Ou melhor: o que caiu nas provas de seleção quando eu tentei o mestrado, em dezembro de 2002. Obviamente não é a mesma coisa todos os anos. Mas estude um pouco de teoria literária, e mais um pouco de Aquisição de Língua Estrangeira (que é interessante), talvez de Fonética (que não é interessante), e de Teorias de Leitura (coluna do meio), que dá pra passar.
MIL PALAVRAS
Extra! Extra! Lolinha conta tudo! Fiz as provas pra seleção do mestrado em Literatura de Língua Inglesa da UFSC no início de dezembro, e vou revelar o processo pra você, incauto leitor. Foi horrível. O primeiro exame era de literatura, e a gente pensava que eles dariam opções entre verso e prosa, e eu escolheria prosa correndo, claro, porque analisar poesia é meio complicado. Mas não. Era um tema só. Mostraram um soneto do Shakespeare e pediram pra gente interpretá-lo em mil palavras. Houve um momento traumático na sala quando os 36 candidatos viraram a folha na vã esperança de encontrar outra pergunta, mas nada. Se entender Shakespeare já é difícil, tente redigir mil palavras sobre um poeminha de 14 linhas. Pra você ter uma idéia, esta crônica maravilhosa, da qual o velho Shake certamente sentiria inveja, contém 335 palavras. Dá três crônicas, e ainda por cima tem de ter assunto?! Eu não tenho experiência nisso de escrever com um tema na cabeça.
O soneto era lindo (número 55, se alguém quiser arriscar), apesar da meia dúzia de expressões que eu nunca tinha visto mais gordas. O problema era o tamanho do texto exigido. Sem enrolação, minha interpretação caberia em algumas linhas. Logo... No primeiro parágrafo, taquei uma análise de como o soneto era sobre a memória que aqueles que nos amam têm de nós depois que morremos. No segundo, argumentei que os termos bélicos do poema poderiam levar à outra interpretação, que seria, ahn, sobre julgamento final. Certo, assumo que eu tava atirando pra todos os lados. No terceiro, repeti a hipótese do primeiro. Ainda muuuito distante das mil palavras, apelei pro meu 386 interno. Pensei em todos os filmes e livros que falavam de "memória" e mandei ver. Tenho até vergonha de dizer, mas escrevi sobre Hannibal Lecter, sobre "Amnésia", sobre Brás Cubas, sobre Borges – ih, até a Barbra Streisand cantando "Memories" entrou na jogada. Só me recuperei no último parágrafo, onde chutei que o tema era imortalidade. Não é que era?
PASSEI PRA IMORTALIDADE
Já contei pra você tudo sobre a horripilante prova de literatura na seleção pro mestrado. A outra prova, no mesmo dia, era sobre Lingüística Aplicada. Como enfrentei a situação? Fácil. No meu pânico pré-teste, no estilo "tudo que sei sobre Lingüística é que tem acento em um dos is e treminha no u", tratei de fazer um resumo sobre alguns tópicos e decorei o que escrevi. Não recomendo. Na hora de passar pro papel, fica mecânico. Tenho certeza que os examinadores, ao corrigir as provas, devem ter dito: "Ih, pronto! Essa daqui decorou um resumo!".
Quem passou nesses dois exames, e eu, por um desses milagres, passei, tinha mais um terceiro desafio – uma prova oral. Levava quinze minutos com a banca examinadora, que fazia perguntas sobre o pré-projeto e sobre as provas. Bom, os candidatos que saíam narravam histórias de horror. Imagina você lá, nervosérrimo, e o examinador diz, "Sua estrutura de parágrafos é péssima, a pior que já vi!". O que você responde? Tentarei melhorar da próxima vez? Ou que peçam pra você explicar a metodologia, e você trava? Comigo não aconteceu nada disso. Primeiro, quiseram que eu falasse sobre meu pré-projeto, e eu falei, bem superficialmente. Em seguida, um professor disse que meu ensaio sobre o soneto do Shakespeare tava bastante bom. Eu pensei em rebater com um "Você pirou?", mas me calei. Ele afirmou que eu havia escrito que o tema central era imortalidade. Não quis brigar com ele ou lembrá-lo que fiquei o texto inteiro tecendo coisas sobre memória, Hannibal Lecter, Barbra Streisand... Quem sou eu pra discutir com um doutor? Ele quis saber o que mais seria imortal no poema. Sempre calma, balbuciei alguma bobagem como "well, obviamente o amor é imortal". E ele: "Yes, mas o que mais?". Eu já estava caindo da cadeira quando chutei: "O poema! O próprio poema é imortal!". Ele ficou feliz, não fez mais perguntas, e minha entrevista logo se encerrou. Cá entre nós, acho que bastou eles verem meus olhos verdes pra me passar.
