terça-feira, 5 de maio de 2009

O DESPREPARO DOS SEGURANÇAS

Lembram da discussão da semana passada sobre um carinha que foi espancado e levou choque dos seguranças numa boate de Joinville? Alguns de vocês, nos comentários, adotaram uma visão que eu acho difícil de aceitar: passaram a atacar a vítima. O carinha tava causando encrenca, mereceu o que recebeu, pobres dos seguranças, e por aí vai. Que o sujeito errou, não há dúvida alguma. Ele devia ter sido colocado pra fora. Agora, justificar o comportamento dos seguranças é algo muito perigoso. É até um pouco mais do que isso: é fascismo. É aprovar quem faz justiça com as próprias mãos.
No domingo, o jornal A Notícia, de SC, publicou uma reportagem, não muito profunda, mas melhor do que nada, abrangendo o assunto. O repórter entrevistou algumas pessoas que entendem do riscado, e todas condenaram a ação da boate. Pelo jeito, os seguranças de casas noturnas na cidade não recebem treinamento. Em Joinville, o último (e único) curso pra quem trabalha na noite foi dado há sete anos. Obviamente, ser segurança num banco exige um treinamento diferente que ser segurança numa boate. Não que eu ache que o pessoal que trabalhe em bancos e carros-fortes seja bem-treinado! Fico horrorizada toda vez que vejo um bando de brucutus com o dedo no gatilho da escopeta protegendo o guarda que tira ou coloca dinheiro num caixa automático. Porque tenho certeza que a ordem é atirar primeiro, perguntar depois. Se alguém tentar assaltá-los, vai haver um tiroteio lá mesmo, no meio da multidão, e que se danem as pessoas que estejam no shopping ou supermercado naquele momento. Não tenho dúvida alguma que o treinamento que eles recebem é que o patrimônio é muito mais importante que a vida de qualquer um (com exceção, talvez, da do dono do patrimônio. Imagino que seguranças aprendam hierarquia e darwinismo social melhor que ninguém). Numa boate, o patrimônio é outro. É o próprio local, lógico, mas é também a segurança dos usuários naquele local. Se alguém perturba, deve ser posto pra fora na hora. Se os seguranças quiserem prestar queixa porque algum usuário exagerou, devem chamar a polícia. O que não pode é bater no cara, né?
Pela reportagem, parece que instrumentos como aparelho que dá choque e lança gás de pimenta são permitidos pra quem trabalha com segurança, desde que haja treinamento e fiscalização. É óbvio que ninguém consultado é a favor do uso desses instrumentos numa boate. Um especialista explica: “Na maioria das vezes, nós somos os únicos lúcidos na festa. É preciso ficar atento. Não precisa de agressão para tirar alguém de uma boate. Dois ou mais seguranças já inibem aquele que quer tumultuar”.
Eu acho o fim que alguns jovens vão a boates para ficar bêbados e brigar. Que sejam postos pra fora. Que sejam, inclusive, colocados numa lista de indesejáveis e proibidos de entrar em qualquer casa noturna por um bom tempo. Que sejam presos, se for o caso. Mas é inadmissível a violência de seguranças. Assim como é inadmissível a violência policial. Ninguém tem o direito de ser violento. E não me venham com “Fale isso pro bandido”. Pô, o bandido sabe! O bandido deve ser combatido. Ele está fora da lei. Mas policiais e seguranças privados, não. Esses devem servir para proteger a sociedade, não pra muitas vezes tornar-se uma ameça maior que os próprios bandidos. Aliás, quando a gente fala de criminosos e a conversa ruma “naturalmente” pra atuação de policiais e seguranças, é porque a coisa vai muito mal...

17 comentários:

Alfredo disse...

Mas o Brasil é exceção. Aqui não há justiça feita pelo Estado, então é melhor fazer pelas próprias maos. Não é necessario chamar a policia, so vai ser registrado um boletim de ocorrencia inutil. Eu tenho raiva de homem. Na minha opiniao quase todos deveriam ser extintos, e preservarem apenas alguns pra fins reprodutivos.

b disse...

Normalmente os que defendem a visão dos seguranças e policiais violentos com o intuito de proteção patrimonial são ignorantes, burros ou os próprios donos do patrimônio....

Logo teremos vários "Rios-de-Janeiro" onde as milícias tocam o terror "combatendo bandidos"...

