sexta-feira, 17 de julho de 2020

MULHER NA SEGURANÇA PÚBLICA DO CE: "ME ARREPIEI DE TANTO NOJO"

Na noite de quarta, um grupo de policiais militares do Ceará, lotados no 11o Batalhão de Polícia Militar, em Itapipoca, trocou pelo whatsapp uma série de mensagens machistas
Um PM diz sobre as policiais mulheres: "Elas eram pra estarem no quartel, pra tirar o estresse da gente, tá entendendo? Se chegasse estressado, elas estavam lá pra resolver a parada, tá entendendo?". Um segundo policial concorda: "Essa ideia foi boa, eu queria isso agora. Isso é uma ideia para chegar no Comando Geral. As voluntárias". Um terceiro PM acrescenta: "Essa tese aí, eu tinha pensado nisso. Sou obrigado a concordar. Os policiais sofrem muito do estresse psicológico, pressão psicológica muito grande na rua". Os áudios vazaram e viralizaram ontem (ouça aqui). 
A PM publicou uma nota atestando que "rechaça, veementemente, os comentários preconceituosos sobre a atuação da mulher policial na Corporação, proferidos por um de seus integrantes em aplicativo de conversas. O fato tomou repercussão nacional e todas as mulheres que compõem os quadros da Polícia Militar Ceará merecem respeito, são todas profissionais dedicadas ao mister de servir e proteger a sociedade cearense, seja nas ruas, dirigindo viaturas, comandando unidades operacionais, no serviço administrativo ou em quaisquer missões que a elas sejam designadas. O Comando Geral da Corporação nunca admitiu e jamais admitirá fatos que maculem a imagem da mulher policial militar".
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) também repudiou as conversas e alertou que "abomina qualquer conduta patriarcal, que pregue o desrespeito à mulher, colocando-a como uma figura inferior ao gênero masculino, seja em qual for o âmbito da sociedade. A Secretaria ressalta e reconhece o papel fundamental de todas as policiais militares femininas (PFEMs), assim como das bombeiras militares, policiais civis e servidoras da Perícia Forense, para a manutenção e fortalecimento da Segurança Pública do Ceará". A SSPDS abriu um inquérito policial militar (IPM) para investigar o caso. 
Entrevistei uma mulher da segurança pública daqui do Ceará. Como há pouquíssimas mulheres e ela não quer ser identificada, ela me pediu para não especificar seu cargo.

Minha pergunta: Qual foi a sua sensação ao ver e ouvir os comentários machistas dos seus colegas?
Resposta: Me arrepiei de tanto nojo e instantaneamente me veio à mente a ideia da possibilidade de ser estuprada no ambiente de trabalho. 

- Como uma mulher da segurança pública do Ceará, você tem que enfrentar esse tipo de machismo frequentemente?
Sim. Diria que quase que diariamente. Não existe mulher no militarismo que não tenha passado por algumas dezenas de investidas desrespeitosas. Os comentários vão desde colocações sobre nossa força física inferior até dizerem que alcançamos lugares altos porque temos o "quarto poder" (ou seja, temos vagina e conseguimos as coisas em troca de sexo com militares).

- Como é o tratamento dado às mulheres que trabalham na segurança pública? É muito diferente ao dos homens? E como é o relacionamento com os colegas homens?
Sim. Bem diferente. Quando uma mulher chega precisa provar seu valor. Mostrar o tanto que é forte, o tanto que aguenta. Quando um homem chega todos comemoram porque naturalmente já pensam que ele veio pra somar forças. Quando ela prova força os superiores se encarregam de fazê-la sofrer fisicamente até que prove seu ponto “mulheres são fracas”.
As mulheres estão constantemente se defendendo de algo. Além do mais, militares se utilizam da hierarquia rígida para assediar e humilhar mulheres hierarquicamente inferiores (sabem que é contra o regulamento militar bater de frente com um superior. Chamam isso de “inchar”). 
O relacionamento com alguns melhora depois que te conhecem melhor. Esses são os poucos amigos que temos. Mas com outros piora porque se você transa com militar você é puta, se você se posiciona contra, você é bruxa ou machona. Não tem pra onde correr. 

