quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

DAMARES, MESTRE EM SEQUESTRO DE CRIANÇAS INDÍGENAS

Campanha de Damares contra aborto em 2013

Mais uma vez, não está sendo uma semana boa para Damares Alves, sinistra da Família, Mulher e Direitos Humanos do governo catastrófico comandado pelo chefe da famiglia que tem ligações com milícias.
A revista Época traz uma reportagem exclusiva sobre Lulu, a moça indígena que até pouco tempo Damares dizia ser sua filha adotiva, mesmo sem qualquer registro. A matéria apurou na aldeia Kamayurá, no Xingu, que a nossa Nazaré Tedesco da vida real levou a menina com então 6 anos de idade para um tratamento dentário e nunca mais a devolveu. Dizem as más línguas que quem denunciou Damares foi Magno Malta, seu padrinho político, com inveja por ter ficado fora do ministério.
Damares é fundadora da ONG Atini, acusada de tráfico e sequestro de crianças, exploração sexual e incitação ao ódio contra indígenas. Há três ações, todas correndo em segredo de justiça. Vale lembrar que a Funai está na pasta deste ministério que tem família e direitos humanos no título. E para quem compra a narrativa furada que evangélicos como Damares sequestram bebês indígenas para salvá-los do infanticídio, aqui há um ótimo texto sobre o assunto. 
A outra notícia sobre a sinistra, muito menos grave, é a comprovação de que ela passou anos mentindo. Nas palestras que dava, ela se apresentava como mestre em educação e em direito constitucional e direito da família. A Folha quis saber onde ela fez os mestrados, já que se dizia mestre nessas áreas todas. 
A resposta da sua assessoria, três semanas depois de ter respondido que a ministra não tinha currículo Lattes, foi: "Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico". 
Eu nem deveria me surpreender que uma pastora finge ser mestra, já que ela faz parte de um governo em que um guru lunático que largou a escola na quarta série é chamado de filósofo, e em que um capetão medíocre é empossado presidente. Mas então basta ser evangélico para ser mestre e doutor?! Deve ser por isso que uns tempos atrás vi uma entrevista de Ana Caroline Campagnolo, aquela que foi eleita deputada estadual e que incita alunos a filmarem professores que falem mal do presidente dela, em que o entrevistador a chamava de doutora. "Não quero nem saber, pra mim você é doutora", explicou ele. A olavete era mestranda na época.
É meio chato pra quem rala dois anos no mestrado e tem que escrever e defender uma tese para só depois ser titulado mestre, ou pra quem faz no mínimo quatro anos de doutorado para ser considerado doutor, ouvir que basta se declarar mestre em alguma coisa pra ser mestre. Sendo assim, estou me declarando mestre em assuntos chocolamentais. Até meados do ano espero concluir meu doutorado em manias felinas. 
Como disse a Viviane, é bem possível que Damares tenha feito pós-graduação non-sensu. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

QUEREMOS JEAN WYLLYS VIVO (E LULA LIVRE)

