segunda-feira, 4 de maio de 2009

JOINVILLE, TENHA ORGULHO DA SUA DIVERSIDADE

Vai ser bonita a festa, pá.

Fico feliz que a Passeata Gay de Joinville, a ser realizada pela primeira vez (em junho), tenha despertado tanto debate. E que bom que o jornal esteja abrindo espaço pra esse debate. Infelizmente, os comentários da maior parte dos leitores sobre a Parada são de cortar o coração. Tenho dificuldade em entender como as pessoas podem ser tão intolerantes, ainda mais quando um outro estilo de vida não as afeta nem um pouquinho. Eu escolhi alguns recados pra comentar, se me permite:
- “Joinville é uma cidade de gente trabalhadora, não de baderneiros; vão trabalhar”. Aqui o leitor infere que gays não trabalham. Deve ser chato ir contra todas as estatísticas que indicam que a renda per capita dos gays é maior que a dos héteros.
- “Já somos chamados de cidade das meninas pelo festival de dança. Todo respeito aos que são gays, mas eles que busquem os encontros lá fora”. Este acredita piamente que na sua cidade não existem gays. Vai sonhando, filho.
- “Que façam a parada dos heterossexuais também. Sabe por que hétero não faz parada? Porque não precisa se convencer de nada, está cumprindo a sua função da natureza”. Eu nunca vi maioria de 90% fazer passeata pra reivindicar alguma coisa. Na realidade, só vejo a maioria chamar as minorias que protestam de baderneiros.
- “Temo que as coisas 'avancem' demais e que, no futuro próximo, estejamos discutindo a realização da Parada Pedófila em Joinville, da Parada Necrófila ou da Parada Zoófila”. Essa é velha. É o que o pessoal que era contra o casamento interracial dizia. Até o final da cada de 60 brancos e negros americanos não podiam ter uma família juntos. Isso parece errado hoje? E comparar gays com pedófilos, não? Aqui vai uma surpresinha desagradável pra você: a enorme maioria dos pedófilos é constituída por homens heterossexuais. Nem por isso devemos ser contra os homens héteros.
- “Eu acho que ser gay é uma doença, e como tal deve ser encarado. Acho também que o gay (ou lésbica) não deve ser discriminado. Mas também acho que não é propriamente motivo de 'orgulho' e o mesmo deve ater-se à discrição”. Os médicos também achavam que ser gay era uma doença, e o tratamento era à base de eletrochoques. Assim como achavam que negros eram inferiores aos brancos. Havia até “provas” cientifícas! Também achavam que o Sol girava em torno da Terra, e não o contrário. Graças aos céus, evoluímos.
- “No centro todos os dias vejo um bando de emos e viadinhos sem vergonha nenhuma de aparecer; pra quê desfile se eles já andam pelas ruas, já não tá bom ser aceito pela sociedade que eles julgam preconceituosa?”. Aprenda, leitor(a): ser aceito é... ser chamado de viadinho sem vergonha.
- Cansei de citar. Um outro leitor diz que, se Joinville tiver parada gay, Deus destruirá a cidade, como fez com Sodoma e Gomorra. E como fez com São Paulo, Nova York, Berlim, Londres, e todas as dezenas de metrópoles que têm paradas gays todos os anos (já faz umas quatro décadas).
- Outro pergunta, desesperado, como um pai de família explicará a seu filho “este bando de imoral”. Permita-me uma sugestão: “Olha só, filho, como as pessoas não são todas iguais. E é maravilhoso viver num mundo em que existem diferenças, porque isso abre a nossa cabeça”. Tá bom? Não? Ok, então é só evitar a rua onde a parada gay passará. Fácil.
- E tá cheio de comentário dizendo que Joinville tem coisa mais importante pra fazer. Claro que tem. E está fazendo. Uma parada gay não vai parar a cidade ou o universo. A vida continua. Não é nem um feriado (e eu gosto de feriado!). Mas isso de “por que as pessoas não se mobilizam pra assuntos mais importantes?” vale pros dois lados, né? Inclusive pra quem tá indignado com uma Parada Gay e vem dizer que não, não é preconceituoso, apenas é contra porque Deus é contra, mas que não move uma palha pra mudar outros assuntos importantes.
Não vou dizer que não haja gente de bem (pra mim gente de bem é gente sem preconceitos) que desaprove as paradas gays. Tem até gay que é contra a parada gay, por achá-la carnavalesca demais. Eu acho que é como o nome diz: Parada do Orgulho Gay. Não é uma marcha fúnebre. Tem que exibir a sua felicidade sim. E tem de tudo numa parada gay, inclusive famílias héteros inteiras que vão prestigiar o evento.
Não dá pra negar que o governo do PT, em escala federal e municipal, seja pró-gay e outras minorias também. Claro que eu, particularmente, vejo isso como algo muito positivo, porque também sou pró-minorias. Junto com a Parada, haverá uma Semana Cultural da Diversidade, com vários eventos e palestras discutindo a homofobia. Nisso entrará um pouco de dinheiro público, na parada não. Considero ótimo que, assim que assume um governo de esquerda pela primeira vez na história da cidade, haverá uma parada gay. Não é a única mudança, mas é uma delas. Só não sei se haverá muitos participantes. Espero que sim. Por isso, convoco os héteros que são contra os preconceitos a darem uma mãozinha. Lutar contra a discriminação é dever de todos, não só das minorias. Estarei lá com meu marido e minha mãe, uma senhora de 74 anos que ainda acredita num mundo mais tolerante.

