segunda-feira, 28 de novembro de 2005

CRÍTICA: JOHNNY E JUNE / Por trás de um grande homem...

Admito que fui ver “Johnny e June” receosa, na pontinha dos pés, sem muita vontade. É que ano passado detestei a cinebiografia do Ray Charles, e olha que gosto da música dele. Logo, não tinha interesse em saber tudo sobre vida e obra de dois ídolos do country que eu mal havia ouvido falar. Só fui por causa do Oscar, já que os dois atores principais, Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, levaram o Globo de Ouro e estão entre os favoritos pro Oscar. Mas sabe, “JJ” não é ruim. Consegue ser muito melhor que “Ray”, eu acho, ou ao menos eu me contorci menos na cadeira, o que pra mim é um critério respeitável: quando eu passo a me comportar como uma pipoca, é porque o filme tá me cansando. Isso acontece em “JJ”, mas só depois da metade.

Se você precisa saber, os meus rebolados na cadeira tiveram início quando a June canta a canção preferida da sua mãe. Mas antes preciso informar quem é essa gente. Ok, o Johnny Cash fez sucesso acentuando seu lado criminoso. Não é à toa que a melhor cena no filme ocorre no seu show na prisão. E a June era cantora country desde criancinha. Aqui, a cinebio termina quando June finalmente aceita se casar com Johhny. Depois disso eles viveram felizes para sempre por 35 anos, até que ambos bateram as botas de couro em 2003. Mas então, a música deles não ofende os ouvidos e a June é uma simpatia. O meu preconceito da vez é com o Sul dos Estados Unidos. Tá certo que jazz e blues nasceram ali, mas boa parte do pessoal de lá é racista, moralista, e hoje em dia, bushista. Uma crítica de cinema do norte dos EUA imaginou a reação dos fãs de “JJ” após o filme não ter sido indicado à categoria mais importante do Oscar: “A gente fomos roubado!” Por outro lado, é interessante como esses cantores todos se equilibravam entre cantar a música do demo e ainda ser religiosos.

Mas no fundo essas cinebios de ídolos da música são iguais. O sujeito começa humildemente, meio por acaso, daí faz sucesso, fica rico, passa a beber demais, a trair a mulher, usa drogas, quase morre, e é capaz de dar a volta por cima (a do Jerry Lee Lewis, “A Fera do Rock”, pelo menos tinha um outro enfoque: os escândalos gerados pela predileção do carinha em se casar com meninas de treze anos. Ele aparece em “JJ”, numa versão light se comparada à performance do Dennis Quaid). A gente já viu isso em “Ray”, um pouco em “Cazuza”, só pra ficar nos casos recentes. Nesse quesito, “Dois Filhos de Francisco” é diferente por não mostrar vício nenhum. Mas ajuda que os retratados não só ainda estejam vivíssimos como são produtores do filme, né? Como eu sou venenosa.

Justiça seja feita, Joaquin e Reese Colher estão super bem. Este é o melhor papel da Reese desde “Eleição”, e ela anima a história. A mídia fez um grande carnaval pelo fato dos dois atores cantarem de verdade. Como não conheço os intérpretes originais, não posso opinar sobre a autenticidade das vozes. Mas, sei lá, se algum dia fizerem uma cinebio do Chico Buarque, eu gostaria de ouvir a voz dele. Voltando à “JJ”, o Robert Patrick (o ciborgue de “Exterminador do Futuro 2”), que faz o pai do Joaquin, parece sofrer de uma doença degenerativa ao contrário: a cada cena, ele rejuvenesce. Quando o Johhny tem doze anos o Robert é um ancião. Aos trinta e poucos o Johnny aparenta ser irmão mais velho do Robert. Muito estranho.

O James Mangold (de “Garota Interrompida” e “Kate & Leopoldo”) dirige um filme convencional, que cansa depois de um tempinho. E ele capricha no clichê de que por trás de um grande homem existe uma grande mulher. O problema é que o Johnny não lembra muito um grande homem. Parece só um carinha sem futuro, perdidaço, se não fosse o intrometimento de uma grande mulher na vida dele. Ou seja, a história da humanidade.

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