sábado, 18 de abril de 2009

6) VIAGEM AO SUL DO SUL: EU AMO O URUGUAI

Por do sol em Montevidéu.

Semana passada uma leitora perguntou se minha viagem ao sul do Sul, em 2003, havia rendido crônicas sobre o Uruguai. Pois então, aqui estão. (Leia as partes 1, 2, 3, 4 e 5 antes, pra depois tentar copiar o roteiro. Recomendo uma viagem assim, sem destino, pra todo o mundo!).

NO CHORES POR MI, UR
UGUAI

Já falei que o Uruguai é lindo? É. Montevidéu é a cidade mais arborizada que conheço, tem mar e praias, tem uma praça a cada esquina e as pessoas dançam tango na rua à noite. Imagina, uma multidão cerca os dançarinos, que de profissionais não têm nada – são apenas casais velhinhos mandando ver no tango –, e, no final, todo mundo aplaude. Convidei o maridão pra dançar em público, pra que a gente pudesse dar aos espectadores um espetáculo de verdade (mesmo que cômico), mas ele respondeu que não gostaria de ser expulso do país.
Que o Uruguai já esteve melhor é um fato incontestável. Este nosso vizinho sul-americano também passa pela pior crise de sua história, tal qual a Argentina. Como o Uruguai só está bem quando Brasil e Argentina estão bem, você pode imaginar que o país vive em crise permanente. As coisas andam caras pra eles. Um real valia sete pesos em janeiro [2003], e num supermercado não se encontrava nada por menos de dez pesos. Um sabonete custa 15, um jornal, quase 30. E mesmo o turismo, a maior indústria uruguaia (o minúsculo país recebe mais turistas que todo o Brasil), está sofrendo um bocado. Quando estivemos em Montevidéu há três anos [2000], pagamos uma diária de 50 dólares num bom hotel. Desta vez, o mesmo hotel nos cobrou 20 dólares, e ainda nos deu um quarto mais luxuoso.
Agora há mais mendigos nas ruas e há muito desemprego, o que leva boa parte dos jovens a emigrar. Apesar da simpatia inegável da população, o Uruguai hoje é um país triste. Pra se ter uma idéia, uma revista de humor de lá chamada "Tio Jorge" tem o seguinte slogan: "La revista para los que todavia no se fueron" (a revista pros que ainda não foram embora). A imagem que guardei da viagem pra Montevidéu é bem nítida. É a de um velhinho solitário tocando violino numa calçada, com um chapéu no chão. O mais melancólico é que ele tocava ao lado de um estacionamento barulhento, então não dava pra ouvir uma só nota. Sinceramente, eu e o maridão ficamos com lágrimas nos olhos.

ÚLTIMA CRÔNICA URUGUAIA
A coisa mais barata que tinha no Uruguai era um cachorro-quente que eles chamavam de pancho, e não o universal hot-dog. O pancho custava 5 pesos, ou menos de um real, e você pode imaginar que eu e o maridão comemos inúmeros desses. Eles cobravam à parte por ingredientes como choclo (milho) e jamon (presunto). Até aí tudo bem. Mas e quando lemos numa placa a palavra panceta? A balconista explicou que era uma parte do porco. E a gente: "Ah, bacon! Em português se diz bacon". Confesso que me senti um pouco estúpida dizendo que bacon era português. Mas é, né? Tipo hot-dog e milk-shake.
Ahn, já falei sobre minhas dificuldades com o espanhol e ainda falta um monte de texto pra preencher. O que fazer? Ah, sim! Vou falar de quando eu e o maridão tentamos retornar ao Brasil sem gasolina. Sabe como é, a gasolina anda caríssima... Brincadeira! Não tentamos voltar sem gasolina. Foi o marcador do nosso carro que deu problema. Ele anunciava que ainda tínhamos um quarto de tanque, mas, pelo jeito, o carro estava sequinho. E foi parando, parando, até que parou bem no meio do nada, a uns 40 km da fronteira brasileira, em pleno feriado uruguaio. No momento em que o carro parou, o maridão saiu preocupadíssimo, quase histérico, e a primeira coisa que eu consegui balbuciar foi "Ih, já vi que não vamos ter sexo hoje!", o que me rendeu um olhar de intenso desprezo. Mas agora entra a moral da história. O primeiro carro que passou pela gente parou, pra você ver como são os uruguaios. Era um grupo de camelôs que estava indo até Jaguarão pra comprar mercadorias brasileiras e revendê-las em Treinta y Tres. Eles pegaram uma corda numa casinha distante, amarraram o nosso carrinho e nos rebocaram até o posto de gasolina mais próximo, a uns 30 km. Depois o maridão comentou: "Foi por causa do adesivo do Lula no nosso carro que eles pararam". Mas não, os uruguaios são assim mesmo. Acho que eles nos ajudariam até se tivéssemos um adesivo do presidente deles, o terrível Battle.

