Semana passada o ministro mais nefasto e poderoso do pior governo de todos os tempos deu outra declaração preconceituosa. Criticou o Fies (que permite estudantes com renda familiar de um a três salário mínimos a financiarem mensalidades em universidades particulares) e manifestou todo seu pensamento elitista ao lamentar que o filho do porteiro tirou zero nas provas e mesmo assim ganhou bolsa.
Além do preconceito de classe, Guedes dá mais uma mostra de sua ignorância. Primeiro que ninguém tira zero e ganha bolsa. Segundo que nem se trata de bolsa, mas de financiamento. Depois de formado, o estudante deve devolver (sem juros) o que foi investido nele.
A declaração do banqueiro Guedes indignou muitos universitários que vieram de pais pobres e que, nos governos do PT, foram os primeiros de suas famílias a cursarem uma faculdade. Publico aqui o relato de Rodrigo Almeida, que hoje faz especialização em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e mestrado em Geografia pela Universidade do Estado do RN (UERN). E é filho de porteiro.
Meu pai, ex-porteiro, atualmente servente de pedreiro e a minha mãe, dona de casa, sabem como agarrei as oportunidades que foram sendo apresentadas a mim durante os governos anteriores. Desde 2010, quando participei do PIBIC-Jr na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA/RN), soube da importância de estar em uma Instituição de Ensino Superior (IES). Todos aqueles espaços da instituição me encantavam com aprendizados múltiplos e instigantes de saberes diversos.
Nesse período acordava na mesma hora que meu pai chegava do trabalho como porteiro. Ele fazia questão de me acompanhar até o portão da instituição. Isso me fazia querer cada vez mais estar ali. Logo após esse período, ingressei na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) pelo curso de Licenciatura em Geografia no campus Mossoró. Ter que trabalhar pela manhã e durante tarde, estudar a noite, aproveitar a madrugada e os fins de semana para complementar o conhecimento fizeram parte dessa construção como cidadão consciente do lugar onde estou e onde quero chegar.
Mesmo sem tempo, fiz questão de participar em projetos e programas institucionais na universidade. Agarrei todas as oportunidades para estudar. Nunca me imaginei com um diploma, mesmo sabendo que iria alcançá-lo, mas quando eu consegui e vi que tudo aquilo era real, isso me fez acessar outros espaços da universidade.
Hoje estou vinculado ao curso de Especialização em Geografia do Semiárido e Educação Ambiental no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e também me encontro cursando Mestrado Acadêmico em Geografia na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), tendo como trabalho dissertativo os deslocamentos diários dos estudantes para cursar o ensino superior na cidade de Mossoró, RN.
Essa característica se dá pela cidade ter diversas IES em sua tessitura urbana, sendo elas públicas (estadual e federal) e privadas, que foram contempladas com uma gama de programas e projetos que fizeram milhares de pessoas como eu estarem nos bancos das universidades: pobres, pretos, periféricos, filhos de donas de casas, faxineiras, pedreiros, porteiros, auxiliares de serviços gerais e todos aqueles que dão sustento à elite do atraso brasileira.
Guedes, o seu projeto de atraso não irá nos tirar do lugar que conquistamos durante anos. Vocês não irão mais arrancar nossos olhos, cortar nossos corpos, matar nossos irmãos, roubar nossas conquistas e nos ver calados, sem antes ter que nos enfrentar e lutar contra todos aqueles que nos criaram e nos deram asas.
Não, não quero voltar de onde saí, ministro. O meu lugar foi conquistado e não será de mim retirado! Faço um agradecimento especial aos meus pais (Maria Vanuza e Manoel Almeida). Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff a minha eterna gratidão.
5 comentários:
ótima postagem. É por isso que lutamos, por esperança e boas perspectivas. Parabéns Rodrigo, persista nos seus sonhos ;)
O relato de Rodrigo é de muito esforço e perseverança para ingressar em uma universidade, conciliar trabalho com estudos e ainda continuar a busca pelo conhecimento, existem muitos Rodrigos, Lucianas, Marcelos, Julianas, alguns nomes comuns em filhos de porteiros, faxineiras, pedreiros, gente batalhadora, trabalhadora e que só pode muitas vezes dar estudo aos filhos ou ao filho (a) , pois alguns optam por ter apenas um filho para ter melhores condições para uma alimentação saudável, lazer. Parabéns Rodrigo Almeida por ser perseverante! Quanto ao sinistro da economia? Esperar o que de quem trabalhou para Pinochet quando jovem e sabia de todas as atrocidades? O pior.
Que história bonita Rodrigo, que você sempre encontre êxito em seu caminho. Parabéns!
Lindo relato!Me identifiquei muito. Meus pais são trabalhadores braçais e sou uma das poucas da família a cursar uma faculdade, e única a estudar em uma federal.
E pensar que não é só a elite que pensa como Pauno Guedes. Tem muita gente da classes pobre e média baixa que tem o mesmo tipo de pensamento. Triste.
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