Hoje é o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Ontem a Lu deixou um comentário aqui no blog falando da Campanha Laço Branco, que ocorre em vários países e mostra que existem outras formas de "ser homem". Um pouco da história da campanha:
“No dia 6 de dezembro de 1989, um rapaz de 25 anos (Marc Lepine) invadiu uma sala de aula da Escola Politécnica, na cidade de Monteral, Canadá. Ele ordenou que os homens (aproximadamente 48) se retirassem da sala, permanecendo somente as mulheres. Gritando: 'você são todas feministas!?', esse homem começou a atirar enfurecidamente e assassinou 14 mulheres, à queima roupa. Em seguida, suicidou-se. O rapaz deixou uma carta na qual afirmava que havia feito aquilo porque não suportava a idéia de ver mulheres estudando engenharia, um curso tradicionalmente dirigido ao público masculino. O crime mobilizou a opinião pública de todo o país, gerando amplo debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência gerada por esse desequilíbrio social. Assim, um grupo de homens do Canadá decidiu se organizar para dizer que existem homens que cometem a violência contra a mulher, mas existem também aqueles que repudiam essa atitude. Eles elegeram o laço branco como símbolo e adotaram como lema: jamais cometer um ato violento contra as mulheres e não fechar os olhos frente a essa violência”.
O Blogueiras Feministas traz um post muito completo sobre o assunto.
Ou seja, esta é uma data importante, mas sabe qual o assunto do dia na internet? (eu pelo menos ando recebendo montes de mensagens pelo Twitter e por email). É o “bolsa-estupro”. Só que a notícia que está sendo veiculada é... de 2007. De quatro anos atrás. Por que logo hoje?
Enfim, como nunca falei dessa aberração, aproveito pra falar aqui. Mesmo que a matéria não seja atual, o projeto de lei continua tramitando no Congresso (ano passado, ele foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social da Câmara), junto com no mínimo outros cinco projetos que visam controlar ainda mais o corpo da mulher, esse sítio indomável que necessita de tanto controle externo. O CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) aponta nada menos que 46 propostas legislativas para criminalizar ainda mais o aborto no país! Estamos vivendo uma época de grandes transformações e protestos, e isso faz com que a retaliação conservadora seja forte.
O “bolsa-estupro” é um enorme retrocesso. A legislação atual sobre aborto (fraquíssima, super atrasada em relação a qualquer país rico) permite -– desde 1940! -– que vítimas de estupro possam abortar. Até a maior parte das pessoas que é contra o aborto concorda que, neste caso, e também em caso de risco de vida para a mulher, ela deve poder escolher se quer aborta. Claro que ainda tem troglodita que vem com aquele discursinho de “o bebê é inocente”, insinuando que a mulher estuprada tem culpa no cartório, mas, em geral, a população concorda que estupro é um crime hediondo e que a vítima não deve ser punida carregando por nove meses um ser que não deseja, e que a lembra da violência que sofreu. Isso é questão básica de direitos humanos (e não venha comparar os direitos de um feto, um ser em formação, com os de uma mulher). Pra piorar, o deputado evangélico (que -- vergonha! -- já foi do PT, e hoje, após "conflitos ideológicos", encontra-se no PV do Acre) inclui em seu projeto que psicólogos pagos pelo Estado convençam as vítimas a não abortarem. Imagino como os psicólogos devem estar se sentindo ao verem que uma lei quer obrigá-los a abandonar os princípios éticos de sua profissão.
É terrível que uma proposta assim seja sequer avaliada num estado que deveria ser laico. Esses projetos se baseiam apenas em preceitos religiosos. É óbvio que, se uma mulher religiosa for estuprada e ela quiser prosseguir com a gravidez, é direito dela fazê-lo (digo isso apenas porque tem muita gente que confunde legalizar o aborto a obrigar todas as mulheres a abortar). Mas é inconcebível que isso faça parte de uma lei. No fundo, o que esse projeto quer é tirar mais um direito da mulher, pagando-lhe por sua consciência. É “Olha só, vamos te dar um salário mínimo durante dezoito anos para que você faça o que a minha religião diz que você deve fazer, que é não abortar jamais, nem em caso de estupro”. Lembra quando aquele arcebispo que queria proibir a menina de 9 anos estuprada pelo padrasto de abortar (9 anos, correndo risco de vida, vítima de estupro) disse que, para deus, aborto é pior que estupro? Pois é, o deputado autor do projeto pensa assim também. Só pode. Seu projeto praticamente afirma isso.
