quarta-feira, 28 de novembro de 2007

CRÍTICA: ESTRANHA PERFEITA / Uma perfeita idiota

Vi “A Estranha Perfeita” outro dia, e quer saber? Nenhuma das duas palavras do título, “perfeita” ou “estranha”, cabe aqui. De perfeito o thriller não tem absolutamente nada. Nem de estranho. É o mesmo tipo de lixo que Hollywood lança semanalmente. A única coisa que chama a atenção é o que a Halle Berry, uma atriz vencedora do Oscar, tá fazendo aqui. Mas aí a gente se lembra que é a Halle, coitada. Breve currículo do que ela fez depois de ganhar o Oscar, em 2001, por “A Última Ceia”: foi uma bond girl, esteve em dois X-Men, “Na Companhia do Medo” e “Mulher-Gato”. Ou seja, já passou da hora da Halle contratar um novo agente.

Desta vez ela interpreta alguém que espirra perfume embaixo da saia para se encontrar com um ex-namorado que a traía com sua melhor e única amiga antes que ela fosse morta (não tente entender). Nas horas vagas é também uma repórter investigativa que se envolve com um super publicitário, o Bruce Willis. Esse ponto de partida garante que ela finja ser uma estagiária numa agência, o que de sua parte garante toneladas de merchandising da Victoria’s Secret, Heineken, Reebock... Ah, todos os filmes deveriam ser ambientados em agências de propaganda! Fica bem mais fácil pro roteirista colocar o produto em evidência. E o Bruce, canastrão que só ele, tem uma ajudante chamada Esmeralda. Deve estar no contrato dele contracenar com uma personagem com esse nome pra que a gente se recorde do melhor momento de sua carreira, “Pulp Fiction”.

Aliás, o Bruce possui a maior agência de Nova York, é um gênio da publicidade, estupidamente criativo... e sua campanha inovadora e ousada pra marca de lingerie é: “Você conhece Victoria’s Secret?” Pô, essa é pra levar vários Leões de Ouro em Cannes! Depois essa mesma mente brilhante pega alguém mexendo no seu computador, com um ar furtivo, e sussurrando ao celular ao mesmo tempo. A pessoa lhe diz que queria deixar um recado (nunca ouviram falar de emails?), e ele acredita. Logo em seguida ele recebe a visita de um técnico de informática. Tá, deixa eu recapitular: um espião foi descoberto na sua empresa. Alguém tenta entrar no seu computador. E quando aparece um técnico que ninguém tinha chamado o Bruce diz: “Claro, pode entrar! Mas deixe que minha consultora te dê um tour pela agência antes”. A Halle Berry também é incrível como jornalista. Ela investiga algo a fundo, durante meses, sem nunca anotar nada. A única coisa que essa jornalista digna do Pulitzer redige são torpedos eróticos no computador. E a Halle tá tão acostumada a escrever que quando isso acontece ela fala as palavras em voz alta. Só pra ilustrar, é como se um grande intelectual lesse algo acompanhando cada linha com o dedo. Ela é obviamente tão brilhante na sua área quanto o Bruce na propaganda. Eles combinam!

E, por falar em torpedos eróticos, os recados que essas duas almas gêmeas trocam são umas gracinhas: “O que você tá usando debaixo do robe?” “Calcinha”. “De que cor?” Seria menos clichê se o Bruce estivesse usando calcinha. “Por que você tá demorando tanto pra responder?” “Estou com uma das mãos ocupadas”. Nesse ponto posso confiar no maridão. Ele nunca me trairia assim, sendo um analfabeto digital. Já imagino a mensagem que ele enviaria, depois de dez minutos: “Estou com um dedo ocupado, catando milho”.

No final um personagem dá uma facada em outro na altura da barriga. Mas o legal é que o ferimento sobe até o peito. Deve ser pra nos lembrar dessa impossibilidade que tem um ator do CSI no elenco. Claro que esta é apenas uma entre inúmeras incongruências. Por exemplo, a Halle é linda, apesar de magrela (e ela aparenta ser ainda mais magra após tomar banho, com o cabelo molhado. Isso também acontece com meu cachorrinho). Mas ela é tão negra quanto eu sou esbelta. Aí pegam uma menininha para representá-la num flashback, e a garota não tem nada a ver com ela. Pense assim: já viu fotos do Michael Jackson na infância, antes das plásticas horrorosas e do branqueamento? Essa é a menina que faz a Halle. Talvez a garotinha seja a estranha perfeita do título?

P.S.: A direção desse desastre cabe ao James Foley, que em outra encarnação já fez filmes bons como “Caminhos Violentos” (1986) e “O Sucesso a Qualquer Preço” (92). Também preciso mencionar o melhor amigo da Halle, interpretado pelo Giovanni Ribisi, que vem se especializando nos tipos esquisitos (“Resgate do Soldado Ryan”, “O Vôo da Fênix”). Sobre seu personagem, só posso dizer que certamente devo ter vários amigos masculinos obcecados por mim que, incapazes de me seduzir, montam um altar com fotos minhas. Mas se algum deles tiver um computador que fale “Fulano é sexy” a cada dois segundos, eu corto a amizade no ato.

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