Update de 2009: Isso faz seis anos, é bom lembrar. Na época, o pessoal de Montevidéu andava revoltado porque o resto do país insistia em eleger os mesmos políticos, blancos ou colorados, sempre de direita, que governaram o Uruguai durante quase 170 anos. Isso mudou em 2004, quando a população elegeu - influenciada pela vitória de Lula -, pela primeira vez em sua história, Tabaré Vázquez, de centro-esquerda. Não sei como está sendo avaliado seu governo, mas espero ir ao Uruguai em janeiro pra conferir. Sei apenas que Vázquez pisou na bola vetando uma lei que descriminalizaria o aborto. Mas espero, de coração, que nossos hermanos estejam melhor agora. Além de queridos, eles adoram o Brasil!

9 comentários:

Débora disse...

Hum, doce de leite uruguaio... (Homer Simpson mode on)

Gabriela Robert disse...

O jeito que tu fala do teu marido é hilario ehuaehuah :P vejo mto do meu relacionamento no teu, mas ainda fazemos sexo aqui em casa ehuaeuahheuah não sei até onde isso que tu fala é real ehauehuahe :P good luck with that :P =)

moro em bage! acegua fica a 68km mais ou menos, vamos la comprar LAYS!!! melhor batata, melhor que pringles... e encomendas pra familia, que aumenta quando sabem que acegua é perto e tem free shop! o.O

Bjocas!

Alessandra disse...

Lola, o Tabaré já esteve melhor nas pesquisas de opiniao aqui no Uruguai mas, mesmo tendo caído um pouco nos últimos meses, ainda é bem avaliado. Tanto é assim que o partido dele (Frente Amplio) tem chances de emplacar o próximo presidente na eleicao do ano que vem.
E qto ao cenário geral que vc pegou aqui em 2002 ou 2003, foi justamente o ponto alto da pior crise da economia uruguaia, qdo quase 10% (300 mil pessoas aproximadamente) da populacao do país emigrou.
Agora as coisas estao melhores, e os velhinhos continuam dancando tango na avenida 18 de julho.
:)

L. Archilla disse...

puxa, q legal descobrir q o uruguai não é uma rua de cassinos. (ou será q agora é?) enfim... só o fato do Galeano ter vindo de lá já me traz uma grande simpatia pelo País.

e qto à falta de gasolina... faz parte dessas divertidíssimas viagens de baixo orçamento. o engraçado é q a lei de murphy funciona direitinho nessas horas: o carro NUNCA pára em frente a um mecânico, sempre no meio do nada e em domingo ou feriado.

(http://acordeiquesonhava.blogspot.com/2008/10/acampamento-parte-ii-rebimboca-da.html)

Danda disse...

Lola, já pensou em ser agente de viagem? Sua crônica fez ficar com uma vontade muito grande de conhecer o uruguai! Fora a Débora que lembrou do delicioso doce de leite uruguaio, que eu acho ainda melhor que o argentino. Acho que os dois só ganham do mexicano... Vc tb gosta ou a fissura é só por chocolate mesmo?
Fiquei tão triste ontem porque escrevi um comentário para seu post mas sumiu...

Alfredo disse...

É verdade que no Uruguai o casamento gay é legalizado? Amei a foto do carro na árvore. Pensou se o maridao fizesse isso?

Anônimo disse...

Oi Lola,
morei no Brasil dois anos com uma emigrada do uruguai e aprendi a amar o pais, pq ela é uma das minhas melhores amigas hoje e ela sempre me contou triste como todos os seus amigos emigraram...e que ela acha q o Brasil é otimo pq ainda temos chances de crescer, ela é otimista (ou mal informada).
Ahhh panceta não é bacon, é a gordura da bochecha do porco (e é com a panceta e com ovos que se faz o tradicional macarrão à carborara e não com toucinho e creme de leite).
Sempre bom o seu blog.
Bjs, Carol

Giovanni Gouveia disse...

Lola, Panceta é a barriga do porco, que, defumada, vira o tal bacon. Engraçado que minha Mulé que ensinou esse termo, que antes eu nunca tinha ouvido nem falar... Acho que em português é toucinho / toicinho


Lola, qual a diferença de choclo e Maíz? São apenas sinônimos, ou há alguma especificidade?

Anônimo disse...

Oiiii que legal você gostar do meu país...
As vezes fico triste ao encontrar como referencias de paises com tanta similaridade, Uruguai e Argentina, mas só se faz referencia à Argentina.
É que nosotros temos também tango que por certo é rioplatense e não só deles. Não questiono Gardel, que era francês e morou tempos em Uruguai e na Argentina, e que o tango " La Cumparsita" é nosso, escrito por Mattos Rodriguez, el mismo que criou el himno nacional uruguaio.
Lo que acontece es que Argentino, onde vai, gosta de aparecer, nós gostamos mais da discrição.
Já experimentou dançar Candombe no bairro Sur, esse sim é bem Uruguaio, ou já tem argentino por ai falando que é deles?
Abraços grandes meus e de minha esposa brasileira, Marcia.
gabriel gomez