Antes de falar do filme que fui ver, queria resposta a duas dúvidas cruéis: 1) quantas vezes terei de ver o trailer de “Senhor dos Anéis 3”? 2) De qual discurso pró-invasão do Bush tiraram as mensagens daquela gosma (“Não existe vitória sem sacrifício” etc)? Que horror. Abra os olhos pra propaganda militarista, que não quero mais mencionar o épico dos soníferos. Bom, não tenho coragem de dizer o que fui assistir. Digamos que, antes da sessão, travei o seguinte diálogo com o maridão. Eu: “É o tipo de filme que só vale a pena se a gente escrever uma crítica divertida sobre ele”. Ele: “A gente?! Meu nome não vai ser citado, vai?”. Adivinhou o filme? Sim, sim, é verdade, a que nível cheguei, ó Deus: “Acquaria”, aquele com Sandy e Júnior.Antes devo revelar a você o meu grau de relacionamento com a dupla: nenhum. Consegui escapar ilesa de todo o oba-oba e jamais, até esta data, tinha ouvido alguma música deles, ou visto novela com eles, ou comprado qualquer produto da grife deles (existe, né?). O que mais me lembro é de um adolescente aluno meu ter dito, há uns cinco anos, que a Sandy era a mulher mais linda do Brasil, e eu pensado: “Mulher?!”. E imagino que, já naquela época, algum garoto frustrado deve ter chamado o Júnior de boiolão. Só isso. Então é óbvio ululante que fui ver “Ack!Quaria” repleta de preconceitos. A boa notícia é que este não é, nem de longe, o 
pior filme que vi este ano. A má é que o maridão adorou a produção, mas não se preocupe, que já estou providenciando o divórcio.
Não só ele adorou, como também entendeu a trama confusa! Tenho até vergonha de admitir que não compreendi o enredo de um filme feito pro público infanto-juvenil, mas... Olha, tem algo a ver com o fim do mundo daqui a uns mil anos. Ninguém mais tem água e a civilização agora é um deserto. Num lugar que lembra o cenário de “Waterworld” sem água ou o de “Mad Max 3” sem o Mel Gibson vivem o Júnior, um outro rapaz aí, um menininho e um cachorro que rouba todas as cenas. A Sandy surge misteriosamente e parece a Lara Croft, versão bumerangue. Tudo vai bem até que o cão é desmaterializado (não pergunte). Na hora, comecei a gritar: “Desmaterializem o menino! Por favor!”. Mas o que realmente chamou minha atenção é que todo mundo é órfão. E eu pensei: pô, junta uma galera jovem sem a supervisão dos pais, lógico que vai rolar sexo, drogas e rock’n roll, certo? Nada disso! Eles tocam piano e comem peixe! Tudo bem, sei que a falta de banho pode ser um empecilho pra suruba, mas eles aparentam sempre estar tão limpinhos... A Sandy, por exemplo, já acorda maquiada. Ela pelo menos toma UM banho de vapor em sei lá quantos meses. O Júnior escapa.
Gostei da mensagem ecológica da história, que é mais ou menos esta: crianças, ó o que pode acontecer se a gente continuar desperdiçando água – só vai sobrar civilização tipo Sandy e Júnior e todo mundo vai virar francês. E não vai ser a Sandy a perpetuar a espécie, claro. Mas o filme tá bem feito, a fotografia e as locações são ótimas, e a dupla canta bem pouquinho e não dói muito (se bem que o cão, antes de ser despedido, uiva). Devo ter assistido à sessão com o cérebro em off. Vi nos créditos que tinha uma égua no filme: égua? Que égua?
O terrível veio depois, quando o maridão me perguntou: “Mas da piadinha dos Beatles você gostou, né?”. E eu: “Como? Que piadinha dos Beatles?”. Ele: “Aquela que eles mostram uma partitura com letras faltando, e tá escrito b-a-l-e”. Eu: “Putz, era pra ser Beatles? Eu pensei que fosse braile. Aí pensei melhor e concluí que era baile”. Ele: “Fico imaginando as reuniões que os roteiristas fizeram, um falando ‘Vamos colocar mais uma letrinha aí no caso de alguém mais lerdinho não entender’, e o outro dizendo: ‘Imagina, qualquer anta vai entender!’”. Nunca fui tão insultada em toda a minha vida.
Tirando as partes complicadíssimas da trama, o filme é assistível. Fica a minha torcida pra que Sandy e Júnior não se transformem em Chitãozinho e Xororó quando crescerem.
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