terça-feira, 27 de novembro de 2007

CRÍTICA: AVASSALADORAS / Cuidado, avalanche!

Não vale dizer que o filme é ruim por ser brasileiro. Não vale deixar de vê-lo só porque o comparo a uma avalanche. Mas “Avassaladoras” é um desastre do começo ao fim. Logo de cara, há uma cena em que a personagem central flagra o namorado com outra na festa-surpresa que preparou pra ele. O clima de constrangimento chega mesmo antes do título. E prossegue a comédia inteira. Do lado de fora do cinema, acontecia outro desastre, este, um natural. Chovia canivetes. Eu só ouvia trovões. Lá pelo meio da sessão, presenciei o sofrimento do maridão com o filme e sussurrei no seu ouvido: “Calma, amor, já tá quase acabando”. E ele: “O quê? O mundo?”

Entre falar do fim do mundo e do filme, comentarei “Avassaladoras”. Certo, sei que a primeira opção era melhor, mas agüente firme. Sabe a Giovanna Antonelli, a que balança a pança em “O Clone”? Ela faz uma designer que só quer, só pensa em namorar. Através de uma agência de casamento, ela conhece um cara que acha que ela fala difícil, pois usa palavras com mais de duas sílabas como “inexorável” e o título desta triste comédia. Seu colega no escritório, interpretado por Reynaldo Gianecchini (o colega, não o escritório, é bom explicar), seria mais adequado pra ela, mas ele é muito galinha. Estas confusões românticas vão rolando na tela sem graça nenhuma, emolduradas por uma paisagem que mostra o Rio de Janeiro lindo, sem epidemia de dengue, sem peixes mortos boiando na baía, sem traficantes-mirins nos morros. Reconheceu, né? O Rio da Globo.

Como “Avacalhadoras” não tem uma só piadinha que provoque as mais leves cócegas, tratarei de um assunto mais importante. Atenção para a revelação: eu já tive uma agência de casamento. É verdade. Ela durou dois anos e fechou há mais de seis. Promovi vários encontros, e acho que alguns até terminaram em sagrado matrimônio. Digo “acho” porque a última pessoa que os pombinhos querem ver na cerimônia de casamento é a dona da agência, então eu nunca era convidada. Mas foi bom por um tempo. Depois, cansou. De modo geral, as mulheres procuravam homens ricos, e os homens procuravam top models. Algumas mulheres advertiam: “se não tiver carro, nem me apresente”. Eu tentava argumentar, alertando que uma atração baseada num item periférico não daria certo. Indagava: “você se junta ao cara por causa do carro. O que vai fazer se o carro quebrar?”. Mas não adiantava. E tinha marmanjo que ligava e mandava ver, na bucha: “quero uma moça alta, loira, magra, olhos verdes”. Às vezes eu ficava tentada a dizer: “espera um minutinho, vou ver se tem na estante”. No entanto, eu, ao contrário da proprietária da agência do filme, era respeitadora e não andava apalpando garotões musculosos, pois já estava encalhada com o maridão aqui.

O maridão, inclusive, declarou ser um grande fã da Giovanna, a ponto de afirmar que “por este filme, não dá pra saber se ela é boa ou má atriz”. Ah, claro que dá. É só observar direito. Tive a impressão que ele estava se esforçando pra me deixar com ciúmes, então passei a elogiar os dotes do Reynaldo, que mesmo com um penteado horroroso e bigodinho por fazer, continua lindo, como o Rio. O maridão insistiu que “Inexorável” reunia dois nomes famosos da TV brasileira. Eu: “Nomes? Que nomes? Aposto que você nem sabe os nomes deles. Só os conhece por Jade e Edu”. Ele consentiu.

A película termina abruptamente, mandando a heroína pra NY, e, como a produção é do ano passado, fazendo com que o espectador torça para que ela tenha arranjado um belo emprego no World Trade Center. Ao sair da sessão e ver a tempestade, tive uma ótima idéia pr’um filme. Duas pessoas estão pra entrar no carro. Elas se jogam pra dentro, em câmera lenta, no exato momento em que um raio atinge o estacionamento, e se salvam por conta dos pneus. Contei o roteiro pro maridão e perguntei: “O que você acha, amor?”. E ele: “Acho que ver um filme péssimo por dia já tá bom”. Humpf! Imagino que o Edu teria gostado.

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