Não há como negar que rapazes recém-saídos da adolescência e mulheres beirando os quarenta estão ambos no auge da sua vida sexual. Mas confesso que tive problemas pra engrenar na história. Ok, eu tava mais enturmada que o maridão, que fantasiou os pombinhos se casando numa igrejinha no meio do deserto e quatro assassinos de aluguel trajando preto invadindo o recinto. Eu pelo menos não pensei em “Kill Bill” em momento algum. Mas não entendo por que um adulto precisaria da aprovação dos pais pra namorar alguém. Ou como uma terapeuta insistiria tanto para que o filho se juntasse a alguém da mesma religião. Aliás, às vezes você não sente que mostrar os maneirismos de uma família judia produz o mesmo efeito pra nós aqui do Brasil que enfocar futebol americano? A gente não saca bem o que tá acontecendo e nem se importa muito. Só quando o eixo mudou e começaram a tratar dos conflitos da idade é que consegui me envolver.
O triste é que se a comédia não enfatizasse tanto a diferença de idade, não daria pra perceber que a Uma é 14 anos mais velha que o Bryan. Ele não parece ter 23, e a Uma não parece ter 37 (inclusive porque, na real, a diferença de idade entre eles é de apenas oito anos). Mas é aquele negócio: o que importa a idade se os dois se dão tão bem? O desafio surge logo que eles decidem levar o relacionamento pra além do sexo. Aparecem disparidades no projeto de vida, no ritmo, nas expectativas de cada um. Tudo pode ser resumido no que chamo a falta de papel higiênico. Desenvolvi esta hipótese após ver um episódio de “Sex and the City” em que a protagonista se relaciona com um rapaz de vinte anos. Ela até suporta a bagunça do apartamento e a imaturidade. Só quando falta papel higiênico no banheiro é que ela nota que o relacionamento não tem futuro. Um homem mais velho sempre tem papel higiênico.
Algumas piadas em “Terapia” fazem rir, como a Uma dizendo pro carinha que tem roupas com mais idade do que ele, ou uma amiga advertindo a Uma que, se ela preza sua vida sexual, não deveria presentear o amante com um videogame. E gostei da psicóloga e paciente conversando sobre o pênis do sujeito, se bem que se eu tivesse que gastar uma nota com uma terapeuta em Nova York, não sei se falaria sobre isso. Ah, gostei até da psicose do melhor amigo, que sente compulsão por jogar torta na cara das suas paqueras. Mas não achei os personagens tão espertos como o filme quer que a gente ache. Tipo assim: o que adianta os pombinhos se conhecerem na fila de um festival Antonioni se eles perdem a sessão inteira papeando no banheiro? Posso estar enganada, mas aposto que em “Sem-Floresta” ninguém vai a um festival Antonioni.
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