13 comentários:
Oi Lola, nada com o assunto.
Só passando pra deixar os Parabéns!!, continua sendo essa pessoa encantadora, que tanto admiro. E talvez até, um dia receba resposta de um dos meus comentários deixados aqui. E até numa dessas viagens, vc venha conhecer o meu Recife de encantos mil e certamente serei sua guia.
Beijos ...Adoro muito tudo isso!
(p.s.) estou sempre fazendo comentários e nunca deixo meu nome.
Alba, desculpas por não responder os comentários! Sinto falta disso, mas com a correria, não sobra tempo mesmo. Muitas vezes tenho que optar entre responder comentários ou escrever um post, porque o tempo que tenho pro blog é limitado. Sabe, eu tava acabando de ver um mapa do nordeste e já planejando minhas férias pra um dia desses (talvez já em julho do ano que vem?). Eu pegaria o carro com o maridão e iríamos visitar todas as cidades litorâneas ao leste do Ceará, de Natal até Aracaju, pelo menos. Deve ser uma delícia essa viagem. E aí lógico que pararemos no Recife, e vamos precisar de guias. Numa outra viagem, iríamos pro oeste, do Piauí até Belém, passando por São Luis. Acabei de ter uma discussão com o maridão porque ele disse que o Piauí não tem um litoral digno (claro que a gente desceria até Teresina, mas deve ter praias no norte). Ué, deve ter, não? Abração!
Lola,
'invadindo' seu comentário: e o Piauí tem a Serra da Capivara, absolutamente ma-ra-vi-lho-sa.
Lola, aqui tem tudo sobre esse soneto:
http://www.shakespeares-sonnets.com/55comm.htm
Parabens e abraços!
Ei Loléte, sobre o post, acho que vc é inteligente. Ponto. Mas deve também ter nascido com o fiofó pra lua! Por isso acha que se saiu mal, mas no fim é aprovada em primeiro lugar!!
Sobre a viagem nas próximas férias, aviso que no Norte tem praia sim! E disso falo com propriedade, porque moro em Floripa, mas sou de Belém do Pará! Ah, e pra lá tem muita praia de Rio, que é quentinha e não arde os olhos. Coisa mais linda. Agora, Loléte, imperdível no Norte é a Ilha do Marajó. Fia, se puder vai! Tu vais ver o que é coisa linda...
Beijo!
Lola, a musica da Barbra que vc citou eh a do filme Nosso Amor de Ontem? Se for, o nome dela eh the way we were, assim como o filme. Acho que eh a unica musica dela que eu gosto. Ou me vem a cabeca...
E seus olhos verdes sao um espetaculos mesmo.
Adoro ler essas suas peripécias acadêmicas, quase me convence a fazer literatura e largar história xD
GRANDE sacada, moça! (mas os olhos verdes facilitaram também né ;)
Abraço!
O blog tá é bom!
;D
Simplesmente deslumbrada!!!!
ADOREI, estou emocionada. Maravilha!!! podes contar comigo.
Beijos muitos.
Poxa Lola, nunca podia imaginar que a prova do mestrado tivesse sido tao complicado pra ti. Acho que pra nós (formados em letras ingles pela UFSC) a prova é um pouco mais fácil. São conteúdos que a gente decora de tanto ver transparencia repetida ao longo dos quatro anos. Mas a entrevista é assim mesmo. Na minha ficou aquela briga sobre como eu ia analisar os poemas, a metodologia em si, eu dizendo que ia ser uma analise subjetiva e que nao ia contar palavras, quantas vezes aparecia isto ou aquilo. Lêda e Apóstolo se perguntando como ia ser possível, e do outro lado O'Shea e ML endorsando que é assim que se faz em literatura. Eles discutiram mais entre eles do que comigo. Foi no mínimo interessante. auahuahuah
Ps - esqueci de comentar que os olhos verdinhos ajudam mesmo. Os meus pelo menos me ajudaram. Recomendo aos candidatos o uso de lentes de contado. kkk
Lola, eu estou muito curioso qanto ao trabalho e ao poema. Você não poderia dolocá-lo por aqui?
Ah, e o Piauí tem um litoral mais digno que o de Fortaleza(em termos de praia mesmo), mas de resto não tem muita riqueza não. Mas tem também o único delta das Américas(eu nunca fui), alé da já citada Serra da Capivara.
=*
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