sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"SER BONITINHA SÓ ME FEZ INFELIZ": CRESCENDO EM HOLLYWOOD

Mara Wilson em Matilda em 1996 e hoje, com 29 anos

Foi a Lia que tão gentilmente encontrou e traduziu este artigo publicado no The Guardian
O texto é um trecho do livro Where Am I Now: True Stories of Girlhood and Accidental Fame (Onde Estou Agora: Histórias Reais de Meninices e Fama Acidental), escrito por Mara Wilson. Lembram dela? Ela foi a adorável atriz mirim de Matilda e Uma Babá Quase Perfeita. E, mais uma vez, Hollywood prova como pode ser cruel com crianças que se tornam estrelas. Jodie Foster? É um caso em um milhão.

Mara com os pais em 1993
Eu tinha sete anos quando minha família passou uma semana no Japão para promover a refilmagem de Milagre na Rua 34. Em três dias, eu estava pronta para me tornar uma expatriada.
“Aqui é tão melhor que os Estados Unidos!”, falei para minha mãe enquanto voltávamos ao hotel com quimonos novos. Curvava minha cabeça para as pessoas que passavam por nós. Um empresário japonês sorriu e se curvou de volta.
“Viu?” Eu disse. “Todo mundo gosta da gente.”
Eles gostavam de mim, afinal. Nossa tradutora, Kuni, havia me dito. Quando Milagre na Rua 34 estava sendo filmado no Estádio de Tóquio, eu saí para conhecê-lo. “Você ouve o que eles estão dizendo?” Kuni disse depois que saí do campo.
Kawaii”, ela disse, sorrindo. “Ela é tão bonitinha!”
Não tinha me ocorrido que eu era bonitinha. Minha família me dizia que eu era linda, mas eu nunca estive entre as garotas mais bonitas da minha sala. As garotas bonitas eram de uma casta diferente. Provavelmente foi um choque tanto pra elas quanto pra mim que eu tivesse sido escolhida para fazer um filme, mas naquela época, os diretores de elenco procuravam crianças que pareciam “normais”. Contanto que conseguíssemos decorar nossas falas e dizê-las com algum sentimento, ninguém ligava para quão simétricas nossas faces eram. E tinha funcionado: eu tinha enganado países inteiros, fazendo-os pensar que eu era bonitinha. 
John Hughes tinha sido escolhido para escrever o roteiro do remake do Milagre na Rua 34, e a personagem Susan, a menina interpretada por Natalie Wood no original, tinha sido reescrita como um garoto chamado Jonathan. Christopher Columbus, que dirigiu Uma Babá Quase Perfeita, meu primeiro filme, deve ter falado bem de mim, porque o roteiro acabou nas mãos da minha mãe. Eu gostei de Jonathan/ Susan imediatamente; ela parecia inteligente. 
Alguns dias depois, eu li minhas falas para a equipe de produção e contei a eles que eu não acreditava em Papai Noel, mas que acreditava na fada do dente e tinha chamado a minha de Sally Field. Eles riram, agradeceram pelo meu teste, e algumas semanas depois eles trocaram Jonathan para Susan de novo. Eu consegui o papel.
Minha mãe nunca me pressionou para que eu atuasse. Nós morávamos em Burbank, a 20 minutos de Hollywood, e muitas pessoas que eu conhecia estavam envolvidas nessa indústria, direta ou indiretamente -- incluindo meu pai, que trabalhou como engenheiro eletrônico na CBS e NBC, e meu irmão mais velho Danny, que tinha atuado em alguns comerciais. Eu implorei para minha mãe me deixar fazer o mesmo, e quando vi, estava no elenco de Uma Babá Quase Perfeita. Meus pais estavam orgulhosos, mas me mantinham pé no chão. Se eu dissesse algo como “Eu sou a melhor!”, minha mãe me lembrava: “Você é só uma atriz, só uma criança.”
Gostamos de John Hughes imediatamente. Ele não me subestimava, e era do mesmo subúrbio de Chicago que minha mãe. Mas iniciadas as filmagens, eu percebi que ela tinha uma certa hesitação acerca do remake. John já não tinha muito o que fazer: uma vez em produção, o roteiro não pertence mais ao roteirista. Mudanças no roteiro eram em grande parte deixadas para nosso diretor, que não tinha muita experiência profissional. O instinto da minha mãe era de não interferir, mas sempre foi difícil pra ela guardar as opiniões para si. 
