quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

POR QUE NINGUÉM COMBATEU O ATIRADOR NO MASSACRE DE MONTREAL?

Um carinha chamado M. H. Murray fez uma thread curta em inglês na semana passada. Teve grande repercussão, e tomei a liberdade de traduzi-la. Vocês sabem de qual massacre ele está falando? Volto no final pra dizer. 

30 anos atrás, um homem entrou numa universidade em Montreal e matou 14 mulheres no que ele chamou de "uma guerra contra o feminismo". Ele entrou numa sala de aula e mandou os estudantes homens pra fora para que ele pudesse matar as mulheres. Em vez de se juntarem e combater o atirador, todos os homens saíram.
É fácil criticar quando você não está no cenário, mas... de acordo com os registros, nessa aula havia aproximadamente 50 homens (incluindo o professor) e só 9 mulheres. CINQUENTA. E nenhum desses homens decidiu lutar por aquelas mulheres.
Ainda que o massacre aponte para os perigos da misoginia, ele também fala da passividade geral da nossa cultura, da vida urbana... Há um sentido de "desde que não seja eu" que permite que humanos não tenham empatia nos momentos em que mais precisamos dela.
Num mundo em que as pessoas podem tirar vidas com um toque do dedo, não é suficiente só cuidar de si mesmo. Somos uma COMUNIDADE de humanos e se não conseguimos nos juntar e lutar uns pelos outros em momentos como esses... então quem somos nós?
As vítimas do massacre
Minhas menções estão cheias de gente (na maioria homens) interpretando de forma completamente errada o ponto deste tópico, ou me acusando de inventar essa história. Tudo que eu disse você encontra facilmente no Google. Isso não é sobre culpar homens. É sobre empatia. Pare de ser deliberadamente obtuso.
Também há muita gente me acusando de só tuitar sobre isso pra ganhar pontos com as moças... desculpe desapontá-los, mas eu sou gay. 

Lola aqui: 
Para quem não sabe, Murray está falando do massacre de Montreal, que agora completa três décadas, em que Marc Lepine, indignado por não ser capaz de ser aceito numa faculdade de engenharia, decidiu matar alunas mulheres que "roubaram" a vaga dele (notem que o sentimento de "merecimento": ele achava que a vaga era dele). 
Há um filme bastante bom sobre o massacre. Chama-se Polytechnique e é dirigido pelo conceituado Dennis Villeneuve (veja o trailer aqui; as fotos em preto e branco que ilustram este post são do filme). Assim como há um filme instigante (22 de Julho) sobre o maior massacre da história da Noruega, também realizado por um mascu nazista. 
Quanto ao comentário de Murray, 
não é verdade que o assassino disse que iria matar as mulheres ao expulsar os homens da sala. Se ele tivesse dito, será que as 60 pessoas presentes teriam tentado agir coletivamente para evitar o massacre?
Homenagem às vítimas
Pra mim, o mais chocante deste massacre (um dos primeiros do tipo misógino) não foi que os homens deixaram a sala sem lutar, mas que mesmo um país progressista como o Canadá levou anos para classificar a carnificina como um crime de ódio, não como um "incidente" ou uma "tragédia". Lepine gritava "Odeio feministas!" enquanto atirava nas alunas. O que mais alguém precisa fazer pra ser acusado de cometer um crime de ódio contra mulheres?

7 comentários:

Anônimo disse...

https://www.buzzfeed.com/br/tatianafarah/vereador-xinga-colega-de-judeu-filho-da-puta-na-camara-de

Alan Alriga disse...

Na época da escola uns 15 anos atrás a minha professora de história deu uma aula sobre esse caso, ela explicou o do porque nenhum homem lutou contra o atirador, segundo ela em casos de perigo extremo onde um certo grupo pode fugir sem precisar lutar contra a ameaça, todos do grupo sempre iram escolher fugir; mas caso algum indivíduo do grupo tente convencer o grupo a lutar contra a ameaça maior, o grupo quase sempre irá se virar contra esse indivíduo pois ele será visto como uma ameaça menor, e será atacado pelo grupo pois ele coloca o grupo em risco.
Também segundo ela esse comportamento só muda com treinamento exemplos: polícia, bombeiros, forças militares, etc... ou com forte apelo emocional, exemplo: aquela mulher que salvou o motorista do caminhão enquanto muitos homens somente gravavam ou olhavam a cena, mas sem ninguém ir ajuda la, outra forma de ir contra isso ou até ainda mais a favor disso é a criação de cada indivíduo, ou seja alguém que foi criado para ser forte e corajoso irá em alguns casos tentar ajudar, mas alguém que foi criado para ser pacifista ou delicado em quase todos os casos, sempre irá escolher fugir em vez de lutar mesmo que não haja chance de fuga, o indivíduo irá escolher ficar imóvel e implorar pela vida em vez de lutar mesmo sabendo que irar morrer.

Isso ela aprendeu com um professor de psicologia na época da faculdade.

titia disse...

Tem que questionar mesmo, porque os machistas adoram usar essa merda de "ser protetor", "cuidar das mulheres" como desculpa pra oprimir e limitar. Se dizem os protetores mas na hora do vamo ver não fazem porra nenhuma por ninguém.

Anônimo disse...

gente, o cara estava ARMADO. Não se pode exigir que os demais homens presentes agissem como heróis e arriscassem a própria vida pelas colegas de sala. Não são a mãe, esposa, irmã ou filha deles. Não é ninguém que eles amem. De modo algum desejaram a morte das colegas. Mas pedir que eles reagissem diante de um cara armado, sem ter tido sequer a chance de planejar uma ação conjunta com os demais. Sério, é ridículo vocês colocarem a culpa no machismo.
Eu mesma, não sendo nenhuma pessoa querida, certamente sairia da sala. Lamentaria muito, mas sairia. Tenho marido, mãe, pai, irmãos e cachorro e não iria querer eles sentindo minha falta aqui, por ter me arriscado por estranhos.

Alícia

Anônimo disse...

Queria ver se fossem vcs, se iriam arriscar a pele pra salvar um homem... Querem igualdade, mas não são e não fazem questão de proceder de forma igual. Assim é fácil ser feminista!

Lola Aronovich disse...

Tipo a vendedora Leliane, mascutroll, que resgatou um motorista de caminhão que se envolveu no acidente com o helicóptero onde estava o Boechat?
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/02/12/artista-desenha-mulher-que-ajudou-a-tirar-motorista-apos-acidente-com-helicoptero-de-boechat-super-heroina.ghtml

Ou a Heley, a professora que deu a sua vida para salvar crianças de morrerem queimadas numa escola em MG?
https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2019/01/lembra-da-professora-que-ajudou-salvar-criancas-na-tragedia-da-creche-de-janauba-mg-rodovia-recebe-o-nome-dela.html

Há inúmeros exemplos de mulheres salvando pessoas.
Mas sabe o que quase todos os casos têm em comum? Quem comete os massacres é homem. O que as mulheres querem não é que homens se sacrifiquem pra salvar mulheres. É apenas que homens deixem de nos matar (e de matar crianças e outros homens tb).
Não é tão difícil de entender -- mesmo com a sua inteligência limitada.

Felipe Roberto Martins disse...

Fiquei pensando na leitura, como Canadá e EUA lidam contra c/ os crimes relacionados à mulher - especificamente?

Também nunca vi mulheres envolvidas em massacres, como a "cabeça da ação".