domingo, 8 de maio de 2011

MÃES FELIZES E INFELIZES NO CINEMA RECENTE

Feliz dia das mães!

Ano passado eu falei de alguns filmes que fazem as mães saírem bem na foto. Não houve muita coisa de lá pra cá. Quer dizer, esta semana eu revi (partes de) Mamma Mia porque passou na TV, e ah, eu adoro esse musical! As coreografias (quais coreografias? Nem parece ter um profissional envolvido nisso; é tudo tão improvisado, tão amador!) são as piores possíveis já vistas no gênero, e deveria ser lançada uma “versão sem sofrimento” em que o Pierce Brosnan, tadinho, ou é dublado por alguém que saiba cantar ou é deixado mudo. Mas a Meryl Streep brilha, toda alegre e jovial, e só a cena de "Dancing Queen", com todas aquelas gregas largando os aventais e indo cantar e dança no pier já vale o filme (veja aqui). E eu amo ABBA. Pronto, agora falei. Mamma Mia apresenta um dos melhores relacionamentos entre mãe e filha do cinema, não acham? A Meryl se dá muito bem com sua filhota Amanda Seyfried. E é interessante como a mãe é muito mais liberal que sua filha, não que seja o único caso. (E a Meryl é tão fantástica — nos últimos trinta anos, existiu atriz mais consagrada, mais versátil que ela? — que ela representa uma das poucas coisas boas do remake Sob o Domínio do Mal, que tem uma das mães mais megeras de todos os tempos). Outras boas mamães que surgiram de lá pra cá (nos últimos dois anos, digamos) foram a Annette Bening e a Julianne Moore em Minhas Mães e Meu Pai (contrariando o que o Woody Allen sugere em Manhattan, em que seu personagem é deixado pela mulher — olha aí a Meryl Streep de novo! — por outra mulher. Seu filho está sendo criado por duas mães, e Woody reclama: “Sempre achei que muito pouca gente conseguiria sobreviver a uma só mãe”). Eu gosto da cena de Minhas Mães quando as duas abrem os braços pro filho, exigindo um abraço. Bom, essa comédia dramática pode e deve ser criticada por jogar a ideia de que o que as lésbicas realmente querem é um homem, mas a relação que as duas mães têm com seu casal de filhos é muito saudável (e é raríssimo aparecer no cinema. Vamos torcer pra que aqui no Brasil, agora que o Supremo aprovou a união estável para casais do mesmo sexo, logo tenhamos filmes com filhos sendo criados por duas mães e dois pais). E por que, quando se fala de mãe, ninguém mais fala de A Troca? É um filme muito feminista com a Angelina Jolie. Ela faz a típica mãe coragem (e solteira), que luta nos anos 1920 para encontrar seu filho desaparecido. O que acontece com ela é surreal: a polícia lhe devolve um menino, e ela diz, putz, legal, obrigada, mas esse não é o meu filho, e a polícia diz claro que é, e a Angie reclama e é mandada pra um hospício por peitar as autoridades. E parece que é baseado num caso real em que governantes realmente falaram pra uma mãe que ela não seria capaz de reconhecer seu próprio filho de 9 anos que desaparece durante uns cinco meses. Pesadelo, né? Por falar em pesadelo, vamos aos piores retratos das mães no cinema recente. Dizem que uma das mais megeras é a Jackie Weaver no australiano Animal Kingdom (trailer aqui; Jacki concorreu ao Oscar de atriz coadjuvante e perdeu pra Melissa Leo em O Vencedor — em que ela faz uma mãe forte, que mais atrapalha do que ajuda o filhinho boxeador. Mas ainda não vi Animal Kingdom e prefiro esquecer tudo referente ao Oscar 2011). Uma mãe terrível que ainda parece estar na cabeça de todo mundo é a Barbara Hershey em Cisne Negro. A caixa de comentários do meu post tá impagável e acrescenta demais a minha crítica, lançando um monte de pontos de vista. Um leitor ou leitora, não dá pra saber pelo pseudônimo Fri Yourself, diz que, quando Nina fere sua própria barriga, ela tá tentando cortar o cordão umbilical que a une à mãe. A gente pode discutir durante horas se a mãe existe de verdade ou é um figmento da imaginação da protagonista (ou se talvez a mãe existe, mas boa parte de suas ações pode ser só fantasia. Por exemplo, ela está de fato na cadeira do quarto enquanto Nina começa a se masturbar?, pergunta a Lauren), ou até que ponto ela é a vilã (será que Nina não se autodestruiria ainda mais rápido sem a mãe repressora por perto?).Pedro Alexandre Sanches, famoso jornalista da área musical, deu uma canjinha aqui no blog e interpretou a cena de sexo entre Nina e Lily como entre Nina e... a mãe dela! Fascinante essa hipótese, pois, assim como em Preciosa, há sugestões de abuso sexual por parte materna. A mãe pergunta pra Nina “Você está pronta pra mim?” num contexto muito esquisito (a cena é cortada antes que a gente saiba do que ela tá falando). Tem todo o pavor de Nina em trancar as portas, fechá-las com barras de ferro... A protagonista quebrando a mão da mãe na porta já é um sinal. Eu não creio nisso que a cena de sexo entre Nina e Lily é entre Nina e a mãe (nem acho que a cena ocorre de fato), mas não não dá pra negar que a mãe de Nina tem um papel fundamental na sua repressão sexual. Pra mim a cena maior da manipulação materna é quando a Barbara ameaça jogar fora o bolo que tinha comprado pra comemorar o novo papel da filha. Nina diz que não quer comer e a mãe muda automaticamente. Mas um ou uma leitora anônimo lembrou que essa cena pode muito bem estar relacionada com a bulimia de Nina. A mãe, controladora que é, já conhecia os distúrbios alimentares da filha e encarou a negativa de comer uma fatia de bolo como mais um desses distúrbios. É uma interpretação que faria dela menos vilã. Sei lá, há tantas análises possíveis pra Cisne Negro que a gente pode falar do filme pra sempre...E é por isso que uma mãe claramente mais vilã, como a da Mo'nique em Preciosa, empalidece em comparação com a mãe de Cisne. Fica tudo muito óbvio! A culpa da mãe de Nina é mais ambígua e, no caso de Preciosa, não há tanta possibilidade de debate sobre a mãe brutal, abusiva, monstruosa. Não estou dizendo que a interpretação de Mo'nique não é fabulosa (ela mereceu o Oscar de atriz coadjuvante que recebeu em 2010, mas acho que a Barbara merecia ter sido pelo menos indicada este ano). Mas pode ser que eu só esteja dizendo isso porque Cisne Negro é um filme tanto melhor que Preciosa, né?
Bom, gente, tudo isso é só pra desejar um ótimo dia das mães! Mães de primeira viagem, favor seguir o modelo das mães legais de Hollywood tratado na primeira parte do post. E é só impressão minha ou tem mais mãe malvada que boa no cinema?

