Pode ser que eu seja excomungada depois desta confissão, mas a verdade é que cada vez que revejo o clássico de 73, mais eu penso: clássico? No quesito anti-Cristo, prefiro “O Bebê de Rosemary” e “A Profecia”. Toda essa franquia exorcisante é muito moralista. No original, a Linda Blair tava possuída pela puberdade mais que pelo Coisa Ruim em si. Esta versão mantém o mesmo terror à sexualidade. Tem até uma cena de menstruação pra nos lembrar onde reside o verdadeiro mal. Olha, se me disserem que vermes e moscas são coisas do demo, eu nem discuto. Agora, sexo? Sexo aqui é o pior dos pecados, usado pra atentar contra a castidade de um padre, tadinho. Um dos problemas deste “Ex” é que a gente sabe que todo mundo pode estar possesso, menos o padre. Neste a gente pode confiar. E a gente também sabe que ele vai comer o pão que o diabo amassou, por assim dizer, mas que vai sobreviver pra, décadas mais tarde, exorcisar a menininha que vomita sopa de ervilha. Cadê o suspense?
Satanás não parece ter muito que fazer além de virar crucifixos de cabeça pra baixo, e o padre logo opta pelo óbvio: existe horário mais adequado pra abrir covas e visitar igrejas abandonadas que no meio da noite? E sozinho? Minha cena constrangedora favorita é quando um personagem aliviado segura um crucifixo e a câmera dá o close de outro personagem sorrindo. E tem também a inacreditável seqüência das hienas geradas por computador. Acho que meu Corel-Draw faria melhor. Mas o filme é até anti-colonialista, no alto estilo hollywoodiano. Ou seja, critica-se a presença de tropas estrangeiras, mas todos os nativos falam inglês fluente. Não importa que em Moscou 2004 nenhuma alma fale inglês. Pra Hollywood, é só chegar num lugarejo da África na década de 40 que todo mundo vai ser fluente. O que me leva à minha cena constrangedora número três. Seguinte: se você algum dia precisar de um assistente pra sua sessão de exorcismo, não se aperreie. Qualquer um serve. Até um personagem que mal sabe ler, cuja primeira língua não seja o inglês, vai prestar um bom serviço – isso tendo que ler andando num lugar pra lá de escuro. Afinal, quando o mal está à solta, todo dia é um belo dia prum exorcismo.
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