quarta-feira, 4 de março de 2020

A GUERRA CONTRA BERNIE SANDERS

Quatro anos atrás, eu torci para que Hillary Clinton ganhasse a presidência dos EUA. Eu queria uma primeira presidenta. Sei que ela nunca foi de esquerda e que estava longe de ser a candidata ideal. 
Mas não caio nessa de que é tudo a mesma coisa, que tanto faz ter um presidente democrata ou republicano no comando do maior império da história. Não é verdade. Só porque o Partido Democrata não é de esquerda não faz o Partido Republicano menos de direita. E Trump é o cenário dos pesadelos. 
Desta vez torço abertamente por Bernie Sanders, um homem de esquerda, que talvez venha a ser escolhido o candidato democrata. Ele se assume "socialista", o que, por um lado, é um palavrão nos EUA (aqui também), mas, por outro, nunca um socialista teve tanta aceitação. Mais e mais americanos estão vendo que o capitalismo não deu certo e que um outro mundo não é apenas possível, como também desejável. 
Sem teto na calçada da fama em LA
O planeta deu uma guinada para a extrema-direita a partir de 2016, e a desigualdade social e a violência só aumentaram. Hoje há 50 mil pessoas sem teto vivendo em Los Angeles e 75 mil em Nova York. Este é um dos parâmetros da miséria mais visíveis. Nós brasileiros sabemos que nunca vimos tanta gente morando nas ruas quanto agora. 
Torço por Bernie, mas sei que a mídia fará de tudo para pintá-lo como um radical, assim como fez com Jeremy Corbyn no Reino Unido, numa das piores derrotas do Partido Trabalhista da história. E, se a mídia conseguir transformar Bernie em sinônimo de caos, a reeleição de um patife como Trump será fácil. 
Ontem a "Super Terça" (as primárias democratas que decidem em 14 estados quem será o candidato que enfrentará Trump em 3 de novembro) foi bastante decepcionante para Bernie. Joe Biden, vice de Obama, venceu em no mínimo 9 estados. Foi uma surpresa. Bernie pelo menos ganhou na Califórnia, o estado com mais delegados. O resultado consolida Biden e Bernie como os dois postulantes finais à candidatura democrata.
Enquanto Biden afirmou num discurso que "estamos muito vivos", Sanders disse: "digo a vocês com absoluta confiança que venceremos a indicação democrata e derrotaremos o presidente mais perigoso da história deste país". Tomara. Como eu disse, torço por Bernie.
Reproduzo um artigo sobre a histeria da mídia contra Bernie. Foi escrito por Ricardo Mir de Francia, com tradução de Isabela Palhares, e publicado no El Periódico e depois no Carta Maior.
O apresentador Chuck Todd comparou seus seguidores com os “camisas marrons” que protegiam os paramilitares da SSA na Alemanha de Hitler. O comentarista Chris Matthews sugeriu que seu modelo socialista, se implantado nos EUA, realizará “execuções no Central Park”. 
E o estrategista democrata James Carville disse que se ele ganhar a nomeação, seu partido será literalmente aniquilado. “Se seguirmos o exemplo do Partido Trabalhista Britânico e nomearmos nosso Jeremy Corbyn, será o fim dos tempos”. Todas essas afirmações saíram da MSNBC, teoricamente a cadeia de notícias mais progressista do país, mas por sua vez a mais combativa frente a eventual candidatura de Bernie Sanders, o homem que lidera as primárias democratas [isso foi escrito antes da Superterça].