34 comentários:

Alfredo disse...

Ai que fofo!!! Tira as fotos e poe aqui, ta? Queria tanto morar ai... nunca fui na parada gay de nenhuma cidade... sou louco pra beijar outro homem no meio da rua na frente de todos!!!!

Giovanni Gouveia disse...

Asnalfa, Liberdade se conquista...

Falando nisso, Lola, ontem teve a marcha pela descriminalização da maconha aqui no Recife (não fui por não estar na cidade), o Ministério Público (na verdade um promotor) pediu a proibição, mas o Juiz, acertadamente, entendeu que proibir seria ir de encontro à Liberdade de Expressão, e permitiu a marcha desde que acompanhada pela polícia.
O argumento do Ministério Público é de que tratava de "Apologia", que seria isso se a marcha tivesse como propósito: "Fume maconha você também", na verdade o propósito era: "deixe-me fumar maconha", o que é um enfoque completamente diferente.
Qual o paralelo? Os que são contra as paradas Gays acham que o que a comunidade homo quer "influenciar as crianças" de que existiu "adão e Ivo" como sugere seu amigo blogueiro gringo, na verdade o que se quer é dizer: "por que não tenho o direito de ter a opção sexual que quiser?"
Aqui no Recife já temos a parada Gay há alguns anos, e nunca houve qualquer tipo de problema, também já houve várias manifestações, inclusive um beijaço, em Olinda, exigindo que as pessoas não fossem desrespeitadas por demonstrarem seu afeto (seja qual for a opção sexual)

Alfredo disse...

Giovanni???
o que vc quer dizer com isso??

Michelle disse...

àqueles q fizeram esses comentários q vc citou, convido-lhes a assistir ao filme "milk", como sean penn. hj, gays têm sim, certos direitos, mas não são plenamente aceitos e não têm alguns direitos civis, como o casamento por exemplo, então como dizer q não têm nada a protestar?

Junior disse...

O problema dos que são contra é que eles não tem argumentos. Simplesmente são contra pq são, ponto. Aí fica difícil haver "discussão". Também participarei Lola ;)

Priscilla disse...

Teste

Giovanni Gouveia disse...

Asnalfa, o que eu quiz dizer foi:
se você quer beijar seu parceiro em público, ou reservadamente, tem todo direito de fazê-lo, e só vai ser respeitado no momento em que você não mais se auto descriminar, não precisa de uma parada da diversidade para beijar.