“Tem certeza que quer que Mara diga 'incaracteristicamente'?" ela perguntou a ele depois de uma revisão do roteiro. “Ela ainda está superando um problema de fala”. Claro que ele queria que eu dissesse. Era fofo fazer uma criança de seis anos com problemas na fala dizer uma palavra de várias sílabas.
Conforme os meses corriam, minha mãe deixou de perguntar “Você tem certeza?” e passou a exigir saber por que aquela mudança havia sido feita.
“Por que ela está usando um laço no cabelo na cama?” “Ora, você sabe. É fofo”, ele dizia.
Eu podia sentir a decepção de minha mãe. Eles estavam tornando Susan o mais fofa possível e tirando dela toda a inteligência e complexidade.
Durante os últimos meses de gravação e de nossa turnê de divulgação do filme, minha mãe sorria sempre que as pessoas diziam que eu era fofa ou bonitinha, mas eu percebia que ela estava forçando: ela não se importava com fofura, e sua reprovação era contagiante. Depois disso, toda vez que alguém falava que eu era bonitinha, eu fazia careta. Alguma coisa a respeito daquilo me fazia sentia menor.
Aparentemente a minha atuação dividia opiniões. Alguns veículos me adoravam: Entertainment Tonight, o show de TV, me chamou de volta várias vezes. Outros não gostaram tanto. Uma mulher de uma revista de cinema que chamarei de "Entretenimento Muito Raramente" foi particularmente cruel, se referindo a mim como “Mara Wilson, que falava encantadoramente mal em Uma Babá Quase Perfeita, continua com sua missão cansativa em Milagre na Rua 34”. 
Ela dedicou um artigo para advertir sobre “os riscos de um ator ou atriz infantil ser bonitinho demais”, mas ao invés de criticar diretores e produtores que tratavam crianças como bonecas, ela reservou sua ira para mim. Quando ela me via sorrindo, tudo o que ela queria era -- e essas foram exatamente as suas palavras -- “sacudi-la pelos seus pequenos e adoráveis ombros até que seus pequenos dentes chacoalhassem”. De certa forma, era inevitável. Ainda era o início dos anos 90. Grunge e niilismo estavam na moda. Existia melhor forma de mostrar que você era cool do que recorrer a um hipotético abuso infantil 
***
No ano seguinte, com o início das gravações de Matilda, eu estava ansiosa para ficar mais velha. Quando Kiami Davael, que interpretava Lavender, a melhor amiga de Matilda, fez nove anos durante as filmagens, ela obteve permissão para trabalhar mais uma hora por dia. Eu queria muito trabalhar nove horas por dia. Mas isso não era tudo: eu queria a liberdade que meus irmãos adolescentes tinham, de fazer todas as coisas legais que eles faziam, como dirigir e ir a shows sem alguém para ficar cuidando deles. Mais do que tudo, eu queria que as pessoas parassem de pensar que eu era mais nova do que eu realmente era.
Pouco tempo depois que as gravações de Matilda terminaram, perdi minha mãe para o câncer, 13 meses depois d'ela ter sido diagnosticada. Meu pai se tornou superprotetor de tal forma que ele sequer me deixava atravessar a rua sozinha.
Mara aos 11 anos
Nos anos seguintes, acabei dispensando a maior parte dos roteiros que chegavam até mim. As personagens eram muito jovens. Com 11 anos, eu tive uma reação visceral ao roteiro de Thomas e a Ferrovia Mágica. Ugh, eu pensei. Que bonitinho.
“Você tem que dizer ‘sim’ para alguns projetos se quiser continuar atuando” meu pai dizia, mas eu balançava a cabeça. “Olha, se você fizer esse, vai ser uma filmagem curta, e será nas Ilhas Britânicas, vai ser divertido. Dizem que a diretora é muito legal.”
Ela era muito legal. Britt Allcroft era uma mulher simpática, ligeiramente excêntrica, com jeito de “vó” e cheia de ideias. Depois que nos conhecemos, eu não conseguia dizer ‘não’ para ela.
Nós gravamos por um mês na Ilha de Man e outro mês em Toronto para filmar cenas em um estúdio de som. Meu pai tinha que trabalhar, então fui sozinha. Ao final da primeira semana de filmagem em Toronto, Britt apareceu no meu trailer e sentou-se ao meu lado no sofá, séria. 
“Mara, quando começamos a filmar, você tinha 11 anos, ainda uma garotinha, mas agora você já é uma menina crescida de 12 anos...”
Eu tive uma sensação ruim, a mesma que sentimos quando sabemos que um adulto está para falar de sexo e não temos como impedir aquilo de acontecer.
