pensar que na TV brasileira não muda muita coisa, e lembro bem que parte da minha infância passei assistindo coisas assim. E são assim até hoje (talvez piores). E já é tudo tão banal que a gente aceita, ou no máximo apenas muda de canal ou desliga a TV. É algo tão difícil de admitir, que colocamos a "culpa" nas mulheres que se submetem a isso, não entendemos que é igualmente cruel pra elas, que o problema é muito mais grave. Por mais que estas mulheres, consideradas bonitas e sensuais, façam "sucesso" e nos ditem como deveríamos ser para sermos aceitas, o mais absurdo é que nem elas se aceitam completamente, estão sempre competindo umas com as outras e estarão sempre se sentindo ameaçadas, principalmente pelo envelhecimento. É muito triste que seja assim, e não sei o que dói mais, se é ser refém disso, se conformar, ou se é conseguir enxergar como as coisas realmente são e não ver muitas perspectivas de mudar isso...
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