Mas voltando ao dia 6 de dezembro do ano corrente. Querido homem, todo dia é dia de combater todos os tipos de violência (verbal e física). Mas é preciso atenção especial à violência contra a mulher, porque é esta a que mais ocorre no ambiente doméstico, e a que costuma ter os efeitos mais perversos em toda sociedade. Sugiro que você comente aqui (e fale com seus amigos) não sobre como o homem também sofre violência, ou como mulher também comete violência, ou (muito menos, please) como mulher merece a violência que recebe, e sim como você pode ajudar no combate a essa violência contra a mulher. Você já ajuda? O que você faz? Já dialoga com seus colegas e amigos? Já abandonou termos que condenam a sexualidade feminina, como vagaba, vadia, piranha, galinha etc? Já parou de assediar grosseiramente mulheres na rua? Já vestiu as sandálias da humildade e parou de homexplicar?
O mundo é nosso, de mulheres e homens. Precisamos uns dos outros, e não estamos em competição. Ninguém quer tirar os seus direitos. Minha dica para reflexão é que você pense sobre o que é ser homem nos dias de hoje. Veja se suas ideias estão estacionadas no tempo e no espaço, e, se estão, o quanto elas contribuíram para o mundo injusto e violento que temos há tantos séculos. O mundo é nossa única casa. Cabe a nós, tod@s nós, mudá-lo. Hoje começa por você.
O Blogueiras Feministas traz um post muito completo sobre o assunto.
Ou seja, esta é uma data importante, mas sabe qual o assunto do dia na internet? (eu pelo menos ando recebendo montes de mensagens pelo Twitter e por email). É o “bolsa-estupro”. Só que a notícia que está sendo veiculada é... de 2007. De quatro anos atrás. Por que logo hoje?
Enfim, como nunca falei dessa aberração, aproveito pra falar aqui. Mesmo que a matéria não seja atual, o projeto de lei continua tramitando no Congresso (ano passado, ele foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social da Câmara), junto com no mínimo outros cinco projetos que visam controlar ainda mais o corpo da mulher, esse sítio indomável que necessita de tanto controle externo. O CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) aponta nada menos que 46 propostas legislativas para criminalizar ainda mais o aborto no país! Estamos vivendo uma época de grandes transformações e protestos, e isso faz com que a retaliação conservadora seja forte.
O “bolsa-estupro” é um enorme retrocesso. A legislação atual sobre aborto (fraquíssima, super atrasada em relação a qualquer país rico) permite -– desde 1940! -– que vítimas de estupro possam abortar. Até a maior parte das pessoas que é contra o aborto concorda que, neste caso, e também em caso de risco de vida para a mulher, ela deve poder escolher se quer aborta. Claro que ainda tem troglodita que vem com aquele discursinho de “o bebê é inocente”, insinuando que a mulher estuprada tem culpa no cartório, mas, em geral, a população concorda que estupro é um crime hediondo e que a vítima não deve ser punida carregando por nove meses um ser que não deseja, e que a lembra da violência que sofreu. Isso é questão básica de direitos humanos (e não venha comparar os direitos de um feto, um ser em formação, com os de uma mulher). Pra piorar, o deputado evangélico (que -- vergonha! -- já foi do PT, e hoje, após "conflitos ideológicos", encontra-se no PV do Acre) inclui em seu projeto que psicólogos pagos pelo Estado convençam as vítimas a não abortarem. Imagino como os psicólogos devem estar se sentindo ao verem que uma lei quer obrigá-los a abandonar os princípios éticos de sua profissão.