“E existe uma diferença, uma diferença no seu corpo. Nós percebemos quando assistíamos às cenas diárias. Então... talvez se você usasse um sutiã...” 
Depois que Britt saiu, Lucy, minha cuidadora no set, deixou alguns sutiãs brancos na cama. Meu olhar assustado encontrou o dela e eu sabia que ela também havia reparado. Eles haviam discutido isso antes, sem eu saber. A puberdade havia chegado e eu era a última a saber. Abaixei a cabeça, com olhos marejados. “Ah, não fique triste. Não é uma coisa ruim. Peitos são maravilhosos!” Eu nunca havia me sentido tão alienada em relação ao meu próprio corpo. A mudança pela qual eu estava passando já seria desconfortável o bastante em particular, mas eu estava passando por isso sob escrutínio público.
Uma vez, com 12 anos, eu fiz a besteira de me procurar na internet. Um site chamado Mr. Cranky escreveu que eu estava aparecendo em vários filmes na época porque logo eu entraria “na idade estranha, quando ela é velha suficiente para ter peitos, mas não o suficiente para mostrá-los legalmente”. Eu cruzei os braços sobre meu peito ao ler aquilo, e mesmo como adulta, essa história ainda me causa arrepios. Quem eles pensavam que eram para falar dos peitos de uma pré-adolescente?
Ficou pior. A próxima página de buscas linkou um site cuja a descrição dizia, “Se você quer ver imagens de sexo e nudez de Mara Wilson, clique aqui.” Meu estômago afundou e meu coração acelerou enquanto eu tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo. Talvez exista alguma atriz pornô com o mesmo nome. E se eu tivesse sido drogada e sequestrada e esquecido tudo? Uma parte racional do meu cérebro ainda conseguiu lembrar que existiam formas de se manipular fotos e que eles conseguiam colocar a minha cabeça no corpo de qualquer pessoa. Mas isso não me fez sentir melhor: quem era aquela pobre garota anônima cujo corpo estava lá no meu lugar? Eu explodi em lágrimas.
Era só o começo. Alguns meses depois, descobri que estava listada em um site de fetiche com pés onde catalogavam cenas de filmes em que os pés das crianças podiam ser vistos. Recebi então uma carta de um fã adulto que disse amar minhas pernas e queria a marca dos meus lábios em um cartão. Existia até um boato no IMDb que eu havia morrido com o pescoço quebrado em Bridgeport, Connecticut.
Com 13 anos, fazia tempo que ninguém dizia que eu era bonitinha ou mencionava a minha aparência, pelo menos não de uma forma positiva. O meu crush da sexta série tinha me chamado de feia, os críticos de cinema diziam que eu parecia estranha, e um menino em um acampamento me disse “Vocé é a Matilda? Você engordou um pouco desde então!” Eu fui para casa e chorei tomando um milkshake.
Quando eu estava sozinha, eu podia admitir para mim mesma que atuar não era mais divertido como já havia sido. Mas eu tinha que continuar fazendo isso, não tinha? Era a constante na minha vida. Minha família tinha mudado, meu corpo tinha mudado, minha vida tinha mudado. Algumas vezes, atuar parecia ser tudo que eu tinha.
Alguns meses depois, meu pai perguntou sobre outro roteiro. “Ninguém Segura Essas Crianças?” Eu disse, incrédula. “É nova demais pra mim”.
“Se eles realmente gostarem de você, eles podem mudar.”
“Já faz um tempo que eles não fazem isso” eu disse. Também houve um momento em que as pessoas nem me pediam para fazer um teste.
Quando me inscrevi para o teste de Ninguém Segura essas Crianças, percebi que algo estava errado. Todas as outras garotas eram pelo menos três anos mais novas que eu. Nenhuma delas tinha seios ou aparelhos, como eu tinha.
O papel foi para uma jovem atriz, uma taciturna mas bonitinha tomboy [menina andrógina] chamada Kristen Stewart. No ano seguinte, ela ficaria com outros papéis que eu realmente queria, como Melinda Sordino na adaptação do livro de Laurie Halse Anderson, Speak [O Silêncio de Melinda]. Eu tinha feito tudo menos implorar pelo papel. Eu não conseguia entender. Eu sempre achei que seria eu que desistiria de atuar, não o contrário.
