Sabe quando você quer escrever um post desde cedo mas as notícias não param de chegar? E pior, é uma mais surreal que a outra? E isso num período bem morto, a poucos dias do Natal?
Pois é. É assim que estou me sentindo. Bom, em primeiro lugar há o escândalo que envolve Flávio Bolsonaro. Nenhuma grande novidade, embora seja sempre assustador o montante do que está em jogo -- ainda mais pruma famiglia que jurava não ser corrupta.
Segundo o Ministério Público, Flavio Bolso, que hoje é senador e portanto está blindado, enquanto deputado estadual comandava uma organização criminosa que roubava os cofres públicos através de um esquema conhecido como rachadinha. Foram anos de esquema, entre 2007 e 2018, dedicados "à prática de dinheiro público e lavagem de dinheiro". Flávio contratou dezenas de funcionários fantasmas que repassavam a maior parte de seus salários pro Queiroz, que repassava a grana pro chefe.
Mas Flávio nega o enriquecimento ilícito, claro.
Ele diz não ser sua culpa ser tão habilidoso em investir em imóveis e franquias. Só que, ao contrário de outras lojas de chocolate, que têm o maior faturamento na páscoa, na Kopenhagen do Flavio quando entrava mais dinheiro era no período do pagamento do décimo-terceiro dos servidores da Alerj. Bem quando os salários são mais polpudos!
Um dos muitos nomes suspeitos de estarem ligados ao esquema Flavio/Queiroz é o sargento da PM Diego Ambrósio, que ontem deu uma entrevista inacreditável pra Época. Na entrevista exclusiva, recheada de machismo (o "jovem soldado de cabelo preto" diz que recusou trabalhar no gabinete do jovem deputado pois "estava bem em Copacabana, não ia sair de perto das minhas namoradas", e assegura que Flavio "me restituiu porque, meu irmão, não dou dinheiro para homem. Dou até para mulher, mas para homem não dou", e um lapso: "meu bico com o Flávio era pessoal"), ele tenta explicar como pagou um boleto de R$ 16,5 mil em espécie ao amigo, e se foi restituído.
Ele acha que foi reembolsado, mas não lembra direito -- afinal, faz muito tempo (três anos),
e também, não era um grande valor, né? Troquinho de panetone da Kopenhagen! (hoje um mascutroll veio defender o sargento da PM, que na época ganhava 4 mil reais mensais, e disse que eu, professora universitária, ganhava mais que desembargadora. Minha meta na vida passa a ser "emprestar" R$ 16,5 mil em cash para uma amiga e não me lembrar se ela devolveu o dinheiro).
Bolsominions nunca vão se cansar de ter bandido de estimação? Olha que pra defender Flávio, Queiroz, seu Jair, Dudu, Carlos e tantos outros reaças é preciso um enorme empenho.
Papai Bolso não está nada feliz com o ressurgimento do escândalo que envolve (muito mais que) seu primogênito. Hoje de manhã, naquelas coletivas de sempre em frente ao Palácio da Alvorada, com direito à claque, o milicano-mór comparou seu filho Flavio com Neymar (outro conhecido pela ética e sabedoria) e justificou ele ganhar muito mais dinheiro na loja de chocolate que o sócio porque ele "é o jogador mais importante" (é porque ele me-re-ceu!).
Mas lógico que não foi só isso que Bolso falou. Ele também disse a um jornalista: "Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual” (isso na mesma semana em que uma lésbica bolsonarista que sempre negou que homofobia existisse disse ter sido vítima de um crime homofóbico).
Outra resposta de Bolso à imprensa foi: “Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai”. E por aí foi. Típico de um estadista, né?
Lembram de quando a Dilma era pintada como desequilibrada? Nesse quesito de descontrole emocional, ela chega à unha do dedo mindinho de seu Jair?
Hoje tivemos que ouvir talvez a frase do ano: "Não tivemos nenhum escândalo de corrupção no governo", alegou Sérgio Moro, sinistro da Justiça do governo, insuspeito pra falar.
Só que depois lemos outra frase bombástica, esta vindo de André Mendonça, sinistro-chefe da Advocacia-Geral da União, explicando as declarações histéricas de seu chefe: Bolsonaro é um "homem íntegro e que sem dúvidas respeita a imprensa". Sim, sim, sem dúvidas.
Mas isso foi ainda pela manhã. Foi um dia longo.
Em entrevista à revista Veja que sai agora no final de semana, Bolso tentou te antecipar a uma nova bomba, desta vez gravações da polícia que o envolvem diretamente com -- que surpresa! -- milicianos: "Tem vários diálogos falando que no passado eu participava das milícias, pegava dinheiro das milícias, e agora, presidente, não participo mais -- um papo de vagabundo". O presidente miliciano culpa seu ex-aliado, o governador Wilson Witzel, de tentar incriminá-lo com olho nas eleições de 2022.
Parece que na mesma entrevista à Veja, Bolso sugeriu que seu ex-ministro Bebianno estava envolvido no atentado de Adélio Bispo para matá-lo. Ué, não era obra do Psol e do PT, da Manu, do Jean, minha? Bebi já avisou que vai processar o presidente: "É um louco que coloca o Brasil em situação de extremo risco". Definitivamente acabou o amor.
E hoje Bebianno, o ex-secretário-geral da presidência, disse em entrevista a Jovem Klan que uma pessoa próxima a Bolso tentou sequestrar o colunista Lauro Jardim, do Globo. Assim, como quem não quer nada, sabe? Se isso for verdade, por que a Globo abafou o caso? Não é notícia relevante algum aliado do presidente colocar um jornalista à força num carro?
Bom saber que vivemos num país democrático em clima de total normalidade.
4 comentários:
Fala sobre a controvérsia com a J K Rowling
Acho que a Globo tem medo do Bozo e militares, sendo que a propria Globo como o resto da elite Brasileira quer reformas Neoliberais.
Eu definitivamente não consigo mais acompanhar a política brasileira… Leio sempre seu blog, Lola, mas não tenho mais comentado tanto porque 1) a política brasileira me desanima e afeta a minha sanidade; 2) não consigo mais acompanhar a quantidade de escândalos e de nomes públicos envolvidos em escândalos. É uma pornochanchada esse governo!
I love the post!
Arquiteto em Vidro Blindado, Sao Paulo - SP
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