quinta-feira, 12 de março de 2020

"NÃO SOMOS UMA RAÇA EM EXTINÇÃO"

O professor da Unisinos Felipe Boff foi o paraninfo de uma turma de Jornalismo. Na formatura em São Leopoldo, RS, ele fez um belo discurso. Para provar o seu ponto -- de que os jornalistas não são tão atacados no Brasil desde a ditadura militar de 1964 --, teve que sair escoltado do auditório. 
Não é impressionante? O professor foi convidado pelos formandos para discursar na cerimônia. No auditório havia parentes e amigos dos formandos. Eles que vaiaram o professor por dizer o óbvio: que o presidente da República comanda o ataque a jornalistas. Ao vaiarem e xingarem o professor, os parentes e amigos dos futuros jornalistas se põem do lado da ignorância.
Felizmente, a coordenação do curso apoiou o professor, chamando sua fala de "corajosa e necessária". A Diretoria e Conselhos da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) emitiu uma nota de apoio, assim como o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). E os formandos se manifestaram a favor do professor, lançando hashtags como #SomosTodosBoff e #NãoExisteDemocraciaSemJornalismo.
Confira aqui o discurso certeiro de Felipe Boff.

A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem -– mesmo aqueles que não acompanham as notícias -– quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas -– como se vê, estamos bem acompanhados.
No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias.
Querem exemplos? “É só você fazer cocô dia sim, dia não.” “Você está falando da tua mãe?” “Você tem uma cara de homossexual terrível.” “Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai.” É dessa forma chula e rasteira que o presidente da República, a maior autoridade do país, costuma responder aos jornalistas. Seus xingamentos tentam desviar a atenção das respostas que ele ainda deve à sociedade. Nos casos citados, explicações sobre o retrocesso da preservação ambiental no país, sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da hoje primeira-dama, sobre o esquema da “rachadinha” de salários no gabinete do filho hoje senador, sobre o envolvimento da família presidencial com milicianos.
O presidente das fake news, que bate na imprensa cada vez que ela informa um fato negativo sobre ele e seu governo, é o mesmo que deu 608 declarações falsas ou distorcidas -– quase duas por dia -– ao longo de 2019. O levantamento é da agência de checagem Aos Fatos. Querem exemplos? 
“O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo.” “Leonardo Di Caprio tá dando dinheiro pra tacar fogo na Amazônia.” “O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.” “Nunca teve ditadura no Brasil.”
Em 2020, depois de completar um ano de mandato com resultados pífios na economia e desastrosos na educação, na cultura, na saúde e na assistência social, o presidente não serenou. Redobrou os ataques à imprensa. Aplicou o duplo sentido mais tosco à expressão jornalística “furo” para caluniar a repórter que denunciou a manipulação massiva do WhatsApp na campanha eleitoral. Atacou outra jornalista, mentindo descaradamente, para negar a revelação de que compartilhou vídeos insuflando manifestações contra o Congresso e o STF.
E segue promovendo o boicote à imprensa, com exceção daqueles que aproveitam o negócio de ocasião para vender subserviência e silêncios estratégicos. Aos veículos que não se dobram ao seu despotismo, o presidente da República impinge pessoalmente retaliações financeiras diretas, pressão sobre anunciantes e difamação de seus profissionais. Pratica, enfim, toda sorte de manobras sórdidas para tentar asfixiar o jornalismo e alienar a população dos fatos. E já nem se preocupa em disfarçar suas intenções. Querem um último exemplo? Declaração de 6 de janeiro deste ano, dita pelo presidente aos jornalistas “Vocês são uma raça em extinção”.
Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: “Não existe democracia sem jornalismo”.
Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem -– estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.
Para encerrar, gostaria de citar o exemplo e as palavras do grande escritor e jornalista argentino Rodolfo Walsh. Precursor da reportagem literária e investigativa e destemida voz contra o autoritarismo e o terrorismo de Estado, Walsh pregava que “Ou o jornalismo é livre, ou é uma farsa, sem meios-termos”. Dizia também que “um intelectual que não compreende o que acontece no seu tempo e no seu país é uma contradição ambulante; e aquele que compreende e não age, terá lugar na antologia do pranto, não na história viva de sua terra”.
Rodolfo Walsh foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina em 25 de março de 1977. Na véspera, publicara corajosamente uma “carta aberta à junta militar”, denunciando os crimes do sanguinário regime, que então completava apenas seu primeiro ano. 
Estas foram as últimas palavras que Walsh escreveu: “Sem esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido, mas fiel ao compromisso que assumi, há muito tempo, de dar testemunho em momentos difíceis”.
Jornalistas, este é o nosso compromisso. Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez.

11 comentários:

Cão do Mato disse...

Parentes se posicionando contra a própria família... fim dos tempos...

Anônimo disse...

Essa merda de manifestação dia 15 tenho certeza absoluta que é criação da esquerda pra contaminar os velhos que apoiam Bolsonaro.

Anônimo disse...

Quando uma pessoa diz abertamente apoiar Bolsonaro, é melhor Jair se prevenindo, que a pessoa certamente é criminosa.

Doutor Bumbum, Veio da Havan, Amado Batista, Ronaldinho, etc. etc.

De estelionatários, contrabandistas, criminosos ambientais, grileiros de terras, a assassinos de indígenas, amotinados, milicianos… não salva um.

Anônimo disse...

Fico em duvida, se é melhor ser atacado, ou se é melhor ser controlado socialmente?

titia disse...

Tirar o aviso de "Não Ingerir" da água sanitária por uns dois anos resolve os problemas do gado e do resto do mundo com o gado.

Desde quando parentes se posicionando contra a própria famiília é novidade, mascu do mato? Isso existe literalmente desde que o primeiro homem resolveu estuprar uma mulher e dizer que ela e seus filhos seriam propriedade dele - essa intituição que atualmente conhecemos como "família tradicional". Acorda desse imaginário besta que diz que antigamente tudo era lindo e perfeito, mascu do mato. O mundo sempre foi essa merda que é, o ser humano sempre foi essa merda que é, a diferença é que antes todo mundo fingia que essa escrotice toda não existia.

19:27 essa não, o gênio descobriu nosso plano! Atenção, abortar esquema, abortar esquema, mandem os drones com coronga vírus de volta!

Não é como eu disse? Dois anos sem o aviso "Não ingerir" na água sanitária e não teríamos que ler essa merda...

Guidi disse...

Não conhecia o Rodolfo Walsh, adorei saber dele. Vou procurar mais sobre. Adorei o Felipe Boff. Corajoso e direto ao ponto.

Anônimo disse...

Hoje completa 1 ano do massacre de Suzano. Hoje é o dia de sua morte. Você será executada até as 19:00h.

Anônimo disse...

Já estou chegando em Fortaleza. Aguarde, senhora Dolores.

Anônimo disse...

Estou em Caucaia no momento. Meus clientes pediram para que eu a mantenha informado para aumentar seu desespero. Bem, não adianta ir pra policia, tenho muitos contatos aí.

Anônimo disse...

Relatei meu problema que estou tendo aqui no Ceará (eh terra maldita esse merdeste) para meus clientes. Como eles não me pagaram por completo, compreenderam. Farei o possível para te pegar hoje, mas caso não dê, te pego em 20 de abril (aniversário de Hitler e aniversário do massacre de Columbine, uma outra data que meus clientes pediram).

Anônimo disse...

Chega desse mimimi de assassino de aluguel, geoc. Não tem graça nem assusta ninguém. Vai lavar as cuecas e estudar pro ENEM que você ganha mais.