É terrível que uma proposta assim seja sequer avaliada num estado que deveria ser laico. Esses projetos se baseiam apenas em preceitos religiosos. É óbvio que, se uma mulher religiosa for estuprada e ela quiser prosseguir com a gravidez, é direito dela fazê-lo (digo isso apenas porque tem muita gente que confunde legalizar o aborto a obrigar todas as mulheres a abortar). Mas é inconcebível que isso faça parte de uma lei. No fundo, o que esse projeto quer é tirar mais um direito da mulher, pagando-lhe por sua consciência. É “Olha só, vamos te dar um salário mínimo durante dezoito anos para que você faça o que a minha religião diz que você deve fazer, que é não abortar jamais, nem em caso de estupro”. Lembra quando aquele arcebispo que queria proibir a menina de 9 anos estuprada pelo padrasto de abortar (9 anos, correndo risco de vida, vítima de estupro) disse que, para deus, aborto é pior que estupro? Pois é, o deputado autor do projeto pensa assim também. Só pode. Seu projeto praticamente afirma isso.
Mas voltando ao dia 6 de dezembro do ano corrente. Querido homem, todo dia é dia de combater todos os tipos de violência (verbal e física). Mas é preciso atenção especial à violência contra a mulher, porque é esta a que mais ocorre no ambiente doméstico, e a que costuma ter os efeitos mais perversos em toda sociedade. Sugiro que você comente aqui (e fale com seus amigos) não sobre como o homem também sofre violência, ou como mulher também comete violência, ou (muito menos, please) como mulher merece a violência que recebe, e sim como você pode ajudar no combate a essa violência contra a mulher. Você já ajuda? O que você faz? Já dialoga com seus colegas e amigos? Já abandonou termos que condenam a sexualidade feminina, como vagaba, vadia, piranha, galinha etc? Já parou de assediar grosseiramente mulheres na rua? Já vestiu as sandálias da humildade e parou de homexplicar?
O mundo é nosso, de mulheres e homens. Precisamos uns dos outros, e não estamos em competição. Ninguém quer tirar os seus direitos. Minha dica para reflexão é que você pense sobre o que é ser homem nos dias de hoje. Veja se suas ideias estão estacionadas no tempo e no espaço, e, se estão, o quanto elas contribuíram para o mundo injusto e violento que temos há tantos séculos. O mundo é nossa única casa. Cabe a nós, tod@s nós, mudá-lo. Hoje começa por você.
203 comentários:
«Mais antigas ‹Antigas 201 – 203 de 203Olha, opinião assim de fora: com pessoas delirantes, não há argumentos. Os argumentos dos mascus e do assemelhados que se negam enquanto tais não podem ser discutidas, já que eles como pessoas em delírio que são não tem juízo crítico pra avaliar suas crenças. Claro que eles encontram uma materialidade para seus delírios no sistema patriarcal. Mas, eles extrapolam isso. Eu diria que esse moços estão numa "onda" de delírio coletivo semelhante aquelas seitas tipo a do Manson, sabe? Ah, e já que o papo também discutiu estatística, leiam alguma manual sobre transtornos mentais sobre a descrição de pessoas delirantes no mundo todo e vejam se o modo de descrição dos episódios de delírio não se encaixa co o modo como m os macsus argumentam. Ah, só pra constar os manuais são organizados por psiquiatras. Homens em sua maioria.
Curiosidade minha: por que sempre que vocês defendem a legalização do aborto (em todos os casos e não só em estupro) vocês dão o poder de escolha para a mulher? Por que essa decisão não ser dos dois? Afinal, a mulher não ficou engravidou sozinha.
Pois não é que hoje meu filho (9 anos) postou na internet uma charge do JoSuado em que o Sr. Madruga batia na Dona Florinda. Na mesma hora eu escrevi para ele dizendo que aquilo era muito feio, um homem batendo na mulher, que não tinha a menor graça. Ele respondeu, pediu desculpas e disse que ia apagar.
Acho que é assim, desde cedo temos que ansinar nossos filhos para que não repitam essas discriminações e não reproduzam comportamentos machistas.
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