Mas creio que é a total decrença no poder público que leva esses ricaços a contratar seguranças para fazer justiça. Afinal, esperar ue um playboy briguento seja preso por agressão numa boate e fique lá é historia da carochinha.

Temos a doméstica espancada. Os jovens que a agrediram varreram algumas calçadas e estão livres. O mesmo com os policiais que participaram do massacre do carandiru ou do massacre da candelária, no Rio, e ainda a morte do Índio Galdino.

Concordo que isso não torna a atitude dos seguranças correta, mas é a realidade. Difícil ficar debatendo como deveria ser e não apontar como é. Afinal, como resolver um problema sem estudar as suas principais causas?

Trabalho em uma livraria, onde os seguranças não podem sequer tocar um cliente no ombro, mesmo em caso de furto. Qual a saída? Descontem a frustração nos colegas de trabalho.

Seguranças são treinados para estarem acima das regras e acima da lei. Como vc disse, o patrimônio é o mais importante...teoricamente, isso é falso, mas na prática, é exatamente como as coisas acontecem.

É triste, mas creio que um debate sério sobre o caso pode trazer mudanças significativas.

parabens pelo post.

Serge Renine disse...

Thiago:

O patrimônio ser mais importante que pessoas é bíblico.

Dos 10 mandamentos, 7 protegem o patrimônio.

b disse...

sergie, por esse motivo a bíblia é, na minha opnião, um registro histórico (praticamente inválido por todas as alterações que sofreu) e eu sou ateu.

O Cinema me Enganou disse...

Lola,

Parabéns pelo post. Mas vou dizer, nem vou ler os comentários porque já comecei a me sentir mal. Não acho que violência justifique violência. Sou a favor do debate pacífico e acho que essa história de tornar a lei mais severa, em alguns casos, só abriria espaço para mais abuso e haveria um grande risco de o feitiço se virar contra o feiticeiro. Concordo contigo. O rapaz não estava certo, mas os seguranças também não.

Beijos,

Elisa

Chaves disse...

lista de indesejáveis, Lola?
que coisa mais totalitária!

Alfredo disse...

Chaves... vc nao respondeu minha pergunta menino!!! Qual sua religiao, sexualidade, idade, cor, casado, filhos?

lola aronovich disse...

Ah, não sei, Chaves. Se eu tivesse uma boate e uns rapazes viessem toda semana pra boate pra brigar, eu os colocaria numa lista negra rapidinho. A mesma coisa se houvesse um rapaz que é um santinho quando sóbrio, mas quando bebe fica descontrolável. Tem gente que segue um padrão. Tem quem ache que diversão é bater em pessoas. E às vezes não tem nada a ver com bebida. Tava falando com o gerente do cinema que frequento sempre, e tem alguns adolescentes que ele coloca numa lista de indesejáveis. É assim: os carinhas incomodam. Fazem bagunça. Gritam. Sobem nas poltronas. Fazem sujeira. Os outros espectadores reclamam. Vem o pessoal do cinema e adverte. Os meninos continuam, e são colocados pra fora. Da próxima vez que aparecem, fazem a mesma coisa. Ué, eles não sabem se comportar em sociedade. Tem que ser colocados pra fora e proibidos de entrarem. Não vejo nada de totalitário nisso. Tudo bem, não precisa ser uma lista pro resto da vida, mas por um tempinho, até que aprendam.

Giovanni Gouveia disse...

BAderneiro, filhinho de papai ou filho sem pai, rico ou pobre, tem que ir pra cadeia.
Também merece a cadeia todo e qualquer que desrespeite a lei, leões de chácara e aqueles que acham que "bandido bom é bandido morto", inclusos.
O problema não é a letra da lei, o problema é o abrandamento da interpretação das leis brasileiras.

Chaves disse...

asnalfa:
me deixa, flor de ameixa!

Alfredo disse...

Chaves!!!
deixo nada ..... (vc é homofóbico??)

Isabel Dasp disse...

