segunda-feira, 29 de novembro de 2004

CRÍTICA: TRÓIA / Em Roma, faça como os troianos

Sabe, eu até gostei de “Tróia”, o novo filme de 200 milhões de dólares da semana. Ele é bonitinho, cheio de ação, e nem me pôs pra dormir no meio de uma das suas 5,437 batalhas. Mas de empolgante, empolgante mesmo, só quando aparece o bumbum do Brad Pitt. De todo modo, o mais legal da história é constatar quanto a gente sabe, ainda que de relance, sobre mitologia grega. Por exemplo, o filme é baseado no poema épico de Homero, “Ilíada”, cujo principal destaque é o guerreiro Aquiles. Pois o maridão me confidenciou no final da exibição: “Eu ficava pensando em alguém falando, o segredo do Aquiles tá no cabelo. Aí me lembrei que não era o cabelo. E não era o Aquiles”. Já a minha queixa é mais prosaica. Já que é o Brad que faz o Aquiles, por que se fixar nessas coisas antigas como o calcanhar do sujeito? Não podia ser o, sei lá, berimbau de Aquiles? Por que Hollywood não ousa mais nas suas superproduções?

Outro ponto que todo mundo conhece é o cavalo de Tróia, mas sua aparição no filme é anti-climática. Nem achei o eqüino muito bem-feito. Aliás, o negócio é o maior elefante branco no meio da sala, não dá pra entender porque os troianos insistiram em abrir os portões da cidade pra abrigar aquela monstruosidade. Ou melhor, dá. Os gregos eram ligadões nos seus deuses, que regiam tudo que acontecia na vida deles. Mas o filme deixa os deuses totalmente de lado pra se concentrar nas lutas. Entra a ação, sai a motivação. Fica um pouco superficial. E é claro que eu sabia que, na briga entre o Brad e o Eric Bana, Aquiles ia ganhar. Como eu sabia? Ué, alguém já ouviu falar num Heitor? E a escrava-amante do Aquiles chama-se Briseida, um nome que graças aos deuses não pegou na civilização ocidental.

“Tróia” rendeu altas conversas-cabeça entre eu e o maridão. Em uma delas, eu perguntei: “Sabe a coisa mais inteligente que os troianos fazem?”. Ele: “Quando eles gritam ‘Recuar! Recuar!’?”. Eu: “Não, quando eles atiram as flechas de fogo no chão e depois mandam as bolas de feno. Mas quer dizer que você seria um covarde de marca maior numa guerra?”. Ele: “Dos grandes. Desses pra entrar pra história”. E sentimos falta de maiores informações no fim do filme, quando ele simplesmente acaba. A nossa aposta foi que o público tava indo direto pra internet pra saber mais sobre esses incríveis fatos ocorridos 1200 anos antes de nascer o protagonista do filme do Mel Gibson. Afinal, tudo que a gente sabe a gente aprende no cinema.


TUDO QUE VOCÊ JAMAIS QUIS SABER SOBRE MITOLOGIA GREGA MAS A LOLINHA DECIDIU CONTAR DO MESMO JEITO

Fiz uma rápida pesquisa em alguns sites e enciclopédias e descobri toda a verdade sobre esses personagens que a gente vê no filme. Quer dizer, a verdade vindo de uma mitologia que narra que um dos poucos troianos a desaconselhar trazerem o famoso cavalo pra dentro de Tróia é morto por um monstro saído do mar. Eu contei isso pro maridão, e ele: “Ah, se foi isso que aconteceu, tudo bem”. Mas a mitologia grega tá tão cheia de adultérios, assassinatos e vinganças que é sempre instigante. Quase tanto quanto o Velho Testamento. Então lá vai:

- Agamênon, o vilão do filme por ser rei da Grécia e desafeto de Aquiles, é personagem de várias tragédias. Foi ele quem sacrificou sua filha Ifigênia para acalmar os mares na ida dos navios a Tróia. Quando voltou da guerra, foi assassinado pela esposa Clitemnestra (um nome quase pior que Briseida). Sua morte foi vingada por seus filhos Orestes e Electra. Tem uma trilogia inteira do Ésquilo falando disso. O Complexo de Electra, versão feminina do de Édipo, é referência a Agamênon e Electra.

- Heitor e Páris, príncipes de Tróia, foram apenas os dois filhos mais famosos entre os cinqüenta (é, eu disse 50) que Príamo teve. Príamo, interpretado pelo eterno “Lawrence da Arábia” Peter O’Toole, foi o último rei de Tróia.

- Aquiles é filho da deusa Tétis com um mortal. Uma profecia disse a Tétis que seu rebento seria um grande guerreiro mas, como nem tudo é perfeito, morreria em combate. Pra tentar quebrar essa tendência, Tétis banhou o bebezinho Aquiles num rio, mas o segurou pelo calcanhar, que, como não foi molhado, tornou-se o seu, bem, calcanhar-de-Aquiles.

- Páris foi outro que teve uma infância difícil. Foi abandonado ao nascer porque uma profecia dizia que ele seria responsável pela ruína de Tróia (bingo), e criado por pastores. Mais tarde Afrodite lhe prometeu o amor de Helena, e o rapaz, provavelmente influenciado por esta promessa, aproveitou uma missão de paz a Esparta e pumba, pegou a mulher do rei.

- Helena é a única filha mulher de Zeus e uma mortal, e a mortal é justamente Leda, aquela que Zeus disfarçado de ganso seduz ou estupra, dependendo da versão. Desde bem pequena, Helena passa a ser considerada a mulher mais linda da Terra. Tem quem jure que Helena foi raptada por Páris, não ido a Tróia de livre e espontânea vontade. Mas outras fontes contam que ela e Páris levaram uma fortuna do marido ao deixar Esparta, então... Mesmo assim, ao contrário do que mostra o filme, seu marido Menelau não morre em Tróia. Ele recupera Helena, a perdoa e a leva de volta pra Esparta, onde vivem felizes para sempre (tá, essa última parte eu inventei).

- Olha só como as celebridades já ficavam entre si naquela época. Foi o único filho de Aquiles quem mata Príamo, o rei de Tróia. Pouco depois ele se casa com a única filha de Helena e Menelau. E aproveita também pra se casar, ao mesmo tempo, com a viúva de Heitor, ó vida. Se os deuses podiam, por que não os reles mortais?

4 comentários:

Anônimo disse...

Lola você já assistiu "Helena de Tróia"? É recente, foi produzido para a TV americana, também sobre a guerra. Não tem grandes estrelas. A Helena é interpretada pela Sienna Guillory.
O filme é beeeem melhor que Tróia, porque volta mais no tempo, contando alguns destes "fatos" da mitologia grega que antecedem e embasam a história. Não chega a ser uma obra de arte, mas é um bocado melhor do que tróia.

lola aronovich disse...

Opa, desculpa, Leo, só vi o seu comentário hoje! Não, não vi essa série. Ouvi falar que é boa.

Koppe disse...

E tudo isso por causa de uma maçã dourada. Éris não é fácil...

estela_ disse...

Há muitas variações. Na Iliada de Homero por exemplo, Aquiles é filho de Tétis com Zeus e não com um mortal. Nunca assisti ao filme, mas como passei um semestre inteeeiro ouvindo falar disso na mina aula de clássicos, farei um esforço.