A atriz e produtora cultural Cris Moreira me enviou um lindo texto sobre o espetáculo que estreou. Fica até o dia 17 de maio (amanhã!) no Galpão Cine Horto, em BH.
A ideia de fazer um espetáculo que levantasse a questão da violência contra a mulher surgiu há um ano, quando eu e Guilherme Théo, um amigo e parceiro de trabalho, nos encontramos para ir a um outro espetáculo que levantava questões importantes sobre as relações trabalhistas. Saímos de lá em busca de um tema tão relevante quanto, para uma possível criação cênica.
Como mulher, já vivenciei várias formas de violência, desde o machismo estrutural, que me impõe ser mais responsável pelo meu filho do que o meu companheiro e mais responsável pela minha mãe do que meus irmãos, à violência física.
Fora a vivência pessoal, diariamente acompanho notícias de jornal, postagens em redes sociais, blogs e sites que tocam no assunto. Diariamente. Isso fez com que eu, cada vez mais, me aproximasse da temática, buscasse dados, informações.
A partir disso, nos debruçamos na construção de um rascunho de cena, uma cena de oito minutos, para participação no projeto Cena Espetáculo, do Galpão Cine Horto. A ideia do projeto é selecionar, inicialmente, 12 cenas de oito minutos; dessas 12 são escolhidas quatro para se transformarem numa cena de 15 minutos, e das quatro, uma é escolhida para se transformar em um espetáculo.
Para as duas cenas curtas, eu e o Gui fizemos todo o trabalho de atuação, dramaturgia e direção, contando com a orientação cênica da diretora Cida Falabella, reconhecida por seu trabalho de teatro realidade.
Fomos os selecionados para a criação do espetáculo e estreamos no dia 1 de maio de 2015. No espetáculo, em alguns momentos, invertemos os papéis. A ideia da inversão entre homens e mulheres cumpriu (e vem cumprindo) a tarefa de distanciar a análise viciada do assunto para algo simples, mas instigante -– colocar-se no lugar da(o) outra(o). Outros caminhos surgiram -– a performance, a utilização de depoimentos e cenas que ressaltam o absurdo da cultura machista.
A construção do espetáculo trouxe toda a multiplicidade do tema. As mulheres na nossa sociedade são cerceadas de muitas formas, tão numerosas quanto complexas. Para não nos perdermos e não perdermos o foco, optamos por um recorte do assunto: tratamos das formas de violência a que a mulher está submetida, e da estrutura que dá terreno para que esta violência esteja enraizada e cresça. Além disso, homenageamos ilustres mulheres que se dedicaram a quebrar regras ultrapassadas e ampliar nossa consciência sobre nós mesmxs, como Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Leila Diniz, Rosa Parks e Malala.
Durante a temporada, estamos percebendo, com mais potência, a real importância do assunto. Percebemos que o espetáculo está cumprindo sua função de provocar reflexões e sensibilizar o público para a questão. Ao final das apresentações, pedimos ao público que preencha o nosso cadastro. Todos os dias, várias pessoas nos escrevem, agradecendo, contando suas experiências e propondo mais reflexões (afinal de contas, e infelizmente, não conseguimos atender toda a demanda sobre o machismo em um espetáculo de apenas 55 minutos), e a partir do olhar do público, buscamos suprir outras questões que antes, ou não tínhamos nos atentado para elas, ou não havíamos encontrado espaço para expô-las.
No princípio, o incômodo foi nossa válvula propulsora, hoje, podemos dizer que o contato com o público e a percepção de que essa violência está longe de ter fim, nos move em busca de, não apenas cumprir temporadas com o espetáculo, mas de conseguir atingir o maior número possível de pessoas para que possamos, juntos, refletir e questionar a cultura machista e patriarcal em que vivemos, onde milhares de mulheres são violentadas, espancadas, estupradas e mortas todos os dias.