16 comentários:

L. Archilla disse...

Um aspecto legal do filme A Troca é a leve abordagem da questão manicomial e como os hospitais psiquiátricos podem ser ferramentas de manutenção do sistema vigente. A pessoa discordou do status quo? Manda pro hospício. Ela continua reclamando? Mas gente, não dêem ouvidos, ela é louca! Olha só, até já foi internada! (Puro Foucault!)

Vinícius disse...

o posto de mãe mais linda de todos os tempos é da Meryl em As Pontes de Madison.

Leila Silva disse...

Me lembrei de outra filme com mãe terrível, MON FILS Á MOI. Acho que tem mais filmes com mães cruéis do que o contrário...também é tudo culpa da mãe, né? rs
Abraço

Fernando Borges disse...

Complementando o comentário da L. Archilla:

No filme Vincere(2009) isso também ocorre.
Ida Dalser, amante de Mussolini, com a qual o mesmo teve um filho, passou anos no manicômio por tentar ter seu filho reconhecido.

Uma mãe horrível, na minha opinião, é a mãe da Maggie, no filme Menina de Ouro.

Lane disse...

Lola,

Vc já reparou que em alguns filmes onde o personagem são perturbado, assassinos ou psicpatas a culpa é sempre da mãe?

Em Psicose a culpa do Norman Battes se tornar um serial Killer era da mãe que ele não tinha se desapegado. Em Cisne Negro a culpa da personagem ter problemas era da mãe controladora e super-protetora. Em Dragão Vermelho a culpa era da mãe violenta e muito rigida. Em Carrie, a estrnha a culpa era da mãe que era fanática

Tudo no final a culpa é da mãe... porque assim é o complexo de édipo no final a culpa era toda da Jocasta.

Drica Leal disse...

Só filmes que eu adoro, show!

