Apareceram vários ótimos comentários num post recente em que respondo à dúvida de um jovem leitor que sempre sonhou em ser professor, mas que está cursando Direito, pensando unicamente no salário.
Alguns comentários construtivos:
"Meu pai é professor de química doutor em educação, professor universitário. Podia ter escolhido qualquer outra profissão que remunerasse melhor, pois sempre foi um homem com inteligência acima da média. Mas a riqueza dele é a paixão pela docência, cada vez que encontra com os alunos na rua elogiando o seu trabalho, o seu reconhecimento dentro da academia e até o amor pela instituição de ensino em que trabalha. É isso que faz ele hoje, com 70 anos, levantar da cama com prazer e trabalhar 9, 10 horas diárias. Quer ser mais rico que isso pra quê?" (Anônimo)
"Amei esse post! Mas acho que tenho uma opinião diferente da maioria.
Eu sempre tive aptidão e amava as matérias de humanas na escola, já ganhei prêmio de destaque, tive redações publicadas, etc. Na época do vestibular eu estava completamente perdida e fiz prova para entrar em 5 cursos diferentes hahaha. Acabei passando em todos e escolhi entrar para a faculdade que tivesse mais qualidade técnica, infraestrutura e docentes. Era uma faculdade de Engenharia.
Hoje sou muito feliz nela! Não vou dizer que é fácil (até porque essa não é a área em que tenho mais facilidade), mas gosto do ambiente, das pessoas e do conhecimento que obtenho aqui. Estou no meu segundo estágio na engenharia e gosto muito do que faço. O mercado é amplo e tem muita coisa diferente para fazer. E eu acho que o mercado todo é assim: tendo criatividade, é possível encontrar o seu lugar em qualquer área de conhecimento e ganhar dinheiro também.
Acho que tudo depende muito da sua personalidade, da sua capacidade de adaptação... Não te conheço, não sei nada sobre a sua história de vida, mas acho que se você é bom como professor e acha que só vai ser feliz se for professor, vá em frente! O sucesso profissional é muito mais que muito dinheiro na conta no fim do mês. Mas se você acha que se adaptaria a outro mercado porque precisa do dinheiro, não descarte essa possibilidade." (Melissa)
"Sou professora com orgulho. E nem falo em universidade. Dou aula na educação básica/infantil há apenas sete anos e recebo líquido mais de 5 mil. Não tive nenhuma progressão e este é o básico 40 horas nível superior com pós. Boa sorte!" (Anônima)
"Eu sou formada em pedagogia pela Usp e tenho pós graduação em Educação Infantil. Sou professora de bebês e pelo meu trabalho de 20 horas recebo 2 mil reais por mês, aqui em São Paulo. Amo meu trabalho e sou apaixonada pelos meus bebês, mas definitivamente se faz uma escolha por uma vida dura e sem reconhecimento quando se escolhe essa profissão, sobretudo quando a faixa que se escolhe é a menos vista pela sociedade, como o trabalho com bebês.
Enquanto professora, posso deixar meu relato de que vale muito a pena essa profissão. Há uma recompensa interna muito grande de se estar fazendo o que acredita e por, todos os dias, construir um país melhor, já que desde a primeira infância conceitos como racismo e gênero, entre outros, devem e podem ser tratados para termos uma sociedade menos preconceituosa.
Trabalhar com isso traz muito orgulho e é o que faz com que muitos professores continuem nesse caminho tão árduo e necessário que é o da educação.
Eu recomendo a você, M., que tente, porque ok, precisamos de salários melhores, mas o ser humano também precisa ser feliz na sua profissão.
Entre nessa luta por melhor salário, condições de trabalho e reconhecimento com a gente.
Porque esse é um trabalho que não é fácil, mas que enche a gente de orgulho no fim do dia, e no fim das contas é isso que importa." (Sônia)
"Sou professora da Rede Pública Municipal aqui no Rio de Janeiro. Tenho mestrado e ganho em torno de R$ 1900 por 16 horas de trabalho semanais. Estou no Doutorado em História e optei por ter bolsa ao invés de aumentar a minha carga horária.
Entretanto, não é um trabalho que eu recomende para ninguém e quero sair do ensino básico o mais rápido possível. Trabalho com a faixa etária de 11 a 15 anos, e os alunos não respeitam de jeito nenhum porque sabem que vão passar de qualquer jeito mesmo.
A escola em que trabalho não tem sala de vídeo, nem laboratório de informática, mas o que mais me deixa chateada é a falta de interesse dos alunos. A maioria prefere que você falte e não fica feliz com a sua presença, mesmo que você se esforce ao máximo para atendê-los e para preparar aulas menos monótonas. Além disso, as salas têm em torno de 35 a 40 alunos.
Não dá para competir. Já estou há 5 anos e sinto que estou perdendo a voz, mesmo trabalhando com carga horária reduzida. Na minha escola tem duas professoras de licença por problemas psiquiátricos; além disso, uma inspetora e uma secretária tiveram síndrome do pânico e um inspetor pediu transferência depois de ser ameaçado por um aluno.
Espero não ter pintado um quadro muito desanimador, mas no momento me sinto completamente desestimulada, doida para acabar o doutorado logo e poder tentar uma vaga no Ensino Superior. Mesmo que fosse para ganhar menos do que ganho atualmente juntando a bolsa com o meu salário. Ia pedir licença para me dedicar ao doutorado esse ano, mas meu marido perdeu o emprego e eu fiquei sem muitas opções. Mas assim que ele arrumar um emprego melhor, vou pedir licença e acho que nem volto. Vou me dedicar ao doutorado e ver se arrumo outro emprego." (Nayara)
"Dica: a rede de Institutos Federais de Educação Tecnológica (IFs) paga o mesmo que as universidades federais, mas tem vagas também para docência voltada ao ensino médio.
