quinta-feira, 10 de setembro de 2020

REVOLTANTE: O ESTUPRADOR DE MARI FERRER FOI ABSOLVIDO

A esta altura, todas nós já sabemos e estamos indignadas com o veredito que saiu ontem para o caso da Mariana Ferrer: o estuprador foi absolvido. É sobre isso que quero falar hoje (gravei um vídeo no meu canal também).
Por um lado, é importante dizer os nomes. Por outro, isso possibilita que eles nos processem e tentem derrubar nossos vídeos e blogs. Mas como estou sendo processada em R$ 300 mil por um caso que publiquei no meu blog em dezembro de 2014, mesmo sem escrever o nome do cara, parece que não faz tanta diferença. Aliás, outra semelhança: o processo está em segredo de justiça. Não por pedido meu, mas dele. O segredo de justiça tem uma mania de só proteger os agressores, não?
Então, o juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, absolveu o empresário paulista André Camargo Aranha, acusado de estuprar a influenciadora digital Mariana Ferrer, no Cafe de La Musique, em Jurerê Internacional, Florianópolis (SC), em 2018.
O estupro ocorreu no dia 15 de dezembro de 2018, mas eu só fiquei sabendo um ano depois, quando uma estudante do interior da Bahia, Naílle Conceição, pediu pra eu divulgar. A Naílle disse que ficou inconformada com a falta de visibilidade do caso, com a insensibilidade por parte das embaixadoras do clube e dos sócios, e com a morosidade da justiça. Pedi pra Naílle escrever um guest post e ela fez um belo trabalho. A Mariana Ferrer, que vamos chamar de Mari, também falou exaustivamente sobre o que passou.
Na época, dezembro de 2018, Mari era uma influenciadora digital, uma digital influencer, de 21 anos. Foi contratada para ser embaixadora do beach club Cafe de La Musique, na badalada Jurerê Internacional. Era um trabalho: recepcionar os clientes, auxiliá-los, ser simpática. 
O crime que ela sofreu foi premeditado. Alguém colocou alguma droga na bebida de Mari. André, um empresário do ramo esportivo de mais de 40 anos, foi tão covarde que não chegou perto dela enquanto ela estava lúcida. Ela sequer se lembra dele. Ela tomou um pouco de gin, como consta na comanda. Um golpe muito comum conhecido como “boa noite Cinderela”.
Mari foi levada cambaleante a um local que só os donos e sócios especiais do clube têm acesso, uma espécie de calabouço, que eles chamavam de “matadouro”. Seis minutos depois, ela saiu, ainda cambaleante, com as roupas de baixo com sêmen e sangue. Os pouquíssimos vídeos disponibilizados pelo beach club também mostram André saindo do matadouro. 
André, de família rica e influente, foi chamado para depor meses depois. Recusou-se a doar uma amostra do seu material genético para que pudesse ser comparado ao que foi encontrado na calcinha de Mari. Se André era inocente, se não teve contato com ela, como ele alegou, por que não dar seu DNA para ser inocentado logo de cara? Felizmente, quem tomou seu depoimento pegou o copo d'água de André e recolheu o DNA. Deu positivo. Era o mesmo do sêmen na calcinha de Mari.
Vale dar destaque para o laudo de uma médica legista que usou imagens de Mari para dizer que “aspectos profundos de sua personalidade, [sic] também devem ser ressaltados e analisados, pois seus discursos se apresentam ambivalentes do ponto de vista psíquico, demonstrando anteriormente aos fatos, um traço narcisista e exibicionista”. E aí a médica incluiu fotos e selfies da Mari fazendo o que qualquer jovem de hoje faz, posando pra fotos em vários cenários, com várias roupas diferentes. Se isso é ser narcisista e exibicionista, se isso te torna “ambivalente” como vítima de estupro, nossa, temos uma multidão aí.
O inquérito todo demorou pra caramba pra sair. Imagina a expectativa da vítima, você vendo o tempo passando, sabe que está lidando com uma família rica e influente, que consegue colocar o caso em segredo de justiça, e vê que muito pouco está sendo feito. Mari conta que, quando a polícia soube quem era o acusado, o tratamento com ela mudou. O primeiro delegado deixou o caso. Entrou uma delegada que saiu de férias por um mês. As declarações que Mari fez foram manipuladas e continham erros que a polícia não corrigia. Por exemplo, a data de nascimento dela estava errada. Constava que ela tinha 35 anos!
Mari tomou durante 30 dias um coquetel de remédios pra evitar DSTs, com muitos efeitos colaterais. Narra ela: "Desde a denúncia até o corpo de delito eu fui atendida por homens. Tive minhas partes íntimas fotografadas, fui examinada, tocada, questionada por homens. É tão humilhante, constrangedor e cruel". "É parecido com estar num filme de terror". 
Só no final de julho do ano passado, mais de meio ano depois do estupro, é que o Ministério Público de SC denunciou o suspeito indiciado pela Polícia Civil por crime de estupro de vulnerável. 
André nunca foi preso. Mas Mari, sim. Ela escreveu um ano depois, bem antes da pandemia: “Um ano sem ir ao cinema, andar na rua, ir em um clube, tenho receio de tudo e todos. Não passeio ou vejo pessoas. Sabe como machuca? Nunca mais passei maquiagem ou me arrumei. Minha vida se resume a choros, crises de pânico, ansiedade, vômitos, raiva, gritos, minha mãe pele e osso”. 
