“Vitus” é o nome de um menino prodígio e mini-gênio que aos seis anos já aprendeu a tocar piano sozinho, lê enciclopédias, e tem um QI tão alto que é impossível de calcular. Tá, sei o que você tá pensando: mais uma comédia dramática com menininhos como protagonistas, meus sais. Ainda mais um filme em que o protagonista tem um avô amoroso. A gente sabe, desde o início, que o avô amoroso tá condenado à morte. Ser avô em filme com criança como personagem central é como ser ser namorado da Jodie Foster: a expectativa de vida não é das mais longas. O maridão insiste que ser namorado da Jodie Foster é pior, porque nesses casos o cara morre logo no começo. Avôs vivem mais. O avô em “Vitus” é ninguém menos que o Bruno Ganz, de “Asas do Desejo” e “A Queda”, mas ter pedigree cinematográfico não salva ninguém da forca, vide o Alan Arkin em “Little Miss Sunshine”.
Tenho certeza absoluta que se eu e o maridão tivéssemos um filho ele seria um gênio, já que metade de seu DNA viria de uma pessoa extremamente inteligente. Quanto ao restante da sua herança genética, no mínimo ele viria a ser um ótimo jogador de xadrez. Em “Vitus” o xadrez tem bastante destaque, e eu reconheço que me identifiquei com a mãe do guri. Ela até pode ser ultra-ambiciosa por querer se dedicar exclusivamente ao talento do seu pimpolho, mas quais pais não fariam o mesmo? Não me venham com aquela ladainha do final do adorável “Parenthood – O Tiro que não Saiu pela Culatra”, em que o Rick Moranis desiste de educar sua filhinha pra ser gênia, e se rende a brincar com antenas e fazê-la rir. Ok, o pai nota que mais vale sua criança estar integrada do que ser um crânio, mas não parece um grande potencial sendo jogado fora? Vitus também quer ser normal, tadinho. Eu fecho com a mãe monstruosa.
O filme é leve e fofo até a metade. Aí o maridão diz que o diretor Fredi Murer deve ter sido acometido por uma febre de “Quer saber?...”. Então ele transforma a história numa total fantasia infantil, em que um garoto de 12 anos pode ter o seu próprio apartamento, comprar o que quiser, e tentar conquistar uma adolescente sete anos mais velha (sempre adotei esse discurso de que é ridículo homens se casarem com mulheres mais jovens. Deveria ser o contrário, já que o prazo de validade masculino é bem menor, e o pico sexual dos sexos não coincide. Isso tá no filme. É, inclusive, a última cena legal de “Vitus”, que se perde depois). O filme é uma das melhores propagandas da bolsa de valores que já vi. Lá pelas tantas o garoto explica pro seu amigo que o mercado de ações é fantástico, já que se pode ganhar mil por cento, mas só se pode perder cem por cento.
Pra quem é professor, como eu e o maridão, a comédia reserva algumas discussões interessantes. Vitus tem pelo menos dois confrontos com professores, ambos fascinantes. Numa dessas discussões o menino-gênio aponta que é normal os professores saberem mais que seus pupilos, e pergunta se sua mestra sabe quem inventou a máquina a vapor. Como a mestra é suíça, ela sabe e revela pra classe, ao que Vitus emenda: “Se você como professora é tão capaz, por que não inventou a máquina você mesma?”. É uma velha acusação contra uma classe que já ganha mal (“Those who can, do; those who can’t, teach” – algo como “os que podem fazer, fazem; os que não podem, ensinam”), mas de algum jeito fica bonitinha no clima do filme. Eu ri, chorei, e me senti plenamente manipulada no final à la “Shine – Brilhante”. Fazer o quê? Essas tramas são irresistíveis. O útimo programa com protagonista infantil de que gostei tanto foi “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”. Tinha avô?
Um comentário:
NÃO ENTENDI UMA COISa: depois da crise da economia americana, Detroit faliu. Como tem ainda este cinema maravilhoso? Agora me lembrei que a sua crítica é de 2007.,. OPS
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