terça-feira, 29 de novembro de 2005

CRÍTICA: CASAMENTO DE ROMEU E JULIETA / Julieta não tá me chamando

Fui ver “O Casamento de Romeu e Julieta” e tô começando a pensar em boicotar qualquer filme que tenha a palavra casamento no título. Bom, pelo menos as comédias românticas, inclusive porque nenhum outro gênero no cinema atual carece de tanta revisão. Não quero parecer rígida demais com este produto brasileiro, então direi apenas que “Caos”, quero dizer, “Casamento”, não tem um só fotograma que se salve. Não seria justo afirmar que este é o pior filme nacional do ano porque, afinal, ainda estamos no começo de 2005, mas ele talvez mereça o troféu de pior filme nacional da década (e não por falta de fortes concorrentes). É sem graça, sem ritmo, sem a mínima importância. E é sobre futebol, sim (o marketing anda clamando que não é, pra convocar o público feminino). A Luana Piovani, que já teve um papel muito melhor em “O Homem que Copiava”, faz uma palmeirense que se apaixona pelo corinthiano roxo Marco Ricca, outro que já viveu dias mais felizes em sua carreira cinematográfica (vide “O Invasor”). Corinthiano é com h?

Nada se sustenta no filme. Por exemplo, no “Romeu e Julieta” do velho Shake, Julieta se apaixona por Romeu sem saber que ele é do clã inimigo. Tem um baile de máscaras, certo? Quando ela nota quem ele é, já foi fisgada. Agora, vamos analisar como a Julieta da Luana gama pelo Romeu do Marco. Ela vê que ele é corinthiano. Daí ela tem certeza que ele tá mentindo. O cara não tem atrativos, broxa duas vezes seguidas, e ela cisma que esse é o homem da vida dela?! Ahn, tem algum outro motivo pra ela cair na dele além do óbvio “tá no roteiro”? Mas justiça seja feita: a produção se esforça pra esticar essa historinha prum longa de uma hora e meia. Como curta-metragem de cinco minutos já seria cansativo. E forçado, né? É chato entrar no universo de um rebanho fanático pra, no final, receber a mensagem que isso não é legal pra convivência humana.

Pausa pra minha experiência pessoal que, sinceramente, é mais relevante que várias críticas escritas sobre “Caos” (ou a sua vida muda muito depois de saber que, na real, a Luana é são-paulina?). Seguinte: quando eu morava em SP, trabalhava perto do Estádio do Pacaembu. Em dia de jogo, nossas regras de sobrevivência eram básicas: a gente simplesmente não ficava na rua, no ônibus, no metrô, ou em qualquer rota de passagem de torcidas. Porque toda torcida tem seu lado hooligan. É um pessoal que bebe, que se sente mais macho num grupo, e que procura pretexto pra brigar. E ainda por cima solta rojão. Ou seja, é um pouco como rodeio e música country – não tem nada pra se gostar num torcedor fanático.

Não sei qual é o ibope da Globo às quartas, quando ela transmite aqueles tediosos joguinhos de futebol. Mas imagino que tenha a audiência mais baixa da semana, já que a emissora deve automaticamente perder a metade feminina. E o que isso tem a ver com “Caos”? É que o filminho é a maior aposta da Globofilmes para 2005, acredite se quiser. De verdade, “Caos” não é indicado pra quem acha o fim nossos maridos acompanharem, às quartas na TV, qualquer partida de timinho de várzea como se fosse final de copa do mundo. E como a gente tampouco tem grande interesse em ver a Luana de shortinho... Só recomendo “Caos” pra marmanjos babões ou pra quem achava que “Voando Alto” era o pior filme da carreira do Bruno Barreto. Não sei se “Caos” é pior que aquela tragédia aérea, mas tá na área.

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