Priscilla disse...

Olá Lola,

Faz alguns meses que não leio e não participo. Agora tenho mais tempo e voltei a olhar o seu blog. Os textos continuam ótimos.

Sobre a parada gay e gays, há um filme francês maravilhoso, o Closed, com a participação do Gerard Depardieu. Acho que o filme coloca bem em perspectiva o assunto.

Gays hoje têm muitos mais direitos e são de fato mais aceitos. Não totalmente, mas quem é? Nem Jesus Cristo, como dizem...

Os que são contra a Parada já perderam, porque ela acontece quer queiram ou não.

É um fato. Já é parte da realidade mundial, até Jerusalém tem a parada gay, mesmo sendo sede fundamentalista de todas as religiões monoteístas.

Boa parada para vocês, tudo de bom.

Ah, eu queria comentar o post sobre consumismo e sugerir o filme Amelie Poulin para a sua aula. Acho que o filme fala das duas coisas. Escrevi há alguns dias sobre isso, por coincidência.

Posso escrever aqui mesmo, volto lá no posto anterior ou espero o assunto surgir de novo?

Não quero bagunçar o seu site!

Alfredo disse...

Precisa de parada sim... no dia-a-dia nao vejo nehum gay beijar na rua.. ou vai negar isso??
A culpa é dos heteros.... olha so o que vc falou pra mim: "e só vai ser respeitado no momento em que você não mais se auto descriminar"

Vcs heteros nao prestam mesmo... vivem falando pros gays q nos vitimas somos quem nos discriminamos.
Quem discrimina sao vcs heteros.

Giovanni Gouveia disse...

Não, Asnalfa, aqui no Recife, e em Olinda principalmente, os gays se beijam em público sim.

Giovanni Gouveia disse...

Só pra ilustrar, Asnalfa:

http://www.guiagaybrasil.com.br/Materia.asp?id=7

b disse...

Espero que em joinvile se faça diferente do que em SP...
Acho fantástico um movimento deste tamanho pra reivindicar o direito a liberdade sexual....

O problema é que, pelo menos em são paulo virou carnaval fora de época...serve pra movimentar o mercado...Como vc disse no post, os homosexuais ganham bem, e gastam bem, por supuesto...
Desde sua terceira edição na captal de SP, a parada deixou de reivindicar igualdade pra servir aos interesses do hotéis (que meses antes da virada estão lotados) e shoppings próximos...
É praticamente um desfile... cada um exibe a fantasia mas cara que a do outro, tenta aparecer na TV (no programa da monique evans e do otavio mesquita)....não que isso seja um problema... não me incomoda nem um pouco...Mas, como disse várias vezes aqui, o sistema capitalista se apropria de tudo... e os direitos dos homosexuais se tornou só mais um produto pra produzir festas...sendo assim, não da pra aplaudir a iniciativa...

Durante a parada os Comérciantes faturam muita grana e é óbvio que querem espalhar estas festas pelo brasil...
talvez não fizese tanto sucesso se fosse diferente, mas eu não consigo ser hipócrita, e atualmente, a parada gay tem tanta credibilidade quanto o carnaval.

Há também uma reclamação por parte de alguns mais conservadores que eu até entendo...Algumas pessoas aproveitam a parada e a grande concentração de pessoas, pra colcoar pra fora as mais íntimas fantasias sexuais...alguns amassos [beeeeem] quentes em público e amostras claras de promiscuidade vão incomodar mesmo...
sou hétero, mas se sair pelado na rua, estou ferindo as regras... se minha noiva senta no meu colo em um shopping (mesmo que por falta de lugares vagos) somos repreendidos pela segurança.
Me sinto incomodado com um casal hétero quase praticando sexo oral no ônibus, pq não me sentiria da mesma forma com um casal Gay? É preciso tomar cuidado pra não colocar a minoria discriminada acima das regras comuns a todos. A discriminação sofrida não justifica alguns comportamentos.
O problema é que poucos sabem se expressar e acabam generalizando, o que gera alguns comentários ridículos como os que estamos acostumados a ouvir...