E são escolas com toda a estrutura de apoio com profissionais de pedagogia, psicologia e saúde, o que permite aos professores concentrar-se no seu trabalho -- e praticamente zerar as 'histórias de horror' como a narrada pelo ex-aluno de Lola." (Patrick)
"Oi M.! Eu nunca tive experiência como professora, mas sou advogada (tudo dando certo: em breve, defensora pública), amo a área (advocacia para vulneráveis, e por isso a escolha por este cargo, e não por estabilidade), e te falo para ir atrás do seu sonho. Quanto ao caso que a Lola contou, só quem está fora da área (e falando do que não tem noção) podia te falar que o novo professor está trocando 18 mil reais por menos.
Muitos advogados ganham bem mesmo, mas todos que conheço que ganham de 6 ou 7 pra cima trabalharam muito, muito mesmo, e isso depois de anos. Claro que estou excluindo quem já tinha família na área (que também tem seu mérito, pois manter não é fácil). A advocacia privada envolve muitos talentos além da profissão em si, como capacidade de ser empresário.
Se vc quiser estudar para um concurso que pague isso (mais de 15 mil), também te garanto que do jeito como é hoje vc ficará no mínimo, mas no mínimo mesmo, uns 3 anos se preparando (talvez uns dois, como já vi um caso apenas).
Enfim, o que quero dizer é que esse papo de que Direito é bom, que vc pode fazer isso ou aquilo, é bom para quem gosta da área, como eu, que encontrei uma possibilidade de atuação que amo.
E olha, hoje a defensoria no meu estado está pagando muito bem, mas mesmo que fosse como há alguns anos, que ganhava menos que o motorista da Justiça Federal, eu estaria estudando muito da mesma forma. O prazer no trabalho não tem preço!
Vai ser feliz na biologia e não um frustrado no Direito!" (PP)
9 comentários:
Legal.
O comentário da Priscila no post foi muito crítico Lola. Penso que tbm deveria ter sido destacado junto a estes. Reconheço que a pergunta do moço foi direcionada a carreira no ensino superior, mas Priscila fez uma análise ampliada sobre o professor em um espaço onde precisa ser discutido, o ensino básico, a escola pública, pra quem se faz educação e como se faz.
Quem se forma em direito também pode ser professor depois que se formar, não é só quem faz licenciatura que pod ser professor. Quem se forma em direito, medicina, etc. tbm pode lecionar e seguir carreira nessa área.
Pra mim o comentário que melhor ilustra a realidade do professor que não é universitário (professor de faculdade" é o da Nayara.
É tudo muito relativo. Meu namorado trabalha há três anos como professor de português e espanhol para alunos de ensino fundamental e médio e não troca a profissão por nada, apesar de reconhecer como verdade alguns poréns como os exemplificados pela Nayara. Tira líquido uns 5 mil por mês tranquilamente ainda nem tendo concluído sua primeira pós graduação lato sensu, mas isso tendo uns 4 empregos se não me engano, uns que pagam melhor e outros pior.
Eu acho que tudo tem sim de ser pesado na escolha por uma profissão, e remuneração deve sim ser algo a ser considerado, bem como como está o mercado da profissão na região em que se pretende trabalhar, mas ao meu ver é essencial gosto/interesse pelo que se faz. Definitivamente não aconselho alguém a escolher uma profissão sem o mínimo de afinidade, levando em conta apenas remuneração e mercado de trabalho. Sou enfermeira e o que já vi de médicos novatos infelizes na profissão, que fizeram a faculdade por status, dinheiro, escolha da família e etc, não está no gibi.
Mônica
Sou professora de biologia e o meu salário não chega nem a 800 reais sou contratada do Estado do Maranhão e tenho pós. Ganho o mesmo que a zeladora ou a merendeira. Aqui falta de tudo tem dias que nem o giz tem. Mas a minha paixão é dar aula de biologia.
Fico triste pelo descaso, mas dou aulas com tanta emoção que até o pior aluno gosta das aulas. E para minha surpresa 3 alunas fizeram vestibular para biologia e passaram para a Universidade Estadual do Maranhão, das 3 uma era a excluída aluna rebelde e me falou: professora eu me apaixonei pela biologia desde que falou do cavalo marinho seus olhos brilhavam ao explicar aquele tipo de reprodução e decidi que quero essa paixão pra mim.
Hoje as vejo bem decididas e contentes com o curso.
Vejo alunos meus de ciências ainda no fundamental também decididos a serem professores.
O que faz a profissão não é o salário é o valor que você dar a ela. O salário é ridículo, escolas depredadas, colegas de trabalho desanimados, alunos mais desinteressados ainda, mas eu não me sentiria bem fazendo outra coisa.
Passei em 3 concursos, mas foi na sala de aula que me encontrei. Não é bom e nem é fácil é sô para quem ama porque quem apenas gosta termina desgostando .
Esse post era pra não incentivar ninguém a ser professor, né? rs
Ai, não tinha comentado no post original, mas achei MUITO mimimi não querer ser professor porque "não se ganha bem".
Povo precisa circular mais no mercado de trabalho!
Jac,realmente não ser professor só pelo salário não deveria ser um agravante. Eu também trabalhei em empresas e ganhava menos do que em sala de aula. O problema é que adoeci, ensino público no nível básico tem uma insalubridade absurda. Muita violência, falta de estrutura, gestão nada pedagógica. Eu estou perdida, sinceramente não sei muito como mudar minha realidade. Estou deprimida e mal consigo ler um artigo para tentar avançar para um mestrado. Eu sinto que fiz uma escolha ruim.
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