Ato de solidariedade a Jean ontem, em SP

Hoje ficou escancarado pro mundo que Lula é um preso político. A gente já sabia -- fizeram de tudo para que ele, favorito, não pudesse concorrer às eleições no ano passado --, mas desta vez não restou nenhuma dúvida.
Seu irmão mais velho, Vavá, morreu, vítima de câncer. O velório foi hoje à tarde em São Bernardo do Campo. É um direito de um preso ir ao velório de mãe, pai, irmão, cônjuge e filho, mas a justiça negou, alegando que as aeronaves estavam sendo usadas em Brumadinho. O PT sugeriu pagar um avião para levar Lula e os policiais que o acompanhariam para o enterro. Afinal, até durante a ditadura militar, em 1980, quando Lula esteve preso, ele pôde deixar a prisão para ir ao enterro da mãe.
Enquanto isso, um dos filhos de Bolsonaro encarregou-se de espalhar fake news sobre Lula, dizendo que ele não foi ao enterro de dois meio irmãos em 2004 e 2005, como se fosse a mesma coisa. Lula teve cerca de 20 meio-irmãos por parte de pai, mas não tinha contato com eles. Já Vavá era muito próximo. Pra completar, as teorias conspiratórias da extrema-direita narram que o ex-presidente teria mandado matar seu irmão querido, para poder fazer um comício no enterro.
Quanto medo os reaças têm do Lula, não?
Parece que vivemos mesmo num Estado de exceção. Ontem na Faculdade de Direito da USP houve um belo ato de solidariedade a Jean Wyllys, que na semana passada anunciou que vai abrir mão do seu terceiro mandato como deputado federal e deixar o Brasil em função das inúmeras ameaças de morte que tem recebido.
O ato contou com a presença de Boulos, Haddad, Manu, e Laerte, entre outros. Duas deputadas estaduais recém-eleitas pelo Psol, Erica Malunguinho e Erika Hilton, ambas de SP, fizeram discursos importantes referentes ao Dia Nacional da Visibilidade Trans, que foi ontem. Malunguinho afirmou estar aliviada com a decisão de Jean, já que "permanecer vivo é o nosso maior ato de resistência". 
No sábado, o Ministério da Justiça de Sérgio Moro divulgou nota dizendo que não há omissão por parte das autoridades e que as ameaças vêm sendo investigadas, e deu como exemplo a prisão de Marcelo Valle Silveira Mello, do grupo Homens Sanctos. Bastante gente de esquerda disse que foi desculpa esfarrapada de Moro e que ele se referia à Operação Intolerância, de 2012. Mas teve gente do Psol que ficou contente, já que foi a primeira vez que o Ministério da Justiça revelou o nome do principal acusado das ameaças de Jean. 
Marcelo e Emerson em
janeiro 2016, em Curitiba
Como eu já disse, uma boa parte das ameaças que Jean recebe vem da mesma quadrilha que me persegue. Nós dois éramos alvos preferenciais de Marcelo desde 2011. A Operação Bravata, deflagrada em maio do ano passado, só prendeu Marcelo, o líder do grupo. Há outros membros que continuam soltos. Em dezembro Marcelo foi condenado a 41 anos de cadeia por vários crimes, inclusive alguns que datam de 2011 e pelos quais ele não havia sido responsabilizado na época. Mas ele deve estar recorrendo, e o processo corre em segredo de justiça, provavelmente porque um de seus muitos crimes envolve pornografia infantil.  
Depois da nota de Moro, Jean, por meio de sua assessoria, mostrou dois novos emails com ameaças a seus familiares. Um email, da "corporação Comando Virtual Marcelo Valle", dizia que Jean podia estar seguro exilado na Europa, mas seus irmãos, não. E colocava os dados pessoais desses irmãos. Os emails decerto vinham com o endereço goec@protonmail e eram assinados por Emerson. Ou seja, o mesmo padrão das ameaças enviadas por email desde o final de 2016. 
As fake news dos bolsominions sobre a saída de Jean continuam a todo vapor, mas suponho que, a esta altura, os babacas não mais duvidam que as ameaças existem e são terríveis. O Psol já anunciou que processará um monte de gente, a começar pelos caluniadores mais graúdos e influentes. 
Hoje o partido lançou um manifesto internacional que reproduzo aqui. Para ver as mais de 500 assinaturas (euzinha entre elas), veja aqui
QUEREMOS JEAN WYLLYS VIVO!
Recebemos, com muita tristeza, a decisão de Jean Wyllys de deixar o país e seu mandato como Deputado Federal. Diante da omissão do Estado brasileiro em garantir segurança e proteção a Jean, esta medida radical é consequência das inúmeras ameaças recebidas e de uma cultura violenta que despreza a vida de LGBTIs brasileiras.
O Brasil é o país em que mais morrem LGBTIs em crimes de ódio, que persegue negras e negros e onde o feminicídio de mulheres cis e trans bate recordes. Já nestes primeiros dias de 2019, choramos o assassinato de Quelly da Silva, travesti assassinada com requintes de crueldade. Outra adolescente, também travesti, foi apedrejada e perdeu 8 dentes. Um mulher lésbica foi assassinada e depois estuprada enquanto trabalhava. Seguimos sem justiça para Marielle Franco. A situação é aterrorizante.
Nosso país é também um dos que mais perseguem defensoras e defensores de Direitos Humanos em todo o mundo. A decisão de Jean Wyllys, em defesa de sua vida, é compreensível e tem nossa ampla solidariedade. É sinal de que a democracia no Brasil está em risco e que a violência ganhou contornos absolutamente inadmissíveis.
Repudiamos a postura de representantes do Judiciário, Legislativo e do Executivo que minimizam a gravidade da situação em que se encontra Jean Wyllys e que, em tom jocoso, assinalam carta branca aos perpetradores destes crimes. Isto apenas amplia a perseguição a LGBTIs, mulheres, negras e negros e aos defensores e defensoras de Direitos Humanos.
Estamos ao lado de Jean Wyllys e o queremos vivo.
A democracia no Brasil está em risco. É fundamental ampla solidariedade a todos os que resistem e defendem os Direitos Humanos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A VITÓRIA DOS SOCIALISTAS NA ELEIÇÃO AMERICANA, UM DESAFIO POLÍTICO

