Está ficando cada vez mais evidente que o agravamento da pandemia, mais mortes e novos lockdowns estão muito mais próximos que a vacinação da população brasileira. Por isso é tão importante que o auxílio emergencial seja estendido no mínimo por mais um semestre, e que o pior presidente de todos os tempos seja defenestrado o quanto antes.
Reproduzo hoje parte de um texto (para ver o texto inteiro, vá para o Boletim Ponto) de uma coluna do Brasil de Fato, editada por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Doria venceu o primeiro round, mas ainda não há vacina para todos. A curto prazo, parece certo que apenas duas coisas não irão mudar: o agravamento da pandemia e o método do governo, mesmo que caiam alguns ministros.
1. NecroMinistro. No dia D os brasileiros comemoraram a chegada da vacina, para no dia E descobrirem que a grande maioria da população terá que esperar muito para ser vacinada. Já na segunda-feira (18), atrasou a entrega do material para pelo menos onze estados, devido a inúmeras falhas logísticas do Ministério da Saúde. Depois da euforia inicial, ficou claro que o lote de Coronavac disponível poderia imunizar apenas 4% do grupo prioritário. E não há data para novos lotes. Nem mesmo um cronograma de vacinação Pazuello apresentou, apesar da exigência do STF, e nesse ritmo vamos adentrar 2022. Além disso, a descentralização dos critérios para definir os grupos prioritários, que ficou a cargo de cada município, abre brechas para práticas de clientelismo e privilégios, como já vem ocorrendo no interior de Sergipe e em Manaus (AM), onde a vacinação chegou a ser temporariamente suspensa.
Depois de tanto negacionismo, negligência e desorganização, é de se desconfiar que a paralisia do Ministério da Saúde não seja apenas obra de incompetência, mas sim um macabro projeto genocida, como denuncia Jeferson Miola. O caso mais grave continua sendo o Amazonas, onde a falta de oxigênio e de insumos básicos prossegue há duas semanas, problema do qual o Ministério da Saúde já tinha conhecimento desde o dia 8 e que fez muito pouco para resolver, ainda que Bolsonaro se isente dizendo “fizemos a nossa parte”. Mas, apesar de tudo, o Exército só começou a mostrar preocupação com o desempenho do general ministro quando a Revista Época contabilizou as mortes ocorridas no norte do país na conta dos militares, que reagiram com a tradicional truculência, mas ligaram o sinal de alerta e já pensam em mandar Pazuello para a reserva. Além disso, depois da morte do general Mioto por Covid-19 fica mais difícil para os militares sustentarem o projeto de seu ministro. O desempenho de Pazuello também preocupa o governo, que já conversa reservadamente sobre a necessidade de mudanças. Acontece que ter um bode expiatório para eventuais fracassos faz parte do método de Bolsonaro e a hora do sacrifício talvez ainda não tenha chegado.
2. Pobre de direita. O cenário internacional prova que a terra é redonda e que o mundo dá voltas. A vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, o agravamento da pandemia e, agora, o início da vacinação no Brasil fez com que a nossa diplomacia se tornasse um fardo para o país, criando descontentamento dentro do próprio governo. É em grande medida dos países taxados pelo chanceler Ernesto Araújo como comunistas que se pode esperar alguma ajuda, a exemplo da Venezuela que, junto às centrais sindicais brasileiras, está doando oxigênio para o Amazonas. A direita bem que tentou deslegitimar a atuação do governo bolivariano, disseminando a falsa informação de que o oxigênio doado seria da empresa privada White Martins, quando na verdade a doação foi feita pela estatal Sidor. Em relação às vacinas, só agora, depois de cobrada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, é que a Anvisa decidiu analisar o pedido de uso emergencial da russa Sputnik V. Já os insumos para a produção da Coronavac vêm da China, país que sofreu sucessivas acusações e ofensas do clã Bolsonaro, de Ernesto Araújo e do ministro Ricardo Salles. Agora a demanda interna da China é enorme e o Brasil não está no topo da lista de prioridades. Por isso, os insumos da Coronavac não têm data para chegar aqui e é provável que o primeiro lote distribuído no Brasil termine antes disso.
Contando com mais sorte que juízo, depois de muitas idas e vindas, o governo indiano resolveu liberar imediatamente para o Brasil dois milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca produzida em seu território. A previsão era de que a entrega fosse feita somente em março. Os motivos da hesitação indiana parecem ser políticos, pois a nossa diplomacia não apoiou a Índia na proposta de suspensão das patentes de vacinas no âmbito da OMC. Ernesto Araújo preferiu fazer do Brasil força auxiliar das nações ricas. Agora, receando as consequências de seus atos, os representantes do Brasil preferem manter o silêncio na reunião da OMC. Ou seja, na discussão da quebra de patentes a nossa diplomacia reproduz com perfeição a mentalidade do pobre de direita: prefere se dar mal do que perder a razão. Ainda assim, pode lhe custar o cargo. Neste caso, Bolsonaro tem muito apreço pelo bode expiatório, mas já pensa numa saída honrosa para o chanceler e há até quem fale em Michel Temer para a pasta.
