Como viajei hoje de madrugada (vou participar do 57o Congresso da UNE amanhã, em Brasília), e como não sei quando terei acesso à internet, deixo este texto agendado, sem saber ainda o que aconteceu no tema mais importante do momento, que é a Reforma da Previdência.
Como qualquer pessoa que lê este bloguinho sabe, eu sou contra esta reforma, que só vai piorar -- e muito -- a vida dos brasileiros. A maior parte dos municípios do país depende do dinheirinho dos aposentados. Há economias inteiras em cidades pobres movidas por essa grana. Quase todo mundo conhece uma avó que sustenta a família. O que vai acontecer quando ficar cada vez mais difícil pras pessoas se aposentarem? Quando aposentados ganharem menos que um salário mínimo?
Assim como todo mundo, eu também serei prejudicada. Mas pouco. Eu já planejava me aposentar por idade aos 60 anos ganhando um salário mínimo. Pelas regras atuais, pra eu me aposentar ganhando basicamente o que ganho hoje, teria que ter vinte anos de serviço público. E entrei tarde na universidade federal, com mais de 40 anos. Trabalhei toda a minha vida na iniciativa privada. Eu já tenho mais de 25 anos de contribuição. Mesmo que essa reforma seja aprovada, pelas regras de transição, eu poderei me aposentar por idade aos 60. Pro meu marido, a mesma coisa. Daqui a 3 anos, um pouco mais, ele se aposenta por idade aos 65. Ganhando salário mínimo. A gente guarda dinheiro pra complementar nossas aposentadorias há duas décadas. Se gastarmos pouco e ninguém ficar doente, vai dar tudo certo.
Mas esta não é a realidade da maior parte dos brasileiros. Portanto, mesmo que a reforma não me afete tanto, tenho certeza que ela afetará o país em que vivo. Que ficará ainda mais miserável. Já estamos vivendo um empobrecimento brutal. É só ver como cresceu o número de pessoas morando na rua. O segundo mandato de Dilma não foi nada bom, os dois anos de Temer foram um desastre, e Bolso é a continuidade deste golpe. Com a direita, não há recuperação. Só naufrágio.
Estou bem sem esperanças ultimamente e acredito que a reforma vai passar. Anteontem a líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o governo não tinha mais que 260 votos na Câmara dos Deputados para aprovar a reforma. São necessários 308 votos. Onix Lorenzoni dizia que já tinha 330 votos.
Segundo o Estadão, ontem havia 275 votos a favor (20 com ressalvas), 111 contra, e 127 que não quiseram responder ou não foram encontrados. Ou seja, se 40 desses que não quiseram responder forem a favor, a reforma passa. Para ser aprovada, a reforma deve ser analisada em dois turnos e ter no mínimo 308 votos, o que representa dois terços da Câmara.
Jandira disse ontem que a bancada feminina e até a evangélica estavam se rebelando, pois a reforma daria às viúvas e órfãos pensão de menos de um salário mínimo, o que é uma crueldade impensável.
Alessandro Molon (PSB-RJ), o líder da oposição, declarou ontem que o governo estava blefando, que não tinha os votos necessários e que ainda estava liberando emendas para chegar aos 308 votos. "Queremos um amplo debate para mostrar à população brasileira que é inaceitável uma proposta de reforma que retire R$ 20 bilhões de professores e policiais, para dar R$ 33 bi para ruralistas, que foi o que se fez de madrugada nessa casa".
A tática da oposição era obstruir a votação e tentar suspender a sessão para o próximo semestre. Mas Rodrigo Maia estava otimista. Joice Hasselman também.
Claro que, se a reforma fosse boa, o governo não teria que pagar para aprová-la. Às vésperas da votação, Bolso liberou quase R$ 1 bi em emendas. Só nos primeiros cinco dias de julho, foram liberados mais de R$ 2,5 bilhões.
Em todo o ano até junho, o valor foi de 1,77 bi. É interessante que, quando esse tipo de "negociação" era usado em outros governos, era chamado de compra de votos, politicagem, corrupção, velha política. Mas hoje virou moda ser corrupto por uma causa maior (Sérgio Moro que o diga).
Ontem o Datafolha divulgou uma pesquisa que mostra que a reforma deixou de ser rejeitada pela maioria dos brasileiros. Os contrários à reforma são 44%, e os que apoiam são 47%. Mesmo assim, ainda é um empate técnico, dentro da margem de erro, o que significa que a população está dividida. Entre os eleitores de Bolso, 67% são a favor, mas contrários são 27%. Entre quem votou em Haddad, 67% são contra a reforma, e 25% são a favor.
Entre os que não votaram em nenhum dos dois, 61% rejeitam a reforma. Mulheres são contra a reforma, homens, a favor. 57% dos homens são a favor da reforma, 38% contra. Já 50% das mulheres são contra, e 39% a favor. A maior oposição está entre os estudantes (57% contra, 35% a favor). No Nordeste, 55% se opõem à reforma.
Mas a verdade é que as pesquisas não perguntam se o entrevistado aprova esta reforma, apenas se aprova uma reforma. Muita gente pode achar que é preciso fazer alguns ajustes na aposentadoria, ajustes que não chegam nem perto do nível de sacrifício que esta reforma quer impor aos pobres. Além disso, 7 em cada 10 brasileiros confessam não estarem bem informados sobre a reforma.