Algo não fazia sentido, pelo menos não até ser chamada para o papel num piloto sobre meninas numa escola interna. Eu faria a "garota gorda". Havia uma piada sobre gordas em cada página. "Vamos por você em roupas largas para fazer você parecer maior", garantiu-me o diretor de elenco. Fiz que sim com a cabeça, mas o que eu realmente queria saber era por que não me chamaram para um dos outros papéis, como Becca. Ela era engraçada e excêntrica. Ela também era neurótica, e eu sabia que podia interpretar uma neurótica. Então vi a foto de rosto da garota mais linda que eu já tinha visto. Ao seu lado, havia uma notinha escrito "Chame de volta para fazer Becca". 
Foi quando eu entendi. As coisas haviam mudado. Com 13 anos, ser bonita importava -- e não somente no mundo dos filmes e da TV. As garotas bonitas da escola sempre tiveram um ar de superioridade, mas assim que atingimos a puberdade, elas pareciam importar ainda mais. Minha carreira era a única coisa que eu tinha de vantagem sobre elas. Agora que ela minguava, eu era apenas mais uma garota estranha, nerd e barulhenta com dentes e cabelos feios, cujas alças do sutiã estavam sempre à mostra.
***
Depois de um ano sem ser chamada para filmes, meu pai disse o que nós dois pensávamos: “Talvez você devesse focar somente na escola agora.”
Isso significava dispensar alguns roteiros muito legais -- como uma série de comédia chamada Arrested Development -- mas era o certo a se fazer. Eu não sabia quem eu era sem os sets de filmagem, diretores de elenco e rejeição constante, e precisava descobrir.
Com 16, eu esperava que iria voltar a atuar em algum momento. Pensar na vida sem atuar me deixava ansiosa. Mas eu sabia já naquela época que se eu quisesse estar em um filme, eu tinha que ser linda. Iria acontecer, eu tinha certeza. Por enquanto, eu era uma adolescente e me era permitido ser estranha. Um monte de atores mirins reapareciam depois da puberdade, como borboletas saindo de casulos, renovados e prontos para propagandas da Neutrogena.
Então eu abri uma revista e vi um rosto familiar. Alguns anos antes, eu havia conhecido uma menina simpática de 12 anos e com cabelos vermelhos chamada Scarlett em uma conferência de imprensa de atores infantis. Quando um jornalista perguntou se algum de nós tinha tido problemas no colégio quando crianças, ela disse que havia sido tão perturbada pelas outras crianças que ela teve que ser transferida para uma escola especial de atores mirins. Lá ela havia se dado muito melhor e feito muitos amigos. 
Depois da conferência, eu tentei conversar mais com Scarlett. Eu queria perguntar para ela o que havia acontecido na escola dela e como saber se eu deveria me transferir. Em vez disso, eu assisti ela pegar um balão, puxar o hélio e cantar “Nós somos os Esquilos! E-S-Q-U-I-L-O-S!” Aquilo me fez gostar dela ainda mais. 
Mas essa revista foi a primeira em que a vi desde então. Lá estava Scarlett, linda, falando sobre o papel dela em um filme com Bill Murray, e ela agora era definitivamente uma mulher. Ela estava agora em filmes de adulto, sendo sexy. Como ela havia feito isso?
Eu sentia uma sensação de afundamento no estômago. Scarlett era apenas dois ou três anos mais velha que eu. Não tinha como eu ter metade da beleza dela. Mesmo sem os meus aparelhos, com lentes de contato e um corte de cabelo melhor, eu sempre iria ter aquela aparência. Eu sabia que eu não era horrorosa, mas eu chutava que se 10 estranhos olhassem uma foto minha, provavelmente quatro ou cinco deles iriam me considerar atraente. Isso nunca seria o suficiente para Hollywood, onde uma atriz deveria ser atraente para oito entre dez pessoas para ser pelo menos considerada para o papel de melhor amiga simples da personagem principal.
Mara Wilson e Danny De Vito muitos
anos depois de Matilda
