sexta-feira, 28 de novembro de 2003

CRÍTICA: EXTERMINADOR DO FUTURO 3 / Montanha vs. Lerdinha, o futuro exterminado

Menos de cinco minutos após a exibição, pedi ao maridão um comentário sobre “Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas”. Ele respondeu: “O filme tá se esvaindo da minha mente com uma rapidez impressionante. Era com o Schwarzenegger?”. E isso que ele gostou da aventura muito mais do que eu. Mas, antes de ser acusada de má vontade contra o arrasa-quarteirão da vez, queria revelar que sou enorme fã de “Exterminador” 1 e 2. O primeiro, de 1984, era de tirar o fôlego. E o de 91 era ainda melhor, com efeitos especiais revolucionários. Doze anos depois chega o número 3, mas sem o James Cameron, diretor dos outros dois, e sem a heroína Linda Hamilton. São desfalques consideráveis. Mas vou supor que você sofre de amnésia e não conhece a trama da série. Seguinte: as máquinas vão destruir quase toda a humanidade. Um homem, John Connor, comandará a resistência contra elas. Repare nas iniciais: John Connor, Jesus Cristo, sacou? No primeiro filme, um ciborgue é enviado do futuro pra matar a mãe do John. Neste caso o Schwarza é vilão. No segundo, um ciborgue avançadíssimo é enviado pra matar o John adolescente. O Schwarza faz um ciborgue ultrapassado mandado pra defender o John. E no terceiro? Ah, um ciborgue avançadíssimo, só que versão fêmea, uma ciborga, digamos assim, é enviada pra matar o John adulto. O Schwarza é mandado pra defender o John. O quê, você achou meio idêntico ao segundo?! Impressão sua...

Pra piorar, os roteiristas do terceiro ignoram a mensagem do segundo, que afirmava que não existe destino, que o destino é a gente que faz, essas coisas. Agora tem um bando de predestinados pra salvar o mundo, ó paciência. E lógico que, como esta é uma seqüência de uma seqüência, tudo deve ser maior e mais barulhento. Só que inúmeras partes são chatas. Lá pelo 15o poste que um caminhão gigante destrói, eu comecei a bocejar. Sei lá, o que dizer de um filme que consegue a maior vibração da platéia não por mérito próprio, mas por uma ousadia das legendas? Tem uma hora em que a Claire Danes (de “Romeu+Julieta”), após ser informada que no futuro será a honorável Sra. Connor, berra pra ele: “You’re a mess!”, algo como “Você é todo errado”. A legenda optou por “Você é um m****!”, o que gerou um grande ohhh do público. O outro grande ohhh ocorre quando um merchandising de lingerie faz a ciborga aumentar os seios. E o pessoal gostou de ver o Schwarza experimentando tipos de óculos escuros (mas eu gostaria de saber: existe algo na Terra menos sexy que o Schwarzenegger nu?).

Mais sobre a sopa de letrinhas, a montanha de músculos, o “modelo obsoleto” (palavras dele, não minhas), o astro que, dizem as más línguas, recebeu US$ 30 mi pra ser o exterminador mais uma vez. Aqui, o T-Rex tem mais chances de exibir seu sotaque austríaco que nos dois filmes anteriores juntos. Tadinho, pra um ator de sua envergadura, decorar tantas falas é cansativo. Deve ter sido por causa desse esforço extenuante que ele desistiu de se candidatar a governador da Califórnia. Temporariamente, claro. Seu sonho é governar o estado e, um dia, quem sabe, o mundo. Esta sim é a verdadeira ameaça apocalíptica pra ninguém colocar defeito.

O esqueleto ambulante que é a Claire me lembrou a Jamie Lee Curtis num dos filmes mais machistas de todos os tempos, “True Lies”. Seu personagem solta gritinhos histéricos a toda hora. Além de insuportável, ela é também um poço de virtude. Assim, ela chora pela morte do noivo, mas só um tiquinho que é pra não parar a ação. E só se interessa por outro quando seu pai lhe autoriza. Eu tava quase torcendo em voz alta: “Mata ela, Ciborga!”. Mas a ciborga é um tanto lerdinha e não inspira medo algum. Segundo o maridão, “Ela não é exatamente um modelo de inteligência avançada. É porque ela é loira?”. No fundo, no fundo, acho que o filme inteiro surgiu a partir de uma idéia central, que é: Ueba, vamos espancar uma moça de várias formas e enfiar sua cabeça numa privada! Aí bolaram o resto do roteiro em torno dessa premissa. Eu queria ver um só filme em que uma mulher durona não fosse chamada de “vadia”, geralmente pela outra mulher do filme (esses filmes costumam ter exatamente duas mulheres). Desse jeito, o futuro da humanidade soa bem sombrio mesmo.

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