3. O dilema de Bolsonaro. Como era esperado, o fim do auxílio emergencial, o agravamento da crise sanitária e o aumento do preço da carne derrubaram a popularidade de Bolsonaro. A rejeição chegou a 40%, segundo a XP, maior índice desde julho, e afetou inclusive a base bolsonarista, diminuindo a aprovação entre evangélicos e também nas redes sociais. Sempre que atacado, Bolsonaro reage da mesma maneira. Primeiro, joga apenas para a sua torcida, para a turma do cercadinho. Nestes dois anos de governo, Bolsonaro jamais fez uma ação que fosse universal, para o conjunto da sociedade. Atende sempre os interesses de grupos específicos. E vai insistir no cálculo matemático de que precisa apenas dos seus 30% para chegar ao segundo turno em 2022. Por isso, continuará falando apenas para a sua base social, nas redes sociais e ao mesmo tempo provocando novas ou velhas polêmicas. Como por exemplo acenar para as Forças Armadas e insinuar o apoio às suas pretensões golpistas. Nisso, até Augusto Aras, desaparecido desde a nomeação de Kassio Nunes para o STF, reapareceu para escudar Bolsonaro, com a ameaça de que “O estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa”. Além disso, e em tempos de eleições no Congresso, o insaciável centrão deve ganhar mais 56 cargos.
O dilema de Bolsonaro é de que quanto menos durar a crise sanitária, mais rápido ele precisa responder sobre a crise econômica. Porém, quanto mais se estende a crise sanitária, mais a sua popularidade cai e mais a crise econômica se agrava. A sua salvação depende de acenar para o sistema financeiro ou para as classes mais baixas e órfãs do auxílio emergencial. E em ambos os casos, precisa de Paulo Guedes, ainda que os dois não tenham nada a oferecer a ninguém. Guedes, com sua notória criatividade para inventar números aleatórios, não tem sido capaz nem de aplacar o mercado internacional, nem o empresariado nacional, e, por sua vez, estaria esperando o resultado das eleições no Congresso para ressuscitar sua proposta de CPMF, uma medida que não agrada a ninguém, além de sonhar com a privatização do Banco do Brasil. [Continua aqui].
5 comentários:
Estamos no inferno até 2022. Como é que o mercado não derrubou Coiso ainda pelo meio do impeachment? Se TSE cassar a chapa, ocorrem eleições indiretas no Congresso. Por que não fazem isso? Obrigada pela postagem Lola, mas quando terá a sobre violência doméstica? Abraços.
Receio que haja um equívoco aqui:
“A previsão era de que a entrega fosse feita somente em março.”
Pelo contrato, as vacinas seriam entregues pela Índia TRÊS MESES APÓS O PAGAMENTO, não após a assinatura do contrato. Bozo pagou alguma coisa?
Vejam que notícia feia: https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2021-01-25/mulher-e-extraditada-de-israel-apos-abusar-sexualmente-de-74-meninas.html
Noticia falsa mascutroll era um homem mulheres não fazem isso.
Nunca foi meu sonho de infância ser militar; simplesmente aconteceu. Eu sempre quis ser engenheira, então lá pelos meus 15 anos resolvi estudar (muito) para entrar no IME, faculdade de engenharia do exército, porque é uma instituição muito bem conceituada, além de que lá eu teria alojamento, alimentação e um pequeno salário, e então poderia finalmente sair da casa dos meus pais. Minha intenção era depois de formada ser civil e ir fazer muito dinheiro na iniciativa privada, mas uma vez lá dentro, vi as vantagens que permanecer no exército me trariam (estabilidade, salário razoavelmente bom, bom plano de aposentadoria, chance de fazer mestrado/doutorado/pós-doc, oportunidade de morar em várias cidades (e alguns países) diferentes, etc...). Considero um bom emprego, com prós e contras como qualquer outro (e entra na conta dos contras a convivência forçada com colegas machistas e homofóbicos, na maioria das vezes), mas nunca senti "orgulho" de ser militar única e exclusivamente pelo fato de ser militar. Nem vergonha. Até esse momento...
Hoje infelizmente eu sinto vergonha quando as pessoas descobrem que sou militar. Porque o exército (e as demais FFAA) está de tal forma comprometido com a assunção e permanência desse MONSTRO no poder, que tenho vergonha de fazer parte desse órgão, mesmo que eu nunca tenha contribuído diretamente para que ele ali estivesse (nem com um voto).
Mas se existe uma boa notícia nisso tudo, é que esse cara é de tamanha imbecilidade, que está perdendo o apoio até mesmo das FFAA. Ainda bem. Talvez daqui a um tempo eu não tenha mais vergonha dos meus vizinhos verem minhas fardas penduradas no varal.
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