É revoltante o que André fez com Mari. Não quero dizer que ele destruiu a vida dela, porque espero que Mari se recupere, possa dar a volta por cima e reconquiste sua força, sua vontade de viver. Mas sem dúvida desde dezembro de 2018, quando o estupro ocorreu, até agora, não tem sido nada fácil pra Mari. Ela é portadora de stress pós-traumático. Não dorme, tem tensão, ansiedade, fobia social, síndrome do pânico, transtorno depressivo recorrente. Sabemos essas informações por conta de um atestado médico que ela postou.
Ela também postou uma declaração de agosto último de sua psicóloga, que a atende há mais de um ano. A psicóloga escreveu que Mari "apresentava e ainda apresenta quadro emocional muito instável, com crises constantes". Mari faz terapia online, antes mesmo da pandemia, pelo medo e insegurança de sair da sua casa. Não consegue mais confiar nas pessoas. Isso afetou toda a família. Tem crises de choro e dificuldades de interação social. 
Pra piorar ainda mais a situação, recentemente derrubaram o perfil da Mari no instagram. O estuprador mandou remover sua conta, que ela tinha desde 2012, que ela usava para divulgar seu trabalho, e que desde maio de 2019 virou seu grito por justiça. Querem calá-la mesmo! Mas seremos a sua voz.
Em 23 de agosto Mari alertou: "Estou sendo violada de novo, agora pelo Estado de SC. Mais verdades sobre o crime que eles não querem que vocês saibam", e fez uma thread, contando as barbaridades mais recentes.
Por exemplo, o promotor que fez a denúncia em 2019 saiu ou foi tirado na segunda audiência de instrução em 2020. Mari enviou mais provas ao promotor atual, que não foram protocoladas. Houve obstrução ao longo de todo o inquérito. 
Além do mais, uma funcionária do Café de la Musique postou partes do processo criminal nas redes sociais. Como, se corre em segredo de justiça? A vítima não pode expor essas provas, mas uma funcionária do local do crime pode deturpá-las? 
A mãe de Mari perguntou para o promotor por email em agosto: "Para que serve o tal sigilo de justiça sendo que esses cidadãos [funcionários do beach club] que não fazem parte do processo têm acesso a tudo, e usam essas informações para deturpar e criar fake news e cometer novamente mais crimes contra minha filha?" A embaixadora tentou difamar Mari publicando fotos da influencer com roupas que a funcionária não julga apropriadas, a chama de farsa, e diz que vai continuar fazendo isso porque não acontece nada, no máximo "uma cesta básica".
E a gota d'água: fizeram uma festa comemorando a absolvição do réu antes da sentença do juiz sair!
Então, ontem, quarta, saiu a sentença. O próprio representante do Ministério Público, ou seja, o promotor atual, pediu a absolvição do acusado por causa da "falta de provas". Ao absolver o estuprador de Mariana Ferrer, o juiz escreveu: "Melhor absolver cem culpados do que condenar um inocente". Principalmente quando o acusado é rico, não é, seu juiz? 
Ontem à noite o termo “Falta de provas”, em caixa alta, ficou nos primeiros lugares dos trending topics do Twitter. Como assim, falta de provas?! Tinha vídeo da câmera de segurança, DNA do estuprador na roupa da Mari, prints de conversas dela pedindo ajuda. Parece que carregar Pinho Sol numa manifestação é prova inequívoca para que Rafael Braga, pobre e negro, seja condenado a 5 anos de prisão, mas DNA do sêmen na calcinha da vítima não é prova suficiente pra condenar André Aranha, rico e branco, pelo estupro de que é acusado. 
Mari era virgem. Normalmente isso não deveria fazer muita diferença, afinal, estupro é estupro, não importa se a mulher já fez sexo ou não. Mas, no caso, ela ser virgem foi o que causou o sangramento. Ela era virgem quando chegou ao beach club e saiu sem o hímen. Ou seja, mais uma prova de que o estupro aconteceu. 
Concordo com o que disse um especialista jurídico numa entrevista para a TV
foi comprovado que Mari era virgem e que houve a ruptura do hímen. Houve conjunção carnal. Não existe a menor chance que uma jovem de 21 anos se manteria virgem até essa idade para fazer sexo pela primeira vez com um completo estranho com idade para ser seu pai. No calabouço de um clube. Em 6 minutos e tão dopada que mal conseguia andar.
Então, se ela deixou de ser virgem, se um vídeo mostra o acusado saindo do "matadouro", se o sêmen na calcinha de Mariana tinha o DNA de André, como podem absolver o cara por falta de provas?! Quanto custou essa sentença?
Espero que Mari e sua advogada entrem com recurso e que o estuprador seja finalmente condenado. Espero que o barulho da nossa revolta chegue até o juiz. Não aceitamos e não aceitaremos esse ultraje! 
Por isso eu te peço: não desista, Mari. A sua luta é a nossa luta também. É a luta de todas as mulheres.
Como diz a música-protesto do coletivo chileno Las Tesis, "El estado opresor es un macho violador", o estado opressor é um homem estuprador. O estuprador é você, empresário André. O estuprador é você, polícia patriarcal. O estuprador é você, promotor que mandou absolver o réu. O estuprador é você, juiz. O estuprador é você, idiota que ri da Mari e da nossa revolta nas redes sociais, que sempre está do lado do estuprador, nunca da vítima. Vamos remover esses estupradores do nosso caminho.

