Então tá decretado: mulheres cabeludas dão muito medo mesmo. Depois de “O Chamado” chega “O Grito”, outro filme em que o ser sobrenatural mais apavorante é uma moça que não corta suas madeixas há tempos. Assim como “O Chamado” e “Dança Comigo?”, que não é um terror, “O Grito” também é um remake de um original japonês recente. Só que desta vez deixaram o diretor do original, calma que eu peguei o nome dele, Takashi Shimizu, filmar o remake, o que é raro. E outra coisa estranha é que “O Grito” continua ambientado no Japão. Geralmente os americanos compram um filme de outro país, contratam um diretor de aluguel americano, recheiam de atores americanos, e tá pronto o produto. Mas em “O Grito” só as vítimas são americanas.
Pausa pra comentar o título. O nome do filme em inglês é “The Grudge” (em japonês é algo que lembra Yugi-Oh!, não importa), que significa rancor. Certo, não pega bem chamar uma produção de horror de “A Mágoa”, mas cadê o grito do título? O único de “O Grude” é um grito silencioso à la Munch. Tá mais pra “O Arroto”, no máximo “O Grunhido”. Aliás, vários espectadores, na saída do cinema, se esmeraram em imitar o arroto da mulher cabeluda.
Por falar nos espectadores, “O Grude” dialogou brilhantemente bem com a platéia, que tava muita envolvida. Logo no início, o Bill Pullman acorda, uma moça na cama pergunta se ele dormiu bem, e ele se joga da janela. Como essa ganha fácil o Oscar de “Pior Noitada”, o público riu legal. Em seguida, pouco antes do primeiro grande susto, um espectador espirrou alto, de mentirinha. Todo mundo riu e a gente perdeu o primeiro grande susto. Mas outros vieram, e o público lá, eu inclusa, congelado de medo. Se isso de causar pânico e paralisar a platéia é um bom parâmetro pra julgar um filme de terror, e eu acho que é, então “O Grude” cumpre sua missão. Mas história propriamente dita não tem. São mais vinhetas de terror, colocadas em qualquer ordem pra criar um clima (“O Chamado” tinha muito mais trama). Só pra citar os furos do roteiro, um dos fantasminhas nada camaradas fala com a Sarah Michelle Gellar, a Buffy. Não quero dizer que a Buffy é a cara da moça que ganhou “O Aprendiz” pra ninguém saber que vi o programa do Justus, entende? Bom, por que o pluft falaria com a Buffy, e só com ela, e só uma palavra? Seria pra depois ela poder procurar esta palavra na internet ou existe algum motivo relevante? Além disso, numa das seqüências algum espírito maligno tem o poder de se transfigurar num ente querido, o que parece pertencer a outro filme, “Exterminador 2” talvez. E todas as pessoas da casa mal assombrada têm a irritante mania de ouvir um barulho vindo do armário e colocar a cabecinha de vento lá dentro pra ver. Sério, quem faz isso na vida real? Sou só eu que ficaria longe do armário e chamaria o maridão pra ver o que é? Eu já tava ficando nervosa na terceira ou quarta vez que uma nova vítima entrava na casa perguntando “Doug?” ou “Susan?” ou qualquer outro nome, pra ser eliminada depois.
Mas tudo bem, o que conta é o clima e o envolvimento do público, e nesses quesitos “O Grude” se sai bem. Tanto que aquele espectador engraçadinho só conseguiu espirrar mais uma vez até o final do filme.
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