quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

OLHE PARA AS MARQUISES

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que fala que não é situação nem oposição ao desgoverno, deu uma entrevista dizendo que Bolsonaro não sustentará e não terá chance de reeleição se as "pessoas voltarem às ruas porque não têm teto para morar". 
Esta fala levou muita gente a perguntar: em que país a senadora mora? 
Todo mundo no Brasil sabe que o número de pessoas que moram na rua explodiu nos últimos anos. São famílias inteiras, em todas as cidades médias e grandes do país, inclusive (ou principalmente?) aquelas consideradas mais ricas. 
Reproduzo aqui este lindo texto de Alessandro Bender, que se define como pesquisador do comportamento humano, tendências e arte. Ele escreveu o artigo antes da declaração da senadora.

As marquises são um excelente lugar para ficar quando está chovendo. São amplas, altas e geram um espaço ótimo para proteção.
As pessoas em situação de rua descobriram isto faz tempo.
O termo Pessoas em Situação de Rua merece um pouco de atenção. Muita gente que conheço não tem ideia da quantidade de pessoas nesta situação. Acham que é o "mendigo", aquele personagem maltrapilho e fedido, que não fala coisa com coisa, inoportuno, bêbado e pedinte. (óbvio que estou apresentando o personagem que muita gente cria na cabeça, não é assim que enxergo de maneira nenhuma).
Num levantamento de uns dez anos atrás a quantidade de crianças que moraria nas ruas era de aproximadamente três mil.
Do ponto de vista estatístico é um número relativamente baixo, pensando na extensão da cidade e do volume de habitantes. Projetos de acolhida, conselho tutelar e agentes sociais poderiam atuar para minimizar intensamente este número, e provavelmente o fazem. 
Isto sem contar com as ONGs tão odiadas pela extrema direita (pois roubariam dinheiro público etc etc), que são numerosas e atuam de maneira direta no problema.
Por que então a quantidade de crianças parece menor? Além do fato de chamarem mais a atenção do que "mendigos", que já foram absorvidos pela paisagem urbana e não nos sensibilizam mais, o fato é que existem muito mais crianças em "Situação de Rua" do que as que moram nas ruas.
São crianças que "têm moradia", precária mas têm. Moram em cortiços, em comunidades, em malocas. Elas ficam pela rua muitas vezes para ajudar os pais (entenda-se Mãe, pois o pai sempre some, assunto para outro artigo) a melhorarem a renda da família. Outras vezes são levadas por "mães de rua" para pedirem dinheiro nos faróis, um tipo de exploração de crianças muito comum.
As "pessoas em situação de rua" seguem o mesmo raciocínio. Muita gente tem emprego, subemprego e até moradia, mas o dinheiro não dá para ir e voltar para casa todo dia. Afinal de contas eles moram longe, e o custo do transporte é alto.
Fui exemplificar meu raciocínio para a Pretha, uma pessoa que trabalha comigo lá no centro de SP. Saí do trabalho para entregar uns lanches para o pessoal que estava dormindo debaixo de uma marquise na Avenida São Luis. Ela quis ir junto e ver a cena.
Quando descemos fui na direção de um grupo de pessoas que já conhecia. Quando chegamos o olhar da Pretha era de espanto, afinal de contas ela esperava um grupo de pessoas sujas e mal vestidas. E aquelas pessoas que estavam tentando dormir na marquise estavam todas bem vestidas, cabelo penteado, de cara limpa e barbeados. Três deles são pizzaiolos que trabalham na região e não conseguem voltar para casa todos os dias. Dois deles cabeleireiros.
Quando estiver passando de carro, ar condicionado ligado e vidros fechados, ande mais devagar com o carro, olhe estas pessoas. Não precisa descer do carro e abraçar, como Jesus fala que deveríamos de fazer.
Na fila da sopa, que é entregue por grupos religiosos, vai ver gente saindo do trabalho, ou levando sopa para parentes, pois não tem dinheiro para complementar a janta.
No Bom Prato (comida popular vendida por 2 reais pelo governo em alguns pontos da cidade) vai ver muitos trabalhadores que levam suas marmitas e completam com a comida do local, pois o que tem na marmita é pouco.
Saber que existem estas pessoas, e que não são a escória da sociedade é o primeiro passo para ter uma dimensão maior do que é o Brasil hoje, e em qual condições estamos.

4 comentários:

Felipe Roberto Martins disse...

Pessoas em situação de vulnerabilidade = colheita da corrupção profunda em nosso país que atravessa/ atravessou os séculos.

Anônimo disse...

Todo mundo sabia que o Guedes não desmancharia os bancos brasileiros para acabar com o sistema de reserva fracionária, e que também teria a intenção de pagar nossa "dívida" (majoritariamente interna), e não cobrar a dívida não-oficial dos bancos para conosco.
A maioria sabia que sua estratégia para tal seria manter os impostos nos dois primeiros anos, sem reduções grandes, e desvalorizar o real até os 5 reais ou algo próximo. Assim, pagando menos aos bancos em valor real (em ouro, dólar ou o que quiserem usar de parâmetro para comparação). A manobra do Guedes é para se pagar menos dinheiro aos nossos bancos e saldar a dívida ou trocá-la por algo com juros bem menores.

Os esquerdistas costumavam ficar dando chilique quando falávamos que uma moeda fraca é um mau negócio. Eles ficavam forçando que precisávamos de uma moeda mais fraca para subsidiar a "Indústria Nacional". Sempre demonstrei que um Real forte historicamente fortalece a nossa indústria, por sermos muito dependentes de maquinário de fora e que essa macaquice com imposto de importação e desvalorização da moeda apenas favorece os grandes exportadores.
Agora a coisa se inverteu, e os esquerdistas passaram a defender o fortalecimento da nossa moeda, só porque "tudo o que o Bolsonaro faz está errado e deve ser defendido o seu contrário".

Anônimo disse...

De qualquer modo, essa escalada do Dólar ante ao Real ocorreu por forças externas. Enquanto o Trump fica dizendo que nós é que estamos desvalorizando nossa moeda, é em parte ele quem causou as instabilidades internacionais para ganhar poder de barganha para os EUA (algo nobre para um chefe de estado). E, principalmente, foi o FED, a contragosto do Trump, que aumentou os juros do nada, mesmo com tanta gente buscando a segurança dos EUA e o Dólar já se valorizando, mesmo com a inflação com alta por aquecimento da economia, porém forçada para baixo pela valorização da moeda. Ao meu ver, o principal culpado do Real, entre tantas outras moedas, ter se desvalorizado foi o FED. Dos nossos culpados internos, foi nosso Legislativo e Judiciário, que ficaram fazendo merda o ano inteiro. Se estivessem dispostos a trabalhar desde o começo do ano, sem ficar fazendo maracutaia para ganhar poder, estaríamos dentro de uma bolha enorme de otimismo. Mas o Legislativo desperdiçou essa chance, e o Judiciário deu continuidade às suas merdas. Por exemplo, a Reforma da Previdência podia ter passado no início do ano se o Centrão realmente quisesse. Podia ter passado ano passado ou ano retrasado, na verdade. Mas, este ano, preferiram a intriga e ganho de poder.

O Guedes apenas deixou a moeda baixar. Suponho que não teve que mover um dedo para influenciar isso. Em outros tempos, teriam ficado fazendo malabarismos no BC para valorizar artificialmente a moeda.

Anônimo disse...

a) Lola imbecil e quem chama a praga do Bolsonaro de mito