10 comentários:

Alan Alriga disse...

Com isso se soma aos milhares de casos de ricos que saem impunes de todo tipo de caso.

Dinheiro compra tudo nesse país, principalmente a liberdade de criminosos.

Queria escrever um texto enorme de centenas de casos muito piores, que têm até filmagens dos atos de homens ricos e não serviram como provas depois, mas vou deixar só uma pequena frase.

Luto pela justiça brasileira que nada faz pelos inocentes!

Anônimo disse...

Eu já trabalhei no Ministério Público e já pedi muitas condenações (por orientação da minha chefia, não pelo meu entendimento) de gente que só tinha a palavra do policial que fez a prisão contra eles. Nenhuma prova material ou perícia. Mas eram todos pobres e pretos, esses o MP condena sem dó (e sem provas). Rico, nem com imagens e exame de DNA para ser condenado nesse país.

titia disse...

Força para Mari e, se ela ler esse comentário, aqui tem mais uma que está com você, moça. Você não está e de maneira nenhuma ficará sozinha. Estamos todas com você.

Quanto ao estuprador e à corja que fez de tudo para absolvê-lo, que ganham em dobro o mal que fizeram à Mari. Mereciam um tiro de fuzil no saco.

Anônimo disse...

Independente do criminoso ter 18, 25, 40, 65, 80 anos, tenho ainda esperança de que seja punido, que Mariana consiga Justiça.

Anônimo disse...

Almofadinha, estuprador, mimado, vagabundo, filhinho de papai, COVARDE, incapaz de conquistar uma mulher, bicho feio dos infernos, playboyzinho inútil. Que esse criminoso nunca tenha paz. Perdoa-se quem se arrepende, quem aprende algo com o que fez. Com riquinho que acha que a vida é assim, um estupro aqui, outro acolá, a gente só pode desejar que a vida dele continue sendo a bosta que é. Daí pra pior.

