segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O HINO FEMINISTA QUE TOMOU O MUNDO

Linda arte de Cris Vector

A primeira performance da canção "Un violador en tu camino" (um estuprador em seu caminho) foi no dia 25 de novembro, em Valparaíso, no Chile. A data não foi escolhida por acaso: 25 de novembro marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. 
Foi uma invenção de um coletivo feminista, Las Tesis, para denunciar as dezenas de estupros cometidos por policiais contra manifestantes chilenas. As quatro moças do pequeno coletivo formado há pouco mais de um ano têm a intenção de, com a música, "desmistificar a violência como um problema pessoal" e recordar que, no Chile, só 8% dos casos de estupro acabam com algum tipo de condenação do estuprador.
O protesto tomou o mundo. A performance, em formato de flashmob (marca-se um local e data e as pessoas aparecem lá, sem hierarquia; há um pequeno ensaio antes e pronto, a mulherada começa) já correu boa parte da América Latina, inclusive com versão mapuche, foi feita em alguns países europeus, na Índia, e foi reprimido na Turquia (sete feministas foram detidas e podem pegar 2 anos de prisão!).
Semana passada teve no Rio e em SP. A performance em Porto Alegre no sábado foi espetacular. No final, elas incluíram um toque bem brasileiro: "Marielle, presente, o assassino dela é amigo do presidente! O estuprador és tu!"
Não há nada de errado em acrescentar palavras mais afeitas a cada localidade. As argentinas, por exemplo, modificaram a letra para incluir apoio ao aborto legal. 
A letra atende a pauta feminista de lutar pelas mulheres contra a violência de gênero, principalmente contra o estupro e o feminicídio. Num trecho, a música diz "E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia". Em outro, "O patriarcado é um juiz que nos castiga por nascer. E nosso castigo é a violência que você não vê". A letra detalhe quem são esses estupradores que compõe o patriarcado: os policiais, os juízes, o Estado, o presidente. 
O refrão, poderosíssimo, é "O estuprador era você. O estuprador é você", seguido por um grito de guerra que pede para ser cantado a plenos pulmões: "O Estado opressor é um macho estuprador".
A venda nos olhos é para marcar a cegueira da sociedade e da Justiça, que finge não ver os inúmeros casos de violência contra as mulheres em todo o mundo. E também para mais uma vez denunciar a ação criminosa da polícia chilena, que atira balas de borracha nos olhos dos manifestante e já cegou centenas de pessoas. 
Parabéns às chilenas por este belo hino, e a todas as mulheres e meninas que estão espalhando a luta pelo planeta. 
Reproduzo aqui a thread da ativista Sabrina Aquino, brasileira que mora no Chile: 
Sexta o Chile completou 50 dias mobilizado. Depois de uma semana duríssima de muita repressão, dezenas de denúncias de violência política sexual exercidas pela polícia, 352 olhos mutilados, e muitos apontando somente "vandalismo e destruição", o FEMINISMO dá um golpe.
Fomos nós, as feministas, que conseguimos internacionalizar a luta com participação massiva, e não somente com símbolos e desenhos caricaturescos que clamam por "salvadores" diante do rechaço absoluto da política de forma geral. A convocatória feminista deu outra cara às mobilizações.
Unimos mulheres mapuches, mulheres com PcD [deficiência], mulheres da terceira idade, mulheres imigrantes, crianças e estudantes... E o poder transformador do feminismo com toda a sua criatividade desarticulou o discurso criminalizador em direção aos movimentos sociais!
Gerou uma onda de pertencimento, de grito de liberdade, e que foi se apropriando e transformando as estratégias tradicionais como forma de protesto/ mobilização (normalmente associadas ao masculino), que dão um respiro, principalmente a Valparaíso, tão castigada nos últimos dias.
E daqui do outro lado da Cordilheira vos digo: eu, uma brasileira radicada no Chile, que participa ativamente dos movimentos sociais feminista, agradeço IMENSAMENTE minhas compatriotas brasileiras por também se somarem e dar sua versão. Muchas Gracias!
Com uma nova linha de frente, internacionalista, gritamos que as trabalhadoras do mundo estão unidas na luta e nunca mais irão escrever a história sem nós!
Obrigada às minhas compatriotas pela SOLIDARIEDADE POLÍTICA em reproduzir "un violador en tu camino" em português. No Chile necessitamos apoio internacional para denunciar as violações SISTEMÁTICAS de Direitos Humanos. Reproduzir a performática é espalhar a denúncia! 
Homem, vista sua carapuça

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