quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A RASTEIRA NO REVISIONISTA

Talvez o tema do racismo do Leandro Narloch já esteja meio batido, mas, como ele continua sendo colunista da Folha, reproduzo o ótimo artigo que o mestrando em História pela USP Rodrigo Nagem de Aragão, a doutoranda em História pela Unicamp Ana Paula Saviatti, e o professor de História Dennis Almeida publicaram semana passada no mesmo jornal. Por que não dá uma coluna pra eles em vez de dar pra um revisionista, Folha?

Leandro Narloch é um dos maiores pensadores atuais do humanitismo. Ao escrever, em coluna nesta Folha, que foi possível a certos escravizados triunfar por mérito e esforço próprios (“Luxo e riqueza das ‘sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro”; 29/9), sugere também ser possível triunfar em uma sociedade injusta e desigual como a nossa. Ao defender abertamente a ideia de que as distorções hierárquicas brasileiras são legítimas, sua coluna parece ter saído diretamente das páginas do jornal Atalaia, do romance de Machado de Assis.

A diáspora africana, quatro séculos de escravidão, documentos, relatos, pesquisas e milhões de brasileiros descendentes de africanos — nada disso é páreo para a história pessoal de algumas mulheres.

A escrita da história envolve disputas, o que nos exige compromisso contra todo um arsenal de horrores que alimentou, por exemplo, o fascismo. Por tamanha responsabilidade, o trabalho do historiador é um exercício ético constante; já a produção de caricaturas e outras formas textuais, não.

Defensor da meritocracia nos trópicos, podemos já antever a reação do jornalista não apenas a este, mas também a outros textos: ver-se como uma pobre mente pensante, supostamente autônoma, vítima de um silenciamento, que teria ousado desafiar o status quo.

O historiador Pierre Vidal-Naquet já nos alertava em seu trabalho sobre o Holocausto, Os Assassinos da Memória, de que podemos e devemos sempre discutir sobre revisionistas, mas jamais com os revisionistas.

Certo mito apaziguador diz que a história do Brasil é caracterizada por um perfil relativamente pacífico, o que é rapidamente desmentido por inúmeras guerras, rebeliões, sedições e revoltas contra um projeto de país forjado em ferro, brasa, mel de cana, pelourinhos, senzalas, concentração fundiária, aldeias mortas, tambores silenciados, truculência oligárquica e chicote dos capatazes, entre outros.

Mesmo assim, o colunista insiste na manutenção do que a herança escravista produz de pior: a negação da resistência negra e o elogio àqueles escravizados que, inseridos na dinâmica brutal do escravismo, alcançaram a plena realização como senhores de escravizados.

Os horrores da escravidão e sua herança para a sociedade brasileira estão presentes em farta documentação e foram objeto de numerosos estudos de pesquisadores brasileiros. Contudo, historiadores e suas obras raramente ganham a projeção do texto falacioso e racista de Narloch.

A irrelevância das bobagens que foram escritas não merece resposta no campo da historiografia. Basta reconhecer sua excepcionalidade e a persistência do preconceito, numa sociedade em que a elite era quase uniformemente branca — e continua a sê-lo. O sucesso parcial dentro de parâmetros manifestamente injustos não os legitimam; antes, aumentam seu horror.

O problema maior reside no fato de que essas aberrações se vulgarizam e chegam às salas de aula, obrigando educadores a confrontá-las. É por conta da projeção que textos dessa natureza ganham que todos os dias professores entram em sala de aula para reafirmar o óbvio, que escravidão, nazismo e ditadura existiram e devem ser condenados — ou que vacinas salvam vidas.

Não tenhamos ilusões. Ao combater e desqualificar a memória do sofrimento e da luta dos mortos, gente como Narloch pretende — mirando a casa-grande — impedir que elas sejam centelhas capazes de animar as lutas dos vivos em nome de uma sociedade mais justa e fraterna. Daí sua tentativa francamente bizarra de pautar o movimento negro, cinicamente sugerindo a valorização daqueles que participaram do sistema de exploração em vez dos que o contestaram.
Dar espaço e, consequentemente, projeção a esse tipo de argumento não é um exercício de democracia. O negacionismo é tal qual o abraço do afogado: quando se dialoga com ideias falaciosas, não há o que ser salvo; simplesmente afunda-se junto, pois o que procuram não é debate, mas a provocação.