MAs, nesse ponto sou otmista...creio que em poucos anos a sociedade de uma ginada grande nesse sentido... uma coisa é certa, com o movimento LGBT ganhando cada vez mais espaço, meus filhos vão achar a coisa mais natural do mundo...

PS: daqui a alguns anos, compareça a parada de Joinville e escreva um novo post.. de repente as coisas acontecem de forma diferente por aí...

Ollie disse...

"como é que eu faço para explicar para o meu filho o fato de existirem gays e lésbicas?"
-------
[ironia]
Cara, isso é fácil de responder.
NÃO TENHA FILHOS!
O planeta Terra agradece e você faz um favorzão à humanidade não passando adiante os seus genes de burrice para os seus descendentes.

Hã?! Você já tem filhos?
Afogue-os numa piscina, então.
Vai estar fazendo um favor, primeiro para eles, que um dia vão crescer e perceber o otário que você é como pai (ou mãe) e em segundo, vai estar fazendo um favor para a Terra e para a humanidade, como eu já disse no parágrafo acima.

Não é ma-ra-vi-lho-so? :)
[/ironia]

PS: Sim, eu já falei isso para gente chata que usou esse argumento perto de mim.
Muito engraçado o olhar de indignação e o fato deles saírem (praticamente correndo) abraçados aos pimpolhos como se tivessem medo de que eu fosse esquartejar o bichinho ali mesmo.

Imagine. Eu a-do-ro filhotinhos.
(Acompanhados de batatinhas soté, então... Ficam uma delícia)
:)

Haline disse...

Oi Lola,leio varios posts seus, mas nunca comento. Então, acho duas coisas sempre engraçadissimas, pra não dizer trágicas, nos comments. Não consigo entender quem se manifesta contra gays e tals. pq né? como vc disse, qual a diferença na sua vida querido hetero?? o que muda? nada! só pode ser medo então de virar gay, enfim ... acho que tá pra mais pra insegurança. Outra, é o "pq nao se preocupam com coisas mais importantes", po, sem entrar no merito da importancia da causa gay, pq entao o o tal leitor não mobiliza uma parada por uma causa que considere importante ue! não entendo esses caras, nao entendo!

Gustavo C. disse...

Continuo achando que PG mais atrapalha do que ajuda. Vide os comentários que o post mostra. Não acredito que PG ajude a mudar esse tipo de pensamento, ao contrário, fortalece o preconceito. Eu vejo imagens da PG e não consigo ver nada de sério ali. Quero entender a importância do movimento, sei que é uma evolução enorme comparado a outras épocas, mas não consigo. Me parece que os gays que participam e/ou apoiam a PG usam este evento para descontar a raiva que tem do preconceito hétero, compensando a repressão que sofrem em todos os outros dias do ano. Penso que existem formas melhores de conseguir respeito.

Gabriela disse...

Assisti Milk esses dias (mto bom, alias) e preconceito é uma coisa q tento tento mas nao entendo MESMO como acontece.. o que leva uma pessoa se achar melhor do que a outra ou achar que eh doença (sendo que ja esta provado e bla bla bla) nao da pra entende... é mto triste.

Masegui disse...

Eu não conseguia achar as palavras certas pra comentar, aí vem o Thiago Beleza e diz quase tudo que penso a respeito. Assino embaixo.

lola aronovich disse...

Priscilla, não se preocupe, pode comentar onde quiser. Vc não estaria bagunçando meu blog nem nada! Que bom que vc voltou! Apareça sempre.


