quinta-feira, 29 de novembro de 2007

CRÍTICA: CRIME DE MESTRE, MARIA ANTONIETA, PRIMITIVO / Rainhas, crimes e crocodilos

Deve haver muita coisa boa num filme que vi duas vezes em quatro dias sem me enjoar. Estou falando de “Um Crime de Mestre”. Em SP vi também “O Cheiro do Ralo”, excelente, tirando o final, e “Maria Antonieta”, que odiei com todas as minhas forças, mas acho que não posso mais assistir a biografias de monarcas, porque quero que todos morram. “Antonieta” é muito bonito e tal, belos vestidos, belos bolos, mas cadê a história? Fica quase metade do filme falando de como ela e Luis XVI demoraram pra consumar seu casamento arranjado. Eu esperava que a Sofia Coppola tratasse da parte mais interessante da vida dessa personagem, que é obviamente a Revolução e sua conseqüente decapitação. Mas o negócio ia passando, passando, nada de Revolução, e eu pensando: “Quantas horas dura esse troço? Tenho que voltar pra Santa Catarina amanhã”. A Sofia deve achar que é só colocar trilha sonora de rock num filme de época pra fazer algo diferente. Sabe como ela enfoca a Revolução? Por meio de uma única cena no fim, mostrando o quarto de Antonieta desarrumado. Depois dessa quem queria quebrar a mobília era eu—a do cinema.

Mas vamos nos ater a “Crime”, que é bem legalzinho. Ao ver o trailer e o pôster, pensei que seria algo tipo uma história do Fernando Sabino, em que um cara comete o crime perfeito, seu filho é preso, e ele não consegue convencer os policiais que é ele o culpado. Mas não tem a ver. Aqui o Anthony Hopkins atira na mulher, e mesmo assim é difícil incriminá-lo, porque o detetive do caso tinha um caso (repetitivo, não?) com sua esposa (a do Anthony). Entra em cena um promotor ambicioso. Alguns bons diálogos fizeram o público rir (como o Anthony declarando “My dick is good”, que faz um jogo de palavras com pênis e detetive particular). Eu gostei, mas em algumas ocasiões achei o Anthony um pouco careteiro, lembrando o Hannibal, e noutras o achei perfeito. Na realidade, quem carrega o filme é o Ryan Gosling (indicado ao Oscar este ano por “Half Nelson”). Lembra quando o mesmo diretor, o Gregory Hoblit, fez a gente perguntar “Quem é esse cara super talentoso?” ao ver o Edward Norton em “As Duas Faces de um Crime”? Aqui ocorre um fenômeno parecido. Todo mundo olhando pro Ryan, que deve ser o melhor de sua geração. Se você acha que estou exagerando, saiba que tem crítico comparando-o ao James Dean e ao jovem Marlon Brando. Ele já havia roubado as cenas da Sandra Bullock em “Cálculo Mortal”. O rapaz é ótimo ator. Não é bonito, às vezes se parece até com o Bush, eca. Mas é tão petulante que até fica sexy.

Existe uma subtrama romântica que poderia ter sido deixada de lado. Um carinha esperto acaba de entrar numa firma super concorrida e vai se envolver com a chefa? Conta outra. Mas o maridão não entendeu o oposto: o que a advogada rica vê no personagem do Ryan. Eu perguntei se ele sabia quem era a atriz. É a Rosamund Pike, que fez a irmã mais bonita de “Orgulho e Preconceito”, aquela que se casa com o bobalhão. E o maridão: “Ah, então tá explicado!”. Tampouco faz sentido que o promotor, que abocanhou o emprego que sempre quis, insista em se manter no caso contra o Anthony. Mas é aquela fórmula: “se não for assim forçado não há filme”.

E, tá certo, o Anthony comete um “crime de mestre”, mas depende demais da sorte pra que dê certo. Não entendi o que é planejado e o que não é. Por exemplo, ele queria matar a mulher ou colocá-la em coma? Claro que o que importa de verdade não é a história. É o embate entre os dois astros. Porém, há momentos em que todos os atores cometem tiques com a boca. Ou foi uma epidemia coletiva no set, ou um problema de direção de atores. No Ryan isso até fica bem, porque o personagem dele é esquisito mesmo, exagerado, dramático, mas em todos? De qualquer jeito, quem gosta de filme de tribunal (eu sou uma) nem vai prestar atenção nesses detalhes.

Antes de terminar, preciso gastar algumas linhas pra falar de “Primitivo”, essa bomba que passou em Joinville. Parece que é só pretexto para um filme muito ruim e inexpressivo ser racista. Aliás, não compreendi se o título se refere ao crocodilo gigante ou ao racismo da trama. Passa-se num desses países africanos devastados pela guerra. Há apenas dois personagens negros que não são vilões ou viram comida de crocodilo antes de abrir a boca. Um é um adolescente que vai fazer de tudo para sair daquela miséria e ser levado pro seu sonho dourado, a América. O outro é um afro-americano que, à certa altura, não apenas grita “Odeio a maldita África!”, como também faz um monólogo dizendo: “A escravidão foi legal. Qualquer coisa pra tirar os africanos desse inferno vale a pena”. No final somos instigados a torcer por dois americanos, brancos, contra dois africanos malvados e armados. Eu torci pelo crocodilo, que se dependesse de mim podia papar o elenco inteiro e a equipe de filmagem também, a começar pelos roteiristas extremamente racistas. Mas deve haver alguma lição didática nisso tudo. A única que consegui captar é que crocodilo africano não come americano branco. Deve dar indigestão.

Por mim os crocodilos do mundo, unidos, podiam engolir todas as rainhas que gostam de brioches e poupar o Ryan Gosling.

Um comentário:

ANINHA disse...

Oi, Lolinha
Li este post só agora, e vi esta pérola sobre o muso Ryan Goslin:
"O rapaz é ótimo ator. Não é bonito, às vezes se parece até com o Bush, eca. Mas é tão petulante que até fica sexy."

Ri alto, viu?
Acho que estás obnubilada pela paixão pelo maridão...
kkkkkkkkkkkkkkkkk