Quanto à Meryl Streep, para mim, é a maior atriz viva do cinema! Amo demais essa atriz, ela fazendo qualquer coisa me hipnotiza! Estou ansiosa pela interpretação dela como Margareth Thatcher. Meryl é tão maravilhosa que aposto que muita gente pode acabar simpatizando com a pessoa Margareth, essa britânica mãe do neoliberalismo, rs.

Drica Leal disse...

Oops, é MargareT, sem "h" no final, rs.

Madame Nada disse...

Com relação à Édipo, na verdade, se você for checar na Trilogia Tebana, na história, ninguém tem culpa (o que é diferente de responsabilidade), tudo é uma tragédia do destino. O problema de Laio -pai de Édipo- foi ter tido relações impróprias com um jovem que ele sequestrou (se não me engano), daí ele foi amaldiçoado. Já Édipo foi arrogante ao tentar driblar o destino - e acabou cumprindo-o. No fim das contas, Jocasta é a única que não tem nenhuma responsabilidade sobre nada que acontece - ela casa com Édipo porque ele ganhou a mão dela ao derrotar a Esfinge, ou seja, ela não tinha escolha. Enfim, as mulheres são injustiçadas até aí.

Elaine Cris disse...

Tem um filme antigo da Meryl Streep, não me lembro o nome, em que ela tem uma mãe bem maluquinha, as duas tem uma relação conflituosa, mas deliciosa de ver no filme.
Realmente, as mães marcantes do cinema, em sua maioria, parecem ser as bitoladas.

Elaine Cris disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Drica Leal disse...

Filmes antigos da Meryl com mãe maluquinha eu me lembro de dois: um é a comédia "Ela é o Diabo", onde ela é uma escritora fútil de famosos "romances cor de rosa" (aliás, tudo na casa dessa personagem e no figurino é rosa, rs)que tem um caso com um homem casado e depois da separação a ex-mulher do cara se vinga das humilhações e o outro é "Lembranças de Hollywood", onde ela é uma atriz filha de uma outra atriz veterana e vaidosa,a personagem da Meryl tem problemas com drogas e os diálogos entre mãe e filha tem tiradas impagáveis!

Auxi disse...

Lindo post. Acho que todas as mães são perniciosas, dominadoras e manipuladoras. Nada de recalque, meu.
Elas dominam mesmo, a maternidade, há quem dê golpe da barriga. Penso que é a pior baixaria que se pode fazer com um homem. E você falou ótimo de mães incrivelmente perniciosas.

Carolina Pombo disse...

Cara Lola, eu falei há pouco tempo sobre isso com meu marido. Há muito mais mãe má do que boa no cinema!!! Isso sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha... seríamos assim tão erradas, mesmo tentando acertar??? A mãe de Nina, em Cisne Negro pode ser vista assim: amou demais, a ponto de ser sufocante. Falei sobre esse filme num blog outro dia. Também encarei essa realidade cinematográfica de nossos erros traumáticos, mesmo no esforço por acertar. Se alguém se interessar em ler, taí: http://www.whatmommyneeds.net/2011/04/confissoes-de-uma-mae-ordinaria-e.html

Beijos e obrigada! (Juro que tentarei ser mais parecida com a Angelina e a Meryl - você tem razão em todos os elogios!!!)

Lorena disse...

Outra mãe inesquecível interpretada por Meryl (e apontada e julgada por muitos): Joanna Kramer, em Kramer vs. Kramer. A mãe que abandona o filho com o pai (que era omisso até então, diga-se de passagem) e depois volta, reclamando a guarda do menino.

Amo esse filme, Meryl ganhou o Oscar por ele... Mas acho engraçado como a mãe interpretada por ela é crucificada por abandonar a família, e o pai (Dustin Hoffman) é totalmente perdoado da omissão porque, na hora da dificuldade, teve que aceitar a responsabilidade de cuidar do menino sozinho. Até então, até os cinco, seis anos do menino, sempre foi a mãe pra TUDO. Mas quem é que crucifica um pai ausente, né?? Ninguém.

Vitor Ferreira disse...

Gente ruim normalmente rende mais historia. Deve ser por isso que no cinema as maes sao mais perfidas.

Mairocas disse...

Para mim a "pior" mãe do cinema é a Charlotte, personagem de Ingrid Bergman em Sonata de Outono (o último filme que ela fez e o único com Ingmar Bergman). Ela faz tão bem esse papel que ela consegue ficar feia, de tão malvada.