terça-feira, 29 de novembro de 2005

CRÍTICA: CRÔNICAS DE NÁRNIA / Guarda-roupa, o épico

O título é comprido, e a duração, também. Lá fui eu ver “As Crônicas de Nárnia – O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa”. Dos 140 minutos, gostei de uns 60. O épico infantil é baseado na obra de C. S. Lewis, que era amiguinho do J. R. R. Tolkien, em quem a J. K. Rowling se inspirou. Esses escritores cheios de iniciais me cansam. Mas faça as contas. São sete livros. Se esta aventura rodada na Nova Zelândia (destino natural de qualquer orçamento acima de 150 milhões de dólares) render um pouquinho de dinheiro, a Disney pode fabricar mais seis filmes e copiar o Tio Patinhas, nadando no meio das moedas de ouro.

Ah, pra quem tá louco de vontade de batizar a filhinha de Nárnia, saiba que é um lugar, não uma pessoa. Imagina só, se o filme pega, o mundo corre o risco de ter uma epidemia de Nárnias, como tivemos de Pamelas e Suellens por causa de “Dallas”. “Crônicas Narnianas” é sobre quatro irmãos ingleses que entram num armário e saem num lugar mágico, cheio de animais falantes, faunos e centauros (elfos deviam estar em falta). Acho que a garota atrás de mim nunca havia visto um fauno, porque quando apareceram as patas dele, ela gritou “Ui!”, meio enojada. Repetindo, as crianças invadem um guarda-roupa, que é todo peludo, esbarram umas nas outras, são espetadas, e daí caem do outro lado, todo branquinho. Hmmm.... Mas essa é só minha mente poluída em ação, já que o troço foi escrito cinqüenta anos atrás, certamente muito antes do nascimento daquele tal de Freud. Fiquei fazendo uma contagem mental: ok, o guarda-roupa já apareceu uma pá de vezes, a feiticeira idem, cadê o leão? E todo mundo falava de Aslã, Aslã, ó grande Aslã, e eu demorei pra sacar que Aslã e o leão eram o mesmo efeito especial gerado por computador, apesar de ter visto o trailer até dizer chega. Então, não gostei dos bichinhos computadorizados. Os únicos que pareciam vagamente reais eram os castores. Adoro leões e felinos em geral, mas, dos personagens-título, o que mais me comoveu foi o guarda-roupa. Eu sempre quis ter um walk-in closet.

É lógico que toda a trama tem forte conotação religiosa e que o leão equivale ao messias. Porém, mais do que à volta de Cristo, o filme faz no mínimo três alusões à volta da seqüência. Um crítico americano apelidou “Crônicas” de “Senhor dos Anéis Jr”, mas o que gostei mesmo foi da tirada de um outro dizendo que, se “Crônicas” fosse dirigido pelo Mel Gibson, a gente iria ver 78 minutos da feiticeira chicoteando o leão antes de matá-lo (mas tudo bem, como todo messias, ele ressuscita no final). O que me leva a uma questão filosófica nada-a-ver: a gente sabe que o leão é mais forte que o domador, o domador sabe, só o leão que não sabe. Seria ótimo se soubesse. Certo, não tem domador aqui. Esquece. O que tem é um tom patriarcal bem estridente. O mal é uma mulher. A única outra mulher do filme, tirando as duas meninas, é uma governanta chatinha. O leão cristo-rei é homem, barbudo, com voz imponente (aqui dublado pelo Paulo Goulart); o professor dono do casarão adora um armário, e até o bom velhinho faz uma pontinha. Enfim, os homens são justos e queridos, as fêmeas, problemáticas. Fica até parecendo que são as mulheres que promovem guerras.

Por falar em bom velhinho, chega uma hora em que o Papai Noel dá um presentinho pra cada uma das crianças. Uma espada, um vidrinho que cura feridas, flechas que acertam qualquer alvo, coisas assim. Naturalmente esses brinquedinhos à la James Bond terão de ser usados antes que “Crônicas” termine. E o filme anda, anda, anda, e nada da moça empregar as flechas. O público até começa a se inquietar: será que vamos ser enganados mais uma vez, como fomos quando um castor entalado nos dentes de um lobo subitamente sai da água? De um modo muito estapafúrdio, a moça usa as flechas. Uma delas, pelo menos. Um anão vem com tudo pra cima dela e ela atira uma flecha, e acerta, claro. A meio metro de distância, até eu! Essa cena gerou risos nervosos.

À medida que “Crônicas” vai passando, mais vai cansando. Comecei a bocejar quando ficou bem definido que a trama representa a luta dos EUA contra Vietnã, Iraque, ou o país invadido do ano, ou seja, a eterna luta do Bem contra o Mal. Vira uma justificativa pra guerra: até as crianças devem pegar em armas pra levar a liberdade aos povos. No fim, os pimpolhos são todos coroados: um filho de Adão é o justo, uma filha de Eva é a gentil, outra é a destemida, outro o magnífico. Pode escolher? Porque eu preferiria ser a magnífica (gentil não soa a prêmio de consolação?). E é óbvio que a resolução nem chega perto da real utopia – liberdade é uma terra em que reis seriam desnecessários, né? Já mencionei que queria ter um walk-in closet?


P.S.: “Crônicas” pode não ser grande coisa, mas, em compensação, o cinema passou montes de trailers. Pude ver o que pareceu ser o catálogo de todos os desenhos animados produzidos nos EUA. Tinha carros animados, pombos de guerra (quem precisa de paz hoje em dia?) animados, animais fofinhos saídos de Madagascar animados... Nenhuma previsão de um filme adulto chegar por essas bandas antes de março.

3 comentários:

Anônimo disse...

entaum..vc fica só falando mal pq é um pouco tonta e naum deve entender o significado! entaum leia o livro e tente prestar atençao do pq de cada coisa antes de falar mal ok?

Tassinhadole disse...

eu vi tudo que vc viu e senti algumas das coisas que vc sentiu mas no final pensei..isso é cinema..que delícia....ui efeitos especiais pra lá de especiais.Adorei a carinha dos atores escolhidos a dedo! Adorei o clima do filme, a montagem. a sensação de medo,a rainha má e branquinha kkkkkkkkkkkkkkkkkk tem esse lado tb LOLA! bj

Anônimo disse...

De onde você tirou a ideia de que J.K.Rowling baseou sua obra de Tolkien?
Tsc, tsc...completamente enganada!