Ainda falta para sabermos quem será o candidato, mas a potencial nomeação de Sanders está desatando uma histeria que vemos em pandemias como a do coronavírus. Ela percorre pelos centros de poder do país, desde os meios generalistas até o escritório do Washington Post e passando pelo aparato democrata. 
“Eu não sei quem Bernie tem apoiado esses dias, nem sei a que se refere quando fala de socialismo. Um dia é a Dinamarca, mas o que pensa de Castro? É uma boa pergunta”, disse Matthews há duas semanas, antes de comparar a vitória do senador em Nevada com a ocupação nazista na França, palavras pelas quais teve que se desculpar. De acordo com um estudo do ‘In These Times’ sobre a cobertura da MSNBC nessa campanha, Sanders é o candidato que recebeu maior cobertura negativa e a quem dedicaram menos tempo.
Um padrão generalizado
Outros grandes meios estão sendo menos histéricos, mas o padrão é generalizado, uma repetição do que aconteceu em 2016, quando o senador de Vermont competiu contra Hillary Clinton. Na época, o Washington Post chegou a publicar 16 artigos negativos contra Sanders. Seu competidor novaiorquino reconheceu que sua cobertura havia deixado bastante a desejar. “O tom de alguns artigos é lamentavelmente depreciativo e sarcástico em algumas ocasiões”, escreveu a ombudsman do NYT. Somente Donald Trump recebeu uma cobertura mais hostil naquela campanha.
O mais chamativo é que Sanders, que se define como um “socialista democrático”, não é um recém chegado. Tem 30 anos de Congresso. E seu estilo político está longe de ser o de um radical alérgico a qualquer compromisso. Não pretende nacionalizar meios de produção e, de maneira consistente, vem condenando o autoritarismo de todos os símbolos, como fez no debate de terça, quando definiu Cuba e China como “ditaduras”. 
Mas também é certo que aspira balançar o sistema para reduzir a desigualdade, taxando grandes fortunas e a “especulação” em Wall Street, desprender monopólios tecnológicos, dando voz aos trabalhadores nos conselhos diretivos das empresas e aumentando o poder dos sindicatos.
“Estamos preparados para ser o pior pesadelo dos multimilionários e defender as famílias trabalhadoras desse país”, dizia em suas reuniões. O nervosismo dos referidos é evidente. “As prescrições de Bernie serão desastrosas para os mercados. Irão gerar uma enorme ansiedade”, disse um estrategista da agência AGF Investimentos à CNN. Também foi previsto há quatro anos que as bolsas cairiam se Trump ganhasse e o resultado foi o contrário.
O inimigo em casa
O obstáculo mais iminente de Sanders se encontra no próprio partido que aspira representar, depois de uma vida inteira como independente. De acordo com o “Times”, os superdelegados democratas estão dispostos a sacrificar a paz social no partido para impedir que Sanders seja nomeado se chagar à convenção sem a maioria dos delegados necessários para sua coroação. Um cenário que deixaria o desenlace nas mãos dos líderes do partido, os chamados superdelegados.
A opinião da maioria deles é que a candidatura do socialdemocrata daria a reeleição para Trump de bandeja e poderia fazer com que o partido perca também o controle da Câmara dos Deputados. Uma tese que, obviamente, os simpatizantes de Sanders não aceitam.

