Antes de continuar, sugiro que você só leia este texto após ver “Marcas”. Faça como eu, que não sabia nem que o William Hurt ia aparecer na tela. Pois então, se você seguiu meu conselho, não preciso resumir a trama: um dono de uma lanchonete no meio do nada impede um assalto e mata os bandidos. A partir daí, a vida da sua família vai mudar pra pior. Mas que diacho o Cronenberg tá querendo dizer? Que todo herói americano tem um histórico de violência por trás da fachada de bom moço? Que violência só gera mais violência? Que a sociedade americana é bélica? Que a tese da legítima defesa é, como direi, legítima? Que todo mundo merece uma segunda chance? Ou que segunda chance não existe? Eu e o maridão tivemos vários papos-cabeça, ou ao menos mais cabeça que os da espectadora Chicken Little. Assim: violência tem prazo de validade? Depois de um tempo um ato de violência expira? Esquecer uma violência parece uma impossibilidade, tanto pra quem comete quanto para quem sofre. Mas e perdoar, é possível? Ou Klute, o passado condena? (essa foi péssima, eu sei). Também falamos de temas mais próximos à nossa realidade. Se nossa casa tivesse escada, a gente, hã, seria tentada a reproduzir uma das cenas do filme? (Resposta rápida do maridão: De jeito nenhum! Bebeu? Isso dói!). E de histórias que têm pouco a ver com violência: importa o que a gente fez antes de conhecer nosso amor? Como não dá pra exigir fidelidade no passado, seria justo esperar total santidade? Eu perdoaria o maridão numa boa se, quinze anos antes da gente se conhecer, ele tivesse liquidado uns gangsters por aí. Mas e se ele tivesse sido um pedófilo? Aí complica, né? Ou não? A gente não acredita em regeneração? E só regeneração resolve, ou precisa ter punição? Vamos ficar no caso do assassino loiro do início de “Marcas”, que diz estar cansado daquilo tudo. Se ele mudasse de cidade, casasse, começasse vida nova e tal, tudo bem? E a subtrama do colégio é ainda mais esquisita. O menino é perseguido (“bullied”) durante um ano, e um dia reage, batendo nos agressores. Daí os pais dos valentões querem processar o guri. Ou seja, daqui a pouco a gente justifica Columbine.
Você pode argumentar que um filme que levante tantas questões interessantes deve ter profundidade, mas não sei. Olhando por este ângulo, qualquer história com estupro marital no meio é perturbadora. Só que falta algo mais incisivo, e juro que não sei o que é.
2 comentários:
O Viggo era o Aragorn.
O que no final vira rei e casa com a elfa (persongem da Liv Tyler).
O ator que interpretou o Legolas foi o Orlando Bloom.
Lolis, Viggo já tinha 46 anos quando fez o filme!! Se ele se casou com 26, dava pra ter feitos umas diabruras, não?
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