Ah, pra quem tá louco de vontade de batizar a filhinha de Nárnia, saiba que é um lugar, não uma pessoa. Imagina só, se o filme pega, o mundo corre o risco de ter uma epidemia de Nárnias, como tivemos de Pamelas e Suellens por causa de “Dallas”. “Crônicas Narnianas” é sobre quatro irmãos ingleses que entram num armário e saem num lugar mágico, cheio de animais falantes, faunos e centauros (elfos deviam estar em falta). Acho que a garota atrás de mim nunca havia visto um fauno, porque quando apareceram as patas dele, ela gritou “Ui!”, meio enojada. Repetindo, as crianças invadem um guarda-roupa, que é todo peludo, esbarram umas nas outras, são espetadas, e daí caem do outro lado, todo branquinho. Hmmm.... Mas essa é só minha mente poluída em ação, já que o troço foi escrito cinqüenta anos atrás, certamente muito antes do nascimento daquele tal de Freud. Fiquei fazendo uma contagem mental: ok, o guarda-roupa já apareceu uma pá de vezes, a feiticeira idem, cadê o leão? E todo mundo falava de Aslã, Aslã, ó grande Aslã, e eu demorei pra sacar que Aslã e o leão eram o mesmo efeito especial gerado por computador, apesar de ter visto o trailer até dizer chega. Então, não gostei dos bichinhos computadorizados. Os únicos que pareciam vagamente reais eram os castores. Adoro leões e felinos em geral, mas, dos personagens-título, o que mais me comoveu foi o guarda-roupa. Eu sempre quis ter um walk-in closet.
É lógico que toda a trama tem forte conotação religiosa e que o leão equivale ao messias. Porém, mais do que à volta de Cristo, o filme faz no mínimo três alusões à volta da seqüência. Um crítico americano apelidou “Crônicas” de “Senhor dos Anéis Jr”, mas o que gostei mesmo foi da tirada de um outro dizendo que, se “Crônicas” fosse dirigido pelo Mel Gibson, a gente iria ver 78 minutos da feiticeira chicoteando o leão antes de matá-lo (mas tudo bem, como todo messias, ele ressuscita no final). O que me leva a uma questão filosófica nada-a-ver: a gente sabe que o leão é mais forte que o domador, o domador sabe, só o leão que não sabe. Seria ótimo se soubesse. Certo, não tem domador aqui. Esquece. O que tem é um tom patriarcal bem estridente. O mal é uma mulher. A única outra mulher do filme, tirando as duas meninas, é uma governanta chatinha. O leão cristo-rei é homem, barbudo, com voz imponente (aqui dublado pelo Paulo Goulart); o professor dono do casarão adora um armário, e até o bom velhinho faz uma pontinha. Enfim, os homens são justos e queridos, as fêmeas, problemáticas. Fica até parecendo que são as mulheres que promovem guerras.
Por falar em bom velhinho, chega uma hora em que o Papai Noel dá um presentinho pra cada uma das crianças. Uma espada, um vidrinho que cura feridas, flechas que acertam qualquer alvo, coisas assim. Naturalmente esses brinquedinhos à la James Bond terão de ser usados antes que “Crônicas” termine. E o filme anda, anda, anda, e nada da moça empregar as flechas. O público até começa a se inquietar: será que vamos ser enganados mais uma vez, como fomos quando um castor entalado nos dentes de um lobo subitamente sai da água? De um modo muito estapafúrdio, a moça usa as flechas. Uma delas, pelo menos. Um anão vem com tudo pra cima dela e ela atira uma flecha, e acerta, claro. A meio metro de distância, até eu! Essa cena gerou risos nervosos.
À medida que “Crônicas” vai passando, mais vai cansando. Comecei a bocejar quando ficou bem definido que a trama representa a luta dos EUA contra Vietnã, Iraque, ou o país invadido do ano, ou seja, a eterna luta do Bem contra o Mal. Vira uma justificativa pra guerra: até as crianças devem pegar em armas pra levar a liberdade aos povos. No fim, os pimpolhos são todos coroados: um filho de Adão é o justo, uma filha de Eva é a gentil, outra é a destemida, outro o magnífico. Pode escolher? Porque eu preferiria ser a magnífica (gentil não soa a prêmio de consolação?). E é óbvio que a resolução nem chega perto da real utopia – liberdade é uma terra em que reis seriam desnecessários, né? Já mencionei que queria ter um walk-in closet?
3 comentários:
entaum..vc fica só falando mal pq é um pouco tonta e naum deve entender o significado! entaum leia o livro e tente prestar atençao do pq de cada coisa antes de falar mal ok?
eu vi tudo que vc viu e senti algumas das coisas que vc sentiu mas no final pensei..isso é cinema..que delícia....ui efeitos especiais pra lá de especiais.Adorei a carinha dos atores escolhidos a dedo! Adorei o clima do filme, a montagem. a sensação de medo,a rainha má e branquinha kkkkkkkkkkkkkkkkkk tem esse lado tb LOLA! bj
De onde você tirou a ideia de que J.K.Rowling baseou sua obra de Tolkien?
Tsc, tsc...completamente enganada!
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