O mundo real era mais misericordioso. Muitos garotos estavam interessados em mim, e ficou mais fácil na Universidade de Nova York, onde me apaixonei por Sam, um estudante de cinema com cabelos cacheados escuros e simpáticos olhos castanhos. Mas minha ansiedade com a aparência sempre estavam lá e meu passado nunca ia embora. Eu fiz uma entrevista para o programa “Onde eles estão agora?”, mas ele nunca foi ao ar porque eles disseram que eu estava “pálida demais”. Eu passava na frente de bancas de jornais no caminho para a aula, de pijama, e via ex-amigas e colegas -- Hillary Duff, Scarlett Johansson e, inevitavelmente, Kristen Stewart -- na capa de revistas, parecendo impecáveis. 
Eu não sabia o que eu queria, mas o que quer que fosse, eu queria que fosse minha escolha. Eu não queria parar de atuar por ser feia demais.
“Talvez eu devesse fazer cirurgia plástica,” eu disse para Sam. Algumas vezes, eu desejava secretamente que um acidente machucasse meu nariz e maxilar para que eu pudesse fazer uma reconstrução sem culpa.
“Se você quer, você pode” ele disse, encolhendo os ombros. “Mas eu queria que você soubesse que eu te amo do jeito que você é. Você é linda.”
Eu tentei acreditar nele, mas era como se ele estivesse tentando colocar água num copo com um buraco no fundo. Isso pesou no nosso relacionamento. Na última briga antes de nosso rompimento, ele me contou, “Mara, a única coisa que eu nunca suportei em você é o quanto você se coloca pra baixo.”
***
Existem coisas que eu gosto na minha aparência: meus olhos são uma mistura bonita de verde, azul e cinza e agora que eu tive tempo de me acostumar com peitos, tenho que concordar com Lucy que eles são maravilhosos. No entanto, leva muito tempo para acabar com um velho hábito, e eu ainda sou crítica com a minha aparência, ainda meio convencida de que sou irremediavelmente feia.
Ocasionalmente, um amigo ou fã bem intencionado me manda um artigo do tipo “Como eles se parecem agora?”, que inevitavelmente possuem uma foto que não me favorece muito e centenas de comentários. Alguns ficam encantados: eu fui paga para ser bonitinha, mas a maldição dos atores mirins me alcançou. Outros parecem bravos. Minha imagem pertence a eles e eles não estão felizes com o fato de eu não ter a aparência que eles imaginavam. Esse tipo de comentarista é o que mais possui tendência a dar conselhos: eu deveria pintar meu cabelo, perder peso, morrer em algum buraco em algum lugar.
Eu costumava sentir muita vontade de responder. Uma vez eu entrei em contato com a autora de uma lista de “Os mais feios ex-atores” para perguntar a ela porque, como mulher, ela estava punindo outras mulheres pela aparência delas. Ela me escreveu imediatamente, se desculpando. “Eu escrevo coisas estúpidas na internet para pagar as contas”, ela disse. “A integridade não paga as contas”.
As pessoas mais críticas parecem ser pessoas normais que são profundamente infelizes consigo mesmas. Elas querem que outra pessoa se destrua, e pessoas como eu são consideradas domínio público. Eu entendo que as celebridades possuem um contrato com o público: elas são alvo de inveja e críticas, e algumas vezes, admiração, em troca de dinheiro e reconhecimento. Mas eu deixei esse contrato expirar há um bom tempo. Meu emprego não é ser bonita, ou bonitinha, ou qualquer coisa que alguém queira que eu seja. Então da próxima vez que alguém que se esconde atrás de um perfil fake decidir me dizer o que me faria mais bonita, eu irei propor o seguinte: eu os encontrarei pessoalmente e os pedirei para me escutar. E contarei para eles sobre passar pela puberdade sob os olhos do público depois que minha mãe morreu de câncer. 
Eu contarei para eles como é encontrar um site fazendo propaganda de fotos suas nua com doze anos. Contarei que eu olhei para o “ser bonitinha” dos dois lados, e nos dois casos só me fez infeliz. Contarei também que o único lugar onde consigo atuar esses dias é fazendo dublagem, onde ninguém pode me ver. 
Contarei como minha mãe queria que eu provasse para mim mesma meu valor através das minhas ações e habilidades e não pela minha aparência. Eu acredito agora que consegui provar isso, e sou mais feliz que nunca. 
Depois de contar tudo isso, se eles ainda insistirem em me dizer qual aparência devo ter, vou considerar contratá-los como meus estilistas.