Publico artigo de João Paulo Jales dos Santos, estudante do curso de Ciências Sociais da UERN e colaborador frequente aqui do blog. 

Elizabeth Warren é oficialmente pré-candidata presidencial democrata. O anúncio de Warren ocorreu cedo. Via de regra, pré-candidatos anunciam suas postulações entre os meses de março e abril. Warren, uma das líderes do movimento progressista, pode dividir a disputa pela indicação do movimento à presidência com Bernie Sanders, que não anunciou ainda que estará concorrendo, mas é alta a probabilidade do senador de, pela segunda vez consecutiva, ser candidato à indicação democrata. 
Sanders não é filiado ao partido, é independente, mas no Senado é vinculado aos democratas através do caucus, congregação senatorial que o vincula à bancada democrata. Warren em 2016 não chegou a apoiar publicamente Sanders, preferiu se manter neutra durante o processo de primária de seu partido, vindo a tomar posição somente após a escolha de Hillary Clinton como candidata oficial, momento no qual Warren discursou na convenção nacional democrata defendendo o voto em sua correligionária. 
A corrida presidencial nos Estados Unidos se inicia cerca de um ano e meio antes das escolhas dos candidatos pelos partidos em suas respectivas convenções partidárias. Há expectativas de que outros nomes vinculados ao movimento progressista anunciem candidaturas, no entanto, com o anúncio de Warren, a senadora acabou por refrear outros possíveis postulantes do seu movimento político, prejudicando, inclusive, chances maiores de Sanders conseguir a indicação. Se vier a anunciar a pré-candidatura, ele disputará diretamente com Warren o voto dos liberais-progressistas, dos socialistas democratas e da classe trabalhadora. Mas caso perca a indicação, fica a dúvida se poderá tentar uma candidatura à presidência concorrendo como candidato independente, se estiver bem posicionado nas pesquisas.
Convém olhar cuidadosamente o mapa da votação eleitoral das primárias democratas em 2016. Sanders aliou em torno de si os eleitores brancos democratas dos estados tradicionalmente mais conservadores, com os votos dos trabalhadores progressistas e os jovens e adultos mais à esquerda. Perdeu a indicação para Hillary porque teve baixíssimo apoio entre os negros, que representam um número alto de eleitores nas primárias democratas. 
Desde 2017, Sanders vem viajando o país e levando sua plataforma de governo para estados tradicionalmente republicanos e aqueles atrelados à classe trabalhadora do meio-oeste. O intuito é organizar em torno de si os eleitores identificados com as causas trabalhistas e sociais, mas que penderam para Donald Trump em 2016, e tornar seu nome mais conhecido entre o eleitorado sulista negro, grupo que foi crucial por fazer de Hillary a indicada em 2016. É extremamente relevante que Sanders esteja levando sua plataforma para estados rurais, de médio porte populacional e para as antigas zonas industriais americanas. As andanças por essas regiões compreende zonas eleitorais longe da influência política e cultural dos grandes centros liberais americanos. 
O movimento progressista democrata, que reúne em seu interior membros jovens, racialmente diversificados, com preponderante liderança de mulheres e partidários identificados com o socialismo, tem agora uma real possibilidade de tirar das mãos do establishment democrata neoliberal centrista a indicação presidencial de 2020. Alguns fatores são cruciais para isso. 
A ala progressista está mais mobilizada na base dos movimentos de massas, o eleitorado democrata tem opiniões majoritariamente identificadas com as propostas trabalhistas, sociais e ambientais defendidas pelos progressistas, e um fator crucial que pende para que a balança do poder do controle do partido possa estar daqui a alguns anos sob controle do movimento, é que os democratas socialistas e progressistas são muito mais jovens que seus correligionários centristas. Há um enorme fosso geracional que divide a esquerda democrata dos centristas democratas. 
E como a ascensão nas fileiras partidárias pertence ao grupo vinculado com as ideias de Alexandria Ocasio-Cortez, presume-se que as jovens lideranças socialistas serão aquelas que em breve estarão à frente da direção política do partido democrata. 
