segunda-feira, 9 de março de 2020

MINISTÉRIO DE DAMARES RECEBERÁ 400 MILHÕES. VAI SOBRAR ALGO PRAS MULHERES?

Ontem o meu 8 de março foi ótimo. Aqui conto um pouco como foi. E o seu?
Vamos precisar continuar lutando muito, porque o projeto de destruição total do Brasil não para.
Por exemplo, feminicídios aumentaram 7,3% em 2019, graças à total falta de políticas públicas do desgoverno Bolso. 
Durante a campanha de 2018, qual foi a solução do capetão pra combater a violência contra as mulheres? Que as mulheres (não todas, não as feministas, não as pobres e negras) comprassem uma arma de fogo. 
Quando ele assumiu, colocou uma fundamentalista cristã, Damares Alves, para comandar o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. 
Suas propostas se resumem a pintar delegacias de rosa, pregar abstinência sexual, e defender "seu presidente" a qualquer custo. Uma pasta tão importante nas mãos de uma impastora!
Publico hoje o excelente texto de Carmela Zigoni, antropóloga e assessora política do Inesc: o que pode acontecer agora que uma pasta misógina tem algum dinheiro? 

Após anos de cortes nos recursos destinados às políticas para as mulheres, o orçamento 2020 garante quase 400 milhões para o Ministério de Damares Alves. PPA, declarações e medidas já adotadas pelo governo levam a crer que montante será utilizado em políticas orientadas pelo fundamentalismo religioso.
Muito se tem publicado sobre os cortes orçamentários de políticas para as mulheres. O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) tem monitorado a alocação de recursos para esta política desde o início do período de austeridade fiscal, intensificado com o Teto de Gastos. Em comparação com o recurso autorizado em 2015, a política de mulheres sofreu redução de 82% em 2018.
Em 2019, o recurso foi recomposto, tendo sido autorizados quase 300 milhões para o Programa 2016: Políticas para as Mulheres: Promoção da Igualdade e Enfrentamento a Violência. No entanto, a execução foi baixíssima, menos de 10%, sendo cerca de 28 milhões em recursos pagos e 46 milhões de restos a pagar, ou seja, recursos comprometidos com contratos de anos anteriores pagos em 2019. O Gráfico 1 demonstra a evolução do recurso do Programa 2016 em 8 anos:
Em 2020, o recurso autorizado para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) foi de R$394 milhões: deste recurso, R$96 milhões é alocado especificamente para as mulheres (24,43% do total). O que isso significa, na prática, para as brasileiras? O Plano Plurianual (PPA) de Bolsonaro e declarações e medidas adotadas pela ministra Damares Alves tem nos dado algumas pistas.
O novo PPA
O novo Plano PluriAnual 2020-2023, elaborado pelo Governo do presidente Jair Bolsonaro, excluiu o Programa 2016: Políticas para as Mulheres: Promoção da Igualdade e Enfrentamento a Violência, e criou o Programa 5034: Proteção à Vida, Fortalecimento da Família, Promoção e Defesa dos Direitos Humanos para Todos. Se o Programa 2016 era destinado somente às mulheres, o novo Programa 5034 é um guarda-chuva para execução de políticas do Ministério, hoje chefiado por Damares Alves, destinadas às mulheres, aos idosos, e pessoas com deficiência.
O PPA é o instrumento de planejamento e organização da ação pública e expressa as escolhas de um governo. Não é coincidência o fato de as palavras racismo, negros e quilombolas terem sido excluídas deste documento em sua versão bolsonarista, adotando uma visão “direitos humanos para humanos direitos”, tão difundida pelo grupo político da extrema direita. Enterram-se três décadas de construção das políticas de igualdade racial e promoção dos direitos dos povos e comunidades tradicionais.
Em relação às mulheres, a construção do novo PPA ignorou o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), construído por meio de quatro conferências nacionais, com participação de mais de 2 mil mulheres em cada edição. Não é possível visualizar as prioridades do II PNPM no PPA 2020-2023, e este tampouco apresenta metas e indicadores para monitorar o alcance dos resultados.
No PPA 2020-2023, o Programa 5034 tem o seguinte objetivo: “Objetivo: 1179 – Ampliar o acesso e o alcance das políticas de direitos, com foco no fortalecimento da família, por meio da melhoria da qualidade dos serviços de promoção e proteção da vida, desde a concepção, da mulher, da família e dos direitos humanos para todos”.
Chama a atenção a exclusão da questão da violência contra as mulheres, por um lado, e a inclusão da “proteção da vida desde a concepção”, por outro. O recado é bastante claro em relação ao tipo de política para as mulheres que será colocado em curso até 2022. Ao retirar a violência do documento que planeja a política pública para as mulheres, focando somente na família, o governo esconde o fato comprovado de que a violência doméstica é sofrida por milhares de mulheres e meninas dentro de suas próprias casas, na maioria dos casos pelos próprios maridos e parentes.
O orçamento no país do fundamentalismo religioso
A Ministra Damares Alves não esconde sua predileção pelo Estado religioso: em recente entrevista, defendeu a “ocupação da nação pelas igrejas”, e afirmou que “Temos falta de casas de abrigo para mulheres vítimas de violência. Por que essas igrejas não fazem uma parceria conosco, cedendo o seu espaço físico para abrigar essas mulheres?”. Em 2019, dos quase R$ 20 milhões autorizados para a construção das casas da mulher brasileira, nenhum recurso foi gasto. Também não houve recurso autorizado para o Disque 180 e o Disque 100, canais voltados, respectivamente, para denúncias de violência contra as mulheres e violação de direitos humanos.