A segurança do nosso país chegou ao um ponto em que nós não somos mais protegidos pela polícia, a polícia é um serviço público, quase falido.
Sobre os seguranças, que você mencionou com uma palavra bu não- sei- o- quê, saiba, que eles, tem treinamento, curso com tempo de validade, e que se renova de tempos em tempos, treinamento esse melhor muitas vezes, que a própria policía não tem, pelo simples fato que você citou de:'sair atirando em todo mundo', pois eles sabem lidar numa situação em que civis estão perto.
Outra coisa, você não deve saber, aliás muita gente não sabe, mas os seguranças, fazem muitas vezes o serviço da polícia, porque a polícia não chega na hora exata, levando um tempo suficiente grande, a ponto que o marginal já fez o que bem entendesse com o cidadão, ou qualquer que seja a situação.
sabe, Lola aprecio algumas críticas de cinema que você faz, não concordando com algumas, mas acho que antes de sair escrevendo sobre o que você não sabe, deveria se informar um pouco, para não sair ofendendo certas classes trabalhadoras.
PS.: Gostaria eu, saber de você, se estivesse num lugar público, e alguns desses jovens tivesse feito algo contra você, e um segurança tomasse uma providência em sua defesa, se você escreveria o que você escreveu sobre ele, como este post.

Isabel Dasp disse...

"Normalmente os que defendem a visão dos seguranças e policiais violentos com o intuito de proteção patrimonial são ignorantes, burros ou os próprios donos do patrimônio...."
Ah e sobre esse comentário, totalmente preconceituoso! Como as pessoas saem escrevendo, sem ao menos pensar, no escreve!!!!

b disse...

Isabel,

concordo plenamente com o sue ponto de vista quando diz que a informação é importante... mas talvez só os seus seguranças tenham todo esse preparo... Não é a primeira vez que ocorrem umas merdas assim...

O curso de segurança é tão bom e eficaz quanto o da auto-escola...

Prova disso são os "acidentes" que ja ocorreram (adolescente baleada, trabalhador morto) e essas coisas...

Preconceituoso meu comentário?

Vc não deve ter idéia do que ser discriminado. Seus seguranças fazem isso praticamente todo dia, quando definem uma ameaça ao patrimônio pela cara do indivíduo. e nessas, sempre se danam os mais pé-rapados... Dizer que isso não existe é, no mínimo, idiotice... e, repito, só pode apoiar esse tipo de atitude os que não são vitimas dele...

fazer a análise de um problema do seu ponto de vista, ignorando a existencia de outras pessoas, é sim, burrice.

O Cinema me Enganou disse...

Não sei se existe um padrão para cursos de segurança, mas certamente deve haver um módulo dedicado a identificar o perfil psicológico do profissional que se candidata a tal vaga. Mais que isso, imagino que deveria haver uma sondagem periódica por parte da empresa, para verificar se o segurança atravessa problemas familiares, tem vícios, cumpre uma jornada de trabalho que lhe garanta horas de descanso. A mesma coisa acontece em algumas empresas de transporte de cargas, e em outros segmentos. Não se trata de preconceito contra a profissão de segurança. Eu sei que parece “muito”, que para os nossos padrões pode parecer absurdo, mas se eu fosse uma empregadora acharia mais “rentável” gastar com isso do que ter minha firma processada por exemplo. Outra: abusos acontecem sim. Aqui no rio um segurança no Itaú matou um rapaz que tentava passar pela porta detectora de metais enquanto a mesma apitava. Impaciente, o segurança atirou e o rapaz morreu, mesmo não estando nem armado e sendo cliente do banco. Ele era negro. Eu já fui muito maltratada uma vez no banco do Brasil, porque me vi na mesma situação. Encaminhei uma reclamação formal à ouvidoria do banco, à empresa que prestava serviços de segurança e retirei minha conta daquela agência. Claro que esses são casos isolados, da mesma forma há bandidos, e esses profissionais arriscam suas vidas para defender os outros. Só acho que então, para tal função, eles precisam estar muito bem preparados.

b disse...

Tenho certeza de que há um padrão para os cursos, para identificar perfis psicológicos...mas, usando o mesmo exemplo, também há um padrão para barrrar pessoas incapazes de dirigir,fisica ou psicologicamente, mas é muito fácil burlar isso. e o que temos na rua?

Sabemos que as empresas buscam menor custo e não qualidade. São valores inversamente proporcionais.

Anônimo disse...

isso me lembrou tanto a reação das pessoas ao filme "Tropa de elite". Que denunciava o uso da tortura indiscriminada. Mostrava oquanto era desumano. Era uma crítica, meodeosdocéu.

E aí o filme virou fenômeno justamente porque as pessoas gostavam da violência. Achavam justificável. Achavam o capitão nascimento "fodão".

Foi aí que eu perdi a fé na nossa sociedade.