E é justamente no que tange à liderança que os socialistas e progressistas democratas estarão sendo testados. Política é capacidade qualitativa de liderança, e as novas lideranças que ascendem na legenda democrata serão testadas nesse quesito. Os mandatos da ala mais à esquerda do partido serão postos em prática na atual legislatura americana. O modo como irão apaziguar, moderar, estabelecer consenso e debelar crises, são pontos cruciais aos quais as novas lideranças estarão sendo testadas. 
Se forem bem-sucedidas, tendem a ter maior controle sob o partido democrata, e com isso, moldarem a agenda política da legenda, deslocando-a do centrismo liberal para uma plataforma mais à esquerda. 
Não será tarefa fácil. O grupo de Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib, Ilhan Omar, se verá diante de lobbies de grandes corporações, de necessidade de captação de recursos para eleições e mobilizações sociais e parlamentares. Como reagirão os socialistas democratas diante dos conflitos que terão com as forças econômicas neoliberais dirá e muito da capacidade do grupo de liderar uma mudança política no partido democrata. 
Há uma profunda crise social e econômica nas entranhas dos Estados Unidos. O desemprego está em baixa, mas a qualidade dos empregos está aquém do período pré-crise. Os ganhos reais nos salários se dá paulatinamente, e não são todas as categorias que ganham aumentos reais, que se concentram na faixa dos empregos ligados à área de ciência e tecnologia e aqueles vinculados às carreiras executivas. A desindustrialização deixou uma profunda depressão social na região da outrora portentosa base econômica industrial manufatureira. Os altos salários da indústria deixaram de existir, e a mão-de-obra dos trabalhadores teve que se voltar para subempregos ou então se alocar em funções empregatícias de menor remuneração, como aquelas do setor de serviços. 
A recuperação econômica não se dá uniformemente entre as regiões americanas, as costas oeste e leste consomem grande parte da recuperação econômica da crise neoliberal de 2007/2008, enquanto o vasto interior americano ou não vê ganhos, ou quando os vê, são extremamente modestos. E o crescimento econômico das costas não ocorre de maneira padronizada dentro das regiões dos estados. Enquanto as grandes áreas metropolitanas de Washington, Oregon, Califórnia, Nova York, Nova Jersey e Massachusetts, concentram a quase totalidade do crescimento econômico e da oferta de postos de trabalhos com melhores salários, as regiões interioranas afastadas das grandes cidades enfrentam dificuldades econômicas. 
Homeless in Seattle: sem teto
Além dos desafios de ordem econômica que o movimento progressista terá que enfrentar e oferecer propostas para solucionar, há o exponencial aumento da desigualdade social, da miséria e da falta de habitação que assola a sociedade americana. Nova York, as cidades do Vale do Silício, Los Angeles e Seattle, só para citar algumas, estão com ruas cada vez mais abarrotadas de mendigos, com aluguéis altíssimos, um alto percentual de gentrificação, que  faz questionar não só socialmente, mas moralmente, se é saudável ter grandes empreendimentos de alta tecnologia  nas zonas urbanas densamente povoadas, quando a presença de grandes corporações, por mais que ofereçam mais empregos e com possibilidade de melhor remuneração, estão fortemente correlacionadas com uma piora na já aguda crise social acarretada pelo neoliberalismo. 
Sem teto no Vale do Silício
O custo financeiro governamental que impacta na alta renúncia tributária que cidades oferecem para instalações de megas corporações, abrindo mão, portanto, de mais recursos para a provisão de serviços públicos, aliado com cada vez mais exclusão social causada pela chegadas da corporações, é um debate em voga na sociedade americana, que os líderes socialistas terão que tomar dianteira caso queiram frear mais geração de desigualdades.
Trocadilho de acampamento de sem-teto em Seattle: home sweet home (lar doce lar) vira homeless (sem teto)
