terça-feira, 9 de maio de 2017

"COM A BIOLOGIA NÃO SE BRIGA", DIZEM TRANSFÓBICOS

Num post bastante polêmico que, pra variar, gerou vários comentários preconceituosos, apareceu a Maria Caladora para rebatê-los. Ela explica por que a máxima "Com a biologia não se briga" não funciona muito bem como justificativa para a transfobia. 

Com a biologia não se briga, biologia não oferece espaço para contestações, certo? Por exemplo, não posso lutar contra o fato de que preciso do oxigênio em meus pulmões para estar viva. Os seres humanos que viviam nesse planeta há 50 mil anos também precisavam de oxigênio em seus pulmões tanto quanto os de hoje, e antes mesmo dos nossos ancestrais existirem, todos os demais mamíferos precisavam de oxigênio em suas correntes sanguíneas para existirem e isso não está aberto para contestação, pois é absoluto e, ao contrário da sociedade, não muda nem com o passar de centenas de milênios.
Agora, se o patriarcado merece ser explicado através da biologia e se a biologia é o que realmente pode determinar a vida das mulheres, e de quem é mulher, então a brecha para a justificava de todas as opressões está aberta. Se só biologia conta, poderíamos dizer que lésbicas e mulheres bissexuais não existem e são mulheres hétero em negação. Pois somente de uma relação pênis-vagina pode haver possibilidade de reprodução, e a finalidade primordial da sexualidade e de nossos impulsos sexuais é na verdade a reprodução. [Nota da Lolinha: E, de fato, tá cheio de gente que diz isso].
Se somente biologia vale, poderia também dizer que homens homossexuais, bissexuais, dissidentes da heteronormatividade absoluta também não existem e nem deveriam existir, pois um homem com outro homem não irá se reproduzir. 
Se determinismo biológico é o que realmente conta, então poderíamos dizer que mulheres que sofrem violência doméstica têm mais é que sofrerem caladas e aceitarem as agressões, pois na biologia o macho bate porque simplesmente pode e é normal agressões ocorrerem quando animais ficam agitados e irritados e o que vale é a lei do mais forte. Ou seja,quem é mais fraco que se cuide. 
Poderíamos também dizer que não existe estupro, porque biologicamente o macho faz valer a sua vontade e impulsos e cabe a fêmea se defender e evitar sozinha que ele consiga consumar o estupro.
Poderíamos afirmar que estudos que indicam que homens são mais inteligentes que mulheres porque obtiveram melhor resultado em média numa certa atividade estarão corretos se essa for a conclusão de um bando de biólogos.
Poderíamos afirmar que assédio sexual não existe e que mulheres não podem reclamar de terem seus corpos tocados contra a vontade por homens, se biólogos nos garantirem que isso é mera biologia e 'instintos' biológicos que os homens não conseguem conter.
Pode-se afirmar que se biólogos conduzirem um teste e determinarem que brancos são mais inteligentes que negros, por uma simples questão de média de QIs, esse estudo será verdadeiro e não poderá ser jamais chamado de racista e discriminatório porque a única coisa que nos interessa, afinal, é a biologia. 
Quando tenta-se justificar a vida através da biologia e simplificar toda a existência humana através de um fator exclusivamente biológico, então não podemos reclamar do que parece injusto, não é mesmo? 
Pois o determinismo biológico que justifica que mulheres transexuais não são mulheres e sim impostoras é o mesmo que abre brecha pra todos esses discursos 'naturalizadores de opressões' e não apenas para aqueles que nos convém, na hora que nos convém. 
Ressaltando que justiça, ética, direito, responsabilidade e civilidade não são conceitos biológicos, e sim conceitos derivados da racionalidade humana. 
Se tudo que existe, para ser real, precisa de um caráter positivista e estritamente biológico para existir, então eu poderia afirmar que a língua portuguesa é uma grande mentira e ao invés de estarmos nos comunicando através dela por aqui estamos todxs delirando e fantasiando. 
Sim, pois a língua portuguesa não tem nada de fenômeno biológico. Ao contrario do oxigênio sempre tão indispensável à existência humana, a língua portuguesa há mil anos sequer existia; aliás, bastaria eu ter nascido e me criado na Noruega para não ter nenhuma noção de português. Ou seja, falar português não é um fenômeno genético, não há nada nos genes humanos que dê a uma pessoa a capacidade de falar português. 
Poderia eu a partir daí concluir que a língua portuguesa não passa de um mero engodo e que estamos então fantasiando coletivamente sua existência já que ela não é produto da biogenética? 
Pois é bem isso que os conservadores misóginos e as radfems estão dizendo a respeito dos gêneros dos transgêneros. 

203 comentários:

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Anônimo disse...

"Hilla Kerner é ativista feminista e porta-voz do Abrigo e centro de apoio a mulheres estupradas de Vancouver.

Esse abrigo já foi processado por não aceitar homens que se identificam como mulheres em suas instalações.

Mulheres tem o DIREITO de se reunirem e terem espaços exclusivos para elas e essa lei baseada em "identidade de gênero" pode acabar com isso."

isso é o q merecia atenção da lola

Anônimo disse...

Mulher' não é um figurino disponível numa loja de fantasias para qualquer pessoa q queira a use

eu sou MULHER desde q fui concebida, desde q nasci, nunca me "identifiquei" como mulher, pq eu sempre fui uma mulher, desde a concepção, o meu organismo inteiro é feminino, e me sinto completamente ofendida quando alguém aponta o dedo na minha cara dizendo q é errado eu me "identificar" como mulher dessa forma, ou q isso não define o fato de eu ser uma mulher

é como eu dizer pra uma pessoa negra q ela não é negra só pq a pele dela é escura (e por conta de outros fatores biológicos), ou dizer q o fato dela se reconhecer negra por causa desses aspectos é "errado", pq pode ofender outras pessoas q tem a pele clara e se "identificam" como negras. Mas parece q quando o assunto é gênero, essa espécie de relativização é 100% aceita

Pessoas trans não aceitam o corpo em q nasceram, até aí, nenhuma novidade, muita gente tb é infeliz com o próprio corpo; vcs não se "identificam como mulher", vcs não se identificam é com a fisiologia-anatomia do organismo da qual nasceram, e querem emular o da mulher, não sei por qual razão, e ainda emulam os aspectos mais estereotipados possíveis. Realmente, vcs acham q ser mulher é uma roupa, uma fantasia, um figurino, e ainda não sabem pq são tão combatidos por rads e câncervadores

Anônimo disse...

É só ler a verborragia sem sentido do Seu Mário pra entender a necessidade da classificação do transtorno de gênero como doença mental. Isso se não for só um mascu causando, o que não seria surpresa alguma.

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