Thiago e Gustavo, entendo o lado de vcs. Sei que, em muitos lugares, a Parada Gay virou uma ótima oportunidade de negócios. E imagino que muitas pessoas que participem da Parada exagerem um pouco. Não acho legal que casais gays ou héteros façam quase sexo no meio da rua. E sei que muitas das fantasias usadas são carnavalescas e exibicionistas. Mas suponho que este seja apenas UM lado da Parada. É só isso que sai na mídia. Fui procurar fotos de outras paradas para ilustrar o meu post e, como vcs podem ver, só encontrei uma em que as pessoas não estavam fantasiadas. Mas eu conheço um monte de gente, gay e hétero, que vai às paradas de suas cidades regularmente, e eles não vão fantasiados, e contam que a maior parte tampouco. Mas, quando alguém tirar foto dos participantes, vai tirar do cara com uma super fantasia colorida beijando um outro cara ou de um partidipante andando com roupas banais, sem graça? Aí tiram essas fotos, e os homofóbicos ficam pensando que Parada Gay é só isso. Quanto a combater a homofobia, não sei se Parada Gay é exatamente pra isso. Imagino que seja mais pra celebrar, pra mostrar a força do movimento. Os homofóbicos podem até ficar ainda mais homofóbicos por causa de Paradas Gays, mas não se pode fazer ou deixar de fazer alguma coisa pensando nesse pessoal, né? Acho que esses homofóbicos só começam a mudar um pouco quando conhecem um gay e reparam que não é um ET.

lola aronovich disse...

Ollie, boa resposta! O pessoal deve sair correndo mesmo...


Pois é, Haline, eu tb não entendo! Não muda absolutamente nada na minha vida alguém ser gay ou hétero.

lola aronovich disse...

Ah, sábado recebi um email de um leitor do jornal, onde o post saiu publicado (com modificações). O título do email era “besteira sua matéria”. E o conteúdo:

“Acho tudo uma besteira, que exemplo vamos deixar para os nossos filhos, vao crecer e cada vez mais cedo gostar de pesoas do mesmo sexo, imagine cena uma familia assistindo telavisão e um dos filhos de mais ou menos uns uns 5 6 anos ao que faz brincadeiras de que vai namorar com modelos bonitas.... achando homens lindos a atores e vai ser assim cada vez mais cedo.

bando de pessoas que nao tem o fazer imorais diversidade é voce escolher enter varias profissoes e estilos musicais e arte livros outra coisa qualquer e nao escolher qual sexo vai querer casar

eu com certeza sou contra e acho simplismente ridiculo

e com certeza novamente, digo vou na parada guey sim, fazer oposi~]ao e tentar impedir que eles desfilem essa merda”.

Dai disse...

Oi Lola e comentadores...

Na minha cidade, quando organizamos a primeira parada gay um vereador da bancada conservadora (evangélico e homofóbico) tentou estabelecer o contraponto. Deu diversas entrevistas estapafúrdias aos jornais e "denunciou" a verba que a prefeitura iria investir naquela "devassidão" toda, um derperdício, no entendimento dele. O dito tb organizou uma caminhada por cristo e pela família para tentar achincalhar o momento dos gays.

Felizmente, a parada foi linda, eu fui com o meu namorado e umas amigas organizamos uma batucada com instrumentos de sucata, dissemos palavras de ordem, foi bem bacana. Para algumas pessoas que conheço foi a primeira vez que se "assumiram" gays. Um coisa linda e verdadeiramente emocionante.

No percurso surgiram as drags, travestis, gogo dancers, gente fantasiada - e logicamente estas pessoas posavam e eram também perseguidas por trupes de fotojornalistas e cinegrafistas. Assim, tiveram destaque no noticiário por que este é o recorte que as matérias dão ao mundo gay. Se encarregam de encaixar a diversidade nos limites de suas lentes.

A parada é um momento de visibilidade. Claro, no campo político existe muita discussão sobre a efetividade deste movimento no campo da disputa por políticas públicas. Mas, todos os engajados admitem que, a despeito de qualquer contradição, a conquista deste espaço - onde os gays podem expressar plenamente sua existência - em beijos, camisetas, em escracho, fantasias, com faixas, cartazes, etc - é já um grande avanço.