14 comentários:

Alan Alriga disse...

Não sendo a Hillary (pesquise sobre a Operation Gatekeeper) qualquer outro presidente será bom pro EUA.
Mas pro Brasil o melhor é o Trump mesmo, digo por causa do Maduro que está testando os limites das provocações contra o Brasil, só para se ter uma idéia se fosse qualquer outro país, já teriam mandado pelo menos uma dúzia de mísseis de cruzeiro contra a Venezuela somente como sinal de aviso. Sem falar de que quando o Putin mandou os seus bombardeiros estratégicos para ameaçar a nossa soberania, foi o Trump quem mandou um carrier strike group para evitar um possível ataque russo.

Bem Lola você pode gostar do Sanders mas ele com certeza não gosta do Bolsonaro, e pode muito bem parar de comprar os nossos Super Tucanos, convencer a Boeing a parar com a parceria com a Embraer e sem falar que ele poderia deixar de mandar ajuda caso o Maduro realmente decida nos atacar.

Anônimo disse...

Tanto faz, nenhum dos dois tem nenhuma chance contra Trump.

Isso não é torcida, é fato.

Cão do Mato disse...

Os EUA não têm amigos, têm interesses. Pra nós aqui abaixo da linha do Equador, tanto faz Democratas ou Republicanos...

Anônimo disse...

Gostaria de entender como o capitalismo não deu certo e ao mesmo tempo os EUA são o maior império da história?
E tb pq os países mais ricos e civilizados do mundo são todos capitalistas, economias de mercado, que promovem o livre comércio.

Anônimo disse...

Como eu sempre disse, se queremos vencer não só as eleições municipais desse ano, como as gerais de 2022, precisamos de nos unir à classe média, querendo ou não também são eleitores e também tem influência política. Vejam ess aanálise:

https://www.cartacapital.com.br/politica/se-nao-houver-acordo-entre-as-forcas-do-campo-democratico-bolsonaro-esta-reeleito/

Eu sei que o post é sobre as eleições americanas, mas vi essa entrevista hoje e achei pertinente comentar aqui no blogue da Lola.

Cão do Mato disse...

O capitalismo deu certo. Mas só para aquele 1% que detém mais do que o dobro da riqueza dos 99% restantes da população do mundo.

Anônimo disse...

É ameaça de terceira guerra mundial...
É coronavírus, pandemia global...
É o dólar beirando os 5 reais...
É asteroide gigantesco ameaçando vida humana...
E NADA DO PORCO MALDITO MORRER!
FILHA DA PUTA!

museusdomundo disse...

Os cientistas políticos preveem que se o candidato democrata for o centro-direitista Zé Biden,o Trump se reelege facilmente, pois para o eleitorado pobre e de classe média baixa não faria diferença nenhuma a eleição do Biden. E para o Brasil seria muito melhor o Sanders, pois o lunático varrido e que nao tem nenhum respeito ao cargo que exerce, o Bozo perderia o apoio às suas aventuras golpistas aqui e nos países vizinhos! Lembrando que nos EUA um candidato pode ganhar em votação nas urnas, mas perder na contagem dos votos eleitorais, que foi o que aconteceu com Trump em 2016 e com Bush em 2000. Lá o partido mais votado conquista todos os votos eleitorais em cada estado. É por isto que pode ocorrer esta distorção, inexistente nos demais países.

Anônimo disse...

Você está errado. Nos países capitalistas desenvolvidos a classe trabalhadora tem um padrão de vida muito acima da classe trabalhadora que vive em economias mais estatizadas e com menos respeitos às regras de mercado.

Cão do Mato disse...

Quais países seriam esses?

Anônimo disse...

Finlândia, Suíça, Suécia, Noruega, Canadá, Bélgica... Todos são capitalistas e até os pobres vivem melhor que os pobres de países socialistas.

Anônimo disse...

Lembrando que nos EUA não existe serviço público de saúde (quem não tem plano de saúde morre sem atendimento-veja "Sicko sos saúde" de Michael Moore) e nem universidade financiada pelo estado(lá mesmo as universidades estaduais são pagas pelos seus alunos) e 15% de sua população vive na miséria extrema, além de ser o único país desenvolvido com megagigantescos índices de criminalidade(são 34 mil assasinatos por ano). Definitivamente os EUA não podem ser comparados com nenhum outro país desenvolvido, dadas as disparidades em relação a estes outros países que apresentam um estado de bem-estar social, que é inexistente nos Estados Unidos. isso explica porque o Trump estará reeleito com o Zé como candidato democrata.

Cão do Mato disse...

Capitalistas mais ou menos, né fio? Muitos desses países têm um nível de estatização e de politicas públicas bem maior do que o Brasil, por exemplo. Aliás...ainda existem países socialistas? Rsrsrsrs...pelo que eu me lembro o muro de Berlim caiu há mais de trinta anos...rsrsrs...

blacklight disse...

Bem decepcionante Lola, apoiando um cara que falou que Warren nunca iria ganhar porque é mulher.