Em 2020, isso muda: ainda que o PPA 2020-2023 invisibilize a questão da violência, o MDH priorizou o tema no orçamento. Dos mais de R$96 milhões autorizados em 2020, voltados especificamente para as mulheres, quase R$25 milhões estão carimbados para “Políticas de Igualdade e Enfrentamento à Violência”; mais de R$71 milhões são para a “Construção da Casa da Mulher Brasileira e de Centros de Atendimento às Mulheres em Fronteira Seca”; e mais de R$ 35 milhões para os dois canais de atendimento. Estas três ações somam cerca de R$132 milhões em recursos.
Se o problema de recursos, então, parece estar superado –- pelo menos até o primeiro decreto de reprogramação orçamentária, onde o governo pode decidir contingenciar uma parte destes recursos -–, a questão passa a ser: como estas políticas serão implementadas? Será respeitado o princípio de laicidade do Estado nos atendimentos, equipamentos e serviços? A pertinência do questionamento está no fato de que o governo se furtou de apresentar o desenho da política no PPA 2020-2023, embora esteja publicando decretos para regular algumas iniciativas.
É o caso da Casa da Mulher Brasileira, serviço que visa ser a porta de entrada da política pública para mulheres em situação de vulnerabilidade extrema, cujas diretrizes para os convênios estão publicadas no site do MDH, e tem regulamentação no Decreto nº10.112 de 12 de novembro de 2019, que cria o Programa Mulher Segura e Protegida.
Chama a atenção a presença de salas para reconhecimento dos agressores, presença da Polícia Militar e sala para detenção provisória.  Não está explicitado como será o funcionamento dos serviços, mas pela forma como estão organizados os espaços e equipes, trata-se de um equipamento militarizado, para atendimento tanto de mulheres (vítimas), como de homens (agressores).
Ao mesmo tempo, o PPA 2020-2023 reforça a mensagem da defesa da vida desde a concepção em um que país continua se negando a discutir o aborto como saúde pública e social, tramitando Projetos de Lei para criminalizar a interrupção de gravidez em casos de estupro, risco de vida para a mãe e anencefalia do feto, hoje permitidos. Dentro do Programa 5034, a Ação 21AQ: Proteção do Direito à Vida, teve recurso autorizado em 2020 no valor de R$41 milhões – no entanto, não há nenhum documento, até o presente momento, que apresente o desenho desta ação, ou seja, como será implementada.
A maior parte do recurso autorizado do MDH foi para a Ação 21AR – Promoção e Defesa de Direitos para Todos, no valor de R$159 milhões, sem detalhamento de como será gasto: por enquanto, o Plano Orçamentário desta ação ainda consta como “PO – 0000: Despesas Diversas”, podendo ser alterado durante o ano, mas convenhamos, é bastante recurso para ser manejado sem planejamento ou destinação específica.
Atentas e fortes!
A questão das mulheres é central na atual conjuntura política. Em 2018, principais opositoras à candidatura de Jair Bolsonaro organizaram marchas por todo o Brasil dizendo #EleNão. A motivação era baseada no fato do então deputado federal proferir falas sexistas e racistas em diversos espaços, chegando ao ponto de agredir a deputada Maria do Rosário dizendo que não a estupraria porque ela não merecia, agressão pela qual foi condenado.
Uma vez no poder, o governo Bolsonaro, que conta com militares, olavistas e fundamentalistas religiosos, iniciou uma verdadeira cruzada para disputar a narrativa moral junto à sociedade. 
A Ministra Damares Alves é uma das que reza esta cartilha com maestria: se enganam os que a resumem a uma doidivanas interessada em vestir meninos de azul e meninas de rosa. Ela tem cumprido uma agenda intensa, que inclui viagens internacionais para combater a “ideologia de gênero” (como na visita à Hungria) e participação em reuniões da ONU, fortalecendo pautas conservadoras.  
Sem deixar de fazer o seu trabalho no Brasil, tem ido em busca de parcerias com  estatais, setor privado e setores da igreja e campanhas para adesão aos seus programas sociais. Em 2020, ela terá 394 milhões para sua pasta, o que não é pouco, considerando o atual momento de redução do recurso para gastos sociais.
Neste 8 de março, as mulheres irão às ruas novamente levar suas pautas e demandas. Mais um compromisso se soma à nossa luta, a saber, monitorar o recurso do governo destinado às mulheres, se será executado, e por meio de que programas, ações e diretrizes. Neste cenário, o princípio da transparência e a participação da sociedade são, mais do que nunca, fundamentais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Antes de tudo, não sou reaça, mas fiquei chateado pela globo ter mostrado um estuprador assassino como vítima em seu programa e mais chateado ainda pelo Drauzio Varella, um cara que Admiro, ter abraçado. Estupro é um crime tão violento e tão bárbaro, eu fui abusado quando criança e uma coisa dessas me revolta. Ver a esquerda defender o transexual apenas por ele ser transexual e porque principalmente quem estava atacando-a eram direitistas também me dá uma tristeza. Um sentimento de revolta não só por mim, mas por todas criancas e mulheres violentadas. Fiquei triste também com a declaração posterior do Drauzio, dizendo que não era juiz. Isso fere os sentimentos de quem já sofreu esse tipo de crime terrível, que é a abuso. Mas pior fo i que foi abuso seguido de assassinato...