Jane Doe disse...

(...)e “aspectos profundos de sua personalidade, [sic] também devem ser ressaltados e analisados (...)

Estupro é provavelmente um dos poucos crimes em que a vida da VÍTIMA E NÃO A DO PERPETRADOR é escrutinada até o último detalhe, desda a infância até o momento do crime pra provar que a VÍTIMA tem culpa e que mais um pobre homem sofredor caiu na cilada de uma mulher histérica.

Espero que esse cara seja punido. Se tem uma coisa que não me interessa e não deveria interessar ninguém é o que vítima vestia/fazia no momento do crime e qual é o tamanho da conta bancária, da cor, da religião ou filiação política do criminoso.
Estupro é crime hediondo!!! E duvido muito que um cara que faz isso para na primeira vítima...

Unknown disse...

Lola, é tanto absurdo, que eu nem sei mais...
Eu vi que vc foi a única, por hora, que falou sobre o fato do Ministério das Relações Exteriores claasificar como “reservados” os telegramas com instruções a diplomatas brasileiros na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre temas relacionados ao aborto, igualdade de gênero e educação sexual. Lola, isso é muito sério. Por favor, nós precisamos falar sobre esse projeto que está em curso no Brasil. Nossas crianças, mulheres, estão em perigo! Isso trata-se de um projeto. Projeto.

Anônimo disse...

É rico, branco, privilegiado? A "justiça" nem chega perto, isso quando não falsifica provas apresentadas pela vítima e com aval de muitos "amigos" , nada mais do que puxa saco de pessoas assim, agora você pobre, trabalhador, honesto, pardo ou negro experimente fazer um movimento errado, andar rapidamente ou olhar de forma considerada "desrespeitosa" para uma "autoridade" para ver o que acontece, quando não são humilhações ou atos de degradação, são agressões físicas, psicológicas ou execução mesmo, "autoridades" em "dia ruim" executam. O estuprador, pois não vou citar o nome deste ser abjeto, tem dinheiro e coloca no bolso juízes, magistrados, delegados, promotores, enfim a "justiça brasileira", no exterior acontece? Sim, basta ler alguns relatos de estudantes universitárias nos Estados Unidos, principalmente, muitas não denunciam por medo de ver suas carreiras destruídas antes do começo, pois um jogador ou atleta da faculdade as estuprou, os mesmos tem amigos, são pessoas influentes, endinheirados. Força para Mari, mas não impressiona a decisão do tal juiz, pois Santa Catarina é um Estado com predominância de preconceituosos, misóginos, machistas e pessoas tóxicas, sem generalizações, mas a maioria é assim, até as mulheres, afinal a Mari foi abandonada por suas "amigas" e as mesmas fizeram o serviço sujo para ajudar o estuprador, enfim são cúmplices de um crime hediondo. Existem vários estupradores como os da Mari espalhados pelo Brasil, lamentavelmente ela não será a última, pois existem pessoas a protegerem este tipo de ser abjeto por dinheiro, status, pessoas mesquinhas, esnobes em busca de algum privilégio, favores é o que não faltam neste Evanjeguistâo. Absolvição de estuprador é normal em países de teocracia islâmica, enquanto a mulher é apedrejada ou chicoteada, Mari no Brasil está a sofrer chicotadas, linchamentos e apedrejamentos nas mídias sociais, mas ela não está sozinha, tem pessoas(e não são poucas) a apoiarem sua atitude e força apesar das quedas, pois todos os dias ela levanta, segue em frente, apesar de tanta injustiça.

Anônimo disse...

Esse resultado era previsível, já que há uns 10 anos em Floripa uma adolescente que foi estuprada por filho de executivo de uma grande rede de tv e por um filho de delegado, foi abafado!! Evidentemente que as autoridades catarinenses fariam o mesmo novamente.

Anônimo disse...

Tem um filme muito interessante o título em inglês é when he's not a stranger, pode ser encontrado também como silêncio cruel ou sonhos destruídos, é de 1989 e trata sobre estupro e injustiças com a vítima, o estuprador é popular na faculdade e de família rica e influente.