33 comentários:

Anônimo disse...

Puts que textão, não vou ler tudo isto não, vou esperar sair o filme.

Anônimo disse...

13:18 esperar o quê de uma pessoa q tem o cérebro atrofiado devido às altas doses de masculixinidade no organismo?

testosterona faz mal pro cérebro, o omen comentador aí de cima comprova, deixa os outros testostetontos

Anônimo disse...

foda demais! quero esse livro. Muito difícil tudo isso que ela passou, mas, apesar das marcas que sempre ficam, pelo tom do texto dá a entender que ela está lidando bem com isso hoje em dia, e se tornou alguém forte. Mulher maravilhosa em todos os sentidos <3

Leonardo Neves disse...

Querer se comparar com a Scarlett Johansson não deve ser fácil pra nenhuma mina hahahah

Anônimo disse...

Nossa, impossível não se emocionar.

Anônimo disse...

Acho que traduziram cutie como bonitinha. Acho que ficaria melhor "fofa" ou "engraçadinha". De qualquer forma, todas são formas de falar sobre o charme infantil de uma criança feinha.

Sobre o tema, o que dizer ? Todos sabemos que a beleza (assim como o dinheiro) cria hierarquia social. Pessoas consideradas feias não aparecem na tv ou cinema, a não ser no papel de vilão, monstro ou bruxa. Ela claramente foi excluída por que a criança engraçadinha se tornou uma adulta feinha.

Qual a solução ? Cotas para os feios na TV/Cinema ? Exigir representatividade ? Vão alegar que beleza é subjetivo (e continuar escolhendo apenas os(as) belos(as)).

Anônimo disse...

e ser feinha faz a gente feliz?

Anônimo disse...

Eu também, mas só vou ver se for dublado

Cão do Mato disse...

A internet pede poder de síntese...

Anônimo disse...

Minha nossa, parece que eu me vi nesse texto... tirando a parte de lidar com a fama (ufa, não sei se teria estômago pra isso), a adolescência é uma época cruel para a auto estima. Ser medida pela régua alheia é horrível, mas o pior é SE medir pela régua alheia. A gente só se livra desse estigma a muito custo. Por que precisa ser assim, sabe? Até hoje me pego me censurando, me reprovando por estar fora de um padrão ridículo que não me define como pessoa, só pra me sentir mal e ter que novamente me convencer que não há nada de errado comigo.

