SOBRE LULA MINISTRO E OUTRAS COISAS POLÍTICAS

Sem muito que comemorar

Este é só um post de posicionamento, nada embasado, não muito bem informado. 

Apenas a opinião de alguém que está sem tempo de escrever algo mais elaborado. Sei que não adianta publicar um guest post que já estava agendado sobre qualquer outro tema, porque tem gente que vai achar que estou fugindo do assunto. Esse pessoal deve achar que sou uma central de notícias e que meu blog é meu trabalho.

Dilma anuncia Lula no ministério

E sei também que é um post que vai desagradar todo mundo. A galera de direita, os reaças, eu não dou a mínima. Se algum dia eu tiver a aprovação deles pra qualquer assunto, eu me preocupo. Mas gostaria de um pouco mais de compreensão com opiniões divergentes de quem está na mesma faixa de areia que eu, que é o pessoal de esquerda.

Versão dos muito fiéis

Bom, o tema do dia é o ex-presidente Lula tornar-se ministro do governo Dilma e assumir a Casa Civil. Eleitores do PT que não se deixam abater dizem que Lula botará ordem na casa, terá melhores relações com o Congresso, que realmente trava mil e um projetos, recomporá a base, aproximará o governo dos movimentos sociais (sempre um dos pontos fracos de Dilma), e tentará tirar a economia da rota da direita. 

Versão dos reaças

Mas não adianta: a impressão -- ou certeza -- que fica pra muita gente (e não só pros reaças, lamento informar) é que Lula assume um ministério para conseguir foro privilegiado e não poder ser preso. 

É inegável que a justiça de Sérgio Moro não é igual para todos. Lula e outros petistas estão sim sendo perseguidos, enquanto nada acontece com políticos da oposição acusados de crimes piores. 

Mas isso não quer dizer que arranjar um ministério para Lula pareça ser uma solução satisfatória. Vamos pensar: se fosse um governo de direita que estivesse se valendo desse subterfúgio (nomear alguém para que ele escape de uma prisão, mesmo de uma prisão autoritária), nós estaríamos revoltadxs. E claro que pareceria uma movimentação de republiqueta aos olhos internacionais. 

Sem falar da crítica contundente da deputada Luiza Erundina: que essa nomeação de Lula reforça o preconceito contra a mulher: "Não aceito essa versão de que Lula vai pra corrigir, para por o governo na linha ou resolver os problemas do país. Não é verdade". 

Faz bastante tempo que perdi meu encanto com este governo que, desde o início do primeiro mandato de Dilma, se tornou refém de grupos conservadores. Sabemos que o executivo não governa sozinho e que este é o Congresso mais conservador dos últimos cinquenta anos (um levantamento do CFemea indica que, de 81 projetos em andamento no Congresso referentes a direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, 22 representam perdas de direitos), mas a cúpula do PT não parece fazer nada para mudar. 

O governo abandonou a tão importante pauta da reforma política. As conquistas sociais com o governo do PT foram muitas, só que parecem ter chegado a um ponto de esgotamento. Com este modelo econômico, não é mais possível avançar. O risco agora é de retrocesso. Mesmo.

Minha quebra de encanto com Lula é mais recente. Não sei dizer quando passei a vê-lo menos como um grande orador cheio das melhores intenções e mais como um demagogo e populista. Não consigo mais acreditar na sua honestidade. Lógico que não sou doida de achar, como fazem os reaças, que Lula inventou ter dado palestras (reaças, por algum motivo, duvidam que o presidente mais popular que o país já teve seria convidado para palestrar em todos os cantos do mundo), ou que ele não ganhou um monte de dinheiro com essas aparições todas. 

Mas é aquele negócio: não basta ser honesto, tem que parecer honesto também. É de uma ignorância sem tamanho aceitar favores pessoais de empreiteiros. Porque, óbvio, vai parecer (com razão!) que o político terá que retribuir o favor mais cedo ou mais tarde. Eu fico me lembrando da série The Good Wife, em que Alicia é eleita para um cargo público. Na manhã seguinte, sua sala está lotada de presentes. Ela só pode aceitar os que custam menos de 75 dólares. Nada de sítio em Atibaia pra ela.

Voltou? Já? Não era só em 2018?

Outra coisa que me incomoda é ver Lula como o salvador da pátria. Existe gente que não crê em deus mas que tem uma fé cega em Lula (e concordo totalmente com a análise de Eliane Brum de que, na política, mesmo os crentes precisam ser ateus). Tem algo de errado com um partido que, em 35, 13 ou 3 anos, dependendo da sua visão, não conseguiu emplacar um outro nome nacional com chances reais de ser eleito presidente que não o de Lula. É confiar demais num só cara que já está com 70 anos e teve câncer. 

Infelizmente, não vejo muita saída à esquerda. Concordo com várias das pautas do PSOL, PSTU e PCdoB, mas são partidos que vão demorar décadas para ter a força do PT, se é que algum dia virão a tê-la (e será igualmente decepcionante se um desses partidos chegar ao poder e ter que fazer concessões para governar, como fez -- e continua fazendo -- o PT). 

Não sou tão pessimista a ponto de pensar que o Brasil elegerá um Bolsonaro da vida. Mas voltar aos anos do PSDB já será ruim o suficiente. O PSDB já chegou num estágio em que defende o retrocesso abertamente, não precisa nem mais fingir.

Estar insatisfeita e decepcionada com um governo não é um motivo lícito para impeachment. Quem está exigindo a saída de Dilma ainda é gente que não se conformou com a derrota nas urnas e que quer voltar ao poder a qualquer custo. Ou gente que considera uma boa estratégia deixar o PT (e o país) sangrar até 2018.

Não sou filiada a qualquer partido, mas voto no PT há anos para cargos executivos. Não sou adepta do "quanto pior, melhor". Eu quero mais é que o PT volte a fazer um bom governo (e já me contento com um governo regular). Ao mesmo tempo, quero mudanças muito maiores do que propõe o PT, mas continuo defendendo a democracia.