Fui ver “Na Companhia do Medo”, um thriller paranormal muito do desonesto. Não porque busca sua inspiração em produtos melhores como “O Sexto Sentido”, mas porque abusa de truquinhos baratos pra nos assustar – e falha miseravelmente. Por exemplo, tem uma hora em que a protagonista segura a alça de um alçapão e a música de suspense vai aumentando e aumentando, e nada. Mas é mais apropriado eu contar um tiquinho da história pra você não ficar boiando. É assim: a bela Halle Berry é uma psicóloga numa prisão psiquiátrica. Ela é casada com o diretor da prisão, que logo nos primeiros minutos a manda jogar o conteúdo de um copo num espelho, e ela obedece sem pestanejar. Sei que tô sendo repetitiva, mas vale lembrar: esses dois são psicólogos. A Halle vai pra casa numa noite chuvosa e, no caminho, quase atropela uma menina cabeluda igualzinha à de “O Chamado”, só que loira. Quando vai ajudá-la, ela e a menina pegam fogo (não no sentido dos filmes pornôs). Nessa hora, ouvi um espectador falar pro outro: “Hã?!”. Também fiquei perplexa. Mas tudo que é ruim tende a piorar, e a Halle acorda no mesmo instituto onde trabalha, só que agora como paciente acusada de matar brutalmente o marido. A tal menina é uma fantasma que vai continuar aparecendo só pra ela, ou seja, a Halle vê dead people. Este deve ser o problema central da trama: pra que diachos serve a fantasminha? Por que ela bate tanto na Halle? Só porque a Halle deveria estar fazendo filmes mais nobres após levar o Oscar, ou há outros motivos? Por que a Pluft só surge quatro anos depois de morta? Por que ela não mata suas vítimas ela própria, ao invés de possuir (de novo, esqueça o pornô) a Halle? Por que eu tô cobrando coerência de um terrorzinho tão fajuto?
Mais ações inspiradas acontecem: um outro psicólogo, esse interpretado por um Robert Downey Jr. totalmente desperdiçado, faz uma pesquisa na internet e desvenda todo um mistério. O maridão comentou comigo, revoltado: “E eu que não consigo nem encontrar o resultado de um torneio de xadrez!”. Ah, mais legal ainda: o advogado da Halle diz que não vai alegar insanidade temporária da cliente porque o júri não iria acreditar. Hum, essa cliente jura estar possuída e leva surras homéricas de espíritos, mas não, o júri não acreditaria. Bom, finalmente “Medo” acabou e eu saí do cinema ao mesmo tempo em que saía o público de um outro filme em que o personagem principal também apanha horrores. Era “A Paixão de Cristo”, que segue lotando as salas.
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