Alguns dos grandes financistas democratas, que adoram doar para causas humanitárias e das liberdades individuais, mas que não gostam quando se questiona a ordem liberal, certamente não ficarão contentes com a ascensão de um grupo de jovens socialistas que questionam o status quo do atual estágio econômico-predatório, consumista e imediatista neoliberal. Não será pouco o incômodo causado em grandes doadores ao verem ser questionados seus negócios que geram desigualdades sociais, paulatino desaparecimento de postos de trabalho, e alta concentração de riqueza, por socialistas com um projeto de fazer oposição ao ordenamento neoliberal. 
A dureza de ser professora
nos EUA
Afinal de contas, os novos quadros progressistas da política americana emergem no interior do estado de coisas da ordem neoliberal, e serão ferozmente confrontados ao questionarem um modo de vida que faz o trabalhador ser um eterno pagador de contas e dívidas dos bancos e da burguesia. Isso aprisiona o trabalhador numa sujeição em que sua preocupação de questionamento simbólico e existencial de pertencimento de classe dentro do mundo capitalista, o faz desviar suas atenções apenas para o que comer e como pagar os assaltos diários das cobranças capitalistas.
Uma relevante constatação político-eleitoral da eleição de 2018 tange o crescimento do voto hispânico, que se tornou uma alta expectativa nos ordenamentos progressistas. A suposição de que o eleitor hispânico automaticamente se vincula com uma candidatura democrata precisa ser vista com cautela. Bill Nelson perdeu sua reeleição na Flórida porque os hispânicos votaram em menor número em sua postulação. 
No Texas, mesmo Beto O’Rourke tendo feito um forte avanço na votação democrata, o eleitorado latino ficou bem abaixo de votar em altos números em sua candidatura. O crescimento demográfico hispânico criou uma espécie de mito entre os democratas, ao pensar que como fazem os negros, os latinos votariam em altíssimos índices em candidatos democratas, o que parcialmente até aqui, ainda não ocorreu. 
Os democratas ainda precisam de apoio mínimo entre os brancos para ganhar em estados indecisos. Kyrsten Sinema venceu no Arizona porque teve uma considerável votação entre os brancos, que somou com sua votação entre as minorias raciais, e a fez vencer num estado que é relativamente conservador. E mesmo o avanço de O’Rourke no Texas ocorreu porque sua candidatura viu aumentar o voto entre o eleitorado branco, quando se compara com a votação de Hillary com esse grupo demográfico no estado em 2016. 
Na Geórgia, onde a composição negra no eleitorado é significativamente maior que a da população latina, Stacey Abrams energizou a base democrata e teve a maior votação do partido em disputas estaduais desde 1998. Não venceu por pouco. Stacey, assim como Andrew Gillum, duas notórias figuras progressistas em ascensão, mesmo perdendo, fizeram avanços eleitorais importantes, que sinalizam que num próximo ciclo eleitoral, mesmo em estados razoavelmente conservadores como a Geórgia e a Florida, o progressismo pode, a depender da conjuntura política, vencer nas urnas em disputas executivas. Afinal, não é todo dia que se ganha, e muitas das vezes, é necessária paciência para se construir coalizações eleitorais que possibilitem de fato, vitórias. 
Nos próximos meses, o movimento progressista passará por um importantíssimo teste político. Sua capacidade de se sobressair no aparato-institucional legislativo americano e formar uma base social-eleitoral que lhe permita vencer nas próximas eleições será seu maior desafio. 
A história política americana é cíclica. Há pouco tempo, no rescaldo da histórica vitória de Obama, o movimento ultradireitista Tea Party derrotou nomes tradicionais do partido republicano nas primárias partidárias e venceu na eleição geral. Os novos parlamentares socialistas democratas vêm no lastro da impopularidade de Donald Trump. 
Neste ciclo eleitoral, é a esquerda que se sobressai. No ciclo de 2010, era a direita reacionária que se sagrava nas urnas. O Tea Party, por ora, está enfraquecido. O desafio do progressismo- socialista americano é perdurar nos próximos anos, para que suas ideias possam ser alternativas factíveis na sociedade do capitalismo imperialista. 