E isto é possível porque eles se organizam, sim. Por que estão em grupo, em grandes ondas coletivas para dizer ao mundo que existem outras formas de amar (e se relacionar, já que sexo nem sempre requer amor) que não aquelas exaltadas pelos comerciais de margarina - ou de salgadinhos.

Então, eu compreendo que alguns gays sintam-se livres para 'sair do armário' na ocasião da parada gay. Pois estão escoltados por um escudo humano que lhes permite fazer isso sem temer reprimendas.

Desculpa, Giovanni, eu adoro seus comentários e entendi bem o que vc quis dizer ao recomendar ao asnalfa que lutasse pela sua visibilidade. Mas não dá para a gente exigir que cada homossexual viva a sua sexualidade do jeito que a gente pensa ser o melhor. É uma questão muito subjetiva e há diversas condições pessoais que podem impedir. E a discriminação é a principal delas. Não é fácil sair por aí beijando o seu namorado (ou namorada, se vc for mulher)em público.

Isto incomoda, sim, a maioria. E algumas pessoas se declaram feridas (vide os comentários elencados pela Lola no post).

Há gays que são espancados e mortos por isso. Imagino que quando vc se referiu ao fato de que homens se beijam em Recife fora das paradas gays vc pensou em lugares bem específicos, destinados ao público GLS.

Eu morei em Recife, é uma cidade que amo, com movimentos sociais super engajados que fazem a diferença, sim. Mas também é a cidade onde um conhecido foi assassinado e encontrado morto, com o pênis decepado e enfiado na boca, próximo a um bar de estilo "country" - vizinho a UFPE - que ele insistia em frequentar apesar das advertências dos amigos.
Entendo que a luta pela visibilidade é constante e cotidiana, mas o peso da homofobia e da discriminação ainda é grande na nossa sociedade.
Relevem meu comentário gigante. Na próxima encarnação juro que vou nascer com poder de síntese.
beijos!

Gustavo C. disse...

"Acho que esses homofóbicos só começam a mudar um pouco quando conhecem um gay e reparam que não é um ET."

É isso aí que eu penso. Se é que é possível um homofóbico estar disposto a isso.

Sobre outro ponto, tbm acho lastimável que algumas pessoas se enforcem tanto para se intrometer na vida dos outros, dizendo com quem uma pessoa deve ou não se relacionar, sendo que isso não é da conta de mais ninguém. Nem vou falar mais nada que fico com raiva.. já vi ignorância suficiente por hoje (incrível quanta bobagem cabe num texto tão curto):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u558509.shtml

Tati disse...

Primeiramente, quero parabenizar você pelo blog, Lola!
É a primera vez que comento, mas adoro ler seus posts (desde que descobri o blog, o q não faz nem 1 mês,rs!)
O que mais admiro é que você não luta apenas contra o machismo, mas também contra todos os preconceitos que dele se alimentam (é o caso, por exemplo, da homofobia).
Sobre os comentários que você selecionou:quanto mais eu leio descalabros como esses, mais eu concordo com a frase que diz que fanatismo religioso, ignorância e preconceito andam de mãos dadas. Pelo nível da educação oferecida por nosso país aos jovens, dificilmente essas mãos serão separadas. Mas devemos sempre lutar (por mais que seja doloroso ler "coisas" como essas)!
Um abraço.

Anônimo disse...

Toronto, onde eu moro, tem uma das maiores paradas gay do mundo e eu adoro conferi-la todos os anos. Uma das coisas que mais me impressionam é a quantidade de famílias hetero que trazem seus filhos pequenos para ver o desfile. Uma vez uma mulher explicou que ela e o marido trazem os filhos todos os anos para que eles sejam expostos a homosexuais em um ambiente positivo e que aprendessem a respeitar aqueles que são diferentes. Ano passado até militares gays desfilaram, de uniforme [falei sobre isso aqui: http://guerson.wordpress.com/2008/06/29/the-proud-canadian-military/]

É nessas horas que eu fico feliz em viver aqui e vejo a importância de educar as pessoas. Sim, pq nem sempre foi assim aqui e há coisa de uns 20, 30 anos ainda havia violência contra homosexuais aqui em Toronto, que era uma cidade super conservadora.

