SIM, SEU VOTO ME PÕE EM RISCO

Terceira vítima fatal de eleitores bolsonaristas: na última sexta, 19 de outubro, morreu Laysa Fortuna, cabeleireira e mulher trans. 

Ela foi esfaqueada em Aracaju, Sergipe, por um morador de rua que, segundo testemunhas, gritava: "Quando Bolsonaro ganhar, vocês se preparem porque vou andar armado e todas vão morrer".

A primeira vítima foi Moa do Katendê, assassinado em Salvador no início de outubro, num bar, após uma discussão sobre política. 

O assassino, que voltou pra sua casa para pegar uma faca e deu doze facadas em Moa (ferindo também um sobrinho de Moa que tentou interferir), mudou sua versão e disse que a motivação não foi política. Mas todas as testemunhas confirmam que foi. O inquérito da polícia concluiu que foi.

No dia 16 de outubro, houve a segunda vítima, uma travesti chamada Priscila, esfaqueada até à morte em SP, aos gritos de Bolsonaro.

Segundo um levantamento do site Opera Mundi, já são 120 casos de violência política. Ontem um ato no Sindicato dos Jornalistas de SP falava em oito mortes já. E, lembrando mais uma vez: isso que o Coisa Ruim ainda não ganhou. Imagine se ganhar. Imagine que lindo quando as armas forem liberadas. Se os caras já matam na maior com facas, serão muito mais eficientes com armas de fogo. 

E o que Bolso fez quando começaram a surgir os casos de violência de seus seguidores? Primeiro, falou que não tinha nada a ver com isso. Que não tinha como controlá-los. Depois que essa declaração pegou mal (afinal, o candidato diz que vai acabar com a criminalidade no país e não é capaz nem de acabar com a criminalidade entre seus seguidores?), ele disse que não queria esses eleitores. 

Agora, no domingo, em comício na Av. Paulista, Bolso discursou em vídeo para milhares de militantes: "Vamos varrer do mapa os bandidos vermelhos do Brasil. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia". Em outro discurso, ele já havia prometido acabar com o ativismo.

Vejamos... um discurso desses incentiva ou desestimula seus eleitores a cometerem atos de violência contra adversários?

É aquele negócio que estudos nos EUA mostraram já na época da candidatura Trump: só ter um candidato desses já aumenta os casos de agressões na internet, de bullying nas escolas, de ódio em geral. Porque o sujeito vê um candidato a presidente proferir um discurso violento contra mulheres, negros, LGBTs, e constata que o candidato não apenas não é punido, como também avança nas pesquisas, e esse sujeito pensa: ah, se meu candidato pode falar tudo isso e se safar, eu também posso. 

É muita hipocrisia. Ao mesmo tempo que Bolso (e Trump) fala em "pacificar o país", em "buscar a união", em acabar com o "coitadismo" (negros, gays, mulheres, nordestinos que exigem serem tratados com respeito estão se fazendo de coitados, disse o fascista), ele promete "varrer do mapa" quem não pensa como ele. 

Óbvio que os eleitores de Bolso, cada vez mais violentos, cada vez mais sentindo o gostinho da impunidade, negam ser violentos. 

Eles insistem que as três mortes não tiveram motivação política, porque os envolvidos são uma mulher trans, uma travesti, um morador de rua, dois negros num bar. Pros seguidores de Bolso, essa gente não pode ter ideologia política, pois está no seu habitat natural (bar, rua), um cenário de crime e depravação, em que eles se matam uns aos outros por qualquer motivo. Como costumam dizer os neonazistas misóginos que me atacam há sete anos (todos eleitores entusiasmados de Bolso), "nada de valor foi perdido".

Enquanto isso, Patricia Campos Mello, a jornalista da Folha que fez a reportagem sobre o Caixa 2 de Bolso está sendo tão ameaçada (e atacada: hackearam seu whatsapp e mandaram mensagens pró-Bolso para os contatos dela) que o jornal teve que pedir proteção policial para ela e outros jornalistas. Mas isso não importa porque bolsonaristas já decidiram que Patrícia é "petralha", sendo assim não gente, uma "bandida vermelha" que Bolso quer prender ou exilar. 

Ou isso ou ela está mentindo. Bolsominions estão em festa hoje porque um dos ataques denunciados (o da jovem em Porto Alegre que teve cortes em forma de suástica feitos em sua pele) era falso, provavelmente uma automutilação. Para os eleitores de Bolso, todos os 120 casos registrados são mentiras do PT, já que eles, obviamente, são uns anjinhos budistas super contra a violência (as ameaças e xingamentos que vemos nas redes devem ser de petistas tentando se passar por bolsonaristas.

Eu sei bem como é. Conheço essa tática. Venho recebendo ameaças e ataques há muitos anos, e sempre que as denuncio, vem um monte de misógino dizer que estou mentindo, ou que eu mesma me ameaço ou ameaço o meu marido ou minha mãe. Às vezes, imediatamente depois de eu receber uma ameaça de estupro, aparece outra mensagem dizendo que sou uma mentirosa, porque nenhum homem iria querer me estuprar (como eu já disse, o "você não merece ser estuprada" anda de mãos dadas com o "você merece ser estuprada"). 

Tipo, a ameaça e o desmentido da ameaça vem do mesmo cara! É surreal, mas reaças definitivamente não trabalham com a verdade.

Não tenho nenhuma esperança de fazer com que fascistas reflitam e se deem conta de como eleger o candidato do ódio me põe em risco, assim como põe em risco a vida de milhares de ativistas, mulheres, gays, lésbicas, negros, Moas, Priscilas e Laysas. Mas pra quem está indeciso, pra quem pensa em anular o voto, pra quem tem familiares que podem ser alvos da violência insana dos bolsonaristas, pense: #SeuVotoMePõeEmRisco. No próximo domingo, diga Ele Não, Ele Nunca. Vote no Haddad 13. Obrigada.