Mais importante até do que uma resposta ao colunista e seus congêneres é uma resposta da própria Folha, pois sua busca pela “pluralidade de ideias” degenerou-se em palanque justamente para aqueles que são contra essa diversidade, os quais não hesitam em usar de má-fé para distorcer a realidade e defender a hierarquia excludente que marcou a nossa história. É esse o papel de um jornal a serviço da democracia?

5 comentários:

Anônimo disse...

A folha ñ é um jornal a serviço da democracia
Muito pelo contrário.
São subservientes às figuras nefastas da extrema-esquerda deste País.

Anônimo disse...

a) Lola este revisionismo histórico de boteco pretende suavizar o passado com o objetivo de esvaziar políticas públicas de reparação este e o jogo.

b) Um dos piores problemas e que além de falar o que a Direita quer ouvir os livros desse senhor são de fácil leitura o que tem levado alunos a desafiarem professores de História nas aulas. Na minha opinião os Historiadores tem que procurar responder as falácias desse senhor

Diego Alexandre disse...

Acho o conteúdo do Leandro relevante. Tenho muitos livros dele. Ele me ensinou que muito do que nos é ensinado em história do Brasil tem um viés político germinado ali para manipular nossa visão de mundo. No caso, claramente o viés marxista. A história do Brasil é instrumentalizada de forma tal a validar a "luta de classes" de Marx. No contexto da escravidão do Brasil, por exemplo, nos é apontado os grandes vilões: O reino branco de Portugal e a Igreja Católica, que juntos faziam o comércio de escravos acontecer. Se não fosse por um detalhe importante: esses dois personagens tiveram o suporte dos reinos negros da África. Sim, negros escravizando negros e vendendo-os como escravos no mercado dos brancos. Isso é um verdadeiro choque de realidade: se negros exploravam negros para ganhar junto dos brancos, então dentro de um sistema exploratório existem aqueles que vieram do mesmo contexto dos explorados mas que se aliam aos exploradores em detrimento do próprio grupo de origem! Caramba, isso é muito poderoso de se saber. Mas como dentro do Marxismo existe o combate ao capitalismo e dentro dos seres maléficos desse sistema na visão marxista, estão os burgueses e a Igreja, e os caras que redigem nossa história são de viés de esquerda marxista (e como explicado no início, manipulam a história como ferramenta política)...não é interessante para eles mostrarem que negros exploraram os próprios negros. Deixam o estudante na ilusão que o Reino Branco de Portugal(que simboliza para eles os Burgueses) e a Igreja Católica(a própria igreja) fizeram tudo sozinhos. História era a minha matéria preferida no ensino médio. Um dia pedi orientação a um professor meu sobre um bom livro de história para estudar. Aí ele me respondeu: "- No Brasil, faltam bons livros de história escritos então não posso te dar nenhum nome específico de livro". Hoje entendo o que ele estava dizendo.

Unknown disse...

Olavaum arranjou um pseudónimo???

Anônimo disse...

É mais um a fazer ginástica
Mental para explicar a sua terra plana, esquecem o que o Reino belga de Leopoldo II fez com o povo do Congo, depois chamado de Zaire e em seguida chamado de Congo novamente, conflitos são necessários na África para exploração de pedras preciosas, Antuérpia agradece grupos armados de extermínio e milícias, tem um livro de nome "No coração das trevas" muito interessante, pois tem uma parte dele a tratar do comércio de marfim. Esses discípulos daquele boca de peido moribundo com tratamentomédico pago por brasileiros que ele tanto execra é um cambalacheiro mau caráter,inclusive este tratado no post é um de seus admiradores e pupilo, aprendeu muito bem a distorcer em nome de interesses próprios gananciosos, essas pessoas tem simpatia de grupos internacionais e são incentivados $$$ pelos mesmos como Tea Party, grupos Millenium, Mises, grupos também com membros dos meios de comunicação em massa, mídia como Estadão, Folha de São Paulo, Globo, etc, então a virulência, verborragia de alguns é necessária para ocultação de uma engrenagem malefíca, quando perdem o interesse, necessidade desses grupos são descartados igual um absorvente usado, veja o caso do Olasno boca de peido e Steve Bannon, levou um pé na bunda por não serem mais necessários os "serviços prestados" e agora está a ocupar um leito de hospital com seguranças na porta com dinheiro pago por impostos de brasileiros, um povo que ele tanto ajudou a prejudicar.