Parabéns a Joinville por tentar educar seus cidadãos.

Alexandra

Anônimo disse...

Parada gay tambem é legitimação de cidadania. Cidadania é benéfica para qualquer sociedade. Fatima/Laguna

Priscilla disse...

Olá Lola, obrigada pela hospitalidade de sempre.

Acredito que o consumismo seja um substituto para a falta de afeto entre as pessoas.
Se houvesse mais amor e verdade nas relações e as pessoas não se sentissem tão isoladas, não teriam tanta compulsão por consumir.
É mais fácil para os pais comprarem bugigangas (presentes) para os filhos que estar de fato “presentes” e disponíveis. Algumas crianças vítimas de fala de afeto na infância conseguem superar e buscar o que de fao faz a diferença: relacionamentos de amor, amizade e solidariedade é que nos tiram da solidão. A Amelie Poulin conseguiu evitar o consumismo, apesar da falta de afeto. A maioria, no entanto, cresce e só sabe comprar, e transmite esse padrão para os filhos. Acredito ser responsabilidade pessoal de cada adulto saber discernir entre a "compra" de prensentes e a presença real. Aí me lembro do ASNALFA, que comentou algo parecido com isso.

Sobre esse assunto, escrevi o seguinte:
O filme O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULIN é arrebatador. Poesia pura, pintura pura. Vi há muitos anos, mas segue sendo um dos meus favoritos. Uma cena marcante foi a da Amelie menina sendo examinada pelo pai, um médico taciturno e incapaz de se comunicar com a filha. Diagnóstico: problema cardíaco.

Na verdade, não havia problema físico nenhum. A solitária Amelie simplesmente ficava com o coração aos pulos, intenso, de tanta vontade de receber um abraço do insensível pai. Aparentemente, o momento da consulta era o máximo de intimidade e atenção que recebia dele na infância.

Acho que nada pode ser mais triste para uma criança do que deixar de receber afeto dos pais. Ao que parece, é recorrente essa tristeza na infância. Parece que hoje em dia há um despertar para essa realidade. Nada consegue substituir o afeto, o abraço, o carinho, a atenção e a comunicação com os filhos. Não há dinheiro, vídeo-games, presentes ou sacrifícios materno ou paterno que saciem a sede de amor que sentem as crianças. Basta lembrar-nos nós mesmos de quando éramos pequenos. O filme conta a história dessa sede de amor. Quem criou o adesivo para carros, com a frase “JÁ ABRACOU SEU FILHO HOJE?” sabe disso. Não foi Amelie Poulin a criadora desse adesivo. Mas poderia ter sido.

L. M. de Souza disse...

quem é contra é típico macho inseguro da sua própria sexualidade, todas essas piadas de viado é uma forma do homem lidar com isso. na real os machões tem é medo, acham que homosexualismo se pega por osmoze, sei lá. se é natureza ou opção não sou em quem vai decidir isso, a igreja muito menos. as mulheres lidam com isso mais facilmente, acho, elas não se incomodam com a lésbicas tanto qto os homens se incomodam com os gays. como profissional da área de letras sei que tem muito gay por aí, tenho vários colegas que são e não escondem de ninguém. como ouvi alguém dizer uma vez, o cara tem q ser muito macho pra dar o rabo.

Chris disse...

Aqui no Rio, a parada gay também é enorme, bem divulgada e frequentada por muitas famílias hétero.

Aliás, coisa engraçada que vejo amigas minhas fazendo planos e sonhando com os casamentos de seus filhos(as) e eu penso, pára com isso gente, vocês nem sabem qual será a orientação sexual deles...

Enfim, apóio, e prestigio, mas acho que é raro ver gays se beijando em situãções cotidianas, a não ser em fetas, boites ou na Farme de Amoedo...

:)

Junior disse...