Aí você vê uma atriz que fez parte da sua infância, em um dos meus filmes preferidos por sinal (adoro Uma babá quase perfeita! A mensagem do final do filme me faz chorar até hoje), ser descartada por não se enquadrar nesse padrão doentio. E nós, reles mortais, comprando e se sentindo horríveis por não estar no mesmo padrão.

é dificil Lola :'(

Biana disse...

Claro né, é a mesma coisa de um homem tentar se comparar com o Chris Evans, o Jason Momoa ou o Jensen Ackles

Biana disse...

Isso da Mara Wilson se comparar com a Scarlett Johansson me lembrou de outro caso.
Tem esse ator mirim que fez muito sucesso nos EUA. As garotinhas todas tinham crush nele, todo mundo o paparicava, e a série que ele estrelava dava muita audiência. As pessoas o paravam na rua pra pedir autógrafo. Até que ele cresceu né.
Adolescente, ele já não tinha o apelo que tinha antes, mas continuou procurando papéis em que se encaixasse. Então ele foi fazer uma audição pra um papel num filme chamado A Hora Do Pesadelo, e levou um amigo com ele. O Wes Craven, diretor, o dispensou, e perguntou a esse outro, chamado Johnny Depp, se ele também iria fazer audição. Mesmo sem ter ido com essa intenção, o Depp leu suas falas e foi escolhido como mocinho do filme, o filme virou símbolo do terror, e aí todo mundo já sabe, o cara virou estrela fazendo um sucesso atrás do outro.

Já o seu amigo, sem mais aquele charme de quando era criança, se afastou das telas por uns tempos. Depois de uns 15 anos depois ele volta, e logo no primeiro filme em anos concorre ao Oscar por sua atuação como um pedófilo e depois fazendo muito sucesso como Rorschach no filme Watchmen. Ele fez também o Freddy Krueger na nova versão por indicação do próprio Depp. Jackie Earle Haley pra quem ainda não sabe quem é.

Claro que ele ser homem deve ter ajudado essa volta com estilo, eu lembrei mesmo o caso pq essa comparação de beleza em Hollywood é rotina. O segredo mesmo deve se tornar indispensável, tipo o Al Pacino e a Whoopi Gooldberg.

Anônimo disse...

Adorei, particularmente, a parte em que ela achou que merecia um papel melhor do que ser "a gorda".

Com a Franga Solta disse...

Historia linda e emocionantemente triste!

Anônimo disse...

Continua bela http://vejasp.abril.com.br/blogs/pop/files/2014/02/scarlett1.jpg
Os homens não necessitam make up logo dar pra saber os feios e bonitos.Chris Evans é top.

Catarina,a grande

Anônimo disse...

Jason Momoa <3

Anônimo disse...

Muito triste esse depoimento, perder a mãe tão jovem e ter que lidar com toda essa escrotidão midiática. Ótimo post, Lola.

gabs

Anônimo disse...

Não achei ela feia, mas deve ser foda pra uma atriz talentosa ser trocada por uma insossa da Kristen Stewart só por ter um rostinho mais comercial.

Anônimo disse...

Bonita ela realmente não é mas vamos lembrar por exemplo da Mayim Bialik, que é feia desde criancinha e, depois de um hiato pra cuidar da carreira acadêmica e maternidade, voltou a atuar e vai muito bem, obrigada.

A verdade é que se você não nasceu uma Scarlett Johansson é bom começar a estudar, aprender a ser uma pessoa simpática e se virar cedo na vida. Foi o que a Bialik fez. É o que gente esperta faz.

Anônimo disse...

Chorei aqui. Coitadinha, perder a mãe criança e ter que passar por todo a "ingratidão" da midia

Anônimo disse...

Ah e eu achava ela linda quando criança. Passei minha infância inteira sonhando em ser igual a Matilda

Unknown disse...

Dói muito cada palavra Pq todas passamos por estas provas que a sociedade nos impõe. Mas como é bom ler e ver que superar é muito difícil, mas é possível.

Anônimo disse...