domingo, 27 de janeiro de 2019

REESTATIZAÇÃO JÁ PARA COMBATER O MAR DE LAMA

Poucos dias depois de Bolsonaro ter dito em seu discurso medíocre que o Brasil era o país que mais protegia o meio ambiente, uma barragem em Brumadinho, MG, se rompeu, acabando com uma cidade inteira, matando 37 pessoas (fora dezenas de desaparecidas que talvez nunca sejam encontradas) e milhares de animais, e destruindo todo um ecossistema.
É um dos maiores desastres ambientais do planeta. 
E é preciso lembrar que não foi um acidente ou uma fatalidade, mas (mais) um crime da Vale S.A. Desta vez a culpa não é da familícia Bolsonaro, que não completou ainda um mês de desgoverno, mas da ganância pelo lucro e da falta de fiscalização. 
Dos Gêmeos: não foi acidente. Foi crime!
Lógico que não ajuda em nada o Brasil ter um presidente que, durante a campanha, reclamou do que chamou de "indústria da multa" do Ibama e da dificuldade em conseguir licenças ambientais, o que, segundo ele, atrapalha as obras. Pra piorar, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, foi condenado por favorecer mineradoras quando era secretário do governo Alckmin. Parece piada: um ministro do meio ambiente aliado não com o meio ambiente, mas com empresas que destroem o meio ambiente.
Tampouco ajuda a impunidade que reina no Brasil. Parece que não aprendemos nada com o crime de Mariana, que aconteceu há pouco mais de três anos. Quando o presidente da Vale (empresa responsável por ambos os crimes) assumiu, seu lema era "Mariana nunca mais". Até agora ninguém foi preso pelo desastre de Mariana. Moradores ainda não foram indenizados. Guilherme Boulos lembra que, "das 68 multas ambientais aplicadas, apenas uma está sendo paga (em 59 parcelas!)". 
Ao ler este descaso, pensei: será que não se pode reestatizar a Vale? 
A privatização da Vale do Rio Doce aconteceu em maio de 1997, durante o governo FHC, e foi um dos maiores roubos da história do país. A Vale foi vendida por apenas R$ 3,3 bilhões, quando somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de 100 bilhões. Ou seja, ela foi praticamente doada. 
Tentei pesquisar um pouco sobre reestatização e fiquei feliz em ver que o presidente do Psol, Juliano Medeiros, já teve essa ideia
Ontem ele comentou no Twitter: "Rompimentos de barragens da Vale do Rio Doce, empresa estatal: 0. Rompimento de barragens da Vale S/A, empresa privada: 2. A privatização mata. Reestatização já!" Se não tivéssemos um governo entreguista, que planeja privatizar tudo a preço de banana para os investidores estrangeiros, poderíamos tentar levar adiante esta sugestão.
Enquanto isso, o sofrimento continua, envolto em um gigantesco mar de lama. Helicópteros do SUS estão sendo usados para resgatar vítimas. O lucro é da empresa, mas o gasto com o desastre provocado pela empresa é socializado. Um resumo do capitalismo.