quarta-feira, 26 de março de 2008

UM MENININHO PERDIDO E UM CASAL IDEM

Outro dia encontrei um menininho perdido no meu prédio quando cheguei em casa. Ele tinha passado da primeira porta (a que deixa o frio pra fora) e estava no lobby, sem saber o que fazer. Perguntou-me por qual porta eu iria entrar. É que tem duas, mas ambas dão mais ou menos pro mesmo lugar. Eu disse que qualquer uma tava bom, e qual ele queria. Subimos, e eu quis saber o que ele tava fazendo sozinho. Confuso, o lindinho me contou que tava esperando a avó dele, que já tava pra chegar. Então tá. Entrei no meu apê, ainda preocupada, e falei pro maridão que havia um menino desorientado lá fora. O maridão não parece, mas ele tem coração. E imediatamente se preocupou também. Decidi sair dois minutos depois, pra ver se a vó tinha chegado, e lá estava o menininho, aos prantos, tadinho. Agora, essa é uma situação complicada. Aqui não é o Brasil. Aqui é um país em que acusações de abuso sexual pululam. Eu já li que, se você é homem, e tá num elevador, sozinho, e entra uma criança, você deve sair, pra evitar problemas. É um absurdo, eu sei, mas vivendo aqui, a gente começa a pegar os traumas deles. E tem a questão racial. O menininho em questão era negro, mulato, sei lá. O maridão é branco, com toques rosados, e eu me considero meio amarela. No Brasil eu nunca, jamais, de forma alguma, consideraria a cor do guri. Mas nos EUA a segregação é enorme, e a gente acaba pensando nisso sem querer. Passou pela minha cabeça: e se eu convido o menino pra ficar em casa enquanto a avó não chega, e ela não gosta porque a gente é branca e amarela com degradês rosas? Outros pensamentos passaram pela minha cabeça. A mais séria foi: e um menino vai fazer exatamente o quê lá em casa? Poucas casas no mundo, imagino, têm tão pouca coisa pra criança como a nossa. Nada de brinquedos. Neca de revistinha em quadrinhos. Tem uma TV usada não muito colorida, mas o que uma criança assiste às 7 da noite? Bom, decidimos tentar localizar a avó dele. Primeiro fomos com ele até o porão, onde tem as máquinas de lavar roupa. Havia a possibilidade d'ela estar lá, disse o garoto. Não estava. Então tentamos ligar pro número dela através do nosso celular. Essa parte foi bastante constrangedora, admito, porque eu e o maridão odiamos celular, nunca tivemos um no Brasil (tá, eu sei, muita gente me pergunta: “em que século você vive?”), e só compramos um bem baratinho aqui nos EUA pra não precisar adquirir uma linha telefônica fixa. A gente usa tão pouco o celular que não se arrisca a afirmar que sabe usar. O menininho reparou que estava em maus lençóis quando teve que nos dar instruções sobre como fazer a ligação. Finalmente conseguimos ligar, e, lógico, o telefone da mulher tava desligado. Então o garoto disse que talvez a avó estivesse na loja de conveniência em frente. O maridão começou a se agasalhar pra ir lá procurá-la, mas eu tive dúvidas: “E como você vai reconhecer a mulher, amor?”. Admiti nossa incompetência e tratei de procurar ajuda. Fui bater no apartamento do zelador, o manager, que odeia ser incomodado depois do horário, com razão. Mas pra mim aquilo era uma emergência. Enquanto ele foi procurar a chave-extra, conversamos mais com o menino. Ele tem 7 anos e se chama DeNiro. Algo assim. Pode ser “Denero” também. Um nome pra lá de esquisito. O manager perguntou como ele chegou ao prédio sozinho (seu primo o trouxe), abriu o apê da avó pra ele, e falou pra ele esperar quietinho, vendo TV, que ele, o manager, iria subir de vez em quando pra ver como ele estava. E foi o final da nossa saga. Acho que a avó chegou pouco depois. Eu, de minha parte, me senti bem inútil. Inepta. As sábias palavras que o maridão disse um dia, brincando, quando o filho de uma amiga sugeriu morar conosco, vieram à tona: “A vigilância sanitária não permitiria que uma criança vivesse em casa”. Esquilinho pode?

8 comentários:

Daniel Miyagi disse...

parabens pela evolucao do blog, agora, nao falando apenas de cinema (o que nao eh pouca coisa), mas de assuntos gerais que estao ligadas na condicao humana sempre com sua peculiar visao

lola aronovich disse...

Obrigada, Dan! Eu gosto de falar de muitas outras coisas além de cinema. Mas às vezes penso se não seria melhor me ater a apenas um assunto. O pessoal que tem blogs bem sucedidos sugere isso, falar de uma coisa só. Porque pode afastar leitores se a gente acaba falando abertamente da nossa posição quanto ao homossexualismo, aborto, política em geral etc. Mas veja a quantidade de comentários que recebo quando escrevo sobre assuntos não relacionados ao cinema! Pouquinhos, não?

Anônimo disse...

Bom apoiado, isso aqui esta ficando melhor e melhor a cada dia que passa, acho que eu não preciso nem continuar a elogiar né ? Se bem que nunca fui de poupar elogios a Lolinha heauhaeuea então, GOOO LOLINHA haueehauea não estive com mto tempo para comentar em todos mas não deixo de ler nenhum post, quando fica atrasado é até bom pq eu devoro tudo de uma vez hahahaha.
Vou me dirigir aos posts antigos para postar agora.

Com relação ao caso das crianças é realmente complicado né, quando eu comecei a estudar direito eu ficava meio perplexo com algumas coisas hahaha, acho que antes de namorar serio vou ter que fazer um contrato hahahaha. Zuando.
Mas já pensou se a Lola vira noticia como a brasileira Michael Jackson que roubou o menino chocolate... esse blog ia bombar hahahaha. Zuando²
Abraços

Anônimo disse...

Hohoho post inutil mas tenho que comentar, tava passeando pelas noticias quando olho para direita e vejo que sou/fui o leitor 6.666, OH tive que tirar print screen haheuahuea.
Quase seu birth né Lolinha ?

lola aronovich disse...

Pedro, eu queria ser a numero 6666! Mas fico feliz que tenha sido vc. Vc tirou foto da tela do computador, entao? O leitor numero 6667 eh que pegou a data do meu aniversario certinha!

Anônimo disse...

ho ho ho :D
Claro né... aprendi com a melhor.

Andrea disse...

Acho q o esquilinho nao poderia morar com vcs nao! Afinal, esquilos sao marrons, e vcs sao brancos com degradês rosas!uahuahuhauha

Só pra avisar que estive por aqui sapeando no seu blog. Saudades!
bjo

lola aronovich disse...

Oi, Andrea! Vc de volta depois deste longo e tenebroso inverno! Como vai o mestrado? Tá te tomando TODO o tempo? Faça como eu: ignore! Não, brincadeirinha. Tenho certeza que vc tá indo muito bem. É verdade, precisamos encontrar um esquilo compatível com a nossa cor!