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Num país onde de cinco em cinco anos se esquece o que aconteceu nos últimos cinco anos, é vital que uma superprodução nos faça recordar. O massacre dos 111 presos ocorreu em 92, e até hoje não houve punição. Se em São Paulo já deve ter muita gente que descartou este episódio desagradável da memória, imagina no resto do país. Duvido que os adolescentes tenham ouvido falar nisso. Bom, eu me lembro. Na época, eu ainda vivia em Sampa. Lembro da TV mostrando flashes ao vivo da rebelião. Lembro do desespero dos familiares em frente à cadeia. Lembro das fotos dos mortos no dia seguinte na capa dos jornais. Montes e montes de homens enfileirados nus. Lembro que me fixei nos detalhes, de ter observado que havia tarjas cobrindo os pênis no “Estadão” mas não na “Folha”. Lembro também que essa chacina me chocou menos que uma outra de poucos anos antes, quando um delegado trancou pilhas de presidiários num cubículo sem ventilação para castigá-los, e vários morreram. Essas coisas.
Na década de 80, eu estive no Carandiru. Não como detenta, que eu ainda era inocente naqueles tempos, mas para entrevistar presidiárias para uma reportagem pro jornalzinho da escol
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Por que tenho boas lembranças delas? Porque as vi. Qualquer filme que mostra o cotidiano do preso é pró-preso e contra o sistema. Qualquer um, inclusive os americanos. E a razão é óbvia: ao enfocar um criminoso, o humanizamos. Ele deixa de ser um monstro e passa a ser uma pessoa com um passado. E, no fundo, não queremos saber nada dessa gentalha. Queremos jogar essa escória num depósito bem longe e esquecê-la. A maior parte da população é a favor da pena de morte. Logo depois do massacre, uma pesquisa entre os paulistanos revelou que a maioria apoiava a ação da tropa de choque e não via nada de mais em liquidar uns marginais. Não é à toa que Gil e Caetano puseram em sua obra-prima: “Ao ouvir o silêncio sorridente de SP diante da chacina / 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos / ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres”. “Haiti” não está na trilha sonora de “Carandiru” e faz falta. A música de André Abujamra é boa, mas, pra mim, “Haiti” é indissociável da chacina.
Talvez, se a música estivesse presente, o público teria se concentrado mais
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