Sobre o comentário de quando os homofóbicos deixarão de ser, somente quando eles conhecerem alguém gay de perto mesmo... quando verem que aquele vizinho, aquele colega bacana do trabalho, ou aquele primo mais quietão, ou aquela moça super educada, ou aquela outra, que é bem braba, ou ainda aquela atendente da loja onde ele compra sapatos que é super linda e atenciosa, enfim, quando ele perceber que os gays estão em toda parte, e que são pessoas normais, não são imorais, devassos, nem todos, aí o preconceito começará a diminuir.

O que essas pessoas não conseguem ver, é que não é a sexualidade que define a pessoa. Existem gays bons e maus, assim como existem heteros bons e maus, na mesma proporção. Para ser um cara legal, não importa a sexualidade.

Mari Biddle disse...

Cris,

entre minhas amigas tambem tem isso de planejar quantos filhos os proprios filhos vao ter. Elas descartam a possibilidade de algum ser gay ou simplesmente nao ter o "sonho" de ter filhos. Elas nao veem o mundo com uma certa pluralidade. Peninha! Eu so tenho um menino e pelo andar da carruagem (crise estadunidense) vai ser somente um mesmo...e se ele for gay? O jeito vai ser pedir a ele para adotar um nene pois eu quero ser avo'! Ahahahaha!

Ans, Goiania e' chamada a boca pequena de Gayania! La tem uma parada gay enorme e, tem os tais beijaços. Eu ja participei de um beijaço num shopping em que os seguranças expulsaram um casal gay andando de mãos dadas. Fizemos o beijaço no shopping infelizmente ninguém me beijou mas o que vale é o aspecto politico da coisa né...Por Goiânia ter essa fama (vamos dizer assim) de que tem muitos gays igual Campinas etc, tem uma galera evangélica lá que jura que vai 'Ganhar Goiânia para Cristo' e que vai de embate a toda manifestação pró direitos gays no Estado. Ou seja, a gente escuta, lê e se depara com os argumentos mais esdruxulos.

Giovanni Gouveia disse...

Dai
O que eu quis dizer, de fato, é que a conquista da cidadania não pode ser apenas uma dádiva, ela é fruto do embate permanente das pessoas.

Chris disse...

Mari,
eu também tenho uma filhota, e acho que também só vai ser ela.. rs
Minha melhor amiga (madrinha de casamento) é gay e eu acompanho de perto as críticas veladas, a reprovação por parte da mãe dela a seu estilo de vida. Ela não escolheu ser gay, mas uma vez que o é, assumiu e ponto, coisa que admiro muito.
Enfim, a questão é que a mãe dela fazia mil planos para o casamento da filha com o príncipe encantado, deixar louças e lençóis para o casalzinho e, bum!, agora é uma super frustração que não quero para mim. Digo, não que não quero que minha filha seja ou não gay, mas tenho que me preparar para uma possibilidade. ;)

Abraços

Gabriela Martins disse...

Adorei os comentários do pessoal aqui. A Dai e o Thiago Beleza levantaram vários pontos sobre esse movimento, e foram muito educados e eu diria até "neutros" nas suas análises - coisa rara de se ver, sobretudo, nos comentários do pessoal que é contra.

Acho que são vários pontos q devem ser levados em conta.

Carol disse...

Joinville?Uau!Diver cidade.Que boooom!Fico feliz pela iniciativa, pelo espaço e voz dados ,apesar de,na prática não apreciar muito a parada pelos motivos citados acima.Lola,já agora fica aqui uma sugestão um tanto mais séria: "Do começo ao fim".Não sei se já foi lançado,se está em cartaz ou se já saiu.O fato é que chegou na minha caixa de correio eletrônico lusitana o trailer desse filme,e me faltaram pêlos pra tanto arrepio.Já deu pra ver que o tema musical é lindíssimo e me debulhei em lágrimas,apesar de ter ficado com um pé atrás quanto aos atores e a produção em si.Enfim,please...fica aqui minha sugestão e interesse.Beijo!