A população certamente não sabe que terá que contribuir durante 40 anos para receber aposentadoria integral (menos de R$ 6 mil por mês). Quantos brasileiros conseguem ter emprego formal com carteira assinada durante quatro décadas? Ainda mais depois da reforma trabalhista, aquela que os donos do capital juravam que iria gerar muitos empregos (e o desemprego só cresceu).
Espero que a reforma não seja aprovada. Mas, se for, uma coisa que não consigo entender é reaças virem aqui comemorar usando aqueles "argumentos" de "chola mais". Só banqueiro deveria comemorar a reforma. Quem não é banqueiro e é a favor da reforma é provavelmente muito mal informado.
Mas cedo ou tarde, quando essa pessoa perceber que ela ou aqueles que ela ama não conseguirem se aposentar, ou só poderão se aposentar com um valor ainda mais irrisório que o salário mínimo atual, bom, aí talvez ela entenda. Mas será tarde demais. Quantos décadas vamos precisar para reconstruir o Brasil depois do golpe de 2016?
13 comentários:
Só para lembrar, em 9 de janeiro passado eu escrevi isso aí embaixo:
"nós vamos ver o PDT se posicionando no Congresso, e não vai ser bonito"
" Quem não é banqueiro e é a favor da reforma é provavelmente muito mal informado."
Também pode ser latifundiário, especulador imobiliário, dono de empresa de seguros, especulador na Bolsa de Valores, mercado futuro ou FOREX, coach, dono de consultoria, sócio do Anta Agonista, miliciano, doleiro, ou grande empresário em geral.
Atualização:
A bancada feminina afinou e cedeu, em troca da redução de 20 para 15 anos para se aposentar parcialmente (60%) e de 40 para 35 anos para aposentadoria integral (100%). Os homens permaneceram do mesmo jeito (ou seja, nos fudemos). Obrigado mulheres!
Pois é, Bolsonaro ainda teve que adotar a "velha politica", afinal a câmera dos deputados só foi renovada em um pouco mais de 45%. Ainda ficou uma maioria de só votam se liberarem verbas.
Aos poucos o bolsonarismo vai depurar isso ainda mais. É só uma questão de tempo.
De nada. Parem de encher o saco e choramingar e lutem pelos próprios direitos.
"Só para lembrar, em 9 de janeiro passado eu escrevi isso aí embaixo:
"nós vamos ver o PDT se posicionando no Congresso, e não vai ser bonito""
Como assim? O PDT se posicionou contra a reforma da previdência e ainda ameaçou expulsar Tabata Amaral caso ela vote a favor.
a) Eu tenho consciencia que vou ser prejudicada na reforma mas nao estou com a minima pena da classe media pao com ovo que adora votar com os ricos para se sentir assim.
c) A classe media e mesquinha egoista o que vier ocorrer ela merece
83% do prejuízo ficou com quem ganha até 2 mil mensais.
Que derrota avassaladora.
Texto-base da reforma da Previdência é aprovado em 1º turno na Câmara com 379 votos favoráveis e 131 contrários. O placar superou com folga o mínimo exigido de 308 votos.
Com essa reformado aprovada, Bolsonaro está reeleito. Se preparem para 8 anos de Bolsonaro.
A bancada feminina (pelo menos a parte que se diz progressista) agiu como os políticos velhacos: abriu mão de uma reforma mais justa para todos em troca de um beneficio apenas para as mulheres. Eu esperaria isso das Joyce Hasselman da vida, mas nunca de mulheres da esquerda.
https://www.bbc.co.uk/portuguese/brasil-48839718
Quem tem a comemorar com a aprovação das reformas trabalhista e da previdência? A matéria acima da BBC mostra quem tem muito a comemorar, pois não trará empregos, desenvolvimento ou alavancará a economia, muito pelo contrário, haverá mais empobrecimento, miséria. Quem ler a matéria e isso é para poucos e raros no Brasil, pois a maioria do povo acompanha jornal nacional, sensacionalismo televisivo, memes, fake news de mídias sociais. As reformas trabalhista e da previdência são aplaudidas por rentistas, quem tem capital para investir na bolsa de valores, herdeiros de fortunas, multinacionais, banqueiros, milicianos, mafiosos (principalmente das licitações ). Quem tem carrinho de cachorro quente, fabriqueta de fundo de quintal, lojinha de bairro e se acha o capitalista rico vai se ferrar, esfomeados puxa saco precisarão redobrar e se sujeitarem mais ainda a situações humilhantes, escravidão e trabalho analógo ao escravo serão regra, pois direitos é coisa de vagabundo, preguiçoso conforme herdeiros de fortunas, politicagem miliciana, latifundiários. Sem direitos, apenas deveres diz o deus mercado e seus poderosos detentores para quem trabalha sem folga, enquanto o patrão viaja para a Polinésia Francesa às custas da mais valia, escravidão, exploração. A classe média vai receber o seu quinhão, mas quando cair na real este país, o Brasil estará em uma situação semelhante ao Congo, mas na época do imperador Leopoldo II.
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