Nossa to morrendo de pena dela sqn. Vou ter pena por você ter ficado famosa e rica.. Ah as garotas bonitas levam vantagem, não sou tão bonita, me poupe..

90 porcento das pessoas são comuns, e apenas 10 porcento são realmente lindas e chamam a atenção aonde quer que vão e levam vantagens..

O certo é aceitar e seguir a vida com sua aparência, só o fato de você ser branca, ter nascido num país de primeiro mundo, ter tido uma família classe média alta e ter trabalhado em Hollywood, já te coloca acima das oportunidades de 99 porcento da população mundial..

Então vai te catar matilda e deixe de mimimi oh my god não sou bonita.

Sandra

Anônimo disse...

Aqui mostra a hipocrisia dela pois o que ha d errado em ser gorda ou fazer papel de gorda? Gordo tbm é gente

Unknown disse...

Agora fiquei com uma vontade absurda de comprar esse livro

Brad Pitt disse...

Isso que eu pensei, é a mesma coisa de eu ser infeliz por ser mais feio que David Beckham.

Brad Pitt disse...

Fato! Uma pessoa como ela ficasse lamentando por ter uma beleza comum, é foda!

Biana disse...

Acho que vc não entendeu. Ela diz, sim, que ficou muito insegura depois de perceber que todas as garotas belas estavam com mais possibilidade de papéis que ela, mas o texto é mais sobre toda a pressão que ela sofreu justamente por ter aparência comum E ter trabahado em Hollywood. Vamos nos lembrar que ela era apenas uma criança na época e ainda assim uma figura pública, e não tinha ninguém além do pai pra lidar com a exposição dela à todos. É muita falta de empatia, fala sério. Queria ver se fosse vc ainda criança sendo julgada por praticamente todos ao seu redor. Isso com certeza fez ela uma pessoa mais insegura com a aparencia do que uma pessoa comum.

Anônimo disse...

Fui ler os comentários e credo... tem pessoas que realmente precisam trabalhar a empatia...

Unknown disse...

Empatia com mulher para quê? Vamos ranquear a dor de todo mundo que ousar falar, e criar a lista das dores legítimas...

Olha, é cada absurdo que se tem que ler por aqui, que até desanima comentar.

Marcia.

Anônimo disse...

Marcia, tirou as palavras da minha boca. Ranquear a dor alheia é mt fácil.
Fui abusada sexualmente na infância, chegando a estupro. Fiz mta terpaia, até entender, que sim dói muito, mas eu não posso me julgar a maior sofredora universal. Lembro até hoje, na terapia em grupo, eu me sentindo ofendida, pq uma garota chorava por ter sido assediada a nível médio ( homem passou a mão na bunda dela no ônibus, rotineiramente). Eu tinha raiva dela sentir dor e pq a minha era maior. E não é! A minha dor é maior para mim, pq eu passei por isso. E a dela é enorme tb, pq foi isso que aconteceu com ela. Eu não posso ranquear e adotar um padrão de quem pode ou não pode sofrer.

Fabiana

Anônimo disse...

Sim, a indústria de hollywood e a mídia foram crueis com ela. Acho que um fator grande na dificuldade de lidar com a transição foi a perda da mãe. O pai normalmente tem mais dificuldade em perceber sutilezas. Não deve ter sido fácil.

Mas é bem provável que se ela tivesse recebido apoio/direcionamento na carreira para investir em estudo, se profissionalizado como atriz (para ter uma atuação fodona) e tivir a carapuça de 'feia/desajeitada' em papéis densos, que ela tivesse uma ótima carreira. Tem muitas atrizes não tão bonitas que depois de se consolidarem como excelentes atrizes, fizeram papéis de mocinhas bonitas.

Além do mais, por mais linda que a mulher seja naturalmente, essa indústria praticamente impõe intervenções cirúrgicas (olha os dentes dela, por exemplo...)

Entendo o sofrimento que ela passou, mas acho que cabe muita responsabilidade pela forma com que os adultos ao redor lidaram com a situação.

Anônimo disse...

Jurava que essa atriz era a menina careca de Jogos Vorazes