Anônimo disse...

Tinha alguns falando que era fake news os crimes de Suzy, que radfems criaram e reaças espalharam, mas não é fake não. Eu ao menos confio no e farsas.
https://www.e-farsas.com/a-detenta-suzy-oliveira-foi-condenada-por-estuprar-e-matar-uma-crianca-de-9-anos.html

Anônimo disse...

Acredito que a violência contra mulher seja um sintoma grave, proveniente da falta de políticas públicas, exatamente no ambiente familiar. O aumento da violência contra a mulher já era previsível, já que foca nas consequências e não nas causas. um exemplo é a lei 11340/2006. Pensaram que bastaria a lei para frear os casos de violência e isso não ocorreu. O Bolsonaro parece acertar nessa estratégia.

Anônimo disse...

Não é fake. O processo dela está disponível no site do TJ de São Paulo, o próprio Dráuzio reconheceu que é verdade, se justificando que não olha para os crimes que a pessoa cometeu. E terceiro, furto não dá mais de 8 anos de cadeia no Brasil nunca, nos poucos casos em que o autor é preso e condenado, com um terço da pena o juiz progride o regime pro semi aberto.

titia disse...

Faço meus mais sinceros votos diários de que a tarada da goiabeira e toda a sua corja apenas caiam mortos logo e parem de estragar o país. O gado que sentir a fala deles pode ir pra vala junto. Falta nenhum de vocês vai fazer.