terça-feira, 24 de novembro de 2020

O MEDO DAS MULHERES SEREM ESTUPRADAS

Muito interessante a Pesquisa Percepções sobre estupro e aborto previsto por lei, dos institutos Patrícia Galvão e  Locomotiva. 

Na pesquisa realizada online entre 1 e 14 de setembro, respondida por 2 mil homens e mulheres acima dos 16 anos, 52% dos entrevistados disseram conhecer uma mulher ou menina que já foi vítima de violência sexual. 16% das mulheres já sofreram essa violência. 95% das mulheres revelaram ter medo de serem estupradas, e 78% disseram ter muito medo. Entre os homens, 92% tem medo que sua filha, mãe, esposa ou namorada sejam vítimas. Dos que conhecem uma vítima, 17% disseram que ela engravidou e em 42% dos casos fez aborto. Só 29% acham que a polícia está muito preparada para atender vítimas de estupro. 94% disseram ser a favor da menina de 10 anos do Espírito Santo abortar. 82% concordam com a possibilidade de abortar quando se é vítima de estupro. 88% acham que toda cidade deveria ter esse serviço de aborto. 

Como podemos ver por essa pesquisa, e também ao falarmos com praticamente qualquer mulher, o medo do estupro é uma constante ameaça nas nossas vidas. Faz quase 13 anos, quando comecei o blog, escrevi um post chamado "Toda mulher tem uma história de horror pra contar". É impressionante o número de meninas e mulheres que ou foram abusadas sexualmente, ou conseguiram escapar por um triz de serem abusadas. Esse medo começa muito cedo, quando ainda somos meninas, até porque o assédio começa muito cedo também. E lógico que isso afeta nosso comportamento, nossa autoestima, nossa percepção de nós mesmas. 

A enorme maioria dos homens não passa por isso, não precisa pensar com que roupa vai sair, a hora que voltará pra casa, se voltará só ou acompanhado, que rua vai pegar. Seu medo é unicamente de ser assaltado. Nós temos medo de ser assaltadas também, lógico, mas mais medo ainda do estupro. Perdemos tempo e energia demais com essas preocupações do dia a dia. E isso que estamos falando do lugar-comum do estupro, que é aquele numa rua escura à noite por um desconhecido. A maioria dos estupros ocorre dentro de casa e o estuprador é conhecido da vítima. 

Esse medo constante pode ser visto como uma estratégia de dominação do patriarcado. É uma mentira também, porque a narrativa é que, se a mulher ou menina ficar em casa e tiver um homem para protegê-la, ela estará segura. Na própria pesquisa 81% dos entrevistados responderam que a pandemia contribuiu para o aumento dos estupros dentro de casa. Ao mesmo tempo, como estamos sendo governados pela extrema-direita, cresce a obrigação de que a mulher deve ter uma arma para se proteger. Só que isso é colocar a responsabilidade de impedir o estupro na mulher -- se ela não tiver uma arma, ela não se preparou, não se protegeu. 

No entanto, se a maior parte dos estupros acontecem em casa, muitas vezes cometidos por um familiar, em que momento a vítima sacará a arma contra seu pai, seu padrasto, seu tio, seu irmão? E se ela usar a arma, ela não será condenada? Portanto, a cultura machista deixa as mulheres sem saída. É essa cultura que precisamos combater.

5 comentários:

Anônimo disse...

Post excelente!

Alan Alriga disse...

Uns dias atrás eu vi um verdadeiro showde horrores nos comentários de um vídeo no YouTube, onde milhares de MGTONTOS, incels e todo tipo de lixos asquerosos, inventavam e afirmavam que HOMENS ADULTOS eram muito mais vítimas de assédio e estupro do que mulheres, ao ponto que eles atacavam mulheres agredido elas "verbalmente" e tentando calar todos que discordavam deles.

Kasturba disse...

É muito triste perceber o quanto esse medo do estupro está presente no nosso dia a dia, e nos atrapalha em coisas rotineiras...
Estou de quarentena, em homeoffice com meu bebê, enquanto meu marido está trabalhando presencialmente. É EXTREMAMENTE CANSATIVO ficar o dia inteiro dentro de casa presa com um bebê cheio de energia (não estou reclamando - sei que muitas mães nem tem a possibilidade de homeoffice e estão tendo que arriscar sua saúde e de seus filhos. Mas de toda forma é cansativo). O único momento que eu tenho pra relaxar é quando meu marido chega do trabalho e eu saio com minha cachorra pra passear (de máscara, mantendo o distanciamento social). Pego os últimos raios de sol. Mas se por qualquer motivo meu marido se atrasa, ou eu me enrolo pra sair e escurece, Eu não vou mais. Deixo de dar meu passeio de 20min, que atualmente é o que mantém minha sanidade mental, porque tenho medo de sair na rua sozinha depois que escurece.
É uma sensação de revolta, de raiva e de impotência tão grande (sou adulta e tenho medo de sair sozinha), que homem nenhum consegue entender...

Anônimo disse...

No mesmo ano em que a Argentina perdeu Quino, agora perde Maradona. Um ano para qualquer argentino esquecer. Ou não.

Aninha disse...

Que horror, o pior é que esses movimentos estão crescendo. Eles sabem que proporcionalmente são as mulheres as mais agredidas por homens e que é uma raridade um homem agredir uma mulher. Ficam falando isso para legitimar a violência que querem cometer. Que Deus tenha misericórdia