Mas é aquilo de sempre: a crítica americana adorou o filme, provavelmente por ser do Peter Weir, de quem todo mundo gosta por causa de “A Testemunha”, “Sociedade dos Poetas Mortos” e “Truman Show”, isso só pra ficar na parte hollywoodiana da obra do australiano. Houve apenas um crítico que desdenhou de “Mestre” dizendo que a única coisa que faltava era a baleia branca, e mesmo isso foi proporcionado pela ampla cintura do Russell. Eu não achei “Mestre” tenebroso, mas, cá entre nós, qual o interesse em ver um navio atirando no outro? Será que esses homens de 1805 não tinham nada melhor pra fazer não? Pô, vão jogar videogame. As condições sanitárias e a comida dentro do barcão pareciam ser horríveis, e qual a vantagem de visitar o nordeste se nem se podia desfrutar da paisagem? Há uma leve indicação de que o turismo sexual já existia naquela época, a julgar pela única mulher do filme. Ela tem zero linha de diálogo, mas o Russell olha pra ela de jeito insinuante, o que deve ser a glória pra uma nativa cá do lado mais distante do mundo. Na verdade, o Russell tem mais afinidades com o médico à bordo, interpretado pelo Paul Bettany, o rapaz mais manipulador de “Dogville”. Há uma hora em que o doutor opera a si próprio usando um espelhinho, mas é preciso mais do que isso pra que eu admire alguém. O médico prefere a natureza à guerra, o que é compreensível, e ele pára nas Ilhas Galápagos pra coletar bichinhos. O filme nos faz crer que antes do Darwin já existia o Paul Bettany. Toda essa seqüência naturalista é bonita, mas não tem nada a ver com “Mestre”. Além do mais, tem um menininho que vive correndo atrás do médico com um besouro. Só tava esperando ele chegar com uma barata pro doutor jogá-lo aos tubarões. Mas não tive esse prazer. E quer saber? Não tive prazer nenhum em “Mestre”. O Russell tá inexpressivo, mais pra mastro que pra mestre dos mares; os personagens não são aprofundados, então eu não conseguia distinguir um do outro e não ligava pro que acontecia com eles. E tem o problema da linguagem náutica. Ó, se eu tiver que passar o resto da vida sem ouvir expressões como “Velas a bombordo!”, juro que não reclamo. “Mestre” definitivamente não é um filme pra mulheres sofisticadas e pacíficas como eu. Pior que guerra de barquinho, só de submarino mesmo. Aí não resta nem a paisagem pra ser destruída pelos másculos e potentes tiros de canhão.
domingo, 30 de novembro de 2003
CRÍTICA: MESTRE DOS MARES / O mastro do mar morto
Vendo “Mestre dos Mares”, cheguei à conclusão que, se as mulheres liderassem o planeta, não haveria guerras. Sério, guerra é uma coisa muito chata, tudo na base de símbolos fálicos, e ainda por cima mancha a roupa. E guerra no oceano, então, parece pior ainda. Esse épico aquático, que foi incrivelmente indicado a dez Oscars (o que diz bastante sobre a qualidade dos outros filmes do ano) e que tirou o de Fotografia das mãos de “Cidade de Deus”, é bem tedioso. Eu dormi em vários momentos. Ele fala de um capitão britânico, o Russell Crowe, lutando contra um navio da frota do Napoleão em plena costa brasileira. Aliás, não sei se você notou, mas o subtítulo do filme – “O Lado Mais Distante do Mundo” – deve ser uma referência a nós aqui embaixo do Equador. Se bem que o ritmo da aventura às vezes faz pensar que ela se passa no Mar Morto mesmo.
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