- Como diminuir o machismo dentro da segurança pública? Aumentar o número de mulheres já ajudaria?
O machismo aqui começa em um concurso em que são 14 vagas pra mulher e por volta de 240 (algo nessa quantidade) pra homens. A mulher que tira a 15a nota não entra no concurso, mas a nota da posição 240 de homens entra. Além disso, ajudaria se os outros homens se posicionassem contra esse comportamento de homens. Enquanto a grande maioria apoiar esse tipo de comentário, as poucas mulheres não terão força e serão chamadas de exageradas. Fora isso, um mecanismo menos burocrático e mais discreto pra denúncias de assédio sexual e moral contra mulheres. A denúncia é complicada, só homens a julgarão e ainda corremos o risco de sermos perseguidas por todos os homens (chefes) de mesmo pensamento machista. Lá vai a mimizenta, era só brincadeirinha. 

- Você acha que o machismo na corporação aumentou com a eleição de Bolsonaro, que faz tantas declarações sexistas, racistas e LGBTfóbicas?
Não acho que aumentou. Mas acho que esse machismo ficou mais “engraçadinho”. Se o presidente militar machista apoia isso então ele é nosso espelho. Nós apoiamos também! Uma excelente desculpa pra por pra fora toda a podridão que já existia em cada um. 

- Muita gente da esquerda diz que a polícia militar tem que acabar. Você concorda? O que deve ser feito para que a polícia de fato sirva à população, em vez de alvejar jovens e negros?
Não deve acabar. A PM tem muitos profissionais do bem. Acho que um grande problema é o treinamento fraco. É como equipar com estilingue (PM) quem vai lutar contra bazuca (crime organizado). Não digo dar armas mais poderosas, digo ensinar treinamento tático, tecnológico, etc. O policial não tem treinamento e equipamento de proteção compatível com a função. 
Sair atirando é a pior das reações, é desespero, despreparo emocional. Um bom treinamento é tático, tecnológico e seguro a todos. As horas de guarda são desumanas e ninguém pode reclamar senão é punido por seus superiores. Todos dependem dos seus salários, mas passam por fortes estresse psicológico e financeiro (salários baixíssimos) sem um acompanhamento efetivo do Estado. O índice de suicídio por profissionais da segurança pública é altíssimo. Já fui em alguns velórios no quartel. As péssimas iniciativas policiais também são, de certa forma, culpa de um país que não se importa com ninguém. 

13 comentários:

Tayna Rodriguez disse...

Nos EUA, uma moça foi estuprada e morta por um sargento, no entanto as forças armadas fazem tudo para abafar o caso!! NOJENTO!!

avasconsil disse...

A humanidade deveria reconhecer a pobreza material como forma de violência e também como crime. E punir quem contribui pra que essa forma de violência criminosa se estenda no tempo e no espaço. A pobreza material potencializa outras formas de violência, física e moral, como machismo e homofobia (que também podem se manifestar sob a forma de violência física, embora a moral possa ser tão dolorosa quanto e também matar). Lá no trabalho, na época do trabalho presencial - parece fazer tanto tempo... - de vez em quando observava o pessoal da limpeza, que são os mais pobres da repartição. Eles se tratam tão mal. Frequentemente trocam patadas. E o machismo e a homofobia entre eles não tem muito verniz, quase nenhum. Acho que eles não percebem quão hostis são uns com outros. É o cotidiano deles. Eu percebo por ter olhos estrangeiros com relação ao mundo deles. A maioria dos PMs vem desse mundo, ou de um mundo não muito distante dele do ponto de vista material, e das cotidianidades que as condições materiais proporcionam, da condição de nascituro à de velho; no velório até, mas a cerimônia do adeus é pra quem fica. Quem morreu não usufrui de nada daquilo, sejam os pêsames de rico sejam de pobre. Claro que existe machismo e homofobia nos estratos médios e altos da renda. Mas é mais suavizada ou disfarçada. E há mais censura. Por isso também há mais hipocrisia, eu acho. Provavelmente quanto mais se sobe na hierarquia da PM, mais o machismo e a homofobia ficam rarefeitos e os que existem mais dissimulados se tornam. Ser humano é tão complicado, né? Acho que de imediato uma forma de atenuar o machismo nas corporações policiais é aprovar lei aumentando a quantidade de vagas pra mulheres, principalmente no oficialato. Quanto mais alta a patente menos a força física é necessária. Então a desculpa de que a mulher é fisicamente mais fraca perde o sentido. Já não faz sentido pros praças e soldados, não é? Apertar gatilho, correr e aplicar golpes de ataque e defesa não exige a força de um halterofilista participante de concurso de força. As mulheres são numericamente hegemônicas. Quisera se unissem mais pra tirar mais proveitos práticos dessa vantagem. Quanto a acabar com a força militar - forças armadas e PMs - me parece uma idéia ingênua num mundo e num país tão violentos. É possível num mundo com menos pobreza material. A violência criminosa que potencializa várias outras formas de violência. A maior violência de base (alicerce) é a pobreza material. Precisamos acabar com ela. Não matando os pobres, é claro. Mas tirando uma parte da riqueza dos ricos em favor de quem tem menos. Isso não é comunismo nem socialismo. Já acontece em alguns países do capitalismo mesmo. Ano passado, no geral, eu paguei 20% de imposto de renda. Tá lá na minha declaração do IR. Imagina essa alíquota sobre uma base de cálculo de 1 bilhão, a herança que o Gugu Liberato deixou? Ou dos 8 bilhões (dados de janeiro de 2015) que o Ivens Dias Branco deixou pra família? Se eu pagar 20% sobre minha renda, que faz de mim uma pessoa apenas remediada, não é socialismo ou comunismo, por que seria se incidisse sobre a fortuna desses ricaços?

Anônimo disse...

Esse é o problema de uma sociedade patriarcal onde as mulheres eram proibidas de trabalhar fora de casa até a algumas décadas.E a polícia foi a última instituição a permitir a contratar mulheres.No Ceará foi apenas em 1994.É o único concurso público que discrimina por gênero, ao impor uma cota muito pequena de mullheres, o que não ocorre nos concursos para as carreiras civis do serviço público. Obviamente que este fato está relacionado a que o mundo do crime, sobretudo o do tráfico de drogas e armas, seja quase exclusivamente masculino, haja vista que 95% dos presidiários são homens. A ausência de mulheres na polícia gerava problemas, como quando a polícia parava os ônibus no século passado para revistar passageiros, somente os homens eram revistados.O mesmo ocorrendo em bailes e festas. Os bandidos astutamente repassavam as armas para as mulheres, pois elas estavam isentas de revista.
E realmente o bolsonarismo realçou um fenômeno que já era comum às polícias, em especial as militares, do racismo, machismo e homofobismo que resultam nos altos índices tortura e mortes por parte das polícias, ampliado com a impunidade quase generalizada das corporações e do judiciário.
Também recordo as "moças de consolação" do governo japonês durante a época do imperialismo na metade do século passado, e que este governo se nega até hoje a pagar indenização às mulheres coreanas e chinesas sobreviventes que foram forçadas a fazer aquilo que o soldado da PM cearense falou no Whatsapp que gostaria que fizessem para ele seus colegas.

Anônimo disse...

A) Lola abre uma página no facebook precisamos fortalecer os canais progressistas

B) A esquerda e a favor da desmilitarizacao da PM não da extinção da polícia.

c) Lola temos que eleger vereadores progressistas para virar o jogo contra a escoria

avasconsil disse...

O que é a desmilitarização da polícia, usar pétalas de flores e laços de cetim, no lugar de armas de fogo, nesse mundo que está aí? Me desculpem, mas não acredito que funcione. Educar, treinar bem o uso da força, torná-la tática, como disse a entrevistada, me parece mais compatível com a realidade.

Anônimo disse...

Existem países sem forças armadas. A Costa Rica as extinguiu em 1948 e desde então não teve golpe de estado! A Islândia nunca teve FFAA e igualmente jamais teve golpe militar.No Terceiro Mundo os militares são cães de guarda da burguesia e comandados por Washington. São instituições extremamente antipatrióticas e ultra-antinacionalistas.

Alan Alriga disse...

Esse tipo de coisa acontece deste que mulheres entraram nas forças armadas americas como combatentes, e não só o alto comando fazia isso mas também soldados rasos, e quando elas iam fazer qualquer denúncia, elas escutavam ao do tipo "você não queria entrar pro exército? Parabéns o exército acaba de entrar em você", e já lhe entregavam o documento de pedido de saída. E isso foi por bastante tempo, e hoje é bem mais raro se for comparar com antigamente, mas até bem comum se for só levar em conta a realidade atual.

Alan Alriga disse...

Se eu não me engano já teve um imperador que doou tanto dinheiro para a população pobre de um país africano, que acabou deixando esse país em uma crise econômica por em torno de 15 anos, devido a altíssima inflação porque todo mundo era rico. Então não teria como só entregar riquezas aos pobres em quantidade alta, mas melhorar um pouco mais sem que isso aumente a inflação, se não nada irá mudar.
Já a parte do trato social entre pessoas pobres se dá não somente a pobreza, mas exclusivamente a essa cultura podre imposta pela esquerda, "vamos enaltecer o funk que faz apologia ao tráfico, a putaria, ao estupro, a pedófila, a violência contra a mulher, a falta de respeito com as mulheres, ao sexo, ao assassinato de policiais" ao mesmo tempo que se ataca a boa cultura, onde se você gosta de música erudita você é nazista, se você gosta de MPB você é racista e por aí vai; onde uma oficina de música que tira várias crianças do crime organizado fecha por falta de verba, e os esquerdopatas comemoram porque lá se ensinava música clássica, ou seja a música da elite, mas xingam o governo quando ele diminui a verba PÚBLICA para artistas MILIONÁRIOS poderem fazer os seus shows e morar nas suas MANSÕES NO EUA E EM PAÍSES DA EUROPA, afinal isso sim que é o certo, mas fazer o pente fino para saber se estão sonegando impostos, mas aí não pode porque é perseguição por lado político, é fascismo, nazismo, ditadura, é o gabinete do ódio querendo acabar com a cultura da bunda brasileira, afinal o certo mesmo são os artistas que fazem live no Instagram com mulheres nuas, fazendo strip, se masturbando e levando rola com um monte de crianças assistindo, e com aquela música maravilhosa que realmente representa o verdadeiro cartão postal do Brasil, que é uma brasileira nua de quatro.

Alan Alriga disse...

Páginas no Facebook só vão pra frente PAGANDO, se não pagar elas têm um alcance super limitado, a Lolinha têm é que investir no canal dela no YouTube e principalmente no público que realmente consome a plataforma em grande escala, que é o público jovem.

Alan Alriga disse...

O grande problema é a falta de verba para isso, se lembre que existem policiais que usam armas da época da Segunda Guerra Mundial, e não estou me referindo sobre aquelas armas que são super eficientes até hoje, mas sim aquelas bem ruins e para piorar a ainda mais sem ter dinheiro nem para comprar munição, agora imagina os gastos de dar um treinamento tático do nível da Rota, BOPE para todos os policiais militares do país, e ainda tem os custos de armas mais modernas, e que mesmo nós já produzindo um fuzil totalmente nacional baseado na confiabilidade do AK-47, ainda assim muito dinheiro, sem falar dos outros equipamentos como lunetas, red dots, trilhos, flashbangs, coletes balísticos capazes de resistir a tiros de fuzil, escudos balísticos capazes de resistir a tiros de calibres anti-materiais como o .50BMG, lançadores de granada, equipamentos para incapacitar veículos de forma segura, muitas outras coisas para todos os policiais militares brasileiros, mas adivinha só, não precisa de nada disso afinal bandidos têm medo de luz igual barata, então é só investir em iluminação pública igual ao que disse um certo político de esquerda, mas do que adianta capturar o bandido se a população não pode ver o rosto dele, afinal mostrar a cara de um estuprador, assassino agora é crime contra os direitos humanos e adivinha quem criou essa lei retardada, a é também foi um político de esquerda.

Alan Alriga disse...

Que esses policiais tenham uma pena exemplar por cometerem tal ato contra as próprias colegas de farda.

Anônimo disse...

Quando a China e a Rússia, Alemanha, França etc. desmobilizarem suas forças armadas nós podemos pensar nisto a nível global
Costa Rica e uma esquina disfarçada de pais, Osasco tem população maior.

Anônimo disse...

Costa Rica: 5 milhões de habitantes e 51100 km².
Osasco: apenas 700 mil